Espiritismo e Socialismo estão unidos por laços estreitos, visto que um oferece ao outro o que lhe falta a mais, isto é, o elemento de sabedoria, de justiça, de ponderação, as altas verdades e o nobre ideal sem o qual corre ele o risco de permanecer impotente ou de mergulhar na escuridão da anarquia. Léon Denis

 O socialismo de Denis foi classificado como idealista, uma maneira de ver que em princípio não combina com a dura realidade na qual a vida em sociedade se manifesta e desenvolve. Desde a eclosão das ideias socialistas, com Marx, às experiências de implantação de regimes políticos e econômicos marcados pelo fundamento socialista, que se discute a questão. No espiritismo não foi diferente e aqui está um exemplo de contenda em que as ideias se chocam e se distanciam até se encontrarem nas pontas, na irrefreável leveza da física.

Os espíritas e as questões sociais – em sua edição primeira, feita em 1955 em Niterói, RJ, este livro reúne artigos publicados na imprensa por dois conhecidos espíritas: Eusínio Lavigne, advogado e empresário de Ilhéus, BA, e Sousa do Prado, ex-membro da Federação Espírita Brasileira. Trata-se de um grande debate que teve início quando a Revista Internacional de Espiritismo, de Matão, recusou-se a publicar um artigo de Lavigne em resposta a outro, que saiu em suas colunas na edição de setembro de 1950, intitulado “Pela vitória do espírito” e assinado por Pereira Guedes, cujo conteúdo analisava o livro Materialismo dialético e materialismo histórico, de José Stalin. Lavigne procurou, então, o Jornal de Debates, onde encontrou guarida e por vários meses expôs seus argumentos sobre a teoria marxista, o socialismo e as conexões com o espiritismo, além de, ao defender o marxismo, deixar claro que o fazia ao que de científico ele continha e não à sua condição materialista contrária ao fundamento espiritual da doutrina de Kardec. Lavigne vê em Marx uma condição semelhante, mas em terreno diferente, à de Kardec, considerando ambos missionários. Diz ele, em resposta a Pereira Guedes: “Há que distinguir, no caso, o lado filosófico e o lado científico. Cientificamente – porque é fato visto – a verdade acompanha Marx, quando o sociólogo alemão proclama que a supremacia da solução econômica é a condição precípua para uma justiça social neste planeta”. Lavigne vai reafirmar essa opinião ao dizer que “cientificamente falando, não são irreconciliáveis, em absoluto, o Marxismo e o Espiritismo, porque ambos querem a verdade objetiva e ambos se acordam num fim comum – o do progresso da Humanidade”. Trata-se de um debate bastante longo transposto para um livro de mais de 275 páginas em corpo diminuto, onde os temas e os autores citados, de um lado e de outro, se alternam e se multiplicam. Souza do Prado, o coautor, entra na obra em sua segunda parte, tendo por objetivo focalizar o tema central “Cristianismo, Espiritismo e Comunismo”, mas não começa bem a sua participação ao trazer ao conhecimento do leitor um texto de Emmanuel, endereçado a um amigo de Souza do Prado que, estando em Pedro Leopoldo, pediu ao mentor de Chico Xavier uma palavra sobre o Souza do Prado. Emmanuel teria escrito: “Nosso amigo prossegue sob a assistência de vários companheiros de Espiritualidade, esperando nós todos que a sua inteligência unida ao coração produza, com o Cristo, valores e bênçãos para a sementeira da renovação terrestre. Desejando-lhe paz e progresso no Evangelho Redentor, somos o amigo e servo humilde Emmanuel” (6/1/54).

Sousa do Prado entendeu nessas palavras de estímulo de Emmanuel o contrário do sentido ali presente, concluindo que “[…] não há a menor dúvida de que aquelas palavras desse espírito representam claramente a aprovação implícita de tudo o quanto temos escrito”. Era ele, de muito tempo, defensor e adepto do comunismo, de que muito se orgulhava como ele mesmo afirma no livro. E não compreendia que alguém pudesse ser espírita de fato sem ter uma consciência da importância do comunismo. Eis o que diz após afirmar em letras destacadas que “o partido comunista não é materialista”: “Por isso é que somos comunistas, não podendo compreender que o não sejam os que se dizem espíritas-cristãos, e pregam espiritismo e cristianismo… Mais ainda: para nós, é mil vezes preferível o comunista materialista ao espírita reacionário, porque o primeiro pratica o evangelho sem o pregar, ao passo que o segundo prega o evangelho sem o praticar…”. Fundamentalmente, Sousa do Prado permanece no mesmo terreno argumentativo iniciado por Lavigne, onde a ideia de um socialismo puro é mais concernente ao espiritismo de justiça, amor e caridade, por isso lhe cumpre, com a Lavigne, combater o capitalismo como sendo o sistema mais cruel possível à sociedade e totalmente em desacordo com o espiritismo. A diferença está em que o primeiro transita por dois campos: o da filosofia e o da ciência marxista, enquanto o segundo adota reflexões mais genéricas, as quais sustentam sua crença e justificam sua presença no debate. Ao final do livro, algumas cartas trocadas durante os debates são anexadas, bem como diversas notas que correram em paralelo à discussão.

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

22 thoughts on “Marx e Kardec, materialismo e espiritismo”
  1. Olá Wilson,

    Esse tema é polêmico e geraria um debate quase interminável. Teríamos que entrar em reflexões sobre meritocracia, sonho x realidade prática, sociedade utilitarista x sociedade espiritualizada, liberdade de expressão, pluripartidarismo etc.

    “No momento”, apesar de também enxergar diversas lacunas, as sociedades que na minha opinião mais avançaram em termos de equilíbrio social encontram-se nos países da Escandinávia. Espero que continuem avançando, sem retrocessos ou atalhos perigosos.

    Pessoalmente, acredito em um modelo social que se sustente de forma equilibrada no tripé “Ética + Justiça social + Democracia”. Se tirar um deles a cadeira cai, mais cedo ou mais tarde.

    Um forte abraço amigo.

  2. Geo.

    Estou com você e não abro.

    Acho que devemos colocar uma quarta perna nessa cadeira, para não correr riscos…

    Penso que o capitalismo fracassa quando não é capaz de promover justiça social e aí Marx e sua mais valia precisam entrar no jogo. Os modelos socialistas e comunistas colocados em prática por alguns países foram incapazes de superar aquele individualismo egoísta que o capitalismo exacerba. Assim nos resta nos resguardar dos perigos das direitas reacionárias e dos centristas interesseiros sem fundamentos no bem e na justiça social. Como as esquerdas idealistas e sem mácula são ainda uma minoria, resta-nos pensar em saídas que minimizem as distorções dessa justiça social que desejamos e sabemos só será plena quando plenos no bem formos todos os homens.

  3. Olá Wilson,

    Esta quarta perna eu já considero incluso na perna “justiça social”.

    Pessoalmente tenho algumas reservas em utilizar termos já batidos e desvirtuados, que ao serem falados automaticamente nos levam a outros paradigmas. Tenho muito cuidado com os “ismos”. Estes geralmente já são as materializações dos princípios, que muitas vezes foram desvirtuados (Ex: cristianismo x cristo). Vejo a justiça social como um princípio, quanto aos ismos teremos que analisar melhor como eles a interpretam.

    Sigamos em frente.

  4. Quando uma síntese bem descrita e equilibrada nos faz ter vontade de ler a obra original, é porque valeu a pena cada palavra. Obrigado Wilson, por tratar de tema importante e tão ‘maldito’ dentro das redes espíritas, porque valorizamos mais os preconceitos do que o pensamento científico, histórico, isento e dialético. Existe medo de dialogar com as correntes do pensamento de Marx e dos socialistas utópicos, bem como de outros pensadores críticos das distorções socioculturais e econômicas, por heranças distribuídas a mancheias de desinformação cultural e educação generalista de baixa intensidade, bem como a nossa democracia.
    Só que a realidade “É”, e nos cobra enxergar a práxis para a sociedade evoluída tão propagada pelos espíritos nas obras de Kardec, e aí, o conforto das ideias dogmáticas, o alheamento provocado pelo sistema social atual e a receita simplista de apenas transformar-se a si mesmo (o que é meritório, claro, mas ingênuo ao se desconsiderar o entorno e nosso papel no mundo), deixando que a sociedade se organize por espasmos, não dão conta dessa utopia cristã.
    Você sabe se existe esta obra em pdf para leitura? (Deu vontade também de reler “O Reino” e “A Fagulha”, de H. Pires, ou ainda as obras de crítica social do argentino Humberto Mariotti, como antídoto para esse baixo diálogo que vimos enfrentando em tempos atuais).
    Muito obrigado por mais este artigo elucidativo.

  5. Olá Mário.

    Infelizmente, ainda não há esta obra em pdf, mas temos planos de coloca-la, quando possível, disponível, junto com todas as demais que estamos comentando e concluiremos no próximo post. Concordo com suas observações a respeito do tema e do contexto em que nos encontramos, especialmente o nosso meio espírita tão convicto de suas verdades. Abraços.

  6. Creio que a medida que a história vai desmascarando o Comunismo, ele fica mais distante da Doutrina Espirita, eu na minha adolescência como muitos fui seduzido pela ideia de igualdade do Marxismo, mas o aprofundamento e o sair da superfície do conhecimento me mostraram quão diferentes são estas doutrinas, uma com pele de lobo, seduz para aprisionar, outra liberta e a liberdade é inclusão , uma prega ódio outra o amor. A obra é ótima e recomendo mas não façamos proselitismo da doutrina Marxista que tanto tantas vitimas fez ao longo da história.

  7. Olá WGarcia e todos os demais que opinaram. Sou grato pelo acesso, pois em minha opinião não podemos deixar que esse e outros temas semelhantes sejam atirados na vala do esquecimento. É muito evidente, pelo menos penso assim, que o capitalismo instituiu um consumismo doentio e que nosso planeta está entrando em uma fase próxima ao esgotamento. Nesse sentido, algumas premissas do comunismo utópico não devem ser desprezadas. Acho muito complicado a transformação do individuo isolado do contexto social. Uma sociedade doentia “produz” indivíduos doentes. Kardec de certa maneira enfrentou várias questões sociológicas relacionadas à miséria e a riqueza., Os espíritos não escamotearam sobre essas questões. Voltando ao livro, seria interessante tê-lo na íntegra.

  8. Caro Almir,
    É nosso interesse disponibilizar o livro em pdf. Vamos aguardar uma oportunidade, ok?
    Abs.

  9. Interessante esta linha de pensamento, pois coloca as duas teorias bem próximas, pois afinal a idéia é que possamos nos ajudar para melhorar as nossas condições tanto espiritual quanto material, pois como vivemos na terra para aprimorar nossas virtudes as idéias se aproximam.
    Veja um artigo feito pela nossa querida Dora Incontri, feito algum tempo atrás.

    Socialismo e Espiritismo, aproximações dialéticas

    Dora Incontri e Alessandro Cesar Bigheto

    Resumo: Este artigo pretende resgatar a ala esquerda do espiritismo, romontando-a já desde Pestalozzi, mestre de Kardec, pelo próprio fundador do espiritismo e seus discípulos na França e no Brasil. Apesar de o movimento espírita brasileiro revelar traços conservadores, existe um espiritismo à esquerda, cultivado na América Latina, incluindo o Brasil e que descende do espiritismo francês, entendido como proposta social, aplicada na educação.

    Palavras-chaves: Espiritismo, socialialismo, Kardec, Pestalozzi, sociliastas utópicos, dialética espiritualista, educação, socialismo espírita.

    Estes apontamentos pretendem apenas indicar uma vasta linha de pesquisa ainda pouco trilhada, que aponta as relações históricas e teóricas entre socialismo e espiritismo. Não é assunto pacífico nem para socialistas (sobretudo marxistas) nem para espíritas, mas trata-se de demonstrar que houve aproximações, diálogos e influências mútuas neste campo. Aliás, a dialética, que se propõe como método de entender as contradições e chegar a sínteses, não deveria permitir o dogmatismo ideológico que impede a aproximação do que aparece, à primeira vista, paradoxal.
    Tudo começa já com o mestre de Allan Kardec (Rivail), Johann Heinrich Pestalozzi, que, ao contrário da análise pouco informada de alguns, que ignoram a complexidade de sua obra e de sua trajetória, passou da crença no despotismo esclarecido a um pensamento social, que não pode ser meramente considerado burguês, pois, ao mesmo tempo, em que ele foi condecorado como membro honorário da Revolução Francesa, foi crítico dela. Em seu pensamento, (ver INCONTRI:1996), existem traços de uma dialética original – que é espiritualista, se dá na história, mas não tem o totalitarismo panteísta de Hegel ou de Fichte. Com este último, Pestalozzi manteve fecundo diálogo.
    Tendo Pestalozzi uma vasta e multifacetada obra, a interpretação a respeito é bastante controversa. Alguns o vêem como um pensador romântico, outros como típico representante do iluminismo. Mas, existe uma leitura mais à esquerda, que identifica elementos bastante originais do seu pensamento. Por exemplo, TOLLKÖTTER (s.d) estabelece comparações entre Marx e Pestalozzi, em relação ao trabalho, à sociedade e à educação. SCHLEUNER (1974), faz interessante estudo comparativo entre a experiência de Pestalozzi em Stans e a experiência socialista de Makarenko.
    Assim também entre os autores espíritas, já de início com o próprio Kardec, discípulo e herdeiro de Pestatalozzi, há polêmicas e diversas leituras, dependendo da lente ideológica dos estudiosos. Humberti Mariotti fala de uma “esquerda kardeciana” (HOLZMANN NETTO, 1970).
    Mas é inegável que houve confluências e influências entre socialismo e espiritismo.
    Em primeiro lugar, descrevamos resumidamente os fatos, para depois analisarmos algumas idéias:
    Kardec era um educador preocupado com as questões sociais, que militava pela educação pupular. Já aos 24 anos de idade, escreveu brilhante ensaio Proposta para a melhoria da Instrução Pública (ver RIVAIL, 2000) e durante décadas deu cursos gratuitos, em sua própria casa, de química, matemática, astronomia, fisiologia, gramática… numa tentativa de democratizar o conhecimento.
    Ao que parece, manteve relações com os socialistas (depois chamados de utópicos por Marx e Engels), pois em sua fase espírita, os cita constantemente, entre eles, Fourier, e Saint-Simon. (Robert Owen, por sua vez, recebeu influência de Pestalozzi, pois o visitou em Iverdon e mais tarde tornou-se adepto do espiritismo). O pesquisador francês François Gaudin descobriu recentemente documentos ainda inéditos, revelando a parceria de Kardec com o amigo Maurice Lachâtre, conhecido socialista de tendência anarquista e editor das obras de Marx, em fascículos populares. Ambos tiveram um projeto economicamente fracassado da fundação de um banco popular, possivelmente nos moldes do que queriam os socialistas pré-marxianos e os anarquistas como Proudhon.
    O sucessor de Kardec, que liderou o movimento espírita francês até depois da Primeira Guerra Mundial, foi Léon Denis, um operário de Tours, autodidata, amigo e companheiro de Jean Jaurès, socialista espiritualista. Denis escreveu a obra Socialismo e Espiritismo, um clássico da literatura social espírita. Nesta obra, Denis relata seu profundo envolvimento com o movimento operário francês, e os conflitos entre um socialismo materialista e um socialismo espiritualista, quando da sua participação de um ciclo de conferências na Bélgica, com Volders e Oskar Beck. Volders organizou o Congresso Socialista Internacional em Bruxelas, em1891. (Ver DENIS, 1987:38)
    Na América Latina, o pensamento socialista espírita teve vários representantes. Entre eles, o venezuelano Manuel Porteiro, que escreveu Espiritismo Dialéctico, os argentinos Cosme Mariño e Humberto Mariotti, autores respectivamente de Concepto Espiritista del Socialismo e Parapsicologia e Materialismo Histórico, os brasileiros Eusínio Lavigne e Souza Prado, de tendências stalinistas, com a obra Os Espíritas e as Questões Sociais, Jacob Holzmann Netto, que participou do Movimento Universitário Espírita na década de 70 (depois abafado pela ditadura), com o livreto Espiritismo e Marxismo e, o maior expoente da intelectualidade espírita no Brasil, o jornalista e filósofo J. Herculano Pires, autor de Espiritismo Dialético e O Reino.

    A crítica social em O Livro dos Espíritos

    Ao contrário da interpretação popular do espiritismo brasileiro, nas obras de Kardec, consideradas pelos seguidores como fundamentais, não há a aceitação de um fatalismo social, determinado pela idéia da reencarnação. Sobretudo em O Livro dos Espíritos, aparecem críticas à estrutura social injusta e indicações de que é preciso tranformar a sociedade, junto ao apelo constante à tranformação do homem. Dentro da perspectiva evolucionista, a evolução social interage dialeticamente com a evolução individual. Como explicaria depois Herculano Pires: “Transformar o mundo pela transformação do homem e transformar o homem pela transformação do mundo. Eis a dialética do Reino, que o cristão de seguir.” (PIRES, 1967:136)
    Entre as questões levantadas por Kardec na referida obra está a da propriedade, que era, como se sabe, objeto de discussão de socialistas e anarquistas de todos os matizes. A idéia expressa no Livro dos Espíritos vai no sentido da propriedade coletiva, com a crítica do acúmulo de capital, que se manifesta no plano moral, como egoísmo:

    “O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar? – Sim, mas deve fazê-lo em comum, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta.” (KARDEC, item 881)

    Em seguida, Kardec indaga a partir do ponto de vista liberal que sempre defendeu a idéia de que a riqueza é uma questão de mérito (e não de injustiça) e a resposta mais uma vez é crítica.

    “A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros? — Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?” (KARDEC, item 801)

    Em várias outras passagens há críticas ao supérfluo de uns e à miséria de outros, à criação artificial de necessidades – em suma, o que poderíamos hoje chamar de consumismo excludente:

    “Há, entretanto, uma medida comum de felicidade para todos os homens? — Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.” (KARDEC, item 922) “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”

    Isso apenas para introduzir brevemente algumas questões sociais tratadas por Kardec de maneira nada alienada, nem conformista.

    Dialética e espiritismo

    Entretanto, o que nos interessa mais aqui é discutir a dialética, do ponto de vista filosófico, pois parece que há uma posição original a ser descrita, a partir da obra de Kardec e de seus intérpretes à esquerda.
    Diz Piettre (e essa é uma posição mais ou menos generalizada a respeito) que existem duas maneiras de encarar a realidade: a do ser e a do devir. Conforme explica:

    “Resumindo-se por alto a longa peregrinação do pensamento humano, pode-se dizer que sempre existiram não mais do que duas filosofias, duas maneiras de representar o mundo: a filosofia do ser e a do vir a ser (…)” (PIETTRE, 1969:27)

    A filosofia clássica, de herança platônica, estaria ligada à primeira forma de percepção de mundo: o absoluto estático, a identidade permanente do ser. A dialética, que descende de Heráclito, depois revivida por Hegel, entende a realidade como transformação permanente. O ser não é, está sendo. No processo de ser, há um momento de negação, de não-ser. Nesta visão, a concepção trinitária de tese-antítese-síntese é a dinâmica de ser através de contradições e superações.
    Em Hegel, esta interpretação de mundo está inserida num espiritualismo panteísta em que o Ser é o próprio absoluto, que se encarna no processo histórico. Marx, como se sabe, recebeu uma forte influência da concepção hegeliana da dialética. Para Marx e Engels, a dialética que se manifesta no processo histórico é sobretudo material, sem nenhuma imanência ou transcendência espiritual. São as forças produtivas que engendram a história e o homem é, ao mesmo tempo, por ela determinado, e sujeito, capaz de transformá-la.
    Temos assim, três posturas filosóficas aqui descritas: a espiritualista estática, com o absoluto divino e a indentidade espiritual do sujeito; a dialética espiritualista (ou idealista), com a dissolução da identidade tanto do Absoluto (que está em processo de devir), quanto do sujeito individual (que se perde no todo); a dialética materialista, com a negação do absoluto e a indentidade do sujeito submetida às leis da história, à identidade de classe, ao determinismo biológico e social, e, apesar disso, capaz de fazer a história.
    Antes de continuar esta análise, é preciso definir bem os termos. O que significa idealismo e materialismo? A definição de Bukharin pode ser aceita por ambas as correntes:

    “O materialismo considera a matéria como causa primária e fundamental; o idealismo, ao contrário, considera em primeiro lugar o espírito. Para os materialistas, o espírito é um produto da matéria; para os idealistas, ao contrário, é a matéria que é produto do espírito.” (BUKHARIN, s/d: 57)

    A visão dialética (tanto a idealista, quanto a materialista) é histórica, ao passo que o espiritualismo clássico situa o ser acima da história. Isto, apesar do fato já muito discutido e estudado de que a idéia de história nasce com a tradição judaico-cristã.
    A visão espírita apresenta-se como uma síntese dessas posições. Admite a identidade absoluta (e não sujeita ao devir) de Deus, como causa de todas as coisas, mas admite o devir permanente dos seres, da história, num processo dialético entre o indivídual e o coletivo. Não aceita a finalidade da história como algo pré-determinado (e nesse ponto assemelha-se ao anarquismo). Avisa Porteiro: “…não estamos nem com o individualismo, nem com o fatalismo histórico, seja este último de Santo Agostinho ou de Marx.” (PORTEIRO, 1960:141)
    A questão da liberdade aí se põe, como fundamental. Não existe um fatalismo previsível da história, porque o homem de fato faz a história e este homem não é apenas determinado socialmente, porque é espírito. Explica muito bem Mariotti:

    “O Homem, para Kardec, é um espírito encarnado, que reconhecerá o seu passado histórico, à medida que ilumine sua visão e intuição espirituais. É por isso que, com a Doutrina Social Espírita, podemos falar de um homem-que-reencontra-a-história, isto é, de um homem que construirá um mundo melhor para reencontrar-se a si mesmo, segundo tenham sido seus atos para construí-lo e edificá-lo.” (MARIOTTI, 1983:29)

    Evolucionismo individuado, (como classificamos em INCONTRI:2004), historicidade com liberdade coletiva e individual, dialética com visão de imanência e transcendência – assim poderíamos definir essa dialética espírita, tratada pelos autores espíritas da esquerda.
    As questões que opõem marxismo e espiritismo se radicam em dois pontos (e em nenhum outro): o materialismo versus espiritualismo e a aceitação do uso da violência como necessidade histórica contra a renúncia ao uso de todo poder de força (mesmo em legítima defesa). Em ambos os pontos, o espiritismo está mais próximo dos socialistas pré-marxianos e dos anarquistas cristãos, da linha de Tolstoi.

    A via da educação

    Mesmo os espíritas mais à esquerda, como os que na década de 50 eram simpatizantes de Stalin, admitem que o modo de transformação social mais eficaz é através da educação.

    “Queremos mostrar, perante a realidade histórica, que a eficiência do ensino individual decorre, sobretudo, da libertação popular, de que resulta, por sua vez, o poder político-econômico nas mãos do povo organizado. Com isso, a produção coletiva destina-se ao bem de todos, a começar pelo ensino, enquanto concomitantemente, desaparece a exploração do homem pelo homem, com uma série incomensurável de proveitos intelectuais e morais para a superestrutura do espírito.” (LAVIGNE & PRADO, 1955: 33)

    Sendo o espiritismo uma doutrina eminentemente pedagógica, fundada por um educador, a militância social através da educação tem sido uma constante, desde Kardec. Conta Denis a respeito de sua própria experiência:

    “Depois da Guerra de 1870, compreendi que era preciso trabalhar com ardor para a educação do povo. Com este fim e o auxílio de alguns cidadãos devotados, havíamos fundado, em nossa região, a “Liga de Ensino”, da qual me tornei secretário geral; foram criadas bibliotecas populares e se iniciaram, em pouco por toda a parte, séries de conferências.” (DENIS, 1987:36)

    Neste sentido, assumindo um otimismo essencialmente pedagógico (de que todos os seres humanos são educáveis, perfectíveis, capazes de transcender interesses pessoais, para devotar-se ao bem geral, o espiritismo escapa da condenação eterna dos maus – do cristianismo tradicional – como da condenação à morte das classes dominantes, que se opõem ao progresso histórico. Educação universal, atavés dos séculos, porque a história se faz com seres que vão e voltam, se educam e aprendem, para a realização individual e coletiva da felicidade.
    No Brasil, a militância espírita pela educação pública e/ou gratuita (na maioria das vezes gratuita, mas nem sempre pública) começou no início do século XX, com o primeiro educador espírita brasileiro, Eurípedes Barsanulfo, que manteve uma escola popular para 200 crianças na cidade de Sacramento, Minas Gerais. Anália Franco, outra espírita, educadora e feminista também demonstrou sua militância política e pedagógica, primeiro engajando-se na educação dos negros (logo após a Lei do Ventre Livre) e depois se dedicando a fundar mais de 100 escolas e abrigos no Estado de São Paulo, todas voltadas para atender crianças órfãs e predominantemente de mães solteiras, profissionalizando também as próprias mães.
    Na década de 60 e 70, houve a participação ativa dos espíritas, liderados pelo jornalista e escritor José Herculano Pires, em prol da defesa da Escola Pública.
    Assim, a ala mais intelectualizada e politizada do movimento espírita brasileiro tem dado sua contribuição, até agora bastante ignorada, numa militância pedagógica transformadora, que se enraíza na visão de um socialismo espiritualista.
    Bibliografia
    BUKHARIN, N. Tratado de Materialismo histórico. Centro do Livro Brasileiro, s/d.
    COLOMBO, Cleusa Beraldi. Idéias Sociais Espíritas. São Paulo, Comenius, 1998.
    DENIS, Léon. Socialismo e Espiritismo. Matão, O Clarim, 1987.
    HOLZMANN NETTO, Jacob. Espiritismo e Marxismo. Campinas, Edições Fagulha, 1970.
    INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes. Bragança Paulista, Comenius, 2004.
    INCONTRI, Dora. Pesztalozzi, Educação e Ética. São Paulo, Scipione, 1996.
    KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits, Paris, Dervy-Livres, 1972.
    LAVIGNE, Eusínio & PRADO, Sousa do. Os espíritas e as questões sociais. Niterói, Editora Renovação Ltda, 1955.
    MARIÑO, Cosme. Concepto espiritista del socialismo. Buenos Aires, Victor Hugo, 1960.
    MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. São Paulo, Edicel, 1983.
    PIRES, J. Herculano. O Reino. São Paulo, Edicel, 1967.
    PORTEIRO, Manuel S. Espiritismo Dialéctico. Buenos Aires, Victor Hugo, 1960.
    RIVAIL, Hippolyte Léon Denizard. Textos Pedagógicos. São Paulo, Comenius, 2000.

  10. Não, definitivamente, Espiritismo e as ideias Marxistas não coadunam.
    Um prega o ódio, o materialismo e a intolerância; o outro, somente o amor. E tem no maior discípulo, pós Jesus, aqui na Terra, Chico Xavier, a chave para entender.

  11. Olá Ricardo.

    Sua opinião é redutivista, da forma como está aqui registrada. O tema pede análises mais amplas e desapaixonadas. Por outro lado, a visão de Chico Xavier que você defende corresponde à de um mito paradigmático que a realidade não confirma. Abs.

  12. Respeitamos o texto, mas é muito evidente que não é possível a conciliação da Doutrina Espírita com as ideias marxistas. Voltemos a Jesus: “a cada um segundo as suas obras”, tal ideia é rechaçada pelo socialismo, o qual prega a igualdade dos indivíduos desprezando as diferentes aptidões, caracteres e evolução do espírito, vindo vários governos autoritários e ditatoriais tentarem implantar à força esses regimes. A ideia de absoluta igualdade é algo que iremos alcançar em esferas mais altas e evoluídas, onde os espíritos que lá chegam é por afinidade moral/intelectual e por terem méritos para tal. Jamais poderemos pensar em absoluta igualdade em um planeta de provas e expiações, como a Terra, onde as necessidades e tarefas individuais são amplamente diferentes umas das outras e onde predominam diferenças brutais no que se refere a questões morais.
    Meus cumprimentos por oportunizar as reflexões.
    Abraços fraternos.

  13. Boa noite a todos. Tenho pra mim que o momento atual está mostrando que o Marxismo não é uma doutrina de ódio, mas de amor ao próximo. Basta ver, de qual lado se postaram os que amam o próximo, principalmente o próximo pobre, negro, lgbt, indigena . O marxismo, repesentado pela esquerda brasileira, se postou ao lado do povo, contra o golpe covarde que depôs uma Presidente eleita pela maioria do povo brasileiro. Onde ficaram os espíritas cristãos ? Do lado da elite econômica cruel, perversa que está destruindo o Estado Social criado pelo PT, sem nenhuma comoção pelo sofrimento do povo. O governo golpista apoiado pelos espíritas esta destruindo o Pais, com a entrega de nossas riquezas, e o nosso País que estava começando a trilhar na senda justiça social e da igualdade se vê hoje regredindo a um estágio de miséria dos anos de meados do século. Acho um absurdo se condenar Marx, por erros graves cometidos pelos dirigentes comunistas de várias naçoes. Seria o mesmo que jogar Jesus no lixo, pelos praticados pela assassina Igreja Católica, que pela mão do Rei Leopoldo, no Gongo matou mais de 12 milhões de seres humanos e nas Américas, outro tanto. O Marxismo é humanista, e o Socialismo será no futuro a forma de vida na Terra. Socialismo ou barbárie.

  14. João,
    difícil concordar com você.
    Espiritismo prega liberdade individual com responsabilidade pelos seus atos. Não há como conciliar isso com comunismo ou marxismo.
    “Meu reino não é destes mundo.”
    Estamos aqui pra evoluir e aprender com nossos erros e acertos. É precisamos respeitar as escolhas do próximo. No socialismo existiria uma “igualdade” forçada.

    Por fim, a pergunta 811 do Livro do espíritos coloca um ponto final na questão.

    A igualdade material não é possível em função da diversidade dos caracteres humanos. Não corres atrás de quimeras. Combata vosso orgulho e egoísmo.

    Peço desculpas se fui rude. Minha intenção é contribuir para o esclarecimento.

  15. Eu não estou acreditando que espiritas inteligentes acham e dizem que o marxismo é cientifico, e de que é alinhado ao espiritismo, e combatem o capitalismo caindo no discurso da mais valia.
    Não leram todo o pensamento de Marx? E não notaram que tanto ele, como os seus posteriores ideólogos estavam convictos de que era necessário destruir os valores cristãos e a fé em Deus.

    Por que quer tenha passado essa ideologia politica houve morte e destruição dos valores cristãos.

  16. O espiritismo nunca é combatível com as ideias comunistas de Marx e seus seguidores.

  17. Todos os sistemas econômicos caíram por meras contradições internas ante ao evolucionismo humano. O mesmo ocorrerá com o sistema capitalista… Alguém divida que o capitalismo será eterno? O espiritismo por princípio ético filosófico é evolucionista de modo que hoje somos melhores do que ontem e amanhã seremos melhores do que hoje. Na época do escravismo era muito comum um “cidadão de bem” passar às margens de uma Casa Grande e ver um escravo sendo açoitado e esse mesmo “cidadão de bem” devia comentar ou pensar “o que terá feito ele” ou “se está sendo açoitado” é porque merece! Essa é uma condição que causa repulsa quando vemos um ser humano ser espancado ou açoitado nos jardins de uma casa. Mas existem alguns resquícios ainda em nós, acerca da alienação, ou seja, de não enxergarmos que seja lá quem for, se tem algo, se conseguiu algo, conseguiu fruto da complexidade de trabalhos de todos os trabalhadores indistintamente. Se houve um passado em que alguém trabalhava do início ao fim de um produto final, hoje estamos fragmentados em fazer apenas uma pequena parte de um todo complexo e no final uns poucos “privilegiados” detêm toda riqueza produzida pela maioria. Muita coisa do que ocorreu com Karl Marx, também ocorreu com Kardec! Vejam e analisem sobre a questão da raça emitido numa das obras de Kardec. Esse ponto foi muito bem justificado por Haroldo Dutra que bem explicou que o explanado naquela época, foram termos que existiam e dentro do que a intelectualidade daquela época sabiam, inerentes àquela época. Dutra reitera desafiando alguém a criar um novo tema, um neologismo que será usado daqui a 100 anos. O mesmo ocorreu com Marx. Nesse espaço de tempo, ocorreram sim, vertentes de marxismo com novos conceitos e novas formas de interpretarem as sociedades, como a Indústria Cultural, Teorias Críticas, Capitalismo e Reificação… A Igreja Católica evoluiu, tanto quanto a política e os homens, porque no passado homens erraram, mas também homens acertaram… quanto a homens que começaram com ideologias socialistas e/ou comunistas, também erraram no método que fizeram, mas uma coisa é fato, pela lei de progresso e evolução: socialismo e comunismo será condição SINE QUA NON da evolução humana por uma questão não de eliminação do capitalismo e sim pela sua superação. Quem quiser discordar, que discorde, mas prove que o sistema capitalista será “eterno”… De resto, o que existe de fato são balelas, exteriorização do que o homem ainda tem dentro de si para expurgar… Sabe Deus como os dias de hoje será chamado num futuro em que estivermos muito mais evoluídos… quiçá sejamos chamados de “Era das Sombras” ou então “Era da Alienação” em que muitos de nós mesmos diremos uns para os outros: como pode um ser humano um ter tido plena convicção de que era justo expropriar o suor dos outros e um dia terem sentido prazer disso e ainda por cima estufavam o peito para dizer aos quatro cantos que chegaram aonde chegaram por simples esforços próprios…

  18. Nunca li tanta incoerência num texto.
    Marxismo e Comunismo são totalmente opostos ao Espiritismo.
    os dois primeiros são totalmente materialistas enquanto a Doutrina Espírita é espiritualista.
    Marx prega que a religião é o ópio do povo. O Espiritismo é uma doutrina moral com aspecto religioso. Totalmente distinto. Triste que crê no marxismo.
    Vejam no Youtube: Divaldo Franco e o marxismo. Esclarecedor.

  19. Eu vi sim, uma palestra do Divaldo acerca do marxismo e lamento muito a sua posição, que para mim foi desprovido de conceitos atuais. Divaldo apenas trabalhou em cima do que está escrito em Kardec daquela época, tanto quanto existe outro ponto de vista em relação à raça africana subariana. Respeito e muito Divaldo e vou além, quando comecei a estudar espiritismo, Divaldo foi um mestre guia, pois àquela época eu era comunista e ateu e sobre o que li sobre pena de morte do que havia manifestado, chamou-me atenção mais o ponto sociológico e filosófico do que religioso e confesso, se fosse meu primeiro contato o parecer que ele tem do marxismo, com certeza eu teria desistido de dar continuidade aos estudos de espiritismo. Para finalizar apenas esse ponto de que “religião é o ópio do povo”, vale lembrar que esta, é uma corrente do idealismo filosófico, ou seja, equivale dizer que “você pode ser feliz mesmo dentro da lama”; enquanto a dialética materialista, dirá “não se esqueça que você pode ser feliz sim, dentro da lama, mas não se esqueça que está dentro da lama e na sequência, alguém o colocou nela”, ou seja, dialética materialista é esclarecedor para que o sujeito seja consciente de que a sua situação, mais do que destino, é condição do sujeito a responsabilidade de sair dela… Portanto, àquela época a religião foi sim o ópio do povo por ter alienado aquele povo sofrido e explorado, mas a religião também evoluiu e não mais caberia ou se enquadraria a uma ala da Igreja Católica que foi a Teologia da Libertação. Confesso que teria muita honra em debater com Divaldo Franco e Haroldo Dutra. A ideologia socialista, comunista e de gênero é muito mais do que se supõe e vou além… Está acima desta geração! Abraços.

  20. Sou espirita, mais jamais me deixarei enganar por um grande engodo, chamado socialismo, por uma simples questão: nada pode ser modificado ou imposto, senão pela conduta moral que se adquire com as reencarnações sucessivas, são méritos pelos quais todos nós temos que alcançar, e o materialismo é subsidiário de uma vida única e exclusiva, sem méritos. Além do mais, é historicamente conhecido, por todas atrocidades que foram praticadas por essa mentalidade igualitária, com consequências desastrosas, como miséria, corrupção e genocídio. Apesar dos textos extensos e “intelectualizados”, a percepção da realidade é clara, socialismo nunca dará certo, lutemos pela solidariedade livre e espontânea, aquela que vem do coração, mas jamais por uma imposição ideológica.

  21. Caro Angelo.
    Acredito no argumento de que muito daquilo que separa os homens de bem são as palavras e seus significados. Nessa linha de raciocínio, podemos esperar que os espíritas se encontrem mais nas ações e menos nas palavras, ou seja, nas formas de entendimento do bem e nos modos de concretizá-lo no mundo. Brigar por palavras pode conduzir aos extremos, enquanto sentir o que os significados importam pode unir e dar sentido ao desejo de um mundo melhor, justo, calcado nos direitos humanos, na livre expressão do pensamento, na garantia das liberdades individuais, enfim, um mundo cuja vida se distancie definitivamente dos regimes totalitários de qualquer matiz e onde o ser humano, gozando de uma autonomia moral plena, esteja em permanente estado de progresso e bem estar. Receba o meu abraço.

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