Categoria: Imprensa

Deolindo e os diversos espiritismos

Opinião*, a pílula do Dr. Ross do jornalismo espírita, republica em sua edição de jan./fev. 2016 interessante artigo do saudoso e respeitável Deolindo Amorim, intitulado “Desunião e divergência”. Ali está todo o espírito conciliador, dialógico e acima de tudo humanista do grande amigo baiano de nascimento e carioca por opção.

A essência do artigo está centrada na percepção de que as divergências não podem ser argumento para a desunião e o diálogo é o fundamento das relações humanas. Era o que fazia e vivia Deolindo.

O último parágrafo do texto deoliniano permite, contudo, exercer aquilo mesmo que transparece dos seus argumentos, isto é, divergir. Ali, Deolindo afirma que as divergências que estão no interior do movimento espírita desde o seu surgimento não quebraram a “unidade doutrinária, que é fundamental” (sic). (mais…)

ZÍBIA GASPARETTO: Mediunidade estocada

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Zíbia diz que Lucius quer modernizar a linguagem de seus livros.

Com os negócios em queda, a médium está revisando a linguagem de seus livros com o objetivo de melhorar os resultados comerciais.

 

A médium Zíbia, matriarca do clã Gasparetto, oferece aos críticos bom material para análise do contexto mediúnico e do produto final da mediunidade: a mensagem, que no caso dela são os livros publicados, a maioria deles romances.

Não se pode duvidar da sua condição de médium, que é incontestável, mas pode-se analisar sua obra e negar a esta a mesma qualidade. O que não significa, necessariamente, condenar a médium por desvios ou os espíritos por possíveis más ideias.

Ao observador cabe reunir os fatores que envolvem a função mediúnica, ou as funções, melhor dizendo, pois, o médium exerce não só a função de intermediário, mas, também, a de intérprete das ideias que lhe são apresentadas pelos comunicantes invisíveis.

Folha de S. Paulo traz hoje, 22 de setembro de 2015, interessante notícia sobre as atividades da médium. O mote principal é revelar as modificações que estão sendo feitas em suas obras, modificações, quer-se crer, principalmente de linguagem, a fim de as adaptar aos tempos pós-modernos do império das redes sociais.

O espírito mentor, Lucius, revela Zíbia, está de acordo com as mudanças e colaborando com elas, considerando ele que os tempos são outros. Ambos pretendem retirar ou modificar expressões, frases etc., das obras publicadas com o objetivo de dar a elas uma linguagem de acordo com o que se pratica hoje em todo o mundo. Segundo diz a médium, interpretando o espírito, “As coisas mudaram. Precisamos ter uma linguagem mais clara, mais simplificada. Nós estamos aí com a internet. Vamos modernizar.”

É direito de qualquer autor alterar sua obra e Lucius e Zíbia são autores, portanto, gozam desse direito. Lucius é dono da ideia e Zíbia é a intérprete que materializa a mensagem, conquanto muito raramente a posição de médium deixe entrever essa realidade, pois, parece que o médium é apenas alguém que recebe e retransmite nas condições colocadas pelo autor espiritual. É um erro pensar assim. Zíbia tem consciência disso, tanto que afirma: “Mudei as frases, tornando-as mais claras. Troquei floreios e facilitei o entendimento”.

Na mediunidade psicográfica não temos, em geral, um autor e um receptor em funções plenamente distintas como se imagina. Espírito e médium estão imbricados na mensagem. Por isso, quando Zíbia aparece e diz que a linguagem dos livros que publicou está sendo revista, pode estar dizendo, também, que essa decisão é apenas dela, ou dela e do espírito, mas nunca pode afirmar que é somente do espírito, porque este, obviamente, depende dela e de sua vontade. Como também do que ela faz com as ideias dele.

Mas a reportagem da Folha mostra outros detalhes interessantes. A médium, que há algum tempo abandonou o rótulo de médium espírita, no que foi acompanhada pelos filhos, tanto que encerrou as atividades do centro espírita que fundou e dirigia, transformou-se em empresária e montou uma indústria gráfica de médio porte, o que demandou investimentos consideráveis. Agora, revela que a empresa está com dificuldades econômicas por causa das quedas nas vendas e na prestação de serviços a terceiros.

Junte-se os pontos: queda nas vendas dos livros – são 35 ao todo, sendo que o 36º está a caminho – e mudança na linguagem, tudo ao mesmo tempo, pode revelar que no meio disso está a preocupação comercial e que esta preocupação é tão ou mais importante que qualquer outra coisa. É o que se pode depreender do que diz a repórter: “A preocupação comercial é maior do que nunca na casa, que teve a vendagem “um tanto afetada”.

O fato é que a médium longeva Zíbia Gasparetto vem, mais uma vez, surpreender o público. Fez isso quando decidiu abandonar o espiritismo, quando encerrou as atividades do centro, quando transformou sua obra em negócio próprio, quando investiu numa empresa gráfica e quando deixou claro que a caridade não ajuda ninguém a crescer. E mais, quando assumiu, junto com seu filho mais famoso, Luiz Antônio Gasparetto, que o resultado financeiro do produto mediúnico e sua utilização é direito dela. Ou seja, colocaram-se contra a ideia, defendida pelo espiritismo, de que a mediunidade deve ser gratuita.

A foto e o fato

Menino Ayslan

Carta Capital republicou ontem, 10 de setembro de 2015, matéria do Deutsche Welle intitulada “A foto do menino Aylan e o poder das imagens”, um estudo sobre o significado da imagem que merece ser lido com atenção.

Certas imagens, especialmente imagens fotográficas, marcam, mexem, ficam. Algumas se alojam nos arquivos cerebrais como imagens particulares, com significados pessoais; outras são registradas na memória coletiva por seu significado sociológico. Mas todas essas, indistintamente, só fazem sentido se considerados os fatos geradores e a dimensão que alcançaram.

kevin-carter-vultureQuem viu não esquece, jamais, a fotografia do menino e o abutre, registrada pelo fotógrafo sul-africano Kevin Carter, membro do Clube do Bangue Bangue, na guerra do Sudão. Se a imagem é, tecnicamente, ícone, algumas são ícones expressivos, pelo significado que guardam e pelas significações que propõem. Essa foto da guerra do Sudão extrapolou o significado imediato e alcançou a dimensão paralela de uma segunda tragédia. Kevin Carter se matou, aos 33 anos de idade, premido pelo peso do fato que registrou e de outros tão rudes quanto que vivenciou em sua curta existência.

A foto do menino Aylan difere e assemelha-se ao mesmo tempo à do menino na guerra do Sudão. Afora os contextos, em si mesmos outros, Aylan tem nome e é branco, o outro é negro e conhecido por Kong Nyong. Este estava se arrastando em busca de alimento no momento em que o fotógrafo o observa com sua lente, enquanto que Aylan já surgiu sem vida na praia turca. Se essas diferenças estão presentes nas duas imagens, há uma semelhança cruel entre elas: a realidade da violência e o descaso humano.

Vera Maria Calazans Guimarães apresenta um estudo acadêmico muito bem construído em que a imagem do menino do Sudão é analisada sob diversos vieses, a partir da constatação da sua veracidade. Apesar do prêmio Pulitzer que a imagem ganhou em 1994, o seu impacto gerou tamanha repercussão à época de sua publicação que muitos duvidaram pudesse ela representar o instante perfeito da realidade reproduzida. Ficou no ar a impressão de montagem e do sensacionalismo.

Aylan, contudo, por estar mais próximo e ser um fato de agora causa maior espanto e indignação. Não são mais apenas as guerras fratricidas em campo aberto; são também outras guerras que se travam nos bastidores do poder mundial, onde o caráter humano é posto em profunda discussão e as nações são chamadas à consciência da corresponsabilidade. É espantoso como muitas resistem a dar a sua contribuição e outras fogem do dever de repartir o seu espaço público, bem como seu apoio material às levas de seres humanos que fogem dos conflitos ou da fome em seus lugares de origem.

É incrível perceber que Aylan não simboliza tanto a inocência quanto a impotência. Seu corpo inerte à frente do policial turco rápido se transforma no símbolo que agride à insensibilidade da razão, apontando diretamente para uma ausência não mais aceitável no ser humano: ausência de humanidade.

Se até aqui fora possível elencar as 10 imagens mais tristes da história, deve-se contá-las a partir de agora por 11. A de Aylan aí se coloca obrigatoriamente. Isoladas, nenhuma delas tem o poder de contar a história que representam, mas podem, cada uma por si, produzir efeitos no indivíduo que as observa, conduzindo-o a ultrapassar o momento primário do reconhecimento para alcançar o instante maior da compreensão do fato histórico e, assim, formar a consciência que só o saber verdadeiro proporciona.

 

A Abrade, oficialmente, está acéfala

 

Reproduzo a entrevista que acaba de ser publicada pela Gazeta Kardec, editada e produzida pelo jornalista Carlos Barros em João Pessoa, Paraíba, em sua edição de setembro 2015.

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KPC – O que a opinião pública espírita ainda não sabe sobre a Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo?

Wilson Garcia – Tendo sido fundada em 1976, durante o Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas de Brasília com o nome de Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas, com a sigla ABRAJEE, teve ela o seu momento de pujança e depois de declínio, chegando ao ponto de quase desaparecer. Isso ocorreu após o IX congresso, realizado em São Paulo em 1986 e as causas dessa situação eram de visão de suas funções, de gestão deficiente e de ingestões políticas externas. Quando nada mais havia a fazer para mantê-la no seu formato original, os remanescentes da diretoria convocaram uma assembleia para a qual foram convidadas as vozes discordantes, numa atitude deveras fraterna e, assim, em 1994, foi ela transformada em Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, com a sigla ABRADE. O novo modelo contemplava o estímulo à fundação de associações estaduais como instituições jurídicas autônomas, denominadas ADEs, a quem caberia as ações de comunicação em sua área de atuação e a formalização de laços com a ABRADE e seu Conselho Nacional que funciona como uma espécie da instância maior, cabendo às ADEs a eleição da diretoria executiva da ABRADE e a esta as ações de nível nacional.

A ABRADE, como a sua antiga ABRAJEE, alcançou o seu apogeu, realizou dois congressos nacionais e, depois, encontrou o seu declínio pelas mesmas razões que levaram a ABRAJEE ao ostracismo. Atualmente, a ABRADE é uma entidade fantasma, clandestina, que se encontra na ilegalidade total, pois não renova sua diretoria, não reúne as ADEs remanescentes (são poucas, quatro ou cinco), não atualiza seus documentos legais, em suma, pode ser objeto, a qualquer momento, de uma penalização pelos órgãos governamentais competentes.

Para completar esse quadro, a ABRADE continua se fazendo representar, por livre e espontânea decisão de uma só pessoa, junto ao esdrúxulo Conselho Nacional das Entidades Especializadas da Federação Espírita Brasileira, recentemente fundado, o que implica a própria Feb com a ilegalidade da ABRADE.

KPC – O que levou você analisar com riqueza de detalhes as discrepâncias político-administrativas da ABRADE no movimento nacional?

Wilson Garcia – A resposta a essa pergunta pede um esclarecimento. Fui eu, junto com outros amigos espíritas, participante da ABRAJEE. Fui seu vice-presidente por dois mandatos e participei fortemente na sua mudança em 1994. Senti-me e sinto-me responsável pelos seus caminhos e descaminhos, mas, principalmente, pela oportunidade que a ABRADE tem de preencher o vazio enorme da Comunicação Social Espírita, que é feita, quando feita, por uma maioria de indivíduos de boa vontade, mas carentes de conhecimentos sobre as Ciências da Comunicação. Infelizmente, depois de algumas boas gestões iniciais, a ABRADE foi assaltada por indivíduos vaidosos, interessados em títulos, despreparados para as funções, divisionários. Isto culminou com as ADEs precocemente decrépitas e algumas desaparecendo. Com a ABRADE já no estágio de ilegalidade, sem diretoria efetiva, ainda assim ela se mantinha ligada ao CFN-Conselho Federativo Nacional da Feb, que, então, criou o esdrúxulo Conselho das Entidades Especializadas, onde a ABRADE permanece.

Assim: 1) A presença ali da ABRADE é um absurdo do ponto de vista legal e institucional; 2) O Regimento Interno desse conselho é composto de normas que ferem frontalmente o ideário de independência, autonomia e liberdade da ABRADE e esse regimento só foi apresentado na ABRADE depois de votado e aprovado, ou seja, os poucos remanescentes da diretoria da ABRADE, então, sequer puderam se manifestar em relação ao regimento e tiveram que engolir um documento que jamais seria aprovado se fosse trazido no nível das discussões de projeto. O responsável por isso tem, até hoje, assento no Conselho da Feb, fala em nome de uma ABRADE que não mais existe.

Recentemente, houve uma ação, coordenada por um ex-presidente da ABRADE, Gezsler Carlos West, no sentido de movimentar os interessados em reconstruir a ABRADE. Durante três longos anos fez ele gestões nesse sentido, mas acabou desistindo por perceber que não há, da parte dos poucos indivíduos que ainda ali estão, qualquer interesse nisso. Esta é a realidade nua e crua.

KPC – Em sua opinião, a Entidade comprometeu a sua identidade e independência institucional quando se juntou ao Conselho Nacional de Entidades Especializadas, controlado pela Federação Espírita Brasileira?

Wilson Garcia – Qualquer profissional, especialista, pesquisador ou indivíduo da comunicação sabe que a atuação na área não prescinde do exercício dos princípios da liberdade que permeiam a independência na ação comunicativa. O CFN e o Conselho das Especializadas estão contaminados de duas maneiras: 1) por princípio, ou seja, pertencem à Federação Espírita Brasileira e são por ela dirigidos de maneira autocrática na forma e no conteúdo; 2) seus Regimentos Internos, que são de fato documentos legais, outorgam ao presidente do Conselho, que outro não é que o presidente da Feb, poderes totais, absolutos, superiores aos dos próprios membros dos Conselhos, pois pode aprovar ou vetar qualquer decisão, seja para a aceitação de novos membros, seja para questões gerais. Assim, as instituições participantes não possuem autonomia em relação à Feb enquanto membros dos conselhos, apenas no âmbito regional de sua atuação, ainda assim submetidas ao julgamento da Feb, que pode cassar-lhes a presença caso julgue de interesse da Feb. Ora, que poder teria uma entidade de comunicação de estabelecer análises críticas referentes à Feb ou a quaisquer outros assuntos do movimento espírita comandado pela Feb? Nenhum. Filiando-se ao conselho, aceita-se seu Regimento e submete-se a ele. Simples. Abre-se mão do princípio fundamental que rege a liberdade de expressão e pensamento, o bem mais sublime que a doutrina espírita nos oferece.

KPC – O que dificultou a ABRADE, ao longo dos seus quase 20 anos de existência, a pôr em prática metas e diretrizes adequadas ao movimento de divulgação, tendo como base uma bem elaborada Política de Comunicação Social Espírita?

Wilson Garcia – Qualquer pessoa pode exercer ações comunicativas em seu nome e de forma pessoal, mas ninguém, de bom-senso, pode admitir falsos princípios do tipo “tudo é comunicação”, porque, ao fazê-lo, assina atestado de ignorância do que é comunicação. As pessoas não precisam obrigatoriamente do conhecimento especializado de comunicação, mas se elas integram uma instituição voltada à comunicação, de duas uma: ou elas buscam especializarem-se para melhor exercer seus mandatos ou se fazem assessorar de indivíduos que dominam o conhecimento da comunicação, para que estes possam orientar os planos e as ações. Aliás, isso é o que fazem os gestores das grandes corporações; eles conhecem os princípios da administração e contratam profissionais capazes para as demais áreas. Na ABRADE isso sempre constituiu tabu, ou seja, a maioria é bem-dotada de boa vontade, mas despida de conhecimento de comunicação e altamente orgulhosa quanto a reconhecer isso, daí podermos dizer que nenhuma ADE ou mesmo a ABRADE é capaz de preparar um simples plano de comunicação para sua própria instituição, quanto mais para o movimento espírita tão diverso. Então, são cegos guiando cegos. São como aqueles espíritas místicos, que acreditam na eficácia do passe em qualquer circunstância, não vendo nenhum mal dele decorrente, mesmo em situações de risco. Creem que os espíritos suprem quaisquer deficiências humanas. Não estudaram e não querem estudar. Quer um exemplo? A ADE de São Paulo apresenta um programa de rádio que ajudei a criar há quase 20 anos; até hoje o formato é o mesmo, os participantes são os mesmos, o jargão também. O mundo mudou, a linguagem mudou, o tempo e sua percepção mudaram, mas os espíritas continuam presos a uma fórmula antiga por entenderem que não é preciso mudar.

KPC – Qual o futuro da ABRADE como membro do CNEE?

Wilson Garcia – Com honestidade, não vejo a tal luz no fim do turno. Acho, inclusive, que o interesse dos atuais donos da massa falida é mesmo manter a situação neste estado para conquistar não sei o quê. Acompanho tudo o que se passa pelos canais competentes e não vislumbro sinais outros. Mas, uma coisa é certa: a responsabilidade moral e penal dos que mantém a ABRADE na situação atual é grande.

KPC – O que as Associações de Divulgadores do Espiritismo estaduais devem esperar agora da Entidade para implementar alguma política de comunicação social que contribua com a divulgação espírita em todo o País?

Wilson Garcia – A palavra está com elas. A ADE de Pernambuco acaba de dar um ultimato. As demais, que venham a público revelar sua posição.

KPC – Suas considerações finais, com o nosso sincero agradecimento pela entrevista.

Wilson Garcia – A história grandiosa dos Congressos Brasileiros de Jornalistas e Escritores Espíritas começou a ser escrita em 1939 por Deolindo Amorim e seus amigos. Essa história ninguém pode apagar. Teve ela continuidade parcial na ABRAJEE e na ABRADE. Hoje, a comunicação espírita está à deriva. Oxalá possa ser retomada, dentro dos critérios éticos que Kardec utilizou. Obrigado.


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CARTA DE SANTOS – Uma leitura

 

Faltou projeto?

O 16º Congresso Estadual da USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo terminou com a publicação de um documento chamado “Carta de Santos” (ao final reproduzida), marcando, assim, a cidade onde o evento ocorreu no período de 18 a 21 de abril último.

A conhecida cidade praiana foi berço de uma grande dissidência no movimento espírita paulista, nos anos 1970, capitaneada por Jaci Régis e companheiros, dissidência que estendeu-se com o tempo e alcançou status internacional, ou seja, deixou de ser local para atingir o país e posteriormente a América do Sul. Surgiu daí a expressão “grupo de Santos”, como designativo dessa dissidência. Uma das consequências disso foi o crescimento no Brasil da influência da Cepa – Confederação Espírita Pan-americana, à qual muitos membros do grupo de Santos se filiaram, bem como de sua visão laica do Espiritismo, segundo a qual o Espiritismo não pode ser visto como religião, ressaltando, em seu lugar, as “consequências morais” previstas por Allan Kardec.

A questão é conflituosa. A realização de um congresso estadual, mais de 30 anos depois dessa dissidência, ali, no epicentro dos acontecimentos, teria ainda reflexos daqueles fatos? Se feita uma análise anterior, despontaria como inevitáveis os reflexos de ambos os lados, pois, as divergências de opinião sobre o terceiro aspecto do Espiritismo – religião ou moral – não só se fez crescer desde então, como ampliou exponencialmente o quadro de espíritas interessados em endossar a posição cepeana de um Espiritismo laico e livre pensador.

Há que se notar que o grupo de Santos não se resumiu a apenas espíritas de Santos ou ali localizados; integravam-no pessoas de outras latitudes e quando a Cepa expandiu-se no Brasil alcançou variados estados do País. Considere-se, ainda, que o grupo de Santos, embora não conte mais com a presença de seu principal líder entre os encarnados, tinha na juventude de boa parte de seus integrantes um quadro promissor, de maneira que, atualmente, muitos deles se destacam na sociedade em postos de expressão, sem ter abandonado suas ideias laicas.

Mas não é só. O cenário dos anos 1970 alterou-se profundamente. Na ocasião, a Feb – Federação Espírita Brasileira não vivia dias muito fáceis no País, pois enfrentava uma série de oposições aos conceitos que defendia, entre os quais, de enormes desassossegos para ela, estava, como ainda está, a questão roustainguista do corpo fluídico atribuído a Jesus. A Use, então, constituía uma das principais trincheiras contra a Feb.

Com habilidade, a Feb desmontou o quadro desfavorável a ela no País e, na atualidade, a Use de São Paulo, em particular, não é mais uma trincheira de lutas aos que se opõem à Feb, mas, ao contrário, um dos principais redutos onde os projetos febianos encontra apoio. Mesmo quando se observa o quadro por dentro e se constata oposições, são elas apenas pontuais e menores, que se dão nos bastidores e que, por isso mesmo, não alcançam, como antes ocorria, os ouvidos da população espírita.

Sendo a Cepa vista como oposição inaceitável à Feb e a Use como um reduto febiano e sendo ambas acossadas por uma expansão da Cepa que de certa forma incomoda, seria ingenuidade imaginar que um congresso da Use em Santos não resultasse em repercussões nas partes envolvidas.

A leitura da carta de Santos parece reforçar essa conclusão. O documento surge de modo curioso, uma vez que não consta ter ele sido debatido em larga escala no referido congresso. Também não são conhecidos os nomes daqueles que tiveram o privilégio de propor e discutir os seus termos. Em geral, as conclusões de um congresso – o da Use tem o caráter de estadual – são tomadas coletivamente, mas nos últimos tempos os chamados “congressos espíritas” alteraram o conceito de congresso, transformando-o num evento de grandes palestras e pouco ou quase nenhum diálogo, desnaturando, assim, essa conhecida forma parlamentar de trocas simbólicas.

Registro o seguinte: a carta de Santos não surgiu inesperadamente, pois está relacionada no programa do evento. Lá aparece como peça do derradeiro dia 21, no item “Conclusões e solenidade de encerramento”, cuja responsabilidade foi entregue ao presidente da Federação Espírita da Bahia, André Luiz Peixinho, em palestra por ele realizada, com duração de cerca de 90 minutos. Com certeza, esse tempo foi utilizado para um resumo das atividades daqueles três dias. O tempo dado para a carta de Santos foi de apenas 15 minutos, creio, suficiente para a sua leitura e tomada de conhecimento do público. Pode-se pensar que o palestrante, ao iniciar sua fala, já possuía o documento e, se isso é verdadeiro, tal documento foi lavrado anteriormente por algumas pessoas autorizadas.

Vamos à sua leitura.

O termo inicial da carta de Santos é difuso: “Os espíritas reunidos…”. Uma generalidade resultante, por certo, de um descuido ou de uma intenção deliberada, uma vez que o congresso é estadual e, além do mais, adstrito ao público useano, mesmo que não fechado a esse. Dizer “os espíritas” implica atribuir um significado amplo, que não é verdadeiro, podendo estender-se ao Estado de São Paulo e até mesmo ao País.

A continuidade do texto vai nessa direção: “Os espíritas… conclamam o movimento espírita e todos os espíritas paulistas e do Brasil”, ou seja, embora restrito enquanto evento de uma região, o ânimo está tomado de uma grandiosidade que, inclusive do ponto de vista político, é incorreto, mas, de fato, pouco perceptível pela maioria dos congressistas.

Entremeando essas duas expressões aparece esta outra afirmativa da qual se pode duvidar que expresse uma verdade cristalina: “após as reflexões propostas pelos participantes”. Além de ser também genérica, a afirmativa pretende expor que a carta da Santos surgiu de expectativas colocadas pela totalidade dos congressistas em algum momento ou durante o evento, como se já não estivesse programada. Trata-se apenas, quer-se crer, de uma força de expressão visando dar maior validade ao documento e menos dizer que ele reflete o pensamento dos congressistas, o que, se fosse verdade, seria muito bom.

Estas considerações que aqui faço têm sua razão de ser; a carta de Santos parece ter saído de ideias previamente estabelecidas por um pequeno grupo, refletindo sua visão parcial do Espiritismo, o que se pode constatar quando se completa a leitura desse trecho inicial do documento. Ei-lo:

“Os espíritas… conclamam… o movimento espírita… a “dar a sua contribuição na construção real de um mundo de regeneração. O mundo novo para onde caminha a humanidade deverá ter a efetiva contribuição dos espíritas para a formação de um homem novo”. Ou seja, há um pensamento, uma ideia prévia de que um mundo de regeneração está em construção e os espíritas têm uma importante contribuição a dar a esse mundo novo para onde caminha a humanidade.

Não está em questão discutir se é verdadeiro ou não esse mundo de regeneração, nem se um homem novo dele surgirá, porque são claramente expressões retiradas dos textos espíritas. O principal aqui é a eleição desse conteúdo como diretriz do documento, ou seja, o documento reflete um norte dado por alguém em algum momento, norte esse aceito e levado a efeito em nome de uma totalidade de congressistas que, possivelmente, não participou dessa discussão. Essa diretriz, assim definida, estaria a serviço de uma parcela dominante, refletindo mais uma postura pontual do que uma visão ampla do Espiritismo? Isso merece uma ampla reflexão.

Conquanto a última frase da parte introdutória intente direcionar o conteúdo da carta, esta não reflete de fato os itens elencados, que, segundo ali se diz, estariam subordinados à ideia do “amor, a ética e a educação”. Vejamos.

São sete itens não numerados. O primeiro e o sétimo se interligam pela mesma base ideológica, mas o primeiro, por ser o primeiro e pela forma como foi redigido, levanta suspeitas não sobre si e seu sentido, mas sobre as intenções a que ele atende ao ser aí posicionado, sugerindo a pergunta: é ele resposta ao laicismo do grupo de Santos e, por extensão, à Cepa, seus integrantes e diretores? É reafirmação de poder da Feb em termos de um Espiritismo brasileiro a viger sob sua visão racional? Recorde-se que está lá escrito: “Seguir o Mestre Jesus, como Guia e Modelo e que nos convoca para sermos perfeitos como perfeito é o Pai”. Digo poder da Feb por muitas razões e uma delas é esta: a Use não tem tradição nesse tipo de postura, ou pelo menos não a nutria porque ela, Use, resulta de um diálogo tipo congressual e possui estrutura formal que de algum modo reflete tal cultura. Mas a Use dos dias atuais, aquela que se vê na prática do quotidiano já não é também a Use consagrada pela tradição dialógica, uma vez que tornou-se reduto das ideias defendidas pela Feb, sendo desnecessário apontar exemplos por estarem evidentes.

Os cinco itens outros, que completam a carta de Santos, repetem lugares comuns e não apresentam nenhuma ideia prática, tipo saber-fazer-fazer. São questões soltas, generalizantes, constituindo uma espécie de pequena colcha de retalhos, sem projetos claros e objetivos, apesar de a Use, fundamentalmente, ter por público alvo dirigentes e trabalhadores espíritas e ser, pelo menos no plano teórico, a imagem deles. O quarto item, por exemplo, atira a esmo contra “procedimentos formais e burocráticos” sem objetivá-los de forma a dotar o documento de um projeto claro, mais parecendo uma crítica velada a alguma coisa mantida em segredo. Evidentemente, o conselho se aplica às casas espíritas, mas dito aqui, deslocado do pretendido eixo central da carta (“amor, ética e educação”) sugere intenções veladas cujo propósito fica recluso.

De modo mais amplo, não será despropositado perguntar: será a carta de Santos a carta da Feb? – uma vez que aporta aspectos que mais parecem se afinar com a forma como a antiga instituição conduz o movimento espírita nos últimos anos, a despeito das aparentes alterações pretendidas e não alcançadas.

A carta de Santos constitui um tipo de documento que normalmente é redigido na forma impessoal, por representar, em tese, o pensamento de uma coletividade reunida em determinado local e hora. Mas a impessoalidade da carta de Santos cai por terra derradeiramente no último parágrafo, deixando à mostra que por traz dela encontra-se a mão de alguém que desejou torná-la instrumento de um pensamento particular, o qual ou foi aceito inadvertidamente ou foi consagrado pelo convencimento dos pares consultados. Eis que está assim formalizado: “E deste modo e com a participação de todos como protagonistas do bem, vamos construir nosso caminho evolutivo, buscando e prosseguindo para o alvo ao fazer da Terra o paraíso que ela pode ser”.

A carta de Santos, enquanto documento da expressão do pensamento de um congresso, é frágil e se volta para dentro do movimento, como se esse movimento existisse por si, à parte da sociedade. Imensos problemas que afetam diretamente o cidadão e a sociedade e dos quais o movimento espírita depende ficaram totalmente de fora das preocupações. Mas, há que se reconhecer, ela reflete de algum modo um evento pouco afeito à dialogicidade, não àquela dialogicidade dos pares, mas a do diálogo com as diferenças, cuja troca de ideias se coloca como a principal maneira de enriquecer o pensamento e ampliar a dimensão do conhecimento espírita.

À parte essa questão, resta concluir com a observação de que em sendo a carta de Santos a reafirmação da condenação, pelos religiosos febianos, do laicismo cepeano, estamos diante de uma demonstração de imensa fragilidade pelos autores da carta. O Espiritismo pede propostas e projetos para sua disseminação e esses jamais virão com o fechamento dos canais de diálogo, com a separação das ovelhas, como tem sido frequentemente manifestado pela Feb, aliás em franca oposição ao próprio pensamento de Bezerra de Menezes, reproduzido ao final da carta, no qual o referido espírito propõe única e tão-somente a união solidária pelo diálogo como forma de fortalecimento do movimento.

CARTA DE SANTO1 (2)

Apenas um Pedagogo

 

Eugenio Lara

arquiteto e designer gráfico, membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, editor-fundador do site PENSE – Pensamento Social Espírita e autor de Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita. E-mail: eugenlara@hotmail.com

Penso que um dos motivos de, ao menos para os espíritas, Kardec permanecer atual, é o fato de que seu verdadeiro papel e finalidade na estruturação do Espiritismo ainda não são claros. Há os que o subestimam e o descartam como personagem central da Doutrina Espírita. Por sua vez, outros entendem que Kardec era tão genial que os espíritos seriam descartáveis, criando assim um pensamento exclusivo e sistêmico. Para tanto, foi filósofo, teólogo, médico, astrônomo, cientista etc. etc.

Penso que entre esses dois extremos há mais perspectivas, há outro olhar possível.

O Espiritismo surgiu da mente privilegiada de Allan Kardec como um grande sistematizador de ideias, cuja origem, todavia, não se encontravam, na sua totalidade, em seu acervo intelecto-moral. Muitas daquelas ideias não eram dele. É fato, confirmado por ele próprio, que chegou a discordar radicalmente do conceito de reencarnação ensinado pelos espíritos. Demorou a aceitá-lo, assim como demorou para admitir a teoria da evolução e a evolução anímica. Até o último instante, insistiu com a decrépita teoria da geração espontânea, mas teve de se render à tese evolucionista.

Rivail/Kardec tem de ser visto em sua dimensão humana e social. Possuía atributos intelectuais e culturais que poderiam qualificá-lo como filósofo, teólogo, cientista, médico, literato, semiólogo, comunicólogo etc. etc. No entanto, ele não foi nada disso porque era, sobretudo, um pedagogo. Em meio à sua formação humanista, enciclopédica, era essa a sua especialidade, a pedagogia, a ciência da educação.

Dada a natureza sintética do Espiritismo, teve de, em muitos momentos de sua obra, se valer do instrumental crítico e reflexivo de um filósofo. Em outros momentos, como teólogo, tentou compreender e intuir a natureza divina e sua relação com a criação e as criaturas. A experimentação e observação dos fenômenos medianímicos exigiram dele uma postura científica. Teve de agir como cientista, mas, ao mesmo tempo, não se limitou apenas a observar e comprovar o fenômeno por meio de pesquisas nem sempre rigorosas, porque pensava além daquela fenomenologia. Extraiu dali uma nova filosofia espiritualista, segundo sua própria definição.

Essa nova filosofia não surgiu de uma revelação teológica, de alguma elucubração metafísica ou por determinação divina simplesmente porque sua origem é histórica e social. Daqueles fenômenos pueris e fúteis das mesas girantes parisienses é que surgiu o Espiritismo.

Rivail trabalhou com suas ideias e ideias alheias, oriundas das reuniões mediúnicas, de autoria dos espíritos. Difícil imaginar a tonelada de informações que ele teve de processar, sem um notebook, sem computador, sem nenhuma máquina para auxiliá-lo, nem mesmo uma bendita máquina de escrever ou alguma caneta esferográfica.

No caso, ninguém melhor do que um pedagogo para a busca de sínteses. E, provavelmente, naquele exato momento, ninguém melhor do que ele na França, especialmente em Paris, o centro da cultura ocidental, para realizar aquele monumental trabalho. Forças intelectuais possuía com sobras, mas as forças físicas estavam muito aquém, tanto que desencarnou precocemente.

O trabalho informático e pedagógico que realizou o qualifica como fundador/codificador do Espiritismo.

Não foi teólogo, nem filósofo ou cientista, ainda que em múltiplos momentos de sua obra, possamos observar o teólogo Rivail em ação, tanto n’O Evangelho Segundo o Espiritismo como em O Céu e o Inferno, por exemplo. Assim como o filósofo, o ensaísta nos textos teóricos que elaborou em O Livro dos Espíritos, bem como o humanista, na estruturação das Leis Morais e em suas reflexões sobre a questão social.

A principal marca de seu trabalho está na capacidade que teve de sintetizar uma série de informações, ideias e conceitos díspares, contraditórios, desconexos, agindo como um grande pedagogo/pensador capaz de filtrar aquela imensidão de informações.

O Espiritismo é uma questão de razão e bom senso, dizia Kardec, ciente do potencial filosófico da nova doutrina, uma corrente espiritualista de pensamento, uma nova escola filosófica.

Nem teólogo ou cientista, nem filósofo ou revelador, apenas um pedagogo que colocou todo seu potencial intelecto-moral a serviço de uma forma de pensamento inédita em sua abordagem e capaz de produzir uma verdadeira síntese no contexto do espiritualismo. Allan Kardec, apenas um pedagogo. Deveria ser o suficiente.

As Pessoas de Bem e a Corrupção Política

por Gezsler Carlos West (Geo)

Recife, PE

 “Seja esta a vossa linguagem, Sim-Sim, Não-Não!” (Mt 5, 37) – Jesus

 É difícil mensurar com precisão os efeitos nocivos de um processo de corrupção. Recentemente foi publicado na mídia um estudo técnico, citando que se a corrupção fosse “zero” no Brasil a sociedade em no máximo cinco anos teria os seguintes benefícios simultâneos:

– Poder de compra do salário mínimo quadruplicado;
– 25 mil escolas construídas;
– 30 mil UPA (Unidade de Pronto Atendimento) efetivadas;
– 01 milhão e quatrocentas mil casas construídas.

Se acrescentarmos que o ato corruptivo agride os valores sociais no campo da honestidade, justiça social, credibilidade, valorização do trabalho, dignidade, estrutura familiar, espiritualidade entre outros, ficará mais complicado dimensionar o “tamanho do estrago”.

A honestidade é um valor ético, que deve preceder qualquer ação nos diversos campos da vida. As nossas posturas devem transitar mergulhados nesse “éter”, assim como os peixes no mar. Se assim não o for, todos perderemos no aspecto social, individual e consciencial.

Há algum tempo eu conversava com uma pessoa que estava bem ativa dentro de um partido político no Brasil. Eu dizia para ela que a postura mais ética, cidadã, honesta e fraterna na sua atuação político partidária, não seria defender o indefensável, proteger quem não merecia, esconder corrupto para não expor o partido, colocar todas as mazelas nos partidos adversários ou em outro setor da sociedade, justificar acordos esdrúxulos em nome do “futuro”, sem qualquer senso crítico olhando para dentro do seu próprio partido. Isso não seria uma postura político partidária saudável, mas sim um preocupante sintoma de fanatismo.

 Disse-lhe que ela tinha que ser firme e imparcial diante da corrupção independente da coloração partidária e, deixar claro para a sociedade, sem discurso superficial, que antes de qualquer projeto partidário ela não declinaria da ética, que deveria ser uma premissa apartidária. Não existem fins éticos, sem meios éticos.

 Com um discurso e postura excessivamente corporativista um filiado político partidário, mesmo com sinceridade e boa intenção, termina incoerentemente ajudando a criar dentro do seu próprio partido um campo fértil para que os inescrupulosos ganhem espaço e se protejam debaixo desse irracional guarda-chuva protetor, desgraçadamente mantido por sinceros, idealistas, mas invigilantes filiados.

 Não importa saber quando, onde e com quem começou a corrupção, mas importa sim combatê-la tenazmente em qualquer tempo, local e de forma apartidária. Não importa saber quem roubou menos ou mais, mas sim que todos sem exceção respondam diante da justiça como qualquer outro cidadão.

Não sou adepto da antiga e desastrosa frase “rouba, mas faz”. O agente público não pode roubar e tem obrigação de fazer, pois é para isto que ele lá se encontra. O agente público não faz caridade nem filantropia, ele simplesmente tem que cumprir honestamente com a sua obrigação constitucional de servidor público. Ele administra temporariamente um recurso que não lhe pertence.

 A melhor tática para os “agentes da corrupção” é passar a ideia de que todos também o são, que o Brasil sempre foi assim, que ninguém é perfeito, que não adianta … e com isto continuarem roubando.

 As pessoas de bem devem estar uníssonas no primeiro passo, que significa não abdicar dos chamados valores éticos universais. Garantido este insubstituível patamar, então democraticamente e alteritariamente cada um caminha pelas suas preferências político partidárias.

 Não nos iludamos e fiquemos muito vigilantes. Já dizia Peter Drucker: a melhor forma de gerenciar o futuro, é criá-lo.

Criemos todos um futuro ético e socialmente justo para o nosso Brasil. Tenhamos a coragem do “sim, sim e não, não”.

Os espíritos falam. Você ouve?, novo livro de Wilson Garcia

Texto: Voice Comunicação Institucional (Voice Social)

AUTOR DE MAIS DE 30 LIVROS, JORNALISTA WILSON GARCIA PARTICIPA DE  ENCERRAMENTO DAS COMEMORAÇÕES DE 100 ANOS DE HERCULANO PIRES, FAZ PALESTRAS E LANÇA “OS ESPÍRITOS FALAM. VOCÊ OUVE?”  EM PROGRAMA NA CAPITAL E POR TRÊS CIDADES DO INTERIOR DE CapaSÃO PAULO

O jornalista e escritor Wilson Garcia, autor de mais de 30 obras espíritas, residente em Recife, chega a São Paulo na 6ª. feira, dia 19 de setembro, para um programa de entrevistas, palestras e lançamentos de livros na Capital e Interior –  em Capivari, Indaiatuba e Piracicaba.

Encerramento das Comemorações de 100 anos de Herculano Pires em SP

A agenda de Garcia, reconhecido nacionalmente por suas obras e palestras de temáticas espíritas, começa no sábado com o Simpósio de encerramento das Comemorações dos 100 anos de Herculano Pires. Wilson é um dos principais divulgadores do pensamento de Herculano Pires, considerado o mais importante tradutor, para o português, da obra de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Pires foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e faleceu em 1979, aos 64 anos, deixando uma extensa obra inédita que foi paulatinamente publicada por sua mulher Virgínia, administradora de seu legado até sua morte. Wilson participou da intensa programação das comemorações que durou um ano – a Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, responsável pela preservação da memória do casal, criada e mantida pelos filhos, e que detém todos os direitos de sua obra, coordenou todo o Ano do Centenário de Herculano Pires – iniciado em setembro passado e que contou, neste período com a realização de 25 encontros quinzenais em que, a cada edição, um estudioso de sua obra apresentava palestra sobre seus livros nas diversas categorias de seu trabalho – literário, jornalístico, filosófico, poético e doutrinário.  Wilson abordou durante as comemorações o tema “O Vampirismo em Herculano Pires” e agora retorna no simpósio para encerrar o programa sobre Herculano Pires, o Jornalista.

Todas as palestras do Centenário de J. Herculano Pires podem ser conferidas e assistidas no site da Fundação: http://www.herculanopires100anos.com.br/encontros

Entrevista na Rede Boa Nova

Na 2ª. feira, dia 22, Wilson Garcia, grava entrevista pela manhã, na Rede Boa Nova, emissora caracterizada pela programação espírita e que é mantida pelas Casas André Luiz. O programa vai ao ar na quarta-feira, às 11h00 da manhã e pode ser acompanhado pela Rádio Boa Nova, AM 1450 Kz, Guarulhos, e pela TV Mundo Maior, via parabólica pelo satélite Star One C2, com sinal digital, ou pela internet: http://tvmundomaior.com.br/

Pré-lançamentos de “Os Espíritos Falam. Você Ouve?”

marcam agenda do Interior

Após a entrevista, Wilson inicia sua programação non Interior de São Paulo viaja para Capivari, onde, no mesmo dia, às 20 horas realiza palestra no C.E. Mensagem de Esperança, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1080, Capivari. Na ocasião, Garcia faz agenda de pré lançamento do seu novo livro “Os Espíritos Falam. Você Ouve?”, pela Editora EME.

No dia seguinte, 3ª.feira, 23, às 20h, o mesmo programa – palestra + pré-lançamento – será em Indaiatuba, no C.E. Padre Zabeu Kaufman, Rua 13 de Maio, 1054, Indaiatuba. E na 4ª. feira, 24, 20 horas, o programa termina na União Espírita de Piracicaba, Rua Regente Feijó, 933, Piracicaba.

O lançamento nacional do novo livro de Wilson Garcia, no circuito comercial de livrarias, acontece ainda em setembro e começa por Recife, passando por São Paulo. Depois o autor segue para roadshow pelo País que já tem, entre outras agendas, confirmação de lançamento em  Recife, na capital pernambucana, onde o autor fará uma agenda de simpósios e palestras sobre o conteúdo da nova obra.

“Com agenda fechada de simpósio e palestras em São Paulo e Interior, antes do lançamento no circuito de livrarias não espíritas, decidimos, aproveitar a visita a estas cidades e apresentar a nova obra para o público espírita que sempre nos acompanha”, disse Garcia explicando o programa de pré-lançamentos. E acrescenta: “o primeiro pré-lançamento ocorreu em Porto Alegre, nos dias 5-7 de setembro, durante do VI Simpósio do Livre-Pensar, promovido pela CepaAmigos e realizado na sede do CCEPA, Centro de Cultura Espírita de Porto Alegre. A seguir, apresentamos o livro na cidade de Belo Jardim, interior de Pernambuco, no dia 14 de setembro, durante a apresentação que fizemos do seminário sobre Drogas e Espiritismo”.

Livro tem proposta ousada

Com 176 páginas e subtítulo “Uma proposta teórica para o processo de comunicação mediúnica”, o livro tem uma proposta ousada de abordagem do fenômeno mediúnico, promovendo um link entre as diversas teorias da comunicação social e a comunicação mediúnica, pela qual os entes invisíveis dialogam com os seres humanos. Garcia é formado em  jornalismo e é mestre em comunicação social pela Cásper Libero. No livro, as idéias e propostas de autores como Santaella, Joly, Aumont, Hall, DeFleur, Fidalgo e Bakhtin, teóricos da comunicação e de disciplinas afins, são confrontadas pelo autor com teses sobre comunicação presentes em textos fundadores do Espiritismo, produzidos por Allan Kardec. “Fizemos um esforço de interpretação e correlacionamento, com o objetivo de fundir os elementos teóricos das ciências da comunicação com o processo da comunicação mediúnica.”, explica Garcia.

Sobre o Autor

Wilson Garcia, 65 anos, é casado e pai de 4 filhos. Reside em Recife aonde, como professor de jronalismo e comunicação, após período dedicado às aulas na universidade, dedica-se exclusivamente a produção de obras espíritas. Garcia é autor de mais de 30 livros sobre os mais diversos aspectos do Espiritismo, desde a organização de centros espíritas e processos mediúnicos até estudos e reflexões sobre intelectuais da matéria. É um dos principais estudiosos de Herculano Pires, a quem admira desde os 16 anos de idade, quando leu pela primeira vez o livro “Barrabás, o enjeitado”. A convivência com as ideias de Herculano Pires aprofundou-se durante o período em que dirigiu jornais e editoras espíritas, já domiciliado na capital paulista. Sobre Pires escreveu o livro “Kardec é Razão”, que está com a segunda edição, totalmente revista e atualizada, à venda pela Editora EME, Editora USE (São Paulo) e Editora Paideia.

Lançamento em Recife começa no dia 28 de setembro

Ainda em regime de pré-lançamento, o livro “Os espíritos falam. Você ouve?” será apresentado aos participantes do seminário, que tem o mesmo título do livro, a realizar-se no próximo dia 28 de setembro, a partir das 9 horas da manhã, na Fraternidade Espírita Francisco Peixoto Lins (Peixotinho), rua Sansão Ribeiro, 59, em Boa Viagem, com entrada franca.

Além do lançamento oficial em Recife e São Paulo, em fase de agendamento, já estão programados eventos em João Pessoa, Paraíba, e São Luís, Maranhã para o mesmo fim.

A interpretação que excede a lógica

 

A propósito da publicação no “Opinião” de abril/2014, da CCEPA, mas, também, daContextualizar é preciso corte ideia que a matéria representa, cabe um reparo amparado na lógica da doutrina que Kardec organizou e produziu, denominada Espiritismo.

A matéria diz respeito aos 150 anos de lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo, tão amplamente comemorados neste Brasil de nosso tempo, mas pouco, muito pouco mesmo analisada fora desse lugar comum que é o campo da religião, visto que sua lógica está para além do mero consolo e da simples aplicação da moral cotidiana.

A matéria do “Opinião” – Contextualizar é preciso – padece de um equívoco argumentativo, uma vez que deduz houvesse Kardec sido filho de uma outra cultura que não a cristã, ao seu tempo, teria escrito livro diferente para o aspecto religioso do Espiritismo. Esquece-se, contudo, da visão de conjunto necessária para compreender a posição de O Evangelho segundo o Espiritismo na doutrina de Kardec.

Talvez, ninguém melhor do que Herculano Pires tenha tido essa visão e deduzido dela a lógica do livro mencionado, lógica essa que o insere num contexto de uniformidade de vistas, de forma a constituir não apenas uma parte do conjunto, mas parte que não pode ser excluída porque deforma o todo e parte que não possui finalidade em si mesma, pois existe por conta do conjunto.

O argumento de que em outra cultura o livro seria outro exige do raciocínio um complemento: em outra cultura os Espíritos-autores seriam outros, logo as ideias também. Então, a dúvida: aquilo que é universal na doutrina seria defendido ou colocado por estes outros emissores? Os princípios fundamentais, como imortalidade, reencarnação, comunicabilidade dos espíritos, evolução, as leis naturais seriam todos integrantes elementares da obra? Haveria espaço em outras culturas para os princípios e a lógica que os une?

A questão não pode ser resumida a uma vontade de Kardec decorrente de sua submissão relativa à cultura na qual estava inserido. É o que reza Herculano Pires. A vontade de Kardec decorre do conjunto das ideias que o levou a optar por escrever um livro como sequência natural da obra iniciada em O Livro dos Espíritos e desenvolvida em O Livro dos Médiuns.

Herculano vai além: vê toda a Doutrina Espírita como sequência do conhecimento construído pela humanidade, através das civilizações. E a toma como um conjunto harmônico em que as partes se enlaçam de forma precisa, cada uma delas assumindo uma parcela da obra e a desenvolvendo, sem que haja qualquer tipo de choque com aquela que aparece na base do edifício: O Livro dos Espíritos.

Se os espíritas fizeram de O Evangelho segundo o Espiritismo o livro de maior destaque e lhe aplicaram uma importância que minimiza absurdamente o valor de O Livro dos Espíritos, numa ação irremediavelmente incoerente; e se O Evangelho segundo o Espiritismo tornou-se referência de um religiosismo exacerbado, como se o Espiritismo se resumisse a isso é uma questão para ser discutida. Outra, diferente, é ver o terceiro livro de Kardec como resultado apenas de uma situação cultural do autor, o que nos lança a um reducionismo obtuso.

Dizer que O Livro dos Espíritos é a fonte dos demais livros de Kardec é repetir o lugar-comum. Mas enfatizar que ele é o gerador dos demais para indicar que forma com eles um conjunto e que neste conjunto, independentemente de qualquer outra coisa, impera a lógica e a coerência interna é uma necessidade.

Diz o bom senso que o conjunto em referência não se refere apenas aos livros e às ideias que defendem, mas inclui, também, os autores (invisíveis e visíveis), o contexto, o tempo e o espaço dos acontecimentos. E, evidentemente, um olhar epistemológico. Qualquer conjectura, por mais legítima que seja, feita com o objetivo de apontar outras possibilidades, como essa levantada pelo “Opinião”, deveria, portanto, levar em consideração o conjunto e não uma obra isolada.

Dentro deste raciocínio, a figura de Jesus, as ligações com o cristianismo e outros aspectos desse mesmo tema não são iniciativas isoladas de O Evangelho segundo o Espiritismo, pois que estão amparadas na obra básica – O Livro dos Espíritos. Não é possível, pois, questionar aquele sem reconhecer a primazia deste e sem atingi-lo, da mesma forma que não é coerente desconsiderar os laços que unem as partes fundamentais da doutrina, como a comunicabilidade dos espíritos, as leis da reencarnação e da evolução, entre outras, laços que, eventualmente desfeitos, isolariam as partes e as lançariam à orfandade.

Em suma, a perspectiva de um outro livro implica um outro conjunto de ideias. Fora disso, não é possível refletir.