Depois da publicação do “Nó de marinheiro” algumas coisas ocorreram no movimento federativo que merecem reflexão e atualização, senão porque os fatos intrauterinos do movimento espírita costumam mas não deveriam ficar escondidos, mas também porque está em jogo o bem precioso da liberdade, sempre muito pouco valorizado quando se trata de escolher entre a dignidade humana e o poder.

Antes, um preâmbulo.

Rizzini, no prefácio do meu livro “O corpo fluídico”, conclui sugerindo que a Feb entregasse a condução do movimento aos espíritas e se transformasse numa Federação Roustainguista Brasileira, haja vista a sua ligação indissolúvel com a ideologia do advogado francês que Kardec condenou.

Ao longo do século XX e deste início do XXI, não poucas vezes se aventou a ideia de que a centenária Feb fosse transformada em Confederação, de modo a que as federativas estaduais pudessem constituir seu órgão aglutinador de forma independente e autônoma. A ideia, evidentemente, jamais prosperou.

O episódio recente da retomada da direção da Feb pelos defensores de Roustaing, que culminou com a não recondução ao cargo de presidente do não-roustainguista Antônio Cesar Perri de Carvalho, apresenta-se bastante sintomático. A Feb não pretende abrir mão da ideologia roustainguista e menos ainda da condução autoritária do movimento, visto que os instrumentos que legalizam essa autoridade estão plenamente vigentes e mostram-se efetivos na forma de reunir as federativas e conduzir o CFN.

Antes mesmo da oficialização do chamado Pacto Áureo, expressão pretenciosa para humanos falíveis, os diversos movimentos que visavam combater a Feb foram todos malogrados. Até 1949, as insipientes iniciativas da Feb para realizações que envolvessem o espiritismo brasileiro eram tímidas e obedeciam aos cuidados de não permitir que houvesse qualquer risco de não compreensão dos “desígnios divinos” que depositavam sobre a centenária instituição a responsabilidade da condução do movimento.

Um dos eventos que pretenderam enfrentar a instituição já desde cedo vaticanizada culminaram com a criação da Liga Espírita do Brasil que, como se sabe, resistiu pouco e foi açambarcada pela Feb, fazendo com que abrisse mão dos objetivos iniciais. À época, argumentava-se mais sobre a inércia da Feb quanto as imensas necessidades do movimento aglutinador e menos sobre as questões de fundo do roustainguismo.

A oportunidade do pacto de 1949 surgiu como uma saída para a Feb, antevista pelo experiente Wantuil de Freitas, que não deixou passar o bonde da história e conduziu habilmente um pacto atribuído, em sua essência, à mão divina.

Por outro lado, o pacto obrigou à Feb a sair da sua reclusão medrosa, uma vez que o proclamou como uma grande conquista e não poderia mais manter-se entre as acanhadas paredes do prédio da Avenida Passos no Rio de Janeiro. Mas não o fez sem a ostensiva criação de mecanismos que garantiriam as rédeas dos corcéis em suas mãos, ou seja, de regulamentos autoritários e duros, deixando a opção para as federativas de apenas “aproveitarem” uma oportunidade ímpar de participar de um concerto que teria na sua regência a espiritualidade maior, o que deveria, como de fato ocorreu, convencê-las.

O ATUAL MOMENTO

Notícias recentes dão conta de um movimento dentro do Conselho Federativo Nacional para promover alterações estatutárias que permitam ampliar a presença dos membros do CFN no Conselho Superior da Feb. Uma proposta subscrita pelo Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro e pela Federação Espírita do Amapá foi encaminhada ao presidente da Feb, Eduardo Godinho, solicitando a inclusão na pauta do próximo CFN, marcado para novembro de 2015, com vistas, primeiro, à aprovação deste e, segundo, ser levada ao Conselho Superior da Feb.

Inicialmente assinada apenas pelos dois órgãos citados, a proposta teria recebido o apoio imediato de nada menos que 12 outras federativas, a saber: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Roraima, Rondônia, Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, Alagoas, Piauí e Espírito Santo, sendo esperado, também, o apoio da Bahia, Rio Grande do Norte e Acre e, não muito claramente ainda, de Pernambuco. Colocaram-se contra a proposta os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, estados estes que, segundo fontes consultadas, teriam contribuído para a não recondução de Cesar Perri ao cargo de presidente, dando seu voto ao atual mandatário da Feb. Não é esperado o apoio de 4 federativas, por serem de viés conservador e estarem ligadas a membros da atual administração: Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

A confirmar-se esse quadro, a proposta teria amplas condições de ser aprovada pelo CFN e encaminhada ao Conselho Superior da Feb. Não obstante, as mesmas fontes informaram que o presidente da Feb, utilizando de sua autoridade suprema, negou a inclusão da proposta na pauta sob o argumento de que isso transformaria a Feb numa Confederação.

Verifica-se aí a ocorrência do império de uma pessoa sobre a vontade de um grupo grande de interessados, ao mesmo tempo em que se confirma, na prática, o que já se sabe na teoria: o Regimento Interno do CFN, assim como do CNEE, torna o presidente da Feb uma espécie de ungido de Ismael, que desfruta do poder final de decidir segundo suas ligações e seus interesses ou quem sabe segundo o desejo do grupo que o assessora e até mesmo o comanda.

Não se pode deixar de perceber a extrema semelhança da estrutura do CFN com que ocorre no sistema federativo brasileiro, onde os presidentes das casas legislativas agem consoante os mesmos princípios e amparados pelos mesmos documentos legais, deixando ir à votação apenas os projetos do seu interesse e do grupo que o sustenta, o que dá margens, entre outras coisas, à corrupção desenfreada que se observa com ênfase no presente instante da vida nacional. Com a diferença de que, no caso do Senado e da Câmara dos Deputados, os seus presidentes não invocam para suas decisões, por absurdo que seria, o poder divino, mesmo porque a monarquia no Brasil foi extinta em 1889.

OS QUE CLAMAM POR LIBERDADE

Os que clamam por liberdade, clamam, também, por autonomia. A primeira é fundamental para qualquer processo decisório e a segunda pela possibilidade da escolha. E porque a liberdade de fato não seja um bem muito visível no CFN, vê-se, atualmente, um movimento jamais observado antes, ou seja, algumas mentes mais arrojadas se lançam a construir projetos visando equilibrar as forças em jogo no poder.

Quando o que está em perigo é a dignidade humana, já dizia Leon Denis, o ser humano não só deve como precisa reagir para que os direitos se restabeleçam. A dignidade humana, portanto, é o limite. A questão Feb/CFN deve e precisa ser vista como afronta à dignidade humana: 1) por ser um regime autocrático e ditatorial, com o poder concentrado nas mãos do seu presidente; 2) por gerir o movimento espírita a partir de documentos regimentais cujos dispositivos visam legitimar a concentração de poder e submeter as federativas estaduais às decisões daqueles poucos indivíduos que se consideram herdeiros espirituais do poder.

O FUTURO DESTE MOVIMENTO

Desconfia-se que o movimento que ora reivindica mais espaço decisório na Feb seja apenas o reflexo dos últimos acontecimentos, que levaram de volta ao poder os defensores de Roustaing, ou seja, seriam reivindicações factuais e não de princípios, porque baseadas naquilo que denominam golpe urgido nos bastidores e à calada da noite. A perda do poder pelos partidários de Perri estaria, assim, gestando um movimento de retomada desse poder.

Mas não há a negar que a situação se torna bastante incômoda para a Feb, uma vez que o movimento parece expandir-se e ameaça tomar proporções maiores. A proposta, recusada pelo atual presidente, não se coloca contra os meios de dominação nem contra os documentos legitimadores do poder; pretende, apenas, ganhar espaço político de maneira a, no mínimo, equilibrar as forças vigentes, mas, possivelmente, visando em algum momento superá-las para fazer valer suas propostas mais democráticas.

Ante a realidade de uma Feb que não se dispõe a ceder, é de se perguntar o que farão os líderes desse movimento; e mais, pergunta-se se esse movimento existe para valer e se se dispõe a buscar outras vias que não aquelas que passam, necessariamente, pela entidade da Avenida Passos. Pergunta-se ainda, se o que incomoda é a perda do poder em si ou a maneira como as coisas relativas à doutrina espírita são conduzidas, porque, então, será preciso mudar não somente os documentos legitimadores e o espaço político, mas toda uma cultura adotada e subsumida.

A ideia de uma Confederação Espírita Brasileira implica numa consequência inevitável: a Feb abre mão do comando e passa a ser uma entre as federações hoje existentes, onde o poder será exercido a partir de um consenso possível. Isso não elimina os conflitos, mas é, no mínimo, muito mais democrático, portanto, justo, em consonância com os princípios da liberdade e da autonomia. A questão aí se bifurca e fica em suspense: a Feb já se manifesta contra, percebendo os perigos que sua ideologia corre, e dos líderes desse movimento ainda não se ouviu até onde estão dispostos a chegar.

Ao observador pragmático não passa despercebido que a Feb continuaria existindo, com todas as atividades que desenvolve ainda hoje, como instituição espírita autônoma: atividades doutrinárias, edição de livros etc., além de administrar um patrimônio invejável. E uma confederação poderia caminhar numa direção sem vínculos ideológicos, uma vez que estaria representando uma coletividade e não como atualmente ocorre com o CFN, que não possui identidade própria, mas expressa a identidade de sua mentora, a Feb.

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

13 thoughts on “E se a Feb se tornasse uma confederação?”
  1. Se a FEB algum dia se tranaformasse numa confederação, sabem qual seria o resultado? Os conchavos políticos, tal como acontece no governo: vota em mim que eu te nomeio diretor ou vice-presidente desta ou daquela áre

    WGarcia: Ué, e não é isso que ocorre atualmente? Então, os regimes autoritários são melhores e estão acima dos conchavos?

  2. Passam as décadas, caro Wilson Garcia, e as temáticas continuam as mesmas, no movimento espírita…
    Penso que a força do conservadorismo nesse movimento seja tamanha, que algo muito, muito grave precisaria acontecer para demovê-lo de sua trajetória morna e descansada…

    Abraço grande e parabéns pelo texto.

    Luiz Signates

    WGarcia: caro amigo, você tem total razão, sai dia entra dia e a coisa permanece. E nós cá, enroscados nela.

  3. No livro “O Canto das Pedras” do autor Fernando Clímaco, que se refere a uma positiva experiência ocorrida no movimento espírita pernambucano no período de 1987 a 1997, com reflexos até os dias atuais, questões similares são analisadas e também feitas propostas.

    Cita-se no mesmo o DDD-C, iniciais de Descentralização, Dinamização, Democratização e Cidadania, que se apresenta como uma importante ponte dentro do meio espírita para a Regeneração Social (citada por Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro – 1863).

    OBS –> O livro já se encontra disponibilizado de forma gratuita na Internet. No facebook é só colocar O Canto da Pedras e encontrará a fanpage.

  4. Vale a pena ler e reler:
    a) http://www.expedienteonline.com.br/no-de-marinheiro/;
    b) “Reformador”, edição de outubro de 2014 (CFN), onde o ex-presidente Perri convocou reunião extraordinária do CFN para tratar de assuntos levantados por minoria – alguns Estado do Sul.
    Que mudança de posturas, hein!!!

  5. Criar uma Confederação talvez seja um passo importante para livrarmo-nos de uma vez do jugo da FEB, do seu Roustaing e do seu “Anjo” Ismael. Ela, se quiser continuar existindo, que fique lá como entidade autônoma, é seu direito, mas isolada.

  6. Meu irmão(irmã), tudo isso por causa que o presidente não tem preconceito com Roustaing? Qual o próximo passo? Excluir também o livro Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho do movimento espírita dito “purista” ?
    Ou ainda além excluir o próprio Chico Xavier? Afinal, quem procura se inteirar da história observará que o mesmo acenava positivamente para o autor referido.
    Se no passado, tivemos tanta certeza da incompatibilidade de Roustaing, hoje já temos grandiosas pesquisas que demonstram quão mais embaixo é o buraco.

    Em momentos em que muito se necessita ouvir e viver em Cristo, surge uma proposta de dissociação.
    Para aquele que esforçosamente procura ser um bom espírita, não será muito difícil entender qual abordagem seguir.
    Quem quiser evidências do que eu falo, basta me enviar uma mensagem, que eu não demorarei a responder.

    “Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.”

  7. Excelente texto Wilson. Hugo e desde quando discordar é ter preconceito? Desde quando saber e demonstrar a incompatibilidade das teorias de Routaing com o espiritismo é ter preconceito? Desde quando Chico Xavier gostar e concordar com uma coisa faz dessa coisa, no caso a obra de routaing, coerente com a DE e bom para o movimento espírita? Desde quando viver a mensagem do cristo é ser acomodado com uma situação evidentemente absurda e ditatorial da FEB? Sobre o livro coração do mundo pátria do evangelho ou qualquer outro livro o que alguns fazem, sejam puristas ou não (desde quando querer algo puro é ruim???), é analisar e criticar esse livro a luz do espiritismo, demonstrando assim alguns absurdos e incoerências evidentes que eles tem com o espiritismo. Contudo o fanatismo, misticismo, dogmatismo e igreijismo que alguns espíritas não conseguem se livrar não os permitem tomar um atitude viril e corajosa de ficar com a Doutrina Espírita ideológica, teórica e na prática. Mais uma vez muito bom o texto. Fica com Deus Wilson.

  8. Caro amigo, que a paz esteja conosco!
    Realmente o problema apresentado é grave e digno de preocupação; entrementes, arrisco-me a pensar que o que ocorre com o ´Movimento Espírita Organizado´ nada mais é do que uma repetição de nossos erros milenares. Jesus nos traz a Boa Nova e a tornamos em uma religião bem distante dos postulados da simplicidade, do amor e da edificação do Reino dos Céus em nós próprios. Revoltados com a matriarca igreja, forjamos um ruptura com a Reforma Protestante, e outra vez, corrompemos a busca pela pureza e singela da mensagem do alto. A Doutrina Espírita – nova tentativa de nos aproximar dos ideais superiores, O Consolador Prometido – surge então como a chama viva da recordação do pensamento atemporal do Mestre Galileu. Mas, nós os corruptores dos valores da alma, ainda não cansados dos equívocos utópicos de poder, fama e dinheiro nos entregamos novamente aos abismos morais. Os sacerdotes e pastores do ontem vestem a roupagem espírita para acertar, mas se desviam dos deveres para logo mais tornar a sofrer…
    Você cita a FEB, mas não vejo diferenças das federativas e até mesmo das Alianças Municipais (instituições, de forma geral, que mais tem entravado o avanço do Espiritismo do que sua projeção). Perguntaram-me recentemente o que as Casas espíritas esperavam dos órgãos federativos… (????)
    O que sei, é que os centros espíritas sobreviveram sem estes órgãos. Se o sistema se acha defeituoso, e, impossibilitado (legalmente e moralmente) de ser consertado, façamos como Jesus ao romper com o Judaísmo, como Francisco de Assis ao trabalhar pelo próximo indo na contramão do que era feito pela igreja, nos espelhemos em todos aqueles que continuaram seus serviços em favor do próximo sem depender de instituição.
    Não me oponho aos questionamentos, às reivindicações, porém não tenhamos pelos companheiros de jornada qualquer sentimento contrário à caridade (àquela como era entendida por Jesus). Não vale perder a fraternidade diante dos que estão nas trevas, pois eles precisam de luz e não de juízes…
    Meu tom pode parecer pessimista e passivo, porém não creio na infalibilidade de instituições que tem a frente seres humanos…
    Tudo que vivemos é sempre a oportunidade de aprender… ERRAR e ACERTAR são mecanismos pedagógicos para o nosso próprio crescimento. E, me consolando nas palavras do Cristo, continuo acreditando: “não cai uma folha de uma árvore sem que Deus o saiba (ou queira)…
    Tudo passa!
    Luz e paz!

  9. Amigos , desejo dividir algumas reflexões que fiz a muito tempo atrás e que não desenvolvi além do que aqui apresento. Pensei que poderia vir a se tornar um livro, mas no final das contas o livro foi desinstituído.

    Abraços

    Marielza Tiscate

    INSTITUIÇÃO E “DESINSTITUIÇÃO”

    Uma pergunta vai anteceder a todas as idéias que aqui serão trabalhadas.
    Essa pergunta:
    Que quer quando sai de si mesmo (a)?
    Uma pergunta pessoal, eu sei, pessoal e intransferível.
    Por favor, responda antes de continuar: Que quer, quando não está percorrendo as sendas internas da alma, país de um só habitante?
    A resposta que virá, se for sincera, poderá demonstrar, primeiro, com que qualidade estamos nos colocando no mundo exterior e, segundo, se estamos transferindo para o mundo externo, de relação, de forma desordenada e caótica, a carga dos nossos desejos mais íntimos, e se esses desejos estão projetando sobre o outro – o Grande Desconhecido – um fardo pesado e impossível de carregar ou ilusões irrealizáveis.
    Que quer quando seus olhos projetam-se do templo interno de Si mesmo(a) para o mundo exterior?
    É difícil compreender o que tais perguntas têm a ver com o tema que vamos abordar? Mesmo com tal dificuldade, responda: Que quer quando abres a porta da alma e o mundo se apresenta a Si?
    Estas questões desejam chamar a um mergulho na realidade íntima, no material essencial com o qual nos relacionamos com o que está fora de nós. Antes de tudo, o mergulho, a pergunta.
    Porque as instituições começam e terminam no Ser Humano, no Ser Espiritual.

    Quando pedimos que responda o que quer, na verdade solicitamos que visite, com acurado interesse, esse mundo submerso com o qual noshabilitamos a co-criadores, porque aí está a gênese dos interesses, das idéias, das atitudes.
    E se porventura, depois de cuidadosa reflexão, perceber que pouco ou nada sabe sobre as perguntas acima, reconheça que será preciso iniciar, urgentemente, a prática da meditação, porque nós e nossa intimidade espiritual são elementos definidores da qualidade das ações no mundo exterior.
    As Instituições surgem a partir de propósitos. Propósitos comuns em maioria, porque reúnem não apenas uma pessoa, mas um conjunto de pessoas que desejam interferir voluntariamente nesse mundo externo e ver que nele germinam esta ou aquela idéia.
    Porém, a História tem demonstrado largamente a falência das Instituições quando profundamente ligadas aos mundos desordenados internos das pessoas que as fundam. E as instituições que permanecem, toda vez que são misturadas perigosamente com os desejos particulares, perdem-se em personalismos e deixam de cumprir sua função na sociedade.
    Se deseja cumprir com verticalidade sua capacidade de co-criar, de atuar no mundo externo, precisa conhecer a Si mesmo(a), embelezar e expandir o conteúdo da alma, para que tenha noção clara dos limites de sua ação. Conhecer até onde pode ir e onde começa o espaço que pertence ao outro, esse maravilhoso desconhecido.
    Viajemos pelas instituições humanas religiosas, sociais, intelectuais no decorrer da História e vejamos suas esquinas. Muitas, mesmo eivadas de intenção benéfica em sua origem, desmoronaram flagorosamente, quando desejaram aprisionar o outro à padrões que não os podiam caber inteiros. Almas aprisionadas, mortas, um rastro de mutilações foi deixado para trás e disso muito fomos nos lamentando no decorrer das gerações. Grandes homens e suas idéias foram soterrados, individualidades perseguidas pela incapacidade das instituições de se “desinstituirem” no momento certo.
    Tudo isso por que? Para que os desejos particulares, as ilusões submersas fossem saciadas.
    Quando deixamos de lado os casos flagrantes de interesses mesquinhos que a história pode nos apresentar com fartura, ainda assim iremos encontrar em profusão casos de instituições com séria finalidade que desvirtuaram completamente seus propósitos para atender unicamente à imaginação de seus membros. E às vezes por preceitos que não sobreviveriam ao mínimo toque da sábia reflexão.
    Se pensarmos que sábios como Sócrates foram obrigados a morrer porque sua filosofia de vida abarcava com generosidade o novo… que homens bons e inteligentes foram renegados pela cor de sua pele, pela ausência de títulos, por desejarem compartilhar com todos… que ainda hoje alçamos às alturas homens com seus ricos caracteres exteriores, em detrimento de outros, humildes, que nada têm para ostentar e nem o desejam, mas que possuem na alma verdadeiros tesouros de saber…
    Há uma realidade por trás desses casos: a maioria de nossas instituições não têm sido feitas para a comunhão e sim para alimentar egos. Cruel realidade, necessária avaliação. O que é esse movimento egóico a não ser a cristalização de desejos desencontrados, desarmonizados que criam em torno do coração pesada couraça que nos impede de ver, de enxergar o bem comum?
    Se estamos ligados a alguma instituição, da família, da sociedade, da religião, da ciência ou qualquer outra, é hora de refletir.
    Temos projetado sobre o outro formas de viver padronizadas a partir de realidades íntimas que são nossas? Ou reconhecemos que existe um limite que não devemos transpor, marcado pelo direito do outro à autonomia, a auto descoberta, a Ser?
    Se reconhecemos que não devemos impor nada a outrem, necessário é admitir que em um determinado ponto da ação a instituição deve desinstituir-se.

    1- Desinstituir-se

    Há grande sabedoria no ato de desinstituir. Pessoas também podem e devem fazê-lo. Para isso será necessário cultivar um certo hábito de relativizar as crenças, os valores, os paradigmas. Parece isto algo estranho?
    Vejamos.
    Qual qualidade a mais possui o homem, a mulher que é flexível em suas relações? Vamos buscar a raiz disto.
    Os valores não devem ser unidades imutáveis. Quando não estão em dinâmica com a vida geram a rigidez. Há um equilíbrio necessário entre manter as crenças e transformá-las constantemente. O fiel da balança é o aprofundamento do conhecimento, da experiência e da sensibilidade. Muitos de nós fincamos perigosas estacas que demarcam o campo dos nossos valores. Dizemos: daqui não passo, isto não faço, nunca farei. Quando circulamos por esta região da rigidez, corremos graves riscos e colocamos em risco as instituições das quais fazemos parte.
    Flexibilidade não quer dizer insegurança, instabilidade. Quer dizer capacidade de olhar para aquilo em que acreditamos e perguntar: Há possibilidade de eu estar errado? E considerar seriamente esta hipótese sem deixar que isso gere baixa estima. Por mais diferente seja o que o outro nos apresente, talvez chocante demais aos nossos olhos, se não consigo fazer essa pergunta a mim mesmo, então corro sério risco de engessar a minha capacidade de discernir e de agir. Infelizmente esta é a realidade da maioria de nós.
    O simples ato de perguntar constantemente a nós mesmos qual a possibilidade real de estarmos enganados em nossas crenças já é sinal promissor de saudável flexibilidade. Mas não é tudo. É necessário aprofundar os questionamentos conduzindo-os à ação. Se a resposta que nos damos é: sim, há uma grande possibilidade de haver um engano em minha crença sobre esta ou aquela matéria, então é preciso aprender a desinstituí-la. A Instituição da Crença Pessoal é vizinha da do Interesse Pessoal. Quando instituímos uma crença pessoal, tendemos a torná-la sagrada e apelamos para a tradição como forma de justificá-la e perpetuá-la. Uma boa forma de confirmar isto é dar uma olhada séria nas grandes crises pelas quais a humanidade passou. Veremos ali a luta entre a tradição e o novo, freqüente e sangrenta. A sacralização das crenças é útil mas quando desejamos conservar nossos privilégios em relação ao outro. Dizemos: isto não pode ser discutido porque é sagrado. E nos elegemos os defensores da causa, os únicos que podem zelar por ela.

    2- Por que Instituir?

    É de nossa natureza instituir. Logo que temos idéias em comum e desejamos expô-las ao meio, temos, até por obrigação legal, de instituir. Mas é verdade que os movimentos humanos mais importantes originaram-se das ações espontâneas e que a maioria de nossas instituições apoderaram-se dessa espontaneidade para atender a interesses pessoais.
    Talvez julguem demasiado resumida essa história das instituições, mas é sobre este patamar que a história foi construída
    Proponho a reflexão: Por que instituir? Por que não deixar que as pessoas fluam suas idéias livremente, sem estatutos e regimentos e diretorias e regras infindáveis que, na maioria das vezes, acabam por não caber as próprias pessoas que são seu alvo? É possível não instituir?

  10. O que é Espiritismo?
    Filosofia de base Cientifica e Conseqüências Ético Moral ,não pode ser Religião
    senão !!!!!!!!
    Abços a todos.

  11. Sempre achei um contrassenso uma federação tratar outras federações como subordinadas. A lógica federativa pressupõe que as federações/uniões estaduais sejam constituídas pelas instituições espíritas a elas filiadas e, portanto, que os presidentes das federações sejam eleitos pelas instituições que a compõem. Estas federações estaduais, por sua vez, constituiriam uma confederação nacional cujo presidente teria que ser eleito pelas federativas componentes. Não é o que acontece com a FEB. Seu presidente é eleito por um Conselho Superior constituído por associados (pessoas físicas) que nem sequer são líderes no movimento espírita. Os presidentes das Federações Estaduais reúnem-se num departamento da FEB chamado Conselho Federativo Nacional (CFN) cujo presidente é o presidente da FEB. Assim, o CFN não tem autonomia para deliberar. É um mero coadjuvante para executar as orientações da Casa Máter que é dirigida pelo anjo Ismael – outro exotismo doutrinário a ombrear-se com o roustainguismo febeano.
    Na década de 80 o Gélio Lacerda, presidente da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, liderou uma campanha pela criação da Confederação Espírita Brasileira, totalmente fracassada, como é sabido.

  12. Acrescente-se: o Regimento Interno do CFN dá poderes ditatoriais ao presidente da Feb, que pode decidir como lhe convier em questões gerais como particulares, políticas e doutrinárias. Conviver em regime dessa ordem é retroceder à época pre-espiritismo, quando a doutrina ainda não havia colocado a liberdade como bem maior do progresso humano.

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