MERHY SEBA

REGISTRO

De óculos, Altivo Ferreira recebe o abraço de Merhy Seba. Foto de Ismael Gobbo.

Aos 86 anos, Merhy Seba está de retorno ao mundo dos seres invisíveis. Sua partida deu-se ontem, 14 de dezembro de 2023, na cidade de Ribeirão Preto, onde residia há muitos anos. Era profissional da publicidade, tendo atuado como professor universitário também, depois de retornar à sua cidade natal, Penápolis, interior do Estado.

Conheci-o nos anos 1970, na capital paulista. Atuamos juntos na primeira gestão de Nestor Masotti na USE-SP, União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Ele no comando da área de Comunicação e eu no Departamento do Livro, este criado exatamente na gestão Masotti. Finda esta gestão, não prossegui na USE-SP.

Durante a segunda gestão de Masotti, Merhy decidiu voltar a residir na sua cidade natal e, devido a isso, o cargo de diretor de Comunicação da USE-SP estava por vagar. Em um encontro previamente agendado na Livraria Boa Nova, do hoje falecido e grande entusiasta do espiritismo, o holandês Stig Roland Ibsen, Nestor, na companhia do secretário geral da USE-SP, Antonio Schiliró, convidou-me a retornar à USE-SP e substituir Merhy Seba, mas declinei, esclarecendo que estava às vésperas de lançar o livro O corpo fluídico, que fatalmente me indisporia com a direção da FEB – Federação Espírita Brasileira, especialmente seu presidente, Francisco Thiesen, e isso não seria bom para os interesses da USE-SP, o que, de fato, acabou por ocorrer. Nestor concordou, dando-me razão.

Com o retorno de Merhy ao interior do Estado, ficamos distantes um do outro, naturalmente, encontrando-nos em eventos pontuais e até mesmo nos aeroportos do país, especialmente depois que Merhy passou a assessorar a FEB nas atividades de comunicação.

Merhy era, na sua essência, homem da publicidade, ou seja, estruturalmente ligado à imagem e à palavra como mensagem de convencimento de mentes e corações à proposta permanente de entrega da felicidade, eminentemente persuasiva e sedutora. Tínhamos, por isso, divergências teórico-práticas na compreensão da comunicação em si, sem que tal criasse qualquer empecilho à convivência fraterna. Somos, os dois, oriundos da área da comunicação social, mas minha formação jornalística me leva à compreensão da comunicação enquanto diálogo necessário e permanente na construção do saber e da vida. A mensagem publicitária é, grosso modo, unidirecional, inapta, portanto, à função dialógica.

A publicidade e o jornalismo possuem seus códigos de ética específicos, que os profissionais destas áreas devem seguir, invariavelmente. Merhy, porém, com sua formação espírita, tinha a ética oferecida pela doutrina acima dos códigos traçados pelas instituições profissionais, como de resto devem ter todos os espíritas em sua atuação social. A ética espírita conduz à consciência da vida em sua dimensão múltipla, cósmica, em que o ser não é só imortal, mas dinâmico, contínuo, incessante em seu existir. O viver como espírito está imbricado no viver como matéria, da mesma forma que o social no mundo material se confunde com o social na mundo invisível, sendo, ambos, faces de uma mesma realidade. A ética espírita é, em essência, aquela que contém a forma essencial do existir humano, sem separações de planos ou de propostas de felicidade.

Bravo, Merhy!

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