El País, da Espanha, publica interessante artigo intitulado “Único no universo?” (leia aqui), em que questiona os paradigmas e crenças, de forma geral, e especificamente aquele que diz: “a vida só existe na Terra”. Este assunto interessa de perto ao Espiritismo, que, como se sabe, defende a existência de vida para além do nosso planeta. Analisamos o tema com algumas IAs, incluímos Einstein na conversa, juntamos a tese espírita e o resumo de tudo vai a seguir.
Um paradigma pode ser entendido como uma forma institucionalizada e socialmente compartilhada de crença. Paradigmas são estruturas mentais que orientam as ações, os métodos e os valores da ciência, assim como as crenças orientam a vida pessoal e espiritual dos indivíduos. Ambas estão sujeitas à temporalidade porque surgem, vigoram e desaparecem conforme são confrontadas por novas experiências, fatos ou compreensões.
Se alguém pergunta qual a vantagem de a ciência desaprovar crenças e de os crentes fugirem da ciência, está tocando no cerne de uma dualidade histórica. A ciência, por definição, busca explicações verificáveis e replicáveis, enquanto as crenças frequentemente se apoiam em aspectos intangíveis, experiência subjetiva ou revelações pessoais. Contudo, não é essencialmente vantajoso que um negue ou fuja do outro, pois isso empobrece tanto a visão científica quanto a experiência espiritual.
Quando ciência e espiritualidade se excluem reciprocamente, ambas perdem. Tal atitude de exclusão pode ser vista como um gesto egoísta no sentido de privilegiar e proteger o próprio paradigma em detrimento do outro. O cientista que rejeita as crenças sem examiná-las honestamente fecha-se para possibilidades de compreensão mais ampla sobre a experiência humana. O crente que ignora os avanços e as descobertas científicas limita-se a um universo pessoal sem confrontação crítica.
Abraçar a complexidade sem preconceitos é o caminho para superar os limites tradicionais dos paradigmas que nos condicionam.
O que Einstein diria se
confrontado com esta questão?

Se tomado como referência, Einstein provavelmente responderia ao tema com um posicionamento bastante nuançado, pois ele mesmo transitou entre a ciência rigorosa e a profunda reflexão filosófica e espiritual.
Embora fosse um cientista dedicado ao rigor lógico e à experimentação, Einstein reconhecia claramente os limites da própria ciência. Em suas palavras famosas:
“A ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega.”
Einstein não usava a palavra religião no sentido institucional ou dogmático, mas sim no sentido de uma profunda reverência ao mistério do universo. O que ele chamava de religião era uma atitude de humildade frente ao desconhecido, uma percepção do mistério como a fonte de todo o verdadeiro conhecimento científico e espiritual.
Seguindo essa lógica einsteiniana, ele diria a respeito deste questionamento mais ou menos o seguinte:
- Sobre os paradigmas: Einstein reconheceria paradigmas como estruturas provisórias e mutáveis do pensamento científico, mas essenciais para dar ordem ao conhecimento.
- Sobre a oposição ciência/crença: Ele criticaria veementemente a oposição rígida entre crença (espiritualidade) e ciência, considerando-a improdutiva e estreita. Diria que uma exclui injustamente da outra algo essencial, empobrecendo ambas.
- Sobre o egoísmo da exclusão: Einstein provavelmente apontaria a exclusão recíproca entre ciência e espiritualidade como uma manifestação de egoísmo intelectual e espiritual, um fechamento em si mesmo que impede um conhecimento mais profundo e amplo.
- Um paradigma integrativo: Einstein certamente aprovaria um paradigma mais integrador, humilde e receptivo, que aceitasse o papel tanto da razão científica quanto da intuição espiritual para melhor captar a totalidade do universo e da existência humana. Seria, para ele, um paradigma mais avançado, digno de uma consciência evoluída.
Portanto, Einstein sustentaria a ideia de que paradigmas são provisórios e que ciência e espiritualidade não devem competir, mas sim cooperar para o aprofundamento do conhecimento humano. Essa posição seria coerente com seu pensamento amplo, universalista e profundamente filosófico.
A física quântica entra
também na conversa

Certamente, há uma possibilidade não apenas legítima, mas bastante pertinente de incluir nestas reflexões o pensamento inerente à física quântica. Mais do que simplesmente agregar algo “moderno”, a física quântica, de fato, leva inevitavelmente a profundas questões filosóficas sobre paradigmas e crenças.
Vejamos algumas razões pelas quais a física quântica enriquece essas reflexões:
1. Ruptura com paradigmas anteriores
- A física quântica, inaugurada no início do século XX, trouxe uma mudança radical no modo de entender a realidade física.
- Nomes como Niels Bohr, Werner Heisenberg, Erwin Schrödinger e Max Planck colocaram em xeque o determinismo e a previsibilidade absoluta da física clássica, revelando um mundo que admite probabilidade, incerteza e não-localidade como características fundamentais da realidade.
2. Implicações filosóficas e epistemológicas
- A física quântica questiona profundamente a noção clássica de objetividade, mostrando que a realidade observada pode depender da forma e da intenção do observador.
- Isso aproxima-se muito da reflexão sobre o papel das crenças: aquilo em que acreditamos (o paradigma pelo qual olhamos) altera como percebemos e interpretamos o mundo, algo já discutido anteriormente sobre paradigmas e crenças.

3. Diálogo entre ciência e espiritualidade
- Muitos pioneiros da física quântica tinham preocupações filosóficas explícitas. Por exemplo, Werner Heisenberg, em sua obra “Física e Filosofia” (1958), argumentou que os conceitos quânticos sugerem uma conexão entre as ciências exatas e certas visões metafísicas e espirituais da realidade.
- Niels Bohr defendia explicitamente que a ciência sozinha não poderia responder a todas as perguntas sobre a realidade, abrindo espaço para que outros modos de conhecimento pudessem ser integrados ou considerados complementares.
4. O paradigma quântico como superação de exclusões egoístas
- A noção de “complementaridade” (de Bohr) sugere exatamente isso: certas visões aparentemente contraditórias podem ser simultaneamente verdadeiras, desde que compreendidas dentro de seus limites de aplicação.
- Aplicando essa noção à relação ciência-crença, podemos defender um paradigma integrador: ciência e espiritualidade seriam maneiras complementares de perceber a realidade, ao invés de mutuamente excludentes.
5. Einstein e a física quântica
- Embora Einstein tenha ajudado a fundar a física quântica, ele também a questionou profundamente, especialmente no que dizia respeito às interpretações mais radicais, como a incerteza radical e a ausência de causalidade. A célebre frase de Einstein: “Deus não joga dados com o universo” expressa sua inquietação com esse novo paradigma.
- Isso não invalida sua relevância, pelo contrário: a posição crítica de Einstein reforça justamente o valor epistemológico dessa ciência, mostrando o quanto a física quântica estimula o pensamento crítico sobre paradigmas, inclusive sobre suas próprias crenças pessoais.
6. Atualidade da física quântica e novos paradigmas emergentes
- Hoje, interpretações contemporâneas, como o realismo agnóstico de Carlo Rovelli ou a visão da informação quântica como fundamento da realidade, sugerem paradigmas ainda mais sofisticados, que rompem com limites estritos entre matéria e consciência, ampliando o espaço para discussões filosóficas e espirituais.
- Estes novos paradigmas proporcionam um terreno fértil para reflexão sobre como as crenças influenciam paradigmas e vice-versa.
Horizonte conceitual: o pensamento filosófico espírita,
a física quântica, o paradigma científico e as reflexões filosóficas sobre crenças
1. Paradigmas e crenças sob o olhar espírita:
O espiritismo, desde Allan Kardec, propôs uma ruptura epistemológica ao unir ciência, filosofia e espiritualidade em um paradigma integrado. Kardec nunca defendeu a exclusão das abordagens científicas; ao contrário, valorizava explicitamente a pesquisa rigorosa e a constante revisão crítica dos paradigmas existentes.
Para Kardec “O espiritismo marcha ao lado da ciência no campo da matéria: admite todas as verdades que a ciência demonstra, mas não se detém onde esta última para. Vai além.”
Nesse sentido, Kardec reconhece explicitamente a temporalidade dos paradigmas e a necessidade de sua renovação contínua diante de novas evidências e descobertas, atitude semelhante à dos físicos quânticos e de Einstein em relação à física tradicional.
2. Einstein e a filosofia espírita: afinidades conceituais
A postura filosófica de Einstein, embora não espírita, revela uma notável convergência com o pensamento espírita em questões fundamentais:
- A afirmação de Einstein de que “ciência sem religião é manca e religião sem ciência é cega” dialoga profundamente com a visão kardeciana de complementaridade entre ciência e espiritualidade.
- Einstein via o mistério como essencial à ciência e ao espírito humano; o espiritismo também afirma a importância do “mistério esclarecido progressivamente” através da razão crítica aliada à intuição espiritual.

3. Física quântica e Espiritismo: paradigmas de expansão da realidade
O paradigma quântico atualiza e fortalece certas percepções espíritas clássicas, especialmente:
- Interação entre observador e realidade: A física quântica sugere que o observador participa ativamente na construção da realidade observada. Isso está em sintonia com o espiritismo, que entende a realidade espiritual como dependente das percepções e crenças do espírito que a experimenta.
- Não-localidade e imaterialidade: A ideia quântica de que fenômenos podem estar conectados à distância (entrelaçamento quântico) ecoa a concepção espírita de interação entre planos espirituais e materiais, sugerindo que dimensões distintas de realidade podem interagir diretamente e continuamente.
- Paradigma da Complementaridade: Como a teoria de Niels Bohr propõe, realidades aparentemente contraditórias podem coexistir em diferentes níveis de entendimento, algo que o espiritismo aplica quando admite que fenômenos espirituais não negam a realidade material, mas complementam-na, ampliando sua compreensão.
4. Espiritismo e paradigma integrador: superação de exclusões egoístas
O Espiritismo é, por definição, um paradigma integrador que não exclui outras formas de conhecimento, mas tenta articulá-las harmonicamente. Assim, o espiritismo é pioneiro em postular a necessidade de superar os egoísmos intelectuais que isolam ciência e espiritualidade:
- Kardec deixou claro em O livro dos espíritos e em A gênese que paradigmas científicos devem ser aceitos e constantemente atualizados, sem resistência dogmática:
“Caminhando de par com o progresso, o espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas demonstrassem que está em erro acerca de qualquer ponto, ele se modificaria nesse ponto.” (Allan Kardec, A Gênese)
Nesse sentido, o espiritismo assume uma posição epistemológica extremamente contemporânea, próxima ao paradigma quântico e ao pensamento crítico de Einstein.
5. O paradigma espírita contemporâneo: ciência, espiritualidade e física quântica como diálogo produtivo
Ao se propor aberto à constante renovação do conhecimento, o espiritismo revela enorme potencial para dialogar com a física quântica contemporânea e com a filosofia científica pós-Einstein:
- O paradigma espírita contemporâneo pode abraçar plenamente o pensamento quântico ao enfatizar a complementaridade e interação mente-matéria.
- Esse paradigma rompe definitivamente com o egoísmo epistemológico, propondo uma ciência espiritual aberta, crítica, experimental, capaz de acolher tanto os resultados da física quântica quanto as reflexões filosóficas mais profundas.
Após ler o artigo “Único no universo?” de Pablo G. Pérez González, fica claro que seu texto tem uma poderosa conexão com as reflexões que construímos até aqui.
1. Paradigmas como esquemas mentais temporais
Como afirma Pablo González, os paradigmas são esquemas mentais que sustentam não só o conhecimento científico, mas também as crenças cotidianas e existenciais das sociedades humanas. Tal ideia coincide integralmente com o nosso diálogo inicial, em que afirmávamos que os paradigmas são temporários, sujeitos a mudanças históricas, culturais e científicas.
Ao mesmo tempo, González destaca claramente que os paradigmas são difíceis de falsificar justamente porque sustentam vastas redes de conhecimentos aceitos como verdadeiros sem serem necessariamente provados, algo que também ressaltamos ao falar dos paradigmas da física e da filosofia espírita.
2. Paradigmas como expressão do egoísmo humano
O artigo enfatiza o aspecto profundamente egoísta de certos paradigmas antropocêntricos, como aquele que situa o homem como centro ou ápice da criação, universo ou evolução. González menciona diretamente ideias tais como “o povo escolhido”, “o auge da evolução”, como paradigmas egoístas que orientam comportamentos humanos em diferentes contextos políticos, religiosos e até científicos.
Essa reflexão dialoga diretamente a questão inicial, quando foi sugerido que a exclusão mútua entre ciência e crenças também poderia ser um egoísmo intelectual. Realmente, González parece confirmar que a exclusividade de determinados paradigmas é, de fato, uma forma de egoísmo intelectual e espiritual.
3. Einstein e o pensamento quântico: a ruptura dos paradigmas
O artigo traz um paralelo claro com a revolução científica provocada por Copérnico, que deslocou a Terra do centro do universo. Aqui, podemos claramente inserir Einstein e o paradigma quântico, porque também representaram rupturas significativas em paradigmas científicos anteriores (Newtoniano-Clássico).
Einstein, como Copérnico, quebrou certezas absolutas sobre tempo, espaço e gravidade. A física quântica, por sua vez, desconstruiu a previsibilidade absoluta, trazendo à tona conceitos como probabilidade, complementaridade e interação observador-observado.
Essas rupturas exemplificam o potencial das mudanças de paradigma para expandir o conhecimento humano, algo explicitamente mencionado por González como “extraordinário progresso científico”, uma vez que se abandona o egoísmo de paradigmas antigos.
4. A busca da vida extraterrestre e o paradigma espírita
González foca especialmente no paradigma antropocêntrico da unicidade da vida no universo, discutindo missões espaciais como a Dragonfly para Titã, uma lua de Saturno. A descoberta de vida extraterrestre significaria quebrar radicalmente um paradigma, e ampliaria dramaticamente nosso conceito sobre o sentido da vida e nosso papel no cosmos.
Aqui, o Espiritismo oferece um ponto de convergência notável, pois, desde Kardec, admite explicitamente a pluralidade dos mundos habitados como paradigma fundamental de sua doutrina. Ao dizer, já em 1857 (O livro dos espíritos), que a Terra não é o único planeta habitado, o Espiritismo antecipou, em muito, o rompimento do paradigma da unicidade da vida defendido por González.
Deste modo, o paradigma espírita, em essência, já superou antecipadamente o egoísmo do paradigma antropocêntrico mencionado naquele artigo, sugerindo que a vida no universo é abundante, diversa e em constante evolução.
5. Implicações filosóficas e existenciais da ruptura dos paradigmas
Ao finalizar, González propõe importantes questões existenciais: o que acontecerá conosco quando se confirmar que não somos únicos no universo? O paradigma será quebrado, mas adotaremos imediatamente outro paradigma, como o da exclusividade da inteligência?
Aqui, novamente, a filosofia espírita pode contribuir significativamente ao defender que, ao superarmos um paradigma, devemos estar abertos para aceitar novos paradigmas mais amplos, humildes e integradores. Nesse sentido, o Espiritismo sugere explicitamente que a consciência humana precisa evoluir continuamente com base em novos conhecimentos e revelações da ciência.
Conclusão
- González, Einstein, a física quântica e o Espiritismo convergem claramente numa visão crítica sobre paradigmas.
- Concordam que paradigmas antigos, sustentados por egoísmos culturais, religiosos e científicos, devem ser constantemente questionados e eventualmente abandonados.
- A postura científica humilde, aberta e crítica proposta pelo Espiritismo e defendida implicitamente por Einstein e explicitamente pela física quântica, coincide precisamente com a reflexão do artigo sobre o rompimento do paradigma antropocêntrico da vida única.
- Finalmente, a grande oportunidade dessa reflexão conjunta é ampliar nossa visão sobre o papel da humanidade, promovendo uma consciência cosmológica mais madura, livre de exclusivismos egoístas, e capaz de aceitar, humildemente, nossa participação em um universo vasto, diverso e muito mais complexo do que supomos até agora.
Nesse sentido, o diálogo inicial, motivado pelo artigo publicado em El País, se revela oportuno, mostrando claramente o valor das interações entre ciência, filosofia, espiritualidade e reflexão existencial para construir paradigmas mais inclusivos, maduros e integralmente humanos.