Há muito tempo, por caminhos de que já não me lembro, chegaram-me às mãos cinco números dessa revista em formato de bolso (grande), ou seja 13,5 cm X 18 cm, lançada em 1955, em São Paulo, Capital. Bem cuidada, começou com capa a cores e papel de miolo comum, depois de alguns números o miolo passou a papel couchê. O seu formato diminuto era compensado com uma boa diagramação, mas o que de fato lhe dava peso eram os articulistas e um bom trabalho de redação. Herculano Pires, Hernani Guimarães, Carlos Imbassahy, Luiza Peçanha e outros nomes estavam presentes desde o início da revista, que tinha na sua direção Vicente Cruso. Vejamos.
O primeiro número do segundo ano de circulação (julho de 1956) foi quase inteiramente dedicado à I Semana Espírita da Cidade de São Paulo que se realizaria naquela data, tendo o evento sido coordenado pela USE de São Paulo, que então tinha apenas nove anos de vida. O programa completo está publicado nessa edição. A outra parte da revista traz o começo de um embate entre Herculano Pires e seu amigo Carlos Imbassahy, que vinha escrevendo uma série de artigos em que fazia críticas à ligação entre Espiritismo e Cristianismo. Herculano, apesar de amigo de Imbassahy, critica o seu posicionamento e defende o elo entre a novel doutrina e a antiga. O embate prossegue nos números posteriores. Vale conferir.
Nessa mesma edição aparece um artigo de Humberto Rodhen, sob o título de “Espiritismo cristão ou Espiritismo sectário”, em que se defende de uma acusação que lhe fez Herculano Pires, alhures, de ainda ser dominado por um clericalismo de origem e estar se infiltrando nas hostes espíritas sob disfarces que Herculano julgou perigosos. Rodhen argumenta de forma contrária e coloca Herculano entre os que promovem um Espiritismo sectário, dizendo que ele, Rodhen, pregava um espiritualismo cristão. Na ocasião, Rodhen era bastante solicitado nos meios espíritas e Herculano alertava para o perigo que isso representava em termos de compreensão dos princípios espíritas. Como se sabe, Rodhen fora um padre católico de projeção que um dia deixou a batina, defendia pensamentos bem avançados, era dono de boa fama, mas em termos de bases espíritas não tinha proximidade com a doutrina de Kardec.
Na revista de número 4, aparece Hernani Guimarães Andrade assinando um artigo de cunho científico, mas também como Diretor Secretário da revista e o deputado Campos Vergal é notícia por sua ação junto ao Ministro de Viação e Obras Públicas com a solicitação de informações sobre o selo comemorativo do primeiro centenário da codificação espírita, porque o selo havia sido aprovado na Comissão de Filatelia, mas sofria entraves estranhos para ser lançado. O Ministro, então, atendeu ao deputado e autorizou a emissão.
O número 6 de abril de 1957 é aberto com a matéria de Carlos Imbassahy em que interpreta o pensamento de Kardec em relação à religião, colocando que este deu força ao conceito religioso, contudo “o aspecto religioso não é o mesmo que transformar o Espiritismo em religião”, afirma. Como se vê, este artigo é parte da contenda com Herculano Pires, que também aparece neste mesmo número com o artigo “Como o espírito vence a matéria – a religião triunfa sobre o culto”, mas não se trata da mesma contenda com Imbassahy e, sim, de uma argumentação sobre como enfrentar os ataques ao Espiritismo feitos por pessoas e clérigos.
O número 7 do mês de maio de 1957 abre com o editorial e o título “E o selo saiu…”, comemorando o fato de haverem sido vencidas as oposições ao seu lançamento pelos Correios, capitaneadas pelo Clero brasileiro. Carlos Imbassahy aparece novamente com um artigo de título “Carta ou crônica” assim iniciada: “Caro amigo. Nunca fui contra a Religião. Nem é possível retirar do Espiritismo a parte religiosa. Sem ela, seríamos ateus”. Aqui, combate a tendência dos religiosos para os exclusivismos, sectarismos, infalibilidades etc. Herculano está presente, também, com um artigo em que esclarece suas críticas ao “Primeiro Livro dos Espíritos de Allan Kardec, 1857”, de Canuto de Abreu, então recém-lançado, críticas essas iniciadas por ele nos Diários onde assinava Irmão Saulo. Herculano centra seu argumento no fato de não haver separação radical, como quer Canuto de Abreu, entre a primeira e a segunda edição de O Livro dos Espíritos. Aparece, ainda, boa reportagem sobre as comemorações do centenário do Livro dos Espíritos realizadas no Ginásio do Pacaembu.
Em o número 11, que fecha o ano de 1957 e abre o de 1958, João Teixeira de Paula faz ampla resenha da imprensa espírita e Herculano Pires analisa a mensagem que abre a edição do Evangelho segundo o Espiritismo, dizendo: “A mensagem do Espírito da Verdade […] resume o verdadeiro caráter da doutrina e o objetivo da obra”. Outras boas matérias fecham a revista.