(crônica filosófico-espírita)

O primeiro avião, inventado por Santos Dumont, não era um Boeing. Era um leve artefato de sonhos e coragem, um pássaro de tecido e engenho que desafiava o impossível. Ninguém começa grande — e a natureza ensina essa lição com a simplicidade de uma semente.

Toda árvore que hoje oferece sombra foi antes um ponto quase invisível no solo. A semente contém em si a potência do universo, mas só desabrocha porque aceita a humildade do tempo. Crescer é, antes de tudo, aceitar a lentidão dos processos. O orgulho, ao contrário, apressa, inflama, e faz o homem acreditar que pode colher sem plantar.

O filósofo Aristóteles, ao tratar da virtude, lembrava que a grandeza autêntica nasce do equilíbrio entre o excesso e a falta. A humildade não é submissão, mas sabedoria em reconhecer que o ser humano é parte de algo maior. Também Rousseau, em Emílio, dizia que “a natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens”. É a mesma pedagogia da semente: o aprendizado do tempo, o respeito à formação.

Santos Dumont compreendeu essa verdade intuitivamente. Enquanto outros sonhavam com máquinas de guerra, ele sonhava com o voo como extensão da liberdade humana. Seu 14-Bis não era grande, mas era livre. E a liberdade verdadeira não se mede em tamanho, mas em espírito.

Na filosofia espírita, Allan Kardec ensina que o progresso é lei natural — mas um progresso que não se impõe por soberba, e sim que se realiza pela educação do espírito. A evolução, dizia ele em O Livro dos Espíritos, “é obra da própria criatura”, e cada conquista é precedida pela humildade de aprender.

O orgulho é, portanto, uma forma de cegueira: faz o indivíduo confundir o resultado com o princípio, o avião com a semente, o poder com a verdade. Somente o espírito que reconhece a pequenez do seu início é capaz de compreender a grandeza de sua jornada.

Assim como a semente guarda a árvore e o 14-Bis guardava o Boeing, toda realização humana começa no invisível — na fé, na paciência e no trabalho silencioso. O orgulho, ao querer nascer adulto, perde o direito de crescer.

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

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