O EàE é a inteligência artificial do espiritismo e assim como no meio tecnológico todos a temem e ninguém sabe para onde vai, o antirracismo do EàE é a tentativa de controlar a doutrina sem o apoio dos algoritmos.

O dilema que está por trás do argumento apresentado pelo EàE, de que está sendo vítima do discurso de ódio é falso. Ao se colocar como vítima, encontra o discurso ideal para fugir do diálogo e sair como herói, mas herói de papel, cuja única utilidade – se é que isso contém alguma utilidade – é abreviar o tempo de condenação geral do pensamento de Allan Kardec, para tal utilizando-se de um único tiro: Kardec é racista e como tal todo o seu pensamento o é também.

É através desse artifício que a inteligência mesquinha do EàE, o paladino auto erigido do antirracismo que, por falta total de capacidade de agir socialmente de forma plural sem uma bandeira emprestada, aqui no meio espírita se localiza. Por ser mesquinha, egoísta e miseravelmente artificial, é também a reedição de um tal exército de Brancaleone formado pelos pobres esfarrapados factuais perdidos nas estradas vicinais do pensamento espírita.

O EàE decreta para amanhã, dia 18 de abril, quando espíritas de todo o mundo comemoram o lançamento da primeira edição de seu livro básico, aquela com pouco mais de 500 perguntas, no longínquo, mas presente ano de 1857 na cidade luz, Paris.

Mas não se enganem aqueles que imaginam que o título acima diz respeito a esse fato. Não! Uma inteligência artificial, seja num meio demarcado seja no mundo tecnológico, é incapaz de decretar qualquer futuro. Afinal, esse tipo de inteligência aqui e acolá, conquanto pareça estar no domínio dos fatos, é dele na verdade a vítima de amanhã que hoje sorri ao mesmo tempo que se mostra assustada, porque este amanhã surge na janela do alvorecer em meio a névoas ainda indecifráveis. A inteligência artificial quer se tornar um ente, mas no fundo é vazia de humanidade.

A live programada para a noite de amanhã pelo EàE, para lançamento do que proclama ser O livro dos espíritos em edição antirracista é tão artificial quanto a inteligência que o emenda e agora apresenta. Incapaz de elaborar, seja por tradução ou por criação própria um livro que se justifique por si mesmo como obra valiosa de semelhante dimensão do livro de Allan Kardec, se lança à luz do dia como a mão boba dos antigos batedores de carteira, de forma a assumir a produção intelectual de outrem como sua.

Se isso traz algum tipo de fatalidade para o pensamento espírita? Sim. O primeiro é se tornar exemplo do desejo de dominação que movimentos como o do EàE significam. É engano pensar que o que está por trás do ato por ele praticado é apenas a aliança a uma causa digna e legítima, pois o que está em jogo é este desejo desejante freudiano de comandar o modo de pensar daqueles que se postam como seguidores da filosofia espírita. Daí a sua imensa pobreza de espírito.

De prejuízos materiais e de consequências imprevisíveis se pode apenas lamentar. O ato inusitado de publicar uma obra tão agressora quanto violentada, cuja prova está na própria capa do livro oferecido a público, deixa patente uma nova espécie de aliança entre deus e o diabo, a decretar que tudo é permitido, inclusive matar em nome da justiça. Vangloriam-se os artífices da façanha enquanto choram desconsolados os sedentos de esperança de hoje e de amanhã.

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

8 thoughts on “O futuro é amanhã”
  1. Na verdade, não é “artificial”, se o que tiverem como alvo forem os conceitos ultrapassados que qualquer leitor educado identifica facilmente no texto. Pode-se discutir a necessidade e propriedade das “correções”, mas o diagnóstico de que as ideias de civilização, primitivismo e barbárie que há ali são obsoletos está correto. Não é opinião aqui, só uma constatação básica de Antropologia. Dá para começar a partir daí, ao menos. Infelizmente, o que tem aparecido são reações defensivas que mais condenam sumariamente do que argumentam — reação típica que religiosos tradicionais têm quando seus textos sagrados são questionados. Podemos aproveitar o levantamento da questão e fazer um debate produtivo e esclarecedor ou podemos ficar na troca de acusações de “heresia”, o que seria ainda mais lamentável por repetirmos o bordão de que Espiritismo é “filosofia e ciência”.

    Então, desarmemos o espírito (sem trocadilho). Não precisamos levar o tema na lógica tribal das redes sociais. Vejamos como é a edição, levemos em consideração os questionamentos, primeiro, e aí então façamos as críticas devidas. Isso não é dizer que os EàE estão certos a priori em tudo (p.ex., a versão do ESE tem coisas bem bobas). Mas se partirmos, como alguns fazem, de que Kardec é “incriticável” — postura dogmática — estaremos em contradição com o que ele mesmo ensinou.

    Um abraço,
    R.

  2. Vejo com preocupação e espanto a manutenção do projeto do coletivo EàE, de repetir nas demais obras fundamentais de Kardec a escandalosa estratégia de interpolar textos no seu conteúdo republicado e apresentar na capa a expressão “EDIÇÃO ANTIRRACISTA” em letras vermelhas e acima do nome do autor Allan Kardec, numa evidente insinuação de que o ESE seria uma obra racista. Tenho a impressão de um “tiro saindo pela culatra”. Em vez de suscitar um saudável debate sobre o antirracismo, que não sofre nenhum repúdio da comunidade espírita, levantou uma onda de indignação, não só de conservadores, mas de progressistas e laicos. Repito o que já escrevi na edição de dezembro/2022 do jornal CCEPA OPINIÃO: a falha de comunicação que a mensagem subliminar que o subtítulo “Edição Antirracista” passa, insinuando que “O Evangelho Segundo o Espiritismo” seria racista. Bastaria um artigo com a transcrição dos textos sob análise, com as sugestões atualizadas e antirracistas.

  3. Acho que uma estratégia diferente granjearia maior adesão ao projeto.

  4. Infelizmente o missivista Wilson Garcia faz um ataque típico dos que apoiam a forma como a Santa Madre Casa Mater se pronuncia, sempre dizendo ser o vaticano Espírita, e nunca o foi, pois sequer é kardecista, reza nos quatro evangelhos de Roustaing. A crítica parte do não li e não lerei, mas critico antes de que a obra venha a público. …. Rdrigo Farias foi cirúrgico, é óbvio que existem os erros de Kardec, e o mesmo sempre disse que se o Espiritismo, no caso , o texto dele, estivesse errado, ou que contivesse conceitos errôneos , ou anticientíficos, o Espiritismo mudaria, simples assim!! Os livros da codificação espírita não são textos sagrados, o próprio autor da obra disse que a doutrina era evolucionista, como tudo no Universo. O EàE, grupo criado principalmente para combater o fascismo e a idolatria no movimento espírita, faz a proposta kardecista, propõe a identificação, a contextualização, e a proposta de mudança evolucionista no texto original, sem suprimir uma letra sequer. O fanatismo e a politização perpetrada pelo decano, e senil representante da volta da ditadura no país, Divaldo Franco, é o que está por trás do reacionarismo atual, no meio doutrinário. Como disse, e diria hoje, Kardec diria que a reação é normal, mas que o espírito da doutrina varreria quem estivesse errado. Aguardemos!

  5. O Marcus se mostra, nesta mensagem, adeso do quanto pior, melhor. A discussão é ética, do conflito estabelecido pelo EàE com sua irresponsável interpolação nos livros de Allan Kardec. O resto é fumaça para fugir do foco.

  6. Rodrigo Farias, Marcus Gandolfi, assino embaixo dos vossos comentários. Não concordo com alguns exageros identitários do EàE, mas a reação dogmática dos vetustos defensores de Kardec (como se ele precisasse disso) espanta muito mais a qualquer espírito que se ache espírita.

  7. Caros amigos que são espíritas kardecistas de verdade.
    Estes ditos espíritas a esquerda não são amigos de Kardec. E um bando de pessoas que tem outros interesses materiais. São os interesses políticos de se criar uma massa de manobra para poderem se elegeram algum cargo político. São fanáticos e loucos. Não aceitam a ir em canais independentes para sustentar as suas ideias. Em sua maioria são pessoas que tem pouco estudo das obras da Codificação Espírita e se tiver algum. Em sua maioria usam do nome do espiritismo mais estão travestidos de evangélicos e católicos.
    O Espiritismo e muito maior do que nós. E não vai ser a mão imunda deste grupelho de bêbados e drogados que vão imacular esta chama da verdade.
    Vamos estudar Espíritas a Esquerda!!!. Para romper os paradigmas que nos chicoteiam a nossa alma e se libertar de preconceitos materiais. A reencarnação e a chave perdida comprovada pelo mestre Lyon.
    Salve Kardec!!! Grande Mestre!!! Perdoe a ignorância dos seres inferiores!!!

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