Lançado com assinaturas individuais e institucionais, é ele mais um brado contra o religiosismo, o poder hegemônico, a negação da diversidade e as práticas absurdas.
Sob a coordenação da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE), mais de 150 espíritas e instituições assinam o documento – Manifesto por um espiritismo kardecista livre – que promove um espiritismo de livres-pensadores capitaneado por Allan Kardec. O conteúdo desse manifesto deixa claro sua oposição a uma série de pensamentos de instituições e lideranças que se distanciam e distorcem a doutrina espírita ou fazem dela uma escada para a promoção de vaidades e personalismos, como também de práticas que atentam contra o bom senso destacado pelo fundador.
Nesse instante de avassaladoras atitudes populistas nos meios doutrinários, com congressos de voz única dominante, eventos exploratórios da credibilidade pública e assentados em arrecadações financeiras, exaltação do nome de Jesus como bandeira, sufocamento da razão kardecista, abusos das crenças ingênuas, tentativas de restabelecimento de textos ultrapassados e autoritários em sua essência, distanciamento do conhecimento como suporte do progresso e tantos outros sinais de engessamento doutrinário, o documento representa uma postura digna e necessária.O espiritismo não é o que o pensamento hegemônico tenta fazer crer, senão aquilo que tem aderência ao que Kardec propõe. Não é, também, o que ressoa de lideranças míticas, muitas delas expondo pensamentos pessoais como se fossem doutrinários e, pior, totalmente alheias à realidade, visto basearem-se em crenças herdadas de um passado claramente superado pelo pensamento espírita.
É inacreditável que haja convergência de indivíduos na direção de uma revisão de textos sectários, como o do chamado Pacto Áureo, que nasceu condenado e depois de 70 anos de sua vigência no movimento dito oficial, seja ainda visto como passivo de unir o que ajudou a separar. Somente as mentalidades tacanhas ou por demais ingênuas podem acreditar que um documento de tal ordem seja capaz de ser mantido na base de um movimento que se pretende unificador.
Tão inacreditável quanto é o esforço incontrolável de submeterem o espiritismo aos evangelhos, quando o próprio Kardec estabeleceu que a interpretação dos evangelhos sem a orientação da doutrina espírita os mantém distantes da razão que os esclarece. É preciso reafirmar que não há um espiritismo segundo o evangelho e, sim, o evangelho segundo o espiritismo. A inversão que se faz nas práticas do cotidiano é altamente danosa e se soma às inúmeras tentativas de mascarar a doutrina, tornando-a um arremedo daquilo que Kardec legou.
Ao mesmo tempo em que os grupos hegemônicos reproduzem a condição progressista da espiritismo – Kardec anuncia o caminhar da doutrina no passo da ciência – negam essa condição quando afirmam que os novos conhecimentos doutrinários podem vir apenas dos espíritos superiores, justificando, assim, o distanciamento dos estudos e pesquisas que implicam os postulados espíritas, bem como os esforços dos adeptos e suas contribuições ao progresso.
O documento ora publicado pugna por uma convergência na base do respeito à diversidade de pensamentos, por uma união sustentada nos pontos doutrinários comuns e pelo direito de interpretação, que é inalienável. Ou seja, não se pode negar a condição de livre-pensador ao espírita, bem como sua postura progressista, ao contrário dos diversos grupos institucionais, que pretendem uma união apenas entre aqueles que aceitam as condições impostas pelo pensamento hegemônico que representam.
O documento aí está e vem, em boa hora, se somar aos esforços empreendidos, de forma quase isolada, mas heroica, daqueles que pugnam por um espiritismo menos místico e mais racional, lógico e equilibrado.
Assino junto, consciente de que a repercussão do manifesto é ínfima no meio que mais precisaria.
Grande Wilson.
Sempre claro e conciso.
Ontem mesmo eu já havia lido o manifesto e solicitado a inclusão de meu nome subscrevendo-o.
Abraços!
Por favor, inclua meu nome neste manifesto, o qual concordo plenamente.
Amigo Wilson, esse Manifesto vem com atraso de décadas, já deveria ter sido lançado lá pelos anos 1884, 1930, 1960, 2017… Contudo, mesmo atrasado ele veio em boa hora, e você, meu amigo, é uma das vozes que ecoam no deserto mas que as fazem repercutir nesse ambiente espírita morno, da mesmice contemplativa de uma espiritualidade romântica, puerilmente evangélica. Nem preciso dizer que em todas as vezes que o Manifesto vem à baila, da parte dos espíritas carolas vêm aqueles discursos surrados de que os proponentes, incluindo uma amiga pedagoga e filosofa (cujo nome não vou citar) é uma comunista mal-intencionada em introduzir o socialismo no Espiritismo. Como se vê, amigo Wilson, o que nós, espíritas militantes do Espiritismo Progressista, somos obrigados a ouvir e suportar. Como disse Jan Huss atado à fogueira: “santa simplicidade”, que em outras palavras ele quis dizer: “santa ignorância”.
Mais uma vez, congratulo-me com você.
Solicito incluir meu nome uma que concordo plenamente.
Yolanda, solicitei a inclusão do seu nome. Abs.
Cynthya, solicitei a inclusão do seu nome. Abs.
Ótima análise Wilson! Já solicitei minha inclusão.
Muito papo para nada em concreto.
Na explanação dos motivos do manifesto, está escrito o seguinte:
“(…)Vivemos num momento histórico de grandes contradições sociais e retrocessos políticos”.
Ou seja, assumam logo que o intuito de vocês não é debater sobre o espiritismo, mas sim pegar a doutrina para fazer politicagem com ela! Não à toa o manifesto foi repercutido em blogs como Brasil247, e no face já há até grupos como “espíritas progressistas contra o fascismo”. Francamente, deplorável.
O manifesto pode ser lido em https://blogabpe.org/2019/02/07/manifesto-por-um-espiritismo-kardecista-livre/?fbclid=IwAR3Tr0bfJhcnSpWxpm66xwutyE8MlZPD5FtQ30TadHpwxur8HkxaGUQiBXo.
Espiritismo é uma ciência que precisa ser estudada sem interesses particulares
Olá Wilson, li sua apreciação e fui ler o manifesto que ainda não conhecia. A princípio, pelo termo “manifesto”, esperava um documento mais contundente. Ao terminar a leitura minha avaliação é que o texto está suficiente na justa medida, abordando as principais facetas do movimento espírita atual. Por outro lado, sua análise nos dá uma boa perspectiva tanto do documento, como das condições atuais em que ele foi elaborado.
Infelizmente, o espiritismo transformou-se numa religrel cristã.
A maioria das casas Espíritas no Brasil orientadas pelas Federativas , fazem suas exposições doutrinárias tendo como base o Cristianismo da Bíblia , isto é, estórias contadas pela Igreja e que são tidas como acontecimentos históricos, literais . Muitos ainda não pesquizaram que os eventos ali relatados tem origem nos mitos pagãos da antiguidade e que foram atribuídos ao homem Jesus. Grande parte dos que se intitulam Espíritas, são oriundos das igrejas Cristãs e introjetaram em suas mentes em sucessivas experiências reencarnatorias os dogmas religiosos. Dessa forma o que se vê hoje nos Centros Espíritas é uma postura igrejeira onde nas exposições usa se todo um vocabulário pertinente às Igrejas, excessiva subserviência a Jesus e aos Espíritos, pedindo permissão e proteção para tudo ,esquecendo o tão decantado livre arbítrio com responsabilidade que propicia a maioridade espiritual de cada um. Nas atividades da casa criam se certos rituais e o discurso Espírita torna se redundante repetitivo e enfadonho. Fala se prioritariamente do Evangelho em detrimento dos fundamentos do Espiritismo capaz de renovar atitudes. Que cada um de nós, Espíritas laicos e livres-pensadores possamos trabalhar para reverter esse quadro.
José Aparecido Sanches
Jacarezinho Paraná .