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Crônica da violência

A reportagem de uma revista semanal sobre Eder Jofre é surpreendentemente boa. O nosso pugilista maior está na lona e, ao que parece, dando razão a Descartes e Rousseau ao mesmo tempo. O indivíduo e a sociedade juntaram-se para, sob o ícone do herói, atenderem aos instintos mais antigos da violência e divertirem a nação. Com a cumplicidade inconteste da mídia, essa vilã admirada, filha de uma civilização indecisa.

Rousseau reverbera a ideia de uma sociedade que corrompe o indivíduo que em sua origem é bom. Não sem certa dose de razão. Tinha eu meus doze anos, lembro-me bem, e estava assistindo a um jogo de futebol em minha cidade natal, quando o locutor parou a narração da partida para avisar, com inaudito entusiasmo, que Eder Jofre acabara de se sagrar campeão dos pesos galos. Desde então, o Brasil entrou no ringue e nunca mais saiu. E eu, sem nem tempo para pensar, arrepiado, entrei também.

Hoje, mais de cinquenta anos depois, percebo que ainda há violência represada em mim, pronta para eclodir ao mais leve aceno da mais valia midiática…

Sem esforço, retrocedo no tempo para encontrar três heróis brasileiros: Heleno de Freitas, Ayrton Sena e o nosso Eder Jofre. Digo nosso Eder Jofre porque, dos três, é o único que está entre nós e, também porque adotou o Espiritismo como visão de vida.

Heleno, conterrâneo e filho de família de classe alta, habitou o meu imaginário infantil. No final dos anos 1950 já era um herói que nunca cumpriu as etapas da jornada. Fora elevado ao topo dos grandes jogadores de futebol e, ali onde nascera e nasci, era o principal ícone a preencher o espaço de um tempo arrastado com histórias, umas terríveis e outras espetaculares. Mas caminhava, então, para o final de sua breve existência em que álcool, drogas e sexo cuidaram de atirá-lo no calabouço da loucura. O cérebro se desarticulou, o corpo tombou numa solidão fantasmagórica.

Ayrton Sena concentrou todos os anseios e todos os objetivos de uma nação dita carente de heróis. A mídia, essa voz uníssona na bondade dos quinze minutos de fama, juntou voz e música para dar vida ao herói em sua jornada nacional. Sena era veloz, a mídia é veloz, o povo gosta das soluções rápidas. Tudo isso junto tornou as manhãs de domingo do brasileiro uma atração a fortalecer os laços sociais. E Sena, mito e verdade, cumpria com rigor o seu papel voando nas pistas perigosas dos desejos, até escapar horrorosamente pela direita e ver-se atirado fora do corpo, a voar no desconhecido, sem um botão que o ajudasse a deter o espírito como costumava deter o bólido de aço. A nação, estarrecida, chorou e ainda chora, como poucas vezes no passado.

Eder Jofre, o nosso pugilista maior, espírita confesso, jamais viu o boxe como o lugar da violência, porque em seu espírito o outro não é o adversário, o inimigo, mas aquele com quem se pratica a arte dos golpes e das esquivas. Assim, se o boxe é arte, Eder foi nosso ator maior, sensível, verdadeiro bailarino do quadrilátero de cordas.

Mas nem Heleno, Sena e Eder conseguiram sobrepor-se ao complexo entorno de suas artes, onde os interesses se somam e cobram dos protagonistas o estrito cumprimento de um papel escrito em letras de ouro para ser representado em todos os palcos do espectro social. Fama, imagem e dinheiro escondem violências praticadas sem arte e sem regras pelos construtores de mitos, numa disputa feroz e permanente pelo comando dos atores, que lhes rende dividendos permanentes, até que eles, os mitos, são entregues, exangues, à sua própria solidão. Não poucas vezes, sem direito de decisão. Heleno sorriu para a fama que lhe foi oferecida sem perceber que sob o manto da glória escondia-se um tigre faminto; Sena, na sinceridade do seu despojamento, agarrou o volante, mas não percebeu a engrenagem que o mantinha; Eder, sem nunca ter beijado a lona, foi sem clara consciência duas vezes ao chão, de onde se ergueu carregando enorme decepção.

O corvo cumpre um papel na cadeia da vida; o homem-abutre se nutre da carne fresca dos sonhadores que se fazem artistas para alegrar a vida e embelezar o mundo.

Que Deus nos livre dos abutres humanos!

CARTA DE SANTOS – Uma leitura

 

Faltou projeto?

O 16º Congresso Estadual da USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo terminou com a publicação de um documento chamado “Carta de Santos” (ao final reproduzida), marcando, assim, a cidade onde o evento ocorreu no período de 18 a 21 de abril último.

A conhecida cidade praiana foi berço de uma grande dissidência no movimento espírita paulista, nos anos 1970, capitaneada por Jaci Régis e companheiros, dissidência que estendeu-se com o tempo e alcançou status internacional, ou seja, deixou de ser local para atingir o país e posteriormente a América do Sul. Surgiu daí a expressão “grupo de Santos”, como designativo dessa dissidência. Uma das consequências disso foi o crescimento no Brasil da influência da Cepa – Confederação Espírita Pan-americana, à qual muitos membros do grupo de Santos se filiaram, bem como de sua visão laica do Espiritismo, segundo a qual o Espiritismo não pode ser visto como religião, ressaltando, em seu lugar, as “consequências morais” previstas por Allan Kardec.

A questão é conflituosa. A realização de um congresso estadual, mais de 30 anos depois dessa dissidência, ali, no epicentro dos acontecimentos, teria ainda reflexos daqueles fatos? Se feita uma análise anterior, despontaria como inevitáveis os reflexos de ambos os lados, pois, as divergências de opinião sobre o terceiro aspecto do Espiritismo – religião ou moral – não só se fez crescer desde então, como ampliou exponencialmente o quadro de espíritas interessados em endossar a posição cepeana de um Espiritismo laico e livre pensador.

Há que se notar que o grupo de Santos não se resumiu a apenas espíritas de Santos ou ali localizados; integravam-no pessoas de outras latitudes e quando a Cepa expandiu-se no Brasil alcançou variados estados do País. Considere-se, ainda, que o grupo de Santos, embora não conte mais com a presença de seu principal líder entre os encarnados, tinha na juventude de boa parte de seus integrantes um quadro promissor, de maneira que, atualmente, muitos deles se destacam na sociedade em postos de expressão, sem ter abandonado suas ideias laicas.

Mas não é só. O cenário dos anos 1970 alterou-se profundamente. Na ocasião, a Feb – Federação Espírita Brasileira não vivia dias muito fáceis no País, pois enfrentava uma série de oposições aos conceitos que defendia, entre os quais, de enormes desassossegos para ela, estava, como ainda está, a questão roustainguista do corpo fluídico atribuído a Jesus. A Use, então, constituía uma das principais trincheiras contra a Feb.

Com habilidade, a Feb desmontou o quadro desfavorável a ela no País e, na atualidade, a Use de São Paulo, em particular, não é mais uma trincheira de lutas aos que se opõem à Feb, mas, ao contrário, um dos principais redutos onde os projetos febianos encontra apoio. Mesmo quando se observa o quadro por dentro e se constata oposições, são elas apenas pontuais e menores, que se dão nos bastidores e que, por isso mesmo, não alcançam, como antes ocorria, os ouvidos da população espírita.

Sendo a Cepa vista como oposição inaceitável à Feb e a Use como um reduto febiano e sendo ambas acossadas por uma expansão da Cepa que de certa forma incomoda, seria ingenuidade imaginar que um congresso da Use em Santos não resultasse em repercussões nas partes envolvidas.

A leitura da carta de Santos parece reforçar essa conclusão. O documento surge de modo curioso, uma vez que não consta ter ele sido debatido em larga escala no referido congresso. Também não são conhecidos os nomes daqueles que tiveram o privilégio de propor e discutir os seus termos. Em geral, as conclusões de um congresso – o da Use tem o caráter de estadual – são tomadas coletivamente, mas nos últimos tempos os chamados “congressos espíritas” alteraram o conceito de congresso, transformando-o num evento de grandes palestras e pouco ou quase nenhum diálogo, desnaturando, assim, essa conhecida forma parlamentar de trocas simbólicas.

Registro o seguinte: a carta de Santos não surgiu inesperadamente, pois está relacionada no programa do evento. Lá aparece como peça do derradeiro dia 21, no item “Conclusões e solenidade de encerramento”, cuja responsabilidade foi entregue ao presidente da Federação Espírita da Bahia, André Luiz Peixinho, em palestra por ele realizada, com duração de cerca de 90 minutos. Com certeza, esse tempo foi utilizado para um resumo das atividades daqueles três dias. O tempo dado para a carta de Santos foi de apenas 15 minutos, creio, suficiente para a sua leitura e tomada de conhecimento do público. Pode-se pensar que o palestrante, ao iniciar sua fala, já possuía o documento e, se isso é verdadeiro, tal documento foi lavrado anteriormente por algumas pessoas autorizadas.

Vamos à sua leitura.

O termo inicial da carta de Santos é difuso: “Os espíritas reunidos…”. Uma generalidade resultante, por certo, de um descuido ou de uma intenção deliberada, uma vez que o congresso é estadual e, além do mais, adstrito ao público useano, mesmo que não fechado a esse. Dizer “os espíritas” implica atribuir um significado amplo, que não é verdadeiro, podendo estender-se ao Estado de São Paulo e até mesmo ao País.

A continuidade do texto vai nessa direção: “Os espíritas… conclamam o movimento espírita e todos os espíritas paulistas e do Brasil”, ou seja, embora restrito enquanto evento de uma região, o ânimo está tomado de uma grandiosidade que, inclusive do ponto de vista político, é incorreto, mas, de fato, pouco perceptível pela maioria dos congressistas.

Entremeando essas duas expressões aparece esta outra afirmativa da qual se pode duvidar que expresse uma verdade cristalina: “após as reflexões propostas pelos participantes”. Além de ser também genérica, a afirmativa pretende expor que a carta da Santos surgiu de expectativas colocadas pela totalidade dos congressistas em algum momento ou durante o evento, como se já não estivesse programada. Trata-se apenas, quer-se crer, de uma força de expressão visando dar maior validade ao documento e menos dizer que ele reflete o pensamento dos congressistas, o que, se fosse verdade, seria muito bom.

Estas considerações que aqui faço têm sua razão de ser; a carta de Santos parece ter saído de ideias previamente estabelecidas por um pequeno grupo, refletindo sua visão parcial do Espiritismo, o que se pode constatar quando se completa a leitura desse trecho inicial do documento. Ei-lo:

“Os espíritas… conclamam… o movimento espírita… a “dar a sua contribuição na construção real de um mundo de regeneração. O mundo novo para onde caminha a humanidade deverá ter a efetiva contribuição dos espíritas para a formação de um homem novo”. Ou seja, há um pensamento, uma ideia prévia de que um mundo de regeneração está em construção e os espíritas têm uma importante contribuição a dar a esse mundo novo para onde caminha a humanidade.

Não está em questão discutir se é verdadeiro ou não esse mundo de regeneração, nem se um homem novo dele surgirá, porque são claramente expressões retiradas dos textos espíritas. O principal aqui é a eleição desse conteúdo como diretriz do documento, ou seja, o documento reflete um norte dado por alguém em algum momento, norte esse aceito e levado a efeito em nome de uma totalidade de congressistas que, possivelmente, não participou dessa discussão. Essa diretriz, assim definida, estaria a serviço de uma parcela dominante, refletindo mais uma postura pontual do que uma visão ampla do Espiritismo? Isso merece uma ampla reflexão.

Conquanto a última frase da parte introdutória intente direcionar o conteúdo da carta, esta não reflete de fato os itens elencados, que, segundo ali se diz, estariam subordinados à ideia do “amor, a ética e a educação”. Vejamos.

São sete itens não numerados. O primeiro e o sétimo se interligam pela mesma base ideológica, mas o primeiro, por ser o primeiro e pela forma como foi redigido, levanta suspeitas não sobre si e seu sentido, mas sobre as intenções a que ele atende ao ser aí posicionado, sugerindo a pergunta: é ele resposta ao laicismo do grupo de Santos e, por extensão, à Cepa, seus integrantes e diretores? É reafirmação de poder da Feb em termos de um Espiritismo brasileiro a viger sob sua visão racional? Recorde-se que está lá escrito: “Seguir o Mestre Jesus, como Guia e Modelo e que nos convoca para sermos perfeitos como perfeito é o Pai”. Digo poder da Feb por muitas razões e uma delas é esta: a Use não tem tradição nesse tipo de postura, ou pelo menos não a nutria porque ela, Use, resulta de um diálogo tipo congressual e possui estrutura formal que de algum modo reflete tal cultura. Mas a Use dos dias atuais, aquela que se vê na prática do quotidiano já não é também a Use consagrada pela tradição dialógica, uma vez que tornou-se reduto das ideias defendidas pela Feb, sendo desnecessário apontar exemplos por estarem evidentes.

Os cinco itens outros, que completam a carta de Santos, repetem lugares comuns e não apresentam nenhuma ideia prática, tipo saber-fazer-fazer. São questões soltas, generalizantes, constituindo uma espécie de pequena colcha de retalhos, sem projetos claros e objetivos, apesar de a Use, fundamentalmente, ter por público alvo dirigentes e trabalhadores espíritas e ser, pelo menos no plano teórico, a imagem deles. O quarto item, por exemplo, atira a esmo contra “procedimentos formais e burocráticos” sem objetivá-los de forma a dotar o documento de um projeto claro, mais parecendo uma crítica velada a alguma coisa mantida em segredo. Evidentemente, o conselho se aplica às casas espíritas, mas dito aqui, deslocado do pretendido eixo central da carta (“amor, ética e educação”) sugere intenções veladas cujo propósito fica recluso.

De modo mais amplo, não será despropositado perguntar: será a carta de Santos a carta da Feb? – uma vez que aporta aspectos que mais parecem se afinar com a forma como a antiga instituição conduz o movimento espírita nos últimos anos, a despeito das aparentes alterações pretendidas e não alcançadas.

A carta de Santos constitui um tipo de documento que normalmente é redigido na forma impessoal, por representar, em tese, o pensamento de uma coletividade reunida em determinado local e hora. Mas a impessoalidade da carta de Santos cai por terra derradeiramente no último parágrafo, deixando à mostra que por traz dela encontra-se a mão de alguém que desejou torná-la instrumento de um pensamento particular, o qual ou foi aceito inadvertidamente ou foi consagrado pelo convencimento dos pares consultados. Eis que está assim formalizado: “E deste modo e com a participação de todos como protagonistas do bem, vamos construir nosso caminho evolutivo, buscando e prosseguindo para o alvo ao fazer da Terra o paraíso que ela pode ser”.

A carta de Santos, enquanto documento da expressão do pensamento de um congresso, é frágil e se volta para dentro do movimento, como se esse movimento existisse por si, à parte da sociedade. Imensos problemas que afetam diretamente o cidadão e a sociedade e dos quais o movimento espírita depende ficaram totalmente de fora das preocupações. Mas, há que se reconhecer, ela reflete de algum modo um evento pouco afeito à dialogicidade, não àquela dialogicidade dos pares, mas a do diálogo com as diferenças, cuja troca de ideias se coloca como a principal maneira de enriquecer o pensamento e ampliar a dimensão do conhecimento espírita.

À parte essa questão, resta concluir com a observação de que em sendo a carta de Santos a reafirmação da condenação, pelos religiosos febianos, do laicismo cepeano, estamos diante de uma demonstração de imensa fragilidade pelos autores da carta. O Espiritismo pede propostas e projetos para sua disseminação e esses jamais virão com o fechamento dos canais de diálogo, com a separação das ovelhas, como tem sido frequentemente manifestado pela Feb, aliás em franca oposição ao próprio pensamento de Bezerra de Menezes, reproduzido ao final da carta, no qual o referido espírito propõe única e tão-somente a união solidária pelo diálogo como forma de fortalecimento do movimento.

CARTA DE SANTO1 (2)

Liberdade e paz

Neste sábado, dia 17 de janeiro de 2015, estaremos debatendo este intrigante assunto com o professor Saulo Santos no programa Realidade Paralela, pela Rádio Folha, 96,7 FM, a partir das 13:30h. Saulo é um dos líderes da esforço pela Paz em Recife. O tema está relacionado com os últimos acontecimentos na França, o terrorismo mulçumano e a liberdade de expressão e pensamento. PROGRAMA REALIDADE PARALELA, RÁDIO FOLHA FM 96,7, RECIFE, PE. SÁBADO, 17 DE JANEIRO, ÀS 13:30 H.

Despedida

A vida, feita de ciclos sucessivos, conduz-nos, inevitavelmente, a mudanças.
Neste momento, estou encerrando meu ciclo de professor de Teoria da Imagem na Faculdade Maurício de Nassau, Recife, PE, depois de 9 anos completos de atividades naquela instituição de ensino superior privada.
Resolvi assumir, em definitivo, minha condição de aposentado, para a qual já vinha me preparando há algum tempo. Quando cheguei em Recife, para residir, incorporei-me à instituição, que, então, se iniciava, com cursos na área de comunicação social e de direito. Foram momentos extremamente férteis, na companhia do então coordenador José Mário Austragésilo, quando tudo estava por ser construído e o ideal da educação podia ser levado à frente como principal bandeira dos corações dispostos a participar do aprendizado das novas gerações que se formavam.
A Faculdade Mauricio de Nassau cresceu, vertigionasamente, e transformou-se no Grupo Ser Educacional, presente hoje em todos os Estados do Norte-Nordeste brasileiro. Inevitavelmente, a visão do negócio enquanto tal, se já não estava latente nos primeiros tempos, passou a status dominante, reduzindo drasticamente o ideal da educação. Para os profissionais da educação, que entregam suas vidas à carreira e dela dependem para sua sobreviência, resta guardar no âmago todos os sonhos, para não perder o impulso que garante a convicção e gera as ações que dão brilho à dignidade humana. Os jovens e seu preparo ainda justificam os melhores esforços dos que se prepararam para lhes oferecer o braço, o cérebro e o carinho do dia a dia, apesar de todas as dificuldades que se lhes são impostas no exercício da sua profissão, grande parte delas por conta dos resultados financeiros que o negócio deve gerar, como meta suprema.
A partir de agora, estou voltando minha atenção para outros projetos, todos, sem dúvida, ladeando o ideal da educação, alguns que já estavam em andamento e outros que surgem desses momentos surpreendentes e inexplicáveis, como um aceno de possibilidades a serem concretizadas.
Ao concluir esse meu ciclo e não podendo estar com todos os meus colegas, pessoalmente, venho deixar-lhes o meu abraço de reconhecimento pelo convívio, apoio e amizade, bem como dizer-lhes que continuarei a ser o amigo, sempre disponível, aquele que, mesmo distante do dia a dia, permanece com a certeza de que é possível construir um mundo justo e igualitário para todos, mundo esse em que a educação se coloca como o principal marco ou viga mestra.
Como risonhamente gostava de dizer um grande amigo: até de repente!
Com fraternidade e atenção.
Wilson Garcia
Julho de 2014

Coelho Netto e o Espiritismo. Outra vez?

Capa da 1a. edição
Capa da 1a. edição

Alguns estudiosos da Transcomunicação Instrumental tratam o caso de Coelho Netto como o primeiro em que um espírito, o de sua neta, fala com um encarnado – a mãe da menina – pelo telefone. A afirmação foi dada pelo próprio escritor numa famosa entrevista concedida ao Jornal do Brasil no finalzinho do primeiro quarto do século XX. Clique aqui para ver e ler o documento integral.

A posse, o poder, o silêncio

A era pós-Thiesen é a era da consolidação da Estratégia Thiesen. E quem a consolida? Aqueles mesmos a quem ele um dia revelou as delícias do poder e atraiu para junto de si, polindo suas crenças e hábitos. A FEB é a Casa de Ismael, Ismael é o poder. A FEB é o Espiritismo, o Espiritismo é a FEB. O que mais quer um homem sonhador, que imagina o Espiritismo se entranhando na sociedade mundial e oferecendo as delícias do novo reino? Leia o texto integral clicando aqui.

Herculano estuda os cinco livros da codificação de Kardec

selo_encart_wwwTodo o texto resulta de um trabalho longo e paciente de decupação de fitas magnéticas onde a palestra foi gravada, mantendo a coloquialidade da conversa, fator esse que permite acompanhar o professor em sua “aula” e com sua forma peculiar de se relacionar com a plateia de modo próximo, espontâneo, em que busca trazer para perto de si aqueles que se encontram na condição de alunos. Clique para ler o texto integral.

Crônica do sagrado

Sérgio mora em São Paulo, mas o vejo sempre pelo Skype. Ontem, achei-o um pouco desenxabido, daquele tipo que fica olhando para o lado como quem quer fugir de uma conversa mais franca.

Interessante, o virtual já se misturou com o real de tal maneira que as pessoas estão repetindo na imagem o comportamento que expressam no face-a-face e o virtual está tão high definition que se torna quase natural perceber essa nova realidade.

Sem me conter, indaguei: que há contigo?

Desculpou-se três vezes, antes de abrir-se. Estava decepcionado, pois acredita na mudança, na necessidade da mudança, no dever da mudança, no movimento que implica mudança já que a roda da evolução só gira para frente.

Não entendi, disse.

Enfim, desabafou: hoje li a notícia do fechamento pela Feb do contrato para a publicação da Bíblia. Isto é o fim de toda minha esperança de transformação no destino da velha instituição. No que devo acreditar, qual é o significado do novo se o novo repete o velho?

Ouvi-o por cerca de dez minutos, a desenrolar o seu imenso corolário de justificativas. E vi sua face tensa, triste, doída.

-Não precisa repetir-me os seus avisos, falou-me. Agora entendo.

Sérgio calou-se. Foi minha vez de falar.

O problema do novo é o novo. É difícil representá-lo, ser o porta-voz dele, encarná-lo. Onde está o novo? No espírito? Mas o espírito para ser o novo não pode ser apenas retórica e argumentos.

O problema do homem que se autoproclama representante do novo é deixar-se ver apenas em sua complexidade imagética: nos olhos, na face, na expressão corporal, detalhes do visível recortado iconicamente.

O discurso do homem-imagem pode ser o discurso da esperança, mas quando a realidade o confronta vê-se que a esperança dele não é a do homem novo. A imagem padece de conformidade com (ao negar) a realidade, e não a nega apenas pelo conteúdo ilusório que lhe é próprio, mas pela ilusão acrescida, deliberada, intencional.

O novo não é naturalmente inclusivo, não está nem faz parte por ser o novo. Sua inclusão se dá pela ação que decorre da convicção firmada. O discurso é a promessa, que a imagem incorpora magistralmente, e muito mais no cotidiano tecnológico de nosso tempo.

Quando o homem-imagem-discurso descobre o prazer da fantasia e a espetacularização o projeta socialmente, apodera-se da ilusão imagética para aumentar o fascínio do outro, alimentando-a com a retórica do novo, da mudança, infundindo no outro a falsa esperança.

É por isso que o homem-imagem não pode mais prescindir desse signo icônico. Sem ele, ver-se-ia despido, nu, transparente e nem sempre o nu é arte.

Há duas maneiras de interpretar a imagem: uma mais segura e muito difícil, decorre da análise semiótica e para ser realizada exige especialização; outra, mais fácil e também mais dolorosa, chega-nos pelos veios pedregosos da desilusão. É quando a realidade contorna a imagem e se mostra em sua própria nudez.

O homem-imagem sabe que está sempre em perigo, pois participa de um jogo onde a imagem persegue a realidade e a realidade só se deixa aprisionar em seus nacos mutáveis. Quando um flagrante do real é registrado, no instante seguinte a realidade já não é mais aquela.

A imagem sobrevive na duração, a realidade existe para além do tempo. A primeira resulta intencional, a segunda está acima de qualquer suspeita.

Quando, pois, o homem-imagem, apesar de comprometido na origem com o novo, age para manter o velho como a Feb ao propor-se a editar a Bíblia, meu caro Sérgio, o que deixa à mostra? A impossibilidade de dominar a realidade.

Ah, não se esqueça de uma coisa: a ilusão é elemento intrínseco à imagem e não à realidade.