Circulou nas redes sociais documento na forma de abaixo-assinado, a princípio sem clareza da fonte e dos autores, cujo teor é um pedido de perdão aos povos originários do Brasil e do mundo por supostos afrontes a eles contidos nas obras fundamentais da doutrina espírita.

Ao circular, o documento surge como texto fechado, portanto, sem possibilidade de qualquer modificação, e pede o apoio dos espíritas com suas assinaturas e endosso do conteúdo. Ou seja, não os convida para o banquete, mas lhes oferece os restos do dia seguinte.

Diante da surpresa de uns e assombro de outros, logo surgiram revelações que bem definem o caráter do intento e sua verdadeira face. Vejamos.

Quando fica esclarecido que por trás do abaixo-assinado do pedido de perdão aos povos originários está o coletivo Espíritas à Esquerda, fica também esclarecido porque o documento contém embutido o sentido simbólico de referendar o ilegítimo ato de publicar dois livros fundamentais do espiritismo – O Evangelho segundo o espiritismo e O livro dos espíritos – contendo a expressão em vermelho-sangue “edição antirracista” na capa, numa evidente violência moral e ética ao autor, Allan Kardec, e ao tradutor da edição brasileira utilizada, Guillon Ribeiro.

Quando vem a informação de que um grupo reduzidíssimo de pessoas (apenas 6!!!) participou das discussões e aprovação do texto do abaixo-assinado em que é feito o pedido de perdão em nome dos espíritas aos povos originários de todos os continentes, se comprova que o coletivo que sustenta o malfadado pedido passa longe de praticar a verdadeira democracia. Pasmem todos: seis pessoas decidiram que o espiritismo é um terrível agressor dos povos originários do Brasil e do mundo. Pasmem, mais: entre as seis pessoas, “duas indígenas Pataxó, uma mulher negra, um ativista negro de pele clara” e… apenas 2 espíritas! Extraordinário este parlamento reunido à sombra do olmeiro, que se autoatribui o poder de determinar que o espiritismo é um agressor vil dos povos originários do mundo.

Prossigamos:

Quando se esclarece ainda mais, que esse grupo reduzido e decisório tem entre seus integrantes respeitáveis representantes dos povos originários brasileiros, que não são propriamente espíritas e nem falam pelos espíritas, ainda que o fossem, então se verifica que o coletivo-autor do documento e aqueles que assentiram em apor seu aval posterior referendam a violência moral feita à obra de Allan Kardec.

Quando as discussões sobre esse abaixo-assinado se acirram nas redes sociais e surgem indivíduos pregando, numa violência subsumida, que quem estiver de acordo, assine; quem não estiver, não assine, fica demonstrada outra vez que essa ideia estranha de democracia justifica o emprego da violência em defesa dos seus interesses grupais e suas ideologias extremistas. Passam a ideia de democratas, mas são de fato extremistas em suas posições político-doutrinárias.

Quando, finalmente, as discussões nas redes são desviadas para a periferia do conteúdo acintoso do documento, verifica-se que o intento já havia atingido seu objetivo: o manifesto está publicado no sítio da fonte-autora, onde pode ser lido na íntegra. Clique aqui

Os integrantes desse obtuso parlamento, repita-se, constituído por seis pessoas e apenas dois espíritas, decidem pedir perdão aos povos originários “pelas referências depreciativas, discriminatórias e preconceituosas presentes na vasta literatura espírita”, com todo o poder de que se sentem investidos, confiantes na cegueira mental dos milhões de espíritas em todo o mundo, das nobres inteligências desde Kardec aos dias atuais.

A publicação do Evangelho segundo o espiritismo com a expressão “edição antirracista” em vermelho-sangue configura um verdeiro crime moral.

Foi dessa mesma forma antidemocrática e autoritária que lá atrás decidiram que os mencionados dois livros básicos do espiritismo deveriam ser atirados no rosto do público brasileiro, como um documento-denúncia com a expressão “edição antirracista” impressa em vermelho-sangue. Agora, como então, é a violência que impera.

Estamos diante de um plano previamente arquitetado de destruição moral do espiritismo, com a diferença de que agora a ação é desencadeada no seio do próprio movimento? Sim, há um plano maquiavélico em andamento.

Vejamos o que diz um dos dois espíritas que discutiram, concertaram e decidiram pelo documento: “Me ofereci pra fazer (sic) o esboço inicial do texto até para atenuar, tanto quanto possível, as referências a Kardec, que tem sido denunciado injustamente, a meu ver, nas redes sociais como racista”. Isto é ou não uma confissão de culpa?

Ele, contudo, prossegue e, ingenuamente, confessa: “Como estávamos em um coletivo, nem sempre minhas propostas foram vencedoras. Achei melhor persistir, mesmo assim, de modo a atenuar, tanto quanto possível, as acusações contra a pessoa de Kardec, mantendo o foco nos textos. Isso foi o melhor a que conseguimos chegar”.

Estamos diante de um gravíssimo crime moral, muito mais doloroso, a considerar verdadeiras as palavras acima: “atenuar, tanto quanto possível, as acusações contra a pessoa de Allan Kardec”. Isso aponta para o fato de que se planejava fazer acusações e praticar ofensas à figura do fundador do espiritismo, além das que estão lá contidas. Se era isso, então não há adjetivos piores a empregar.

Tudo nos leva a retornar ao violento ato da publicação da edição dita antirracista dos livros básicos do espiritismo. Naquela ocasião, podemos afirmar, com base em informação confidencial fidedigna, que se objetivava ir além da publicação dos dois livros com a expressão “edição antirracista”. A intenção era reescrever os textos que na obra de Allan Kardec, para os acusadores, são racistas e discriminatórios para com os negros. Ou seja, consumar o ato criminoso de agir contra os direitos morais do autor atentando em seu próprio texto, fato que só não ocorreu, segundo a fonte, por uma ameaça de abandono da causa de um dos consultados.

O referido plano, portanto, prossegue e tudo indica que deverá apresentar outros desdobramentos. É preciso estar atento e mostrar que o verdadeiro objetivo desses maus espíritas é rebaixar o espiritismo ao pior nível possível, a fim de que desapareça em algum momento e, para isso, não há forma melhor do que desclassificar a sua filosofia e denunciar o seu autor.

Que forma vil de atualizar o espiritismo!

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

One thought on “A violência moral e uma surpreendente versão da democracia dos extremistas”
  1. Concordo com todas as suas colocações. O documento é tendencioso e realmente para tentar a destruição moral do espiritismo não precisamos de oponentes externos, basta os internos…. Como disse Léon Denis, o Espiritismo será o que os espíritas fizerem dele…

Olá, seu comentário será muito bem-vindo.

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