Resenha

Livro: A gênese de Allan Kardec – da polêmica aos fatos

Autores: Adair Ribeiro Júnior, Carlos Seth Bastos e Luciana Farias

Edição digital da Sociedade Espírita Primavera, disponível em Amazon.com

568 páginas, capa a cores

O começo de tudo se deu em 1884, em Paris, França, teve um recrudescimento na década de 1920, no Brasil, e retornou de modo impactante em 2017, concomitantemente na Argentina e no Brasil. Tudo gira em torno da 5ª edição do livro A gênese, os milagres e as predições, de Allan Kardec, acusada inicialmente por Henri Sausse de conter adulterações em relação às primeiras quatro edições.

Esse brevíssimo resumo permite fazer uma linha do tempo para entender as polêmicas que surgiram em torno da denominada adulteração da obra derradeira de Allan Kardec, A gênese, desde o seu lançamento em 1868, suas quatro primeiras edições e aquela que daria margem a toda polêmica atual, publicada meses depois da morte física de Kardec.

Os autores deste A gênese de Allan Kardec entraram em campo depois que O legado de Allan Kardec, escrito por Simoni Privatto e publicado inicialmente em espanhol em Buenos Aires, Argentina, uma vez que Privatto apresentou documentos e interpretações, fatos e levantamentos que mexeram com a história do espiritismo no Brasil e alhures. Não havia dúvidas de que o assunto tomava, ali, outros rumos, ganhando adeptos e defensores da tese de que houvera de fato profundas adulterações em A gênese, ao arrepio da vontade de seu autor, Allan Kardec.

Pois bem, temos agora um novo livro sobre a importante questão. Adair, Carlos e Luciana reúnem nele todos os documentos e desenvolvem o circuito ou processo de pesquisa que juntou outros documentos, mais fatos e uma descoberta que, segundo eles, alterou as conclusões de Simoni Privatto, bem como a verdade em torno da possível adulteração. E sua conclusão é: foi Allan Kardec quem fez, antes de seu falecimento, todas as alterações no livro visando sua 5ª edição, que seria lançada meses após sua partida.

Todos os elementos de evidência estão dados a esse respeito, dizem os autores. Basta que o leitor interessado compulse os documentos e verifique por si a veracidade deles, bem assim a sequência argumentativa seguida pelo desenrolar da lógica observada. O apelo final segue essa linha de bom senso que todas as pesquisas que observam o método científico utilizam: não se fecha a questão. Contudo, como conclusão por agora, a certeza é de que foi Kardec o autor da palavra final da última edição de A gênese. Disso não abrem eles mão.

É preciso dizer que os defensores da tese da adulteração de A gênese permanecem atuantes em sua argumentação, a mais importante a de que as alterações promovidas no texto que vigorou nas quatro edições iniciais são profundas e modificam o pensamento de Kardec, coisa que, segundo estes, não faz sentido e nem seria do caráter do fundador do espiritismo. A diferença está em que estes defensores estão devendo uma necessária ampliação e um aprofundamento das suas pesquisas, a fim de dar sustentação científica aos seus argumentos, no sentido de chegar a um ponto, senão final, pelo menos pleno de evidências de que a adulteração se concretizou de fato. Para isso será necessário contra-argumentar e demonstrar que as provas e evidências apresentadas no livro A gênese de Allan Kardec estão equivocadas.

Quando do lançamento do meu livro Ponto final, o reencontro do espiritismo com Allan Kardec, pela Editora EME, em dezembro de 2020, os fatos históricos que vieram desenhar outro entendimento para a questão da possível adulteração não eram ainda inteiramente conhecidos. Prevalecia, pois, a opinião e os documentos em torno da adulteração, que pareciam irretorquíveis. No livro Ponto final, de forma sintética, pelo fato de não ser o seu foco a própria adulteração e, sim, os desvios doutrinários promovidos pela obra de João Batista Roustaing, me utilizo do tema da adulteração nos livros A gênese e O céu e o inferno, de Allan Kardec, opinando favoravelmente à referida adulteração. Reconheço agora que os novos fatos históricos oferecem outro entendimento à questão.

Um esclarecimento: o texto integral deste A gênese de Allan Kardec é a reunião de diversos textos escritos e publicados pelos autores em veículos da imprensa espírita. Assim, este livro foi escrito, segundo eles, para atender aos pedidos de ter tudo junto num mesmo lugar. Certamente, por isso, este peca pela falta de melhor unidade e apresenta repetições diversas, o que seria evitado e daria mais fluidez ao texto se fossem feitas as devidas costuras e amarrações entre os trabalhos reunidos. Far-se-ia, pois, uma unidade mais sólida e de mais agradável leitura.

Dê o leitor sua palavra final!

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

8 thoughts on “Livros, adulterações e o ponto (quase) final”
  1. Esse assunto da adulteração (ou não) da Gênese está bem interessante. Depois de ler o livro da Simoni eu tbm entendi que havia farto material que prova a adulteração, mas depois chega esse trabalho dessa galerinha meio que invertendo essa certeza. Penso que o assunto ainda não está fechado, mais coisas devem vir aí pela frente, de ambos os lados. Aguardemos.

    ps: meu caro Wilson, vejo que você está fazendo bom uso do livro que te repassei tempos (muitos anos) atrás, que é o livro ALGUNAS ENCARNACIONES DE ALLAN KARDEC.

  2. Sim, João, esse e outros, mas, também, a experiência de nossa convivência. Grande abraço.

  3. João Roberto Nascimento, sinto te decepcionar mas não tem nada previsto para ser divulgado mais pra frente sobre as adulterações (ou melhor dizendo, que comprove que as adulterações não existiram). Foram pouco mais de três anos de pesquisa (2020 a 2023) até reunirmos os documentos, divulgarmos em lives, escrevermos artigos de caráter científico até, por fim, escrevermos o livro, do qual sou uma das autoras. Então antes de dizer que é o trabalho de uma “galerinha invertendo uma certeza”, recomendo que faça como o Wilson Garcia, que primeiro leu nossa pesquisa, para depois chegar às próprias conclusões. No caso dele, a conclusão foi de que não houve adulteração e “Para isso [para os partidários da adulteração continuarem defendendo sua conclusão] será necessário contra-argumentar e demonstrar que as provas e evidências apresentadas no livro A gênese de Allan Kardec estão equivocadas”.

  4. Muito bom o texto, Wilson Garcia, como quase todos (). Está de parabéns.
    Eu também fui adepto de primeira hora da tese da adulteração e tento entender a dificuldade que a maioria teve em reconhecer que ela era equivocada. Um dos motivos que encontro, que serve principalmente para mim, é que “explicava” a deturpação do Espiritismo no Brasil, com seu igrejismo, roustanguismo, conservadorismo e tantos outros ismos. Ou seja, a tese da adulteração vinha com a roupagem de uma luta por um Espiritismo progressista num momento de trevas, de domínio do que há de pior no conservadorismo religioso/político no nosso País. Entendo que é possível a vivência de um Espiritismo progressista, na questão da evolução da própria doutrina, mas também no âmbito social e político, aceitando que houve equívocos na sua origem e que o próprio Alan Kardec não era perfeito nem o revelador de uma verdade definitiva.

  5. Luciana Farias, o João Roberto Nascimento escreveu “invertendo certezas” e não “inventando…”. Acho que faz uma diferença no entendimento do que ele quis dizer rsrsrs

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