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Edson Queiroz, Deolindo Amorim e um projeto jornalístico

Edson Queiroz, médium de cura pernambucano, teve grande destaque durante oscnot_5039 anos 1980, no Brasil e além fronteiras. Hoje praticamente esquecido, foi intermediário do conhecido espírito do Dr. Adolpho Fritz, que por muito tempo atuou junto a outro famoso médium, Zé Arigó. Com Edson Queiroz, Dr. Fritz realizou cirurgias utilizando instrumentos cirúrgicos e dispensando a anestesia e a assepsia. Aqui, você conhece um pouco mais dessa história lendo: EDSON QUEIROZ – OS CONFLITOS DA MEDIUNIDADE DE CURA.

Deolindo Amorim, escritor e jornalista, continua sendo uma referência para muitos estudiosos do espiritismo no Brasil. Foi fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil e idealizador do primeiro Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, evento que iniciou uma era de valorização da liberdade de expressão e pensamento no Brasil. Aqui está a última correspondência dele, escrita alguns dias antes de sua morte.

A história da imprensa espírita no Brasil revela fatos curiosos e muitas vezes decisivos. O jornal editado pela Federação Espírita de São Paulo, denominado O SEMEADOR esteve diretamente envolvido com a projeção do médium Edson Queiroz e viveu um período extraordinário nos anos 1980. Neste artigo – UM JORNAL, UM PROJETO E UMA POLÍTICA – você fica sabendo um pouco mais desses fatos.

Um jornal, um projeto e uma política

Laurito
Laurito deu o aval para a edição de um jornal mais atuante.

Estamos em 1982 e João Batista Laurito é o presidente da Federação Espírita de São Paulo. Seu jornal O Semeador, dirigido por Paulo Alves Godoy, passa por um período difícil. Godoy está só, sem equipe, e a tiragem de três mil exemplares fica praticamente encalhada, por falta de leitores interessados. O potencial da Federação é enorme e está claramente mal aproveitado. Ali circulavam, na ocasião, cerca de cinco mil pessoas diariamente e um número igual estava frequentando os diversos cursos de estudo do espiritismo oferecidos. As suas livrarias vendiam em torno de 18 mil exemplares de livros mensalmente, constituindo-se no maior ponto de vendas do país, no mercado de livros espíritas.

A bem da verdade, as instituições espíritas, de modo geral, à época, tinham na comunicação um dos seus principais focos de atuação, porém, a consciência das implicações que a comunicação apresenta era quase nula. Fazer jornal se resumia a ter um responsável, juntar as colaborações espontâneas que eram remetidas por articulistas, imprimir e distribuir o veículo. Mesmo instituições como a Federação, com poder econômico, espaço físico e material humano abundante, não disponibilizavam infraestrutura mínima adequada ao fazer jornalístico. O responsável ocupava um canto qualquer de uma sala qualquer num dia qualquer, analisava o material, juntava tudo e entregava à empresa gráfica, que se incumbia da diagramação e impressão. Godoy, como outros, viva as agruras desse processo.

Laurito nos convidou para assumir a direção do jornal em caráter colaborativo, com o objetivo de dinamizá-lo. Estava insatisfeito com a situação, afinal, alcançara o cargo máximo da instituição depois de uma verdadeira batalha eleitoral. O jornal deveria ser o espelho de sua proposta política, mas as condições em que se encontrava não permitiam esse luxo. Entregamos-lhe um projeto, com uma só exigência: fosse o mesmo levado ao conhecimento da diretoria para aprovação, de modo a poder contar com o respaldo político necessário para uma mudança ampla. Quem conhece o funcionamento das instituições do porte da Federação Espírita de São Paulo sabe que os interesses políticos estão em constante litígio e a democracia nelas praticada padece de insegurança permanente. Embora escorado no sistema presidencialista, em que o poder máximo se concentra nas mãos de uma só pessoa, na prática não funciona assim. Cada diretor e cada indivíduo que responde por um cargo de direção, em geral se sente na condição de autoridade máxima, especialmente quando o assunto é comunicação.

Laurito fora corajoso quando decidiu nos convidar para a assumir o jornal, afinal, nos últimos anos as divisões internas haviam se aprofundado como nunca, de modo que nosso nome não gozava da simpatia de expressiva ala de governistas. E, a bem da verdade, ele próprio não tinha noção clara do que seria feito e do que viria pela frente, como os fatos atestam. Sabia, apenas, que nas condições em que se encontrava, o jornal não poderia continuar. E foi bastante convincente ao apresentar o projeto para seus pares de diretoria, conseguindo aprova-lo.

O projeto estava ancorado em três pilares: nova linha editorial, infraestrutura e formação de uma equipe profissional e de colaboradores. Uma imprensa dinâmica não alcança sucesso se ficar nas mãos de amadores de boa vontade e não pode viver apenas de colaboradores espontâneos, como historicamente sempre ocorreu na maioria dos jornais espíritas. A imprensa, não importa onde esteja, tem suas regras, suas técnicas, sua linguagem e os que a fazem precisam ter uma noção clara do interesse público. Imprensa, mesmo sob o rótulo de espírita, não prescinde de liberdade e autonomia, se deseja realmente produzir resultados positivos. A matéria prima da imprensa é a notícia e a notícia não vem à redação; a redação precisa ir atrás dela. Os fatos precisam ser vistos, interpretados e narrados no seu momento e não foi sem razão que Machado de Assis disse que o jornal da manhã à tarde era produto com data de validade vencida.

Pela primeira vez em toda a sua existência o jornal O Semeador passou a contar com uma sala exclusiva, máquinas de escrever, arquivos, dois jornalistas profissionais contratados, um quadro de outros quatro jornalistas estagiários (estudantes de jornalismo recrutados nas faculdades), dois ilustradores, diagramador, equipamentos fotográficos e um plano editorial definido. A primeira edição da nova fase saiu com tiragem de 10 mil exemplares, trazendo reportagem exclusiva, opiniões, notícias e visual atualizado.

As bases de sustentação do projeto estavam lançadas e se completaram com a boa aceitação do público frequentador da Federação: todos os exemplares foram vendidos. Um mês após, em abril de 1982, uma equipe do jornal se deslocou a Salvador, Bahia, para cobertura do VIII Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, um evento organizado pela equipe de Ildefonso do Espírito Santo. Foi durante o congresso que se tornou conhecido o médium de cura Edson Queiroz, cuja atuação, até então, se restringia ao estado de Pernambuco. Apresentou-se ele para um grupo de convidados fora da programação do evento, demonstrando suas qualidades mediúnicas, desejoso de torna-la conhecida para além daquele estado nordestino. A repercussão dividiu opiniões: entre os convidados para sessão mediúnica estavam alguns membros da Associação Médico-Espírita de São Paulo, que manifestaram seu descontentamento com aquele tipo de mediunidade, não com relação aos fenômenos em si. Mas houve um mal-estar entre eles, por conta de haver o conhecido espírito do Dr. Fritz se pronunciado de forma viril com um dos membros.

A direção de O Semeador encampou uma proposta de levar a São Paulo o médium e a presidência da Federação endossou a proposta. Enquanto isso, os bastidores da instituição começavam a recolher desagrados de alguns dirigentes, que não viam seus trabalhos aceitos para publicação no jornal, por absoluta falta de sintonia entre os escritos e a nova linguagem assumida pelo veículo. E o presidente Laurito precisou, em mais de uma ocasião, mediar os conflitos.

Quando, finalmente, Edson Queiroz se apresentou em São Paulo, numa dupla programação, uma para atendimentos a pacientes previamente inscritos portadores de moléstias diversas, realizada em caráter privado, e outra, no dia seguinte, para atendimento de alguns pacientes em caráter público e cuja assistência seria formada por pessoas convidadas, O Semeador já havia alcançado uma projeção considerável. Mas a promoção da apresentação do médium seria um divisor de águas e desencadearia o fim do projeto do novo jornal. A explicação vem a seguir.

O fato de um médium de cura apresentar-se na Federação Espírita de São Paulo nas condições propostas constituía algo inédito e fora dos padrões, ocasionando um interesse extraordinário de curiosos, estudiosos e pessoas portadoras de doenças. Logo a notícia se espalhou e despertou o interesse de uma grande quantidade de pessoas, fazendo com que o número de atendimentos solicitados extrapolasse em muito ao acordado com o médium, de modo que fora preciso restringir e relação.

No dia 31 de março de 1983, em sala especialmente preparada, Edson Queiroz realizou o primeiro atendimento. Fritz. Convidamos para acompanhar o evento algumas pessoas que já haviam tido experiências com o espírito cirurgião por meio do médium Zé Arigó, entre estes Jorge Rizzini que havia filmado inúmeras atividades e divulgado mundo afora, portanto, conhecera o espírito de perto. Quando Rizzini entrou na sala com os trabalhos em andamento, o espírito se dirigiu a ele de forma particular, fazendo revelações que levaram Rizzini a afirmar com convicção: “este é, de fato, o mesmo Dr. Fritz que eu conheci anteriormente”. Assistimos a diversas intervenções sem assepsia e anestesia, em ambiente de tranquilidade, com as atividades terminando por volta das onze horas da noite.

No dia seguinte, Edson Queiroz exerceu suas atividades mediúnicas no salão nobre da Federação, diante de um grande público, entre os quais estavam a Dra. Marlene Nobre e o então presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo, Antonio Ferreira Filho, diretores da Federação, médicos, psicólogos e pessoas comuns. Deolindo Amorim, então lutando com uma doença, compareceu acompanhado do então presidente da Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas, Américo de Souza Borges. Haviam apenas dez pessoas selecionadas para atendimento, uma vez que o objetivo do espírito era demonstrar, mais uma vez, as possibilidades do fenômeno de cura nas condições que ele gostava de realizar. A cada intervenção, o espírito explicava para os presentes as particularidades do processo.

Encerradas as atividades, O Semeador saiu imediatamente em edição extra com uma reportagem completa, com fotografias, relatos e opiniões de pacientes e de autoridades presentes. Com grande surpresa para todos, a edição seguinte do jornal Folha Espírita, dirigida pela Dra. Marlene Nobre, trouxe um material com acusações ao espírito do Dr. Fritz e ao médium Edson Queiroz, bem como às intervenções cirúrgicas. Uma dessas acusações dizia que uma das pacientes, operada de um tumor no seio direito, gritava de dor e havia desmaiado durante a intervenção, o que não fora observado por mais ninguém, senão pela Dra. Marlene e pelo Dr. Antônio.

Indignados com a manifestação da Folha Espírita (mais detalhes no artigo sobre Edson Queiroz), lançamos pelo Semeador um editorial com duras críticas ao comportamento dos dois médicos e sua forma equivocada de traduzir para o público o que se passara nas sessões realizadas na Federação de São Paulo.

Por mais duas ocasiões, o assunto voltou à pauta e gerou repercussões fortes, uma vez que a Dra. Marlene e os demais membros da AME-SP prosseguiram com argumentos e acusações descabidas, numa tentativa óbvia de atingir o médium Edson Queiroz, o que de fato acabou acontecendo.

Este fato ocasionou um descontentamento grande na cúpula da Federação. João Batista Laurito não conseguiu contornar as críticas que eram dirigidas ao editor do Semeador e tomou a decisão de destitui-lo do cargo. A forma e o modo como o fez foram inusitados e demonstram como o comportamento que se condena, muitas vezes, na classe política se reproduz, inclusive, nos meios espíritas. Laurito, que convidara a mim pessoalmente para assumir o cargo, desta vez preferiu chamar o Paulo Alves Godoy e recoloca-lo no cargo, dando-lhe, como incumbência, a tarefa de, ele mesmo, Paulo, me comunicar que eu estava fora, incumbência esta que Paulo, sem maiores rodeios, realizou por telefone. Simplesmente, ligou-me e deu-me a notícia.

A carta é omissa quanto ao verdadeiro acontecimento.
A carta é omissa quanto ao verdadeiro acontecimento.

A equipe de profissionais que fora montada para essa nova fase do jornal, ao tomar ciência do fato, encheu-se de indignidade e preparou um manifesto que fez chegar à diretoria da Federação, tudo isso à minha revelia. E a equipe quase toda se demitiu, permanecendo, apenas, os dois profissionais contratados.

A nova fase do jornal durou, portanto, pouco mais de um ano. Alguns dias depois desses acontecimentos, Laurito fez chegar às minhas mãos uma correspondência oficial, por ele assinada, cujo texto é assaz intrigante: agradece, simplesmente, à minha colaboração durante aquele período, de forma que faz parecer que a minha saída fora decidida por mim mesmo, ou seja, de modo político não deixa transparecer a realidade dos fatos, coisa que, há de ser percebida, não corresponde à postura moral altiva que se espera de alguém que assume compromissos de tal ordem, seja de natureza doutrinária, seja de natureza moral.

O Semeador prosseguiu, embora, agora, com menos força e audiência. Ficou a experiência e a infraestrutura mínima, que no passado jamais existira.

Edson Queiroz – os conflitos da mediunidade de cura

Morto de forma trágica aos 41 anos de idade, Edson Cavalcanti de Queiroz foi um médium de cura pernambucano de projeção nacional sobre o qual, hoje em dia, pouco ou nada se fala. Algumas pessoas, ao saberem de minhas relações com ele à época em que atuava perguntam-me se ele era de fato médium. Jamais tive dúvida disso. Assisti a inúmeros feitos dele, dentro e fora do país, acompanhei-o em jornadas memoráveis, onde pude presenciar fenômenos mediúnicos pouco vistos.

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O médium Edson Queiroz operava sem anestesia e assepsia.

Conheci Edson Queiroz em Salvador, Bahia, durante o VIII Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas de 1982. Edson fora ao congresso por conta própria; desejava fazer-se conhecer. Na noite em que ele realizara uma sessão mediúnica, em ambiente fora do congresso, eu não estava presente por conta de outros compromissos. Mas minha equipe do jornal O Semeador e do Correio Fraterno do ABC compareceu. Lá estava, também, a Dra. Maria Julia Prieto Perez, então secretária da Associação Médico-Espírita de São Paulo. A deduzir dos relatos que recebi, o conflito que se estabelecera na ocasião entre a Dra. Maria Julia e o espírito do Dr. Fritz tomou proporções enormes e ultrapassou aquele evento.

Maria Julia Prieto Peres
A Dra. Maria Julia teve conflitos sérios com o espírito do Dr. Fritz.

Edson Queiroz prontificou-se a fazer alguns atendimentos cirúrgicos para os interessados, mas precisava de um local onde a sessão pudesse realizar-se com tranquilidade. Carlos Bernardo Loureiro ofereceu a sede do Teatro Espírita, um prédio ainda em construção e, portanto, sem condições higiênicas adequadas. Foram todos para lá. Quando o Dr. Fritz realizava uma das intervenções ouviu da Dra. Maria Julia críticas das quais não gostou. Questionava ela, entre outras coisas, por que o espírito realizava intervenções naquelas condições inadequadas, fazendo estardalhaço e agindo de forma desnecessária, inclusive com o uso de instrumentos cirúrgicos quando a espiritualidade poderia valer-se de tecnologias melhores. A certa altura, para confronta-la, o espírito pegou um sapato e fez cair poeira no local da incisão do paciente em atendimento, o que deixou a Dra. Maria Julia ainda mais contrariada. Dr. Fritz dizia que era para provar aos incrédulos que havia forças desconhecidas capazes de controlar a situação. O fato é que Edson Queiroz impressionou grande parte dos presentes.

Tomando ciência dos fatos, fui convencido pelos meus repórteres a fazer gestões junto à presidência da Federação no sentido de patrocinar a ida a São Paulo do médium, uma vez que ele próprio manifestou interesse em fazer-se conhecido para além do Nordeste brasileiro. A oportunidade surgiu quando Nazareno Tourinho viajou de São Paulo para o Rio de Janeiro, para depois seguir para Belém do Pará, sua terra natal. Ligou-me do Rio para dar uma notícia: falara com Edson Queiroz e este desejava ir a São Paulo e apresentar-se para um grande público. As datas: 31 de março e 1 de abril de 1983. Foi desta forma que o médium pernambucano começou sua projeção em nível nacional e a Federação Espírita de São Paulo, de forma corajosa e inusitada, abriu suas portas para um evento dessa natureza.

Quando foi anunciada a presença do novo Arigó dos espíritos em São Paulo, um número extraordinário de pessoas correu à Federação, formando uma fila calculada em cerca de mil pessoas. Quando começou a operar, o Dr. Fritz afirmava desejar que todos fossem atendidos, mas isso era humanamente impossível. Apenas dez por cento receberam autorização para entrar e, dentre estes, dez pacientes foram designados para voltar no dia seguinte.  Edson foi muito bem sucedido. Jorge Rizzini, que escreveu e filmou intervenções cirúrgicas do Dr. Fritz pelo médium Zé Arigó, tendo com estes uma convivência íntima de mais de dez anos, ficou bem impressionado e não teve dúvidas em afirmar tratar-se do mesmo espírito, com as mesmas formas de atuação que o caracterizaram no passado. Suas palavras foram: “não reconheci, apenas, as características psicológicas do Dr. Adolfo Fritz durante, inclusive, uma conversa íntima que tivemos. Reconheci-o, também, pela sua inimitável técnica operatória – técnica sui generis que ele empregava através de Zé Arigó e que hoje vem empregando através do médium e médico Edson Cavalcanti de Queiroz”.

Dentre as dez pessoas designadas para a sessão pública do dia seguinte, 1º de abril, estava Deolindo Amorim, a quem o Dr. Fritz atendeu reservadamente. Os demais foram operados pelo espírito diante uma grande plateia, de forma mais demorada que a comum porque o Dr. Fritz desejava – e o fez – explicar o procedimento e os objetivos de cada cirurgia. Tudo correu dentro dos planos traçados, sem intercorrências, na presença de dezenas de personalidades espíritas, tais como: João Batista Laurito, presidente da Federação, Américo de Souza Borges, presidente da Associação de Jornalistas e Escritores Espíritas, o professor Rino Curti, o escritor R. Ranieri, Hernani Guimarães Andrade, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, e a médium Zíbia Gasparetto.

Mas uma crítica surpreendente apareceu na edição seguinte do jornal Folha Espírita, subscrita pelo radiologista e presidente da AME-SP, Antonio Ferreira Filho, na qual dizia que uma das pacientes sentiu dores imensas durante a cirurgia para retirada de um nódulo no seio, emitindo gritos e chegando a desmaiar pelo menos por duas vezes. Era estranho que somente ele tenha notado tais coisas; um auditório com tanta gente em torno da paciente não foi capaz de registrar uma única voz contrária sobre o mesmo fato, apenas os próceres da AME-SP. Estabeleceu-se uma verdadeira batalha, desde então. De um lado, os membros da AME-SP, acusando sempre que possível, o médium e, de outro, alguns defensores de Edson Queiroz. O jornal Correio Fraterno do ABC acabou constituindo-se na principal tribuna para defesa do médium pernambucano. Rizzini, com sua verve viril, publicou um artigo de página inteira, sob o título de “O bisturi do Dr. Fritz e a mentira”, onde não só acusava a AME-SP de desonestidade neste caso específico mas, também, em outras ocasiões, como em um relatório produzido por alguns de seus membros condenando Edson Queiroz, relatório este que foi entregue ao Dr. Oswaldo Gianotti Filho, ferrenho adversário do Espiritismo e que vinha combatendo o médium na TV. O artigo termina com a transcrição de uma declaração assinada por Márcia Ferreira, a paciente que fora operada do nódulo no seio, afirmando com todas as letras que não sentira dores, não desmaiara em nenhuma ocasião nem gritara, como havia sido publicado pelo presidente da AME-SP.

Diversos trabalhos foram ainda publicados em defesa de Edson. No Rio de Janeiro, Deolindo Amorim, falando em nome do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, fez circular um vigoroso documento de apoio ao médium e publicou ainda, em seu próprio nome, artigo reforçando o trabalho de Edson; seguiram-no Carlos de Brito Imbassahy, Eduardo Simões, Aureliano Alves Neto, Eduardo Carvalho Monteiro e até Divaldo Pereira Franco se pronunciou.

Edson Queiroz atingiu seus objetivos: o interesse por ele cresceu e se expandiu a todo sul e sudeste do país. Ele nos pediu apoio e juntos, Rizzini, Nazareno Tourinho e eu resolvemos atende-lo, mas colocamos uma condição única e impostergável: em conversa reservada, explicamos-lhe que a mediunidade de cura, por suas repercussões, exercia uma grande atração sobre a sociedade e, em vista disso, as investidas para obtenção de benefícios e atenção particular, com ofertas de facilidades de toda espécie viriam de modo inevitável. Era, preciso, pois, que o médium se comprometesse a seguir um caminho de retidão de caráter, criando um escudo contra as solicitações e ofertas de toda espécie. Edson reconheceu as dificuldades que teria pela frente e assumiu o compromisso de manter-se merecedor da credibilidade.

Passamos a intermediar suas idas ao Estado de São Paulo, sempre oferecendo-lhe apoio e divulgação de suas atividades, ao mesmo tempo em que combatíamos os adversários dele instalados na AME-SP. Estes, contudo, continuaram exercendo críticas severas ao médium e ao espírito do Dr. Fritz, o que não constituía nenhuma novidade, pois, historicamente, alguns membros da comunidade médica espírita se colocaram contra a mediunidade de cura, como o fez o Dr. Ary Lex, um dos fundadores da AME-SP, em relação a Zé Arigó, fato este que levou Herculano Pires a colocar-se ao lado do conhecido médium mineiro e a defender suas atividades mediúnicas de modo firme.

Foi grande o estardalhaço devido ao posicionamento da AME-SP. Maria Julia Prieto Perez, Marlene Nobre e Antonio Ferreira Filho formavam um trio de combate ao médium pernambucano e aproveitavam todas as oportunidades para atacar Edson pela imprensa, sem, no entanto, possuir qualquer documentação segura para embasar sua posição.

Inúmeras tentativas de conciliação entre as partes foram feitas; Edson Queiroz chegou mesmo a concordar em realizar sessões mediúnicas exclusivamente voltadas à pesquisa científica coordenadas pela instituição médica, mas as condições draconianas colocadas pelos membros da AME-SP eram tais que impediram que os estudos se realizassem. De fato, era questão assente na AME-SP que tal tipo de mediunidade, nas características presentadas pelo espírito do Dr. Fritz, eram recusadas a priori e não havia, de fato, interesse em estuda-la. Existia um preconceito arraigado contra o uso de instrumentos cirúrgicos, como o bisturi, e da falta de anestesia e assepsia, fato este tido como uma afronta ao saber médico e, portanto, não aceito de modo algum. O mesmo se dera quando da eclosão da mediunidade de cura em Zé Arigó. Parece que o conflito estabelecido entre Dr. Fritz e Maria Julia, na sessão realizada em Salvador, estendeu-se a tudo o que dissesse respeito a Edson Queiroz.

Denúncias contra o médium chegaram ao Ministério Público em São Paulo e um inquérito foi aberto na polícia civil, inquérito este que contou com o testemunho contra Edson por parte de alguns membros da AME-SP, fato este extremamente grave em se tratando de um colega de profissão e companheiro espírita no exercício da caridade mediúnica. No Correio Fraterno do ABC denunciamos o fato mais de uma vez, mostrando como o orgulho humano não tem limites, cores ou controle moral. E com o apoio da editora do jornal, publicamos e distribuímos gratuitamente 5 mil exemplares do opúsculo intitulado “Médicos-Médiuns”, contendo um estudo feito a partir de reflexões de Allan Kardec sobre o assunto.

O livro de Nazareno Tourinho tem o prefácio de Hernani Guimarães Andrade.
O livro de Nazareno Tourinho tem o prefácio de Hernani Guimarães Andrade.

Nazareno Tourinho resolveu reunir com Edson Queiroz todo o material até então catalogado, referente a inúmeras intervenções cirúrgicas realizadas por ele em Pernambuco. Para isso, passou vários dias em Recife, em pesquisas, para então escrever o livro Edson Queiroz, o novo Arigó dos espíritos, publicado pelo Correio Fraterno do ABC, no qual incluímos um relato com imagens fotográficas das cirurgias realizadas por ele na Federação Espírita de São Paulo. O livro recebeu o prefácio do Dr. Hernani Guimarães Andrade. A primeira edição de 5 mil exemplares foi totalmente vendida, mas o livro apresenta uma curiosidade: tempos depois de lançado, apareceu em versão alemã, sem o que o seu autor, Nazareno Tourinho, tivesse conhecimento, fato que foi depois esclarecido: a autorização para sua versão para a língua de Goethe foi dada, inadvertidamente, pelo próprio médium.

Em 1984, Edson nos convidou, a mim, ao Rizzini e ao escritor R. Ranieri para acompanha-lo até Montevideo, onde iria realizar atividades mediúnicas a convite de um canal de TV local. Rizzini não pode ir e Ranieri não conseguiu embarcar por ter esquecido os documentos em casa. Devido ao regime militar vigente no Uruguai na ocasião, a sessão com Edson Queiroz teve de ser realizada a portas fechadas para apresentação aos telespectadores somente depois da partida da comitiva de volta ao Brasil. Sobre essa sessão, apresento um relato sumário em meu livro Os espíritos falam. Você ouve?

A procura por Edson Queiroz se tornou intensa e incontrolável. O médium quase não parava mais em Recife, onde clinicava como médico ginecologista em seu consultório particular. Começaram a aparecer denúncias esporádicas contra ele, acusando-o de receber dinheiro e presentes caros, algumas, inclusive, dizendo que ele estava cobrando pelos atendimentos mediúnicos. Edson era alvo de interesse da mídia, dando entrevistas para TVs, rádios e jornais com bastante assiduidade. De todas as classes sociais partiam solicitações para atendimentos, inclusive, em caráter particular, quando, então, Edson era hospedado em hotéis luxuosos e viajava, não raro, em aviões particulares. Houve o caso de um dos mais ricos empresários do país que, certa ocasião, mandou ligar para Edson em Recife, avisando que o seu avião já estava a caminho da capital pernambucana, a fim de leva-lo a São Paulo para atender sua esposa doente. O aviso estava acompanhado de outro: que ele não se preocupasse, pois o que deixasse de receber por não atender aos seus pacientes no consultório particular seria ressarcido com sobras.

Quando esse tipo de denúncia nos chegavam em São Paulo, um amigo particular me procurou com o insistente pedido para que programássemos a ida de Edson Queiroz à cidade de Registro, no Vale do Ribeira, onde uma grande quantidade de pessoas extremamente pobres ansiava pela presença do Dr. Fritz. Edson aceitou o convite e na data marcada fui com Rizzini ao Aeroporto de Congonhas para recebe-lo e transportá-lo em meu carro particular ao local marcado. No trajeto de quase três horas, expusemos a Edson sobre as denúncias que estávamos recebendo, algumas delas vindas de fontes seguras, dignas de crédito. Relembramos o compromisso por ele assumido conosco, em que esse tipo de comportamento não seria tolerado, sob pena de nos afastarmos, retirando o apoio dado. Edson a tudo ouviu silenciosamente e disse, constrangido, que não poderia negar ter fraquejado diante de algumas ofertas, mas não iria – afirmou, com convicção – deixar-se levar mais pelo canto da sereia.

 Edson continuou com suas atividades intensas, viajando pelo país de norte a sul. As denúncias acusando-o de cobrar pelas cirurgias mediúnicas prosseguiram. Não era mais possível prosseguir com o apoio. Reuni-me com Rizzini e Nazareno Tourinho e decidimos comunicar ao Edson e aos espíritas o nosso afastamento do médium. Nazareno Tourinho redigiu a nota, que foi assinada por nós três e publicada no Correio Fraterno do ABC. Ei-la.

Comunicado red“Comunicado sobre o médium Edson Queiroz. A fidelidade aos princípios filosóficos codificados por Allan Kardec, e o elementar critério de honestidade que a prática do jornalismo doutrinário nos impõe, colocam-nos na penosa obrigação de divulgar a presente nota informando aos companheiros de ideal espírita, e a quem mais interessar possa, o imperioso rompimento de nossa ligação com o médium Edson Cavalcanti de Queiroz, a quem defendemos de numerosos ataques até a algum tempo atrás injustos.

“Como sempre fomos contra o exercício da mediunidade em proveito próprio, ou, falando mais claro, em troca de dinheiro direta ou indiretamente, estaríamos bem à vontade para citar os motivos e os fatos que nos levaram a assim proceder, inclusive esclarecendo como, porque, quando e onde advertimos o médium sobre nossa discordância do seu comportamento, recebendo dele a promessa de mudança infelizmente não cumprida. Cremos, porém, ser melhor encerrar sem outras palavras este triste assunto, entregando-o à sábia e soberana Justiça Divina, com a consciência em paz pelo dever cumprido e o coração confortado pela certeza de que a causa do Espiritismo estará sempre acima das fraquezas e paixões humanas. Em 06 de agosto de 1986. Assinado: Wilson Garcia, Jorge Rizzini e Nazareno Tourinho”.

A partir desse comunicado, deixamos de intermediar a os convites a Edson Queiroz, não mais assistimos às suas apresentações e não tivemos nenhum outro contato pessoal com ele. Em outubro de 1991, estava eu na tribuna da Casa do Caminho, em Juiz de Fora, Minas Gerais, fazendo uma palestra em comemoração ao nascimento de Allan Kardec quando recebi um bilhete comunicando-me que, naquele exato momento, emissoras de rádio davam a notícia do assassinato de Edson Queiroz, em Recife, por um vigilante que havia sido empregado dele. Comunicamos o fato à plateia de quase 500 pessoas e fizemos um breve relato das admiráveis curas que presenciamos nas atividades mediúnicas de Edson Queiroz sob o comando do espírito Dr. Fritz. Um longo silêncio se fez presente, mas ao final da palestra alguns ouvintes, curiosos, desejavam saber do futuro espiritual do médium, morto em circunstâncias tão trágicas. Qualquer tentativa de descrever esse futuro seria atrevida e ousada especulação, pois não cabe a nós, pobres mortais no corpo físico, estabelecer julgamentos dessa ordem.

Última carta de Deolindo Amorim

deolindo1O admirável escritor e jornalista, além de excelente orador, Deolindo Amorim, é figura marcante do espiritismo nacional desde 1939, quando idealizou o primeiro dos inúmeros congressos espíritas que se realizaram no Brasil posteriormente. Foi um congresso marcante por seus objetivos visíveis mas, também, porque inaugurou a era dos debates da temática espírita porta a fora das instituições oficiais, dando voz e vez a todos os espíritas. Infelizmente, esse tipo de evento escasseou – poucos são hoje realizados dentro das mesmas características de liberdade de pensamento e expressão – substituídos que foram por congressos oficiais ou eventos de porte com cartas marcadas e muitos desses mais parecendo um espetáculo de luzes, cores e comércio onde nenhum interesse existe em contribuir para a construção do saber espírita.

Os congressos espíritas da atualidade são marcados pelo ferrenho controle dos que terão voz e do que estes não falarão, seja para atender ao temor das falas fora do cardápio oficial, que podem colocar em perigo as ideologias controladoras do movimento espírita brasileiro, seja, também, para atender aos interesses mercadológicos que presidem grande parte dos eventos de massa, que visam muito mais entregar a tribuna para aqueles que garantem audiências através de posturas exibicionistas, tão criticadas por Herculano Pires. Que ironia!

A generosidade de Deolindo Amorim se equiparava à sua percepção da liberdade como elemento primordial da evolução humana. De 1974, quando travamos nosso primeiro contato epistolar, até 1984, quando de sua desencarnação, deixou ele registrados inúmero momentos de grande sensibilidade espiritual. Sua presença nos congressos espíritas era a garantia de uma voz lúcida, respeitada, pelos direitos de pensamento e expressão para todos, numa postura alteritária admirável pela exemplificação.

O jornal Correio Fraterno do ABC, desde 1976, empreendeu uma grande batalha contra os desvios doutrinários e os desmandos de lideranças espíritas pouco afeitas ao comportamento democrático. Adotou uma linha editorial aberta num tempo em que a autoridade militar disseminava autoritarismo e reduzia drasticamente os espaços das discussões em todos os setores da vida nacional. Por isso, Correio Fraterno do ABC tornou-se visado e seus integrantes não aceitos em diversas áreas do movimento. Deolindo teve participação decisiva no que tange à proteção dos direitos de todos nós, sem precisar levantar a voz, sem necessitar de palavras agressivas ou gestos violentos. Era ele afetivamente viril, presente, cordial – acredito que sequer media as consequências de seus atos junto aqueles que o admiravam, mas não compreendiam os seus gestos em defesa da união e do respeito ao outro.

Um exemplo disso foi marcante. O Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas, de 1979, se desenvolvia na sede da União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro quando chegamos. Deolindo percebeu nossa entrada e o clima não tanto ameno em relação a nós e, sem que se percebesse, desceu do palco e veio ao nosso encontro, abraçando-nos e nos levando a cumprimentar diversos companheiros menos afetivos. Naquele mesmo momento, na plateia, a turma de Santos, pela voz firme de Jaci Regis, debatia aspectos críticos do espiritismo nacional, ante uma audiência hostil e pouco disposta a ouvir. Menos Deolindo, que mantinha em qualquer ocasião o respeito às ideias alheias e defendia o direito de expressá-las. O espaço público espírita com Deolindo era um, sem ele, outro. Quando sua voz aparecia nas tribunas ou nas colunas dos jornais, o silêncio e a atenção eram imediatos e não se derretiam mesmo diante de eventuais vozes contrárias. Deolindo impunha-se naturalmente, pelos pensamentos e pela forma viril e afetiva com que, pleno de entusiasmo, explicava e defendia a Doutrina Espírita.

Em abril 1982, Deolindo já manifestava os sinais da doença, mas ainda estava firme no Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas em sua terra natal, a Bahia. Foi lá que conheceu Edson Queiroz, o novo médium de Arigó, mas não consta que tenha tido contato ou assistência dele quanto à sua saúde. Mas, quando o levamos a São Paulo pela primeira vez, no ano seguinte, Deolindo deslocou-se do Rio de Janeiro e foi à Federação Espírita na esperança de obter alguma atenção. Que de fato ocorreu. Quando foi necessário, Deolindo saiu espontaneamente em defesa de Edson Queiroz diante de uma campanha dentro do próprio movimento espírita para desacreditar sua mediunidade de cura.

Última cartaEm 10 de abril de 1984, exatos 14 dias antes de sua desencarnação, Deolindo respondeu-me a uma carta, a última que recebi dele. Depois de inúmeras manifestações de consideração para comigo, em momentos cruciais ou não, já bastante alquebrado pela doença, ainda assim Deolindo assumia sua escrivaninha e, ele mesmo, dedilhava palavras atenciosas. Publico-as na condição de um documento a que dou muito valor afetivo, na convicção do dever de reparti-lo. Eis a carta.

“Prezado confrade. Como V. já sabe, estou afastado de tudo, por causa da doença, mas não sei me “render”. Por isso, escrevo muito pouco, quando sinto alguma disposição para a máquina, mas não deixo definitivamente, pelo menos, de mandar algum artigo de colaboração para as publicações a que estou ligado. Aqui vai, por exemplo, uma crônica para o “Suplemento Literário” do Correio Fraterno do ABC, sobre o trovador Aparício Fernandes, que conheço pessoalmente e a quem voto muita admiração. Mas, na realidade, meu confrade, estou produzindo muito pouco… O médico, aliás, já me disse que a recuperação vai ser lenta. Paciência. Pedi até licença no Instituto de Cultura Espírita do Brasil, porque não estou podendo comparecer; o General Milton O´Reilly de Sousa, na qualidade de vice-presidente, assumiu a direção nesses três meses.

Com referência ao que estou lendo sobre Léon Denis, meu Patrono na antiga Sociedade Brasileira de Filosofia, lembro-me de ter mandado a V.  um folheto meu, no qual justifico a escolha de Denis para uma das cadeiras simbólicas naquele cenáculo. Com a reforma porque passou a Sociedade, criaram-se os patronos dos titulares e cada qual ficou livre para “tirar” o patrono em sua própria corrente filosófica. Preferi então Léon Denis e, por isso, lá me perguntaram:  e Léon Denis é filósofo? … Pois o folheto, intitulado “O pensamento filosófico de Léon Denis” é a resposta. Já dei, há tempos, uma entrevista ao SEI justamente sobre este assunto. Mas já estou cansado, vou parar por aqui mesmo. Com um abraço, Deolindo Amorim. P.S. Muito oportuno o artigo do confrade Hélio Rossi sobre “Espiritismo laico”.

O passado de uma tradução e o futuro da mensagem

Evangelho FeespA tradução de Paulo Alves Godoy para O evangelho segundo o Espiritismo, que gerou intenso debate desde a primeira metade da década de 1970, ainda hoje possui detalhes desconhecidos e, muitos deles, esquecidos. Estava eu, então, no olho do furacão, isto é, vivendo todas as controvérsias dentro da Federação Espírita de São Paulo. Posso, como pude, ter uma leitura diversa daqueles que, do outro lado, aliavam-se a J. Herculano Pires em seu bom combate, ou aliavam-se aqueles outros que preferiam assistir aos debates sentados no muro. Mas pude, ainda, colher fatos e observar situações diretas ou indiretamente ligadas ao acontecimento, numa convivência de bastidores, uma vez que, então, ocupava posição subalterna embora muito próxima do poder. Não participava das reuniões de cúpula, não ouvia nem via as discussões reservadas da diretoria, mas convivia com os principais personagens da Federação e acompanhei justamente ali no caminho por onde deveriam passar aqueles que respondiam pelos fatos. Não como a pedra de Drumond, mas com olhos de ver e ouvidos e ouvir… Para ler, clique aqui

 

As Pessoas de Bem e a Corrupção Política

por Gezsler Carlos West (Geo)

Recife, PE

 “Seja esta a vossa linguagem, Sim-Sim, Não-Não!” (Mt 5, 37) – Jesus

 É difícil mensurar com precisão os efeitos nocivos de um processo de corrupção. Recentemente foi publicado na mídia um estudo técnico, citando que se a corrupção fosse “zero” no Brasil a sociedade em no máximo cinco anos teria os seguintes benefícios simultâneos:

– Poder de compra do salário mínimo quadruplicado;
– 25 mil escolas construídas;
– 30 mil UPA (Unidade de Pronto Atendimento) efetivadas;
– 01 milhão e quatrocentas mil casas construídas.

Se acrescentarmos que o ato corruptivo agride os valores sociais no campo da honestidade, justiça social, credibilidade, valorização do trabalho, dignidade, estrutura familiar, espiritualidade entre outros, ficará mais complicado dimensionar o “tamanho do estrago”.

A honestidade é um valor ético, que deve preceder qualquer ação nos diversos campos da vida. As nossas posturas devem transitar mergulhados nesse “éter”, assim como os peixes no mar. Se assim não o for, todos perderemos no aspecto social, individual e consciencial.

Há algum tempo eu conversava com uma pessoa que estava bem ativa dentro de um partido político no Brasil. Eu dizia para ela que a postura mais ética, cidadã, honesta e fraterna na sua atuação político partidária, não seria defender o indefensável, proteger quem não merecia, esconder corrupto para não expor o partido, colocar todas as mazelas nos partidos adversários ou em outro setor da sociedade, justificar acordos esdrúxulos em nome do “futuro”, sem qualquer senso crítico olhando para dentro do seu próprio partido. Isso não seria uma postura político partidária saudável, mas sim um preocupante sintoma de fanatismo.

 Disse-lhe que ela tinha que ser firme e imparcial diante da corrupção independente da coloração partidária e, deixar claro para a sociedade, sem discurso superficial, que antes de qualquer projeto partidário ela não declinaria da ética, que deveria ser uma premissa apartidária. Não existem fins éticos, sem meios éticos.

 Com um discurso e postura excessivamente corporativista um filiado político partidário, mesmo com sinceridade e boa intenção, termina incoerentemente ajudando a criar dentro do seu próprio partido um campo fértil para que os inescrupulosos ganhem espaço e se protejam debaixo desse irracional guarda-chuva protetor, desgraçadamente mantido por sinceros, idealistas, mas invigilantes filiados.

 Não importa saber quando, onde e com quem começou a corrupção, mas importa sim combatê-la tenazmente em qualquer tempo, local e de forma apartidária. Não importa saber quem roubou menos ou mais, mas sim que todos sem exceção respondam diante da justiça como qualquer outro cidadão.

Não sou adepto da antiga e desastrosa frase “rouba, mas faz”. O agente público não pode roubar e tem obrigação de fazer, pois é para isto que ele lá se encontra. O agente público não faz caridade nem filantropia, ele simplesmente tem que cumprir honestamente com a sua obrigação constitucional de servidor público. Ele administra temporariamente um recurso que não lhe pertence.

 A melhor tática para os “agentes da corrupção” é passar a ideia de que todos também o são, que o Brasil sempre foi assim, que ninguém é perfeito, que não adianta … e com isto continuarem roubando.

 As pessoas de bem devem estar uníssonas no primeiro passo, que significa não abdicar dos chamados valores éticos universais. Garantido este insubstituível patamar, então democraticamente e alteritariamente cada um caminha pelas suas preferências político partidárias.

 Não nos iludamos e fiquemos muito vigilantes. Já dizia Peter Drucker: a melhor forma de gerenciar o futuro, é criá-lo.

Criemos todos um futuro ético e socialmente justo para o nosso Brasil. Tenhamos a coragem do “sim, sim e não, não”.

Codificador, criador, inventor. Que foi Kardec?

Pelas páginas do “Opinião”, em julho de 2010, refleti sobre uma publicação do Augusto Araújo em que a questão referente a Kardec foi colocada: seria ele o autor do espiritismo. Na ocasião, sob o título de “Antiga e velha, mas ainda tão nova”, argumentei em artigo a favor do termo codificador tendo por sustentação as teorias da comunicação social, que considero a melhor base de discussão do assunto. O texto está em http://www.expedienteonline.com.br/?p=84.

Afirmei então que “em sua significação semântica o termo codificar é empregado para designar a ação de produzir mensagem através do código linguístico que deverá ser “decodificado” pelo destinatário. Em princípio, todo emissor é um codificador e todo destinatário é um decodificador. Mas a ideia de uma comunicação circular nos leva a compreensão de que emissor e destinatário se alternam nestas duas posições, ou seja, Kardec foi decodificador quando estudou as mensagens e codificador quando as ordenou. Nesse processo, evidentemente, sua intervenção deixou as marcas da sua individualidade mostradas pelas evidências”.

É preciso relembrar que as discussões sobre a ação codificadora de Allan Kardec estão no bojo de uma questão maior: a de que, para uma parcela de estudiosos do espiritismo, o substantivo codificador não dá conta do que ele, Kardec, realmente representa na construção da doutrina. Parece, a essa parcela, que Kardec é visto de forma redutiva na elaboração da obra, principalmente por aparentemente retirar uma responsabilidade grande que lhe cabe como criador do espiritismo. É o contraponto à afirmação absoluta de que o espiritismo é obra dos espíritos – e apenas deles.

Augusto Araújo havia optado, na ocasião, pelo termo autor, enquanto outros muitos entendem que criador é o verbo que melhor representa o que de fato Kardec fez. Em manifestações mais recentes, Araújo tem adotado a defesa do termo codificador, na mesma linha interpretativa das teorias da comunicação.

Para retomar o assunto

Em meu recente livro “Os espíritos falam. Você ouve?”, falo um pouco mais sobre o assunto. Vejamos.

“No Espiritismo, o termo codificador está vinculado his­toricamente àquele que organizou a doutrina, Allan Kardec, conferindo-lhe, assim, uma significação específica. E par­ticular. Essa vinculação decorre da percepção de que Allan Kardec executou dois tipos de ações típicas da codificação: de um lado, organizou e estudou mensagens emitidas por autores invisíveis, os espíritos; de outro lado, estruturou essas mensagens na forma de uma doutrina, ocasião em que optou por um código escrito, no caso a língua francesa, produzindo, assim, as obras hoje amplamente conhecidas como livros da codificação espírita.

Não se pode desconsiderar que a expressão codificador aplicada a Allan Kardec tem sido objeto de crítica sob o ar­gumento de que o termo não dá conta da dimensão do ho­mem diante da sua obra.

Do ponto de vista da produção de mensagens pela esco­lha de um código comum ao emissor e ao receptor, o ter­mo codificador aplicado ao autor da mensagem encontra sentido e amparo em diversos estudos teóricos. Além disso, a aplicação de sua dupla significação para o caso de Allan Kardec permite dimensionar o organizador material do Es­piritismo com a amplitude que de fato lhe é devida. Esse francês de Lyon atuou durante 15 longos anos como pesqui­sador: reuniu, analisou, catalogou, classificou, estruturou e, enfim, publicou a doutrina cuja origem atribui às inteligên­cias invisíveis, os Espíritos. Em termos comunicacionais, grande parte de seu tempo foi utilizado para “codificar” a mensagem que, posteriormente, enviaria ao destinatário. Na condição de estruturador e na de intérprete das mensa­gens de outras fontes, Allan Kardec decodifica e recodifica, busca compreender os significados propostos pelas ideias contidas nas mensagens e as ressimboliza, porque participa do processo diretamente, de diversos modos, até dar a for­ma e o conteúdo final.

Há em Kardec uma consciência do diálogo, fulcro de qualquer comunicação, consciência esta representada pe­las ideias abertas e pelo sentido geral de que o Espiritismo é uma proposta de interpretação permanente do mundo, cujo termo não está presente em nenhum horizonte visível”.

Despedida

A vida, feita de ciclos sucessivos, conduz-nos, inevitavelmente, a mudanças.
Neste momento, estou encerrando meu ciclo de professor de Teoria da Imagem na Faculdade Maurício de Nassau, Recife, PE, depois de 9 anos completos de atividades naquela instituição de ensino superior privada.
Resolvi assumir, em definitivo, minha condição de aposentado, para a qual já vinha me preparando há algum tempo. Quando cheguei em Recife, para residir, incorporei-me à instituição, que, então, se iniciava, com cursos na área de comunicação social e de direito. Foram momentos extremamente férteis, na companhia do então coordenador José Mário Austragésilo, quando tudo estava por ser construído e o ideal da educação podia ser levado à frente como principal bandeira dos corações dispostos a participar do aprendizado das novas gerações que se formavam.
A Faculdade Mauricio de Nassau cresceu, vertigionasamente, e transformou-se no Grupo Ser Educacional, presente hoje em todos os Estados do Norte-Nordeste brasileiro. Inevitavelmente, a visão do negócio enquanto tal, se já não estava latente nos primeiros tempos, passou a status dominante, reduzindo drasticamente o ideal da educação. Para os profissionais da educação, que entregam suas vidas à carreira e dela dependem para sua sobreviência, resta guardar no âmago todos os sonhos, para não perder o impulso que garante a convicção e gera as ações que dão brilho à dignidade humana. Os jovens e seu preparo ainda justificam os melhores esforços dos que se prepararam para lhes oferecer o braço, o cérebro e o carinho do dia a dia, apesar de todas as dificuldades que se lhes são impostas no exercício da sua profissão, grande parte delas por conta dos resultados financeiros que o negócio deve gerar, como meta suprema.
A partir de agora, estou voltando minha atenção para outros projetos, todos, sem dúvida, ladeando o ideal da educação, alguns que já estavam em andamento e outros que surgem desses momentos surpreendentes e inexplicáveis, como um aceno de possibilidades a serem concretizadas.
Ao concluir esse meu ciclo e não podendo estar com todos os meus colegas, pessoalmente, venho deixar-lhes o meu abraço de reconhecimento pelo convívio, apoio e amizade, bem como dizer-lhes que continuarei a ser o amigo, sempre disponível, aquele que, mesmo distante do dia a dia, permanece com a certeza de que é possível construir um mundo justo e igualitário para todos, mundo esse em que a educação se coloca como o principal marco ou viga mestra.
Como risonhamente gostava de dizer um grande amigo: até de repente!
Com fraternidade e atenção.
Wilson Garcia
Julho de 2014

A interpretação que excede a lógica

 

A propósito da publicação no “Opinião” de abril/2014, da CCEPA, mas, também, daContextualizar é preciso corte ideia que a matéria representa, cabe um reparo amparado na lógica da doutrina que Kardec organizou e produziu, denominada Espiritismo.

A matéria diz respeito aos 150 anos de lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo, tão amplamente comemorados neste Brasil de nosso tempo, mas pouco, muito pouco mesmo analisada fora desse lugar comum que é o campo da religião, visto que sua lógica está para além do mero consolo e da simples aplicação da moral cotidiana.

A matéria do “Opinião” – Contextualizar é preciso – padece de um equívoco argumentativo, uma vez que deduz houvesse Kardec sido filho de uma outra cultura que não a cristã, ao seu tempo, teria escrito livro diferente para o aspecto religioso do Espiritismo. Esquece-se, contudo, da visão de conjunto necessária para compreender a posição de O Evangelho segundo o Espiritismo na doutrina de Kardec.

Talvez, ninguém melhor do que Herculano Pires tenha tido essa visão e deduzido dela a lógica do livro mencionado, lógica essa que o insere num contexto de uniformidade de vistas, de forma a constituir não apenas uma parte do conjunto, mas parte que não pode ser excluída porque deforma o todo e parte que não possui finalidade em si mesma, pois existe por conta do conjunto.

O argumento de que em outra cultura o livro seria outro exige do raciocínio um complemento: em outra cultura os Espíritos-autores seriam outros, logo as ideias também. Então, a dúvida: aquilo que é universal na doutrina seria defendido ou colocado por estes outros emissores? Os princípios fundamentais, como imortalidade, reencarnação, comunicabilidade dos espíritos, evolução, as leis naturais seriam todos integrantes elementares da obra? Haveria espaço em outras culturas para os princípios e a lógica que os une?

A questão não pode ser resumida a uma vontade de Kardec decorrente de sua submissão relativa à cultura na qual estava inserido. É o que reza Herculano Pires. A vontade de Kardec decorre do conjunto das ideias que o levou a optar por escrever um livro como sequência natural da obra iniciada em O Livro dos Espíritos e desenvolvida em O Livro dos Médiuns.

Herculano vai além: vê toda a Doutrina Espírita como sequência do conhecimento construído pela humanidade, através das civilizações. E a toma como um conjunto harmônico em que as partes se enlaçam de forma precisa, cada uma delas assumindo uma parcela da obra e a desenvolvendo, sem que haja qualquer tipo de choque com aquela que aparece na base do edifício: O Livro dos Espíritos.

Se os espíritas fizeram de O Evangelho segundo o Espiritismo o livro de maior destaque e lhe aplicaram uma importância que minimiza absurdamente o valor de O Livro dos Espíritos, numa ação irremediavelmente incoerente; e se O Evangelho segundo o Espiritismo tornou-se referência de um religiosismo exacerbado, como se o Espiritismo se resumisse a isso é uma questão para ser discutida. Outra, diferente, é ver o terceiro livro de Kardec como resultado apenas de uma situação cultural do autor, o que nos lança a um reducionismo obtuso.

Dizer que O Livro dos Espíritos é a fonte dos demais livros de Kardec é repetir o lugar-comum. Mas enfatizar que ele é o gerador dos demais para indicar que forma com eles um conjunto e que neste conjunto, independentemente de qualquer outra coisa, impera a lógica e a coerência interna é uma necessidade.

Diz o bom senso que o conjunto em referência não se refere apenas aos livros e às ideias que defendem, mas inclui, também, os autores (invisíveis e visíveis), o contexto, o tempo e o espaço dos acontecimentos. E, evidentemente, um olhar epistemológico. Qualquer conjectura, por mais legítima que seja, feita com o objetivo de apontar outras possibilidades, como essa levantada pelo “Opinião”, deveria, portanto, levar em consideração o conjunto e não uma obra isolada.

Dentro deste raciocínio, a figura de Jesus, as ligações com o cristianismo e outros aspectos desse mesmo tema não são iniciativas isoladas de O Evangelho segundo o Espiritismo, pois que estão amparadas na obra básica – O Livro dos Espíritos. Não é possível, pois, questionar aquele sem reconhecer a primazia deste e sem atingi-lo, da mesma forma que não é coerente desconsiderar os laços que unem as partes fundamentais da doutrina, como a comunicabilidade dos espíritos, as leis da reencarnação e da evolução, entre outras, laços que, eventualmente desfeitos, isolariam as partes e as lançariam à orfandade.

Em suma, a perspectiva de um outro livro implica um outro conjunto de ideias. Fora disso, não é possível refletir.

Coordenador da Abrade revela mágoas e leva a questão CNE-Feb para o lado pessoal

Atitude significa fuga à discussão dos pontos fundamentais da infeliz adesão da Abrade ao CNE-Feb e demonstra falta de consciência para com as responsabilidades de quem dirige uma organização destinada a divulgar a doutrina de Kardec.

Agindo como dono ou proprietário da instituição que dirige, a Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (Abrade), Demerval Carinhana Jr. fez publicar na lista interna daquela a resposta abaixo, a mim dirigida, na qual afirma: “Não pretendo, como defendem alguns, endereçar-lhe uma resposta institucional pública, como assim você o deseja…”. Além de tentar adivinhar meus pensamentos íntimos, coisa por demais difícil, a postura está em flagrante contradição com suas próprias palavras, uma vez que a lista pela qual se manifesta é pública e permite que qualquer pessoa dela participe.

Na verdade, o libelo é um documento que expõe as feridas de um coração atingido e, por isso mesmo, tenta levar a questão para o âmbito da individualidade, quando ela é institucional e transita no difícil terreno da ética que permeia a liberdade de pensamento e expressão e atinge, por conseguinte, a necessária independência da Abrade.

Não, não se trata de discutir as pessoas físicas enquanto tais, nem o seu comportamento moral e social, coisas que pertencem à consciência de cada um. Trata-se, sim, de refletir sobre as pessoas no seu campo de representação, nas suas responsabilidades enquanto indivíduos que detêm o status de um cargo na dimensão do compromisso doutrinário. É disso que se está tratando.

Demerval e os que dividem com ele a condução da Abrade têm o dever de prestar contas à comunidade espírita quanto aos atos que afetam diretamente à instituição e todos que, por compromisso com o Espiritismo, se sentem atingidos por suas ações têm o direito de manifestar-se. Não podem, aqueles, esconderem-se atrás do biombo institucional sob qualquer pretexto, quando o que está em jogo é a doutrina que Kardec arduamente construiu e legou à Humanidade.

A Abrade não é uma empresa privada em que os proprietários agem de acordo com seus interesses capitalistas e muitas vezes fogem à sua responsabilidade de responder por aquilo que produzem e afeta a sociedade. Ao contrário, a Abrade é uma instituição sem fins lucrativos, cujos representantes são eleitos para falar em nome de muitos e de uma doutrina que está na base de sua existência, devendo agir com ética e transparência na condução do destino da instituição. Isso é o mínimo que se espera deles. Sem o Espiritismo não existiria Abrade, portanto ela não se pertence a si, mas à comunidade espírita.

Quando preferem resolver seus profundos conflitos institucionais, de consequências amplas, no silêncio das reuniões fechadas demonstram padecer dos mesmos males que infestam a parcela da sociedade dominada pelo egoísmo individualista. Quando pedem para que essas discussões sejam feitas nos mesmos ambientes restritos é porque não são responsáveis o suficiente para responderem por seus pensamentos e atos.

Portanto, a discussão é necessária e deve ocorrer no campo e na dimensão em que se situa. Fora destes, será concordar com sentimentos mesquinhos, que não condizem com a grandeza da Doutrina Espírita.

ÍNTEGRA DO E-MAIL PUBLICADO POR DEMERVAL CARINHANA JR.

Caro Wilson Garcia,

Escrevo-lhe como pessoa, como espírita, como leitor de seus livros, dentre os quais, o belíssimo “Cairbar Schutel, O Bandeirante do Espiritismo”, que tanto me inspirou, e me inspira, dentro e fora do ambiente espírita.

Não pretendo, como defendem alguns, endereçar-lhe uma resposta institucional pública, como assim você o deseja, simplesmente porque não acredito que se deva dar mais publicidade aos muitos erros, sejam os por desconhecimento, por descuido e até mesmos os propositais, expostos ao longo do seu texto sobre os acontecimentos envolvendo a ABRADE.

No entanto, gostaria sim de discutir os muito acertos contidos nele.

Não creia que eles passaram despercebidos por mim, ou por outros companheiros de Campinas desde há muito tempo.

Para isso, temos uma lista própria, formada pelas pessoas que, em maior ou menor grau, interessam-se pela ABRADE.

Se, por algum motivo, você necessita de mais espaço para expor suas ideias, fique absolutamente à vontade para solicitar sua indicação como Coordenador do CNDE.

Você tem minha palavra que eu o apoiaria integralmente.

Se, como outros a quem foi ofertada tal tarefa, acreditar que isso possa lhe atrapalhar outros projetos em andamento, indique alguém que você julgue ser mais capaz. Estou certo de que há muitos outros comunicadores com maiores disposições psicológicas e mais tempo do que eu.

Se acredita que as ADEs atuais não honram o passado glorioso da ABRADE, funde uma, duas, três, tantas ADEs quanto achar por bem, a fim de que você e outros companheiros que lhe sejam afins possam permear suas ideias.

Mas, para que tudo isso torne-se realidade, e não uma interminável discussão filosófica, entenda apenas que não é necessário você enviar um longo texto a dezenas, a centenas de pessoas, procurando desqualificar quem quer que seja.

Se você quer realmente fazer algo, apenas faça-o com as ferramentas que tem à mão, no caso, a própria ABRADE.

Apenas não espere que os outros o sigam cegamente. É preciso dialogar.

Como o companheiro já leu outras vezes, o tempo mostrará de que lado a razão está.

Dermeval

Para compreender o assunto, leia também os seguintes posts: http://www.expedienteonline.com.br/?p=616 e   http://www.expedienteonline.com.br/?p=1004