Dizem que a velhice só é percebida quando os amigos mais próximos começam a morrer. Verdade ou não, o fato é que muitos amigos começaram a partir antes mesmo que eu percebesse qualquer alteração do tempo em minha existência. Pelo contrário, muito cedo me habituei à morte, a começar por meu pai quando era ainda criança.
Nem mesmo o estímulo ao emprego do termo desencarnação e suas variações, em lugar da palavra morte, alterou os sentimentos e as sensações que cada partida provocava em mim.
Foram-se muitos.
Amigos, parentes, familiares, numa história de vida que nada tem de atrativa ou singular. É o que ocorre normalmente com a maioria dos seres humanos, penso eu.
A singularidade de tudo está no fato de que, mais recentemente, o número de amigos que resolveram demandar outras plagas impalpáveis aumentou[1]. E cada um deles provocou um tipo de sensação diferente.
Entre estes está Jorge Rizzini.
De todos com quem convivi, Rizzini foi o amigo de maior duração, longa, diria, daí porque a notícia de sua partida ter despertado intensa agitação mnemônica. Retornei lá, no início de tudo, 1976. Percorri cada trecho da estrada percorrida, de novo. Sabe aquele filme que dizem passar na mente nos momentos finais dessa existência, tão bem registrado por Ernesto Bozzano em “A crise da morte”? Vi-o, mesmo não desejando ou não o impondo-me.
É claro que comecei a gostar na medida em que as sensações retornavam e com elas aquele sentimento de que “era feliz e não sabia”. Então, passei a acionar eu mesmo a memória quando o filme se aligeirava, saltando etapas, ou quando sentia necessidade de reviver mais demoradamente determinados fatos e apertava o slow motion.
O frenesi da memória impôs outro estado de êxtase: o da escritura, o que já se tornou vício. Mas isso é também comum aos indivíduos dotados do gene da grafia, que tudo querem registrar porque tudo pensam importar e lá no fundo sabem padecer de uma espécie de etnografocentrismo, doença esta que nem a morte parece curar…
O resultado é o livro que ora disponibilizo ao leitor interessado ou curioso. Depois de superar a fase da consciência dividida entre o prazer de escrever e o possível valor dos fatos narrados, posso dizer que o estudioso vai encontrar aqui material que lhe pode ser útil. Senão, vejamos.
LANCES BIOGRÁFICOS
A vida de Jorge Rizzini não está registrada por inteiro nem pela metade, apenas por lances que se impuseram ao longo da narrativa. Quis eu mostrar o amigo com quem caminhei e porque era ele portador de uma imagem pública, foi preciso fazer anotações que esclarecessem um olhar, o meu. Pode ser, é possível, que esclareça também o seu olhar. Resultado: evitei os arquivos do amigo, que a família detém, mas utilizei outro arquivo, o meu. Por isso, em lugar de biografia escrevi biolembranças, perdendo em amplitude, em dimensão da personalidade e ganhando, penso eu, em intimidade e liberdade aventureira.
INTERESSE PÚBLICO
O tempo de Rizzini não foi vão nem destituído de valor, pelo contrário, viveu e foi co-construtor ativo de um período marcante e marcado, um período histórico que cada vez mais se clarifica em suas linhas principais e põe à mostra uma realidade muito interessante.
Aquele tempo ainda é, em parte, este tempo em trânsito, que passa, talvez pela presença de alguns personagens que ainda se mantêm no cenário social. Mas é mais “aquele tempo” marcado por pensadores já ausentes e idéias não mais dominantes.
Entre os fatos mais destacados vividos por Rizzini pode-se citar: o pensamento de Herculano Pires, as famosas materializações de Uberaba com Chico Xavier envolvido, a trajetória mediúnica de Zé Arigó e Edson Queiroz, os embates com Oscar Gonzales Quevedo, a direção do programa televisivo “Em busca da verdade”, a disputa pelo evangelho kardequiano, as produções psicográficas – a musical e a poética – e a produção literária de repercussão nacional.
PERSONALIDADES
Alguns daqueles que conviveram intensa ou razoavelmente com Rizzini continuam hoje no cenário terreno, como é o caso de Divaldo Pereira Franco, Luciano dos Anjos e Nazareno Tourinho. Outros, com igual presença na constelação, já se foram, como Herculano Pires, Deolindo Amorim, Chico Xavier e Zé Arigó, Wantuil de Freitas, Julio Abreu Filho e Edgard Armond, e tantos outros.
De um modo ou outro, estão presentes no livro em acontecimentos históricos de repercussão, às vezes extrapolando as fronteiras do país.
LEITURA E DOWNLOAD
Você pode ler o livro e também copiá-lo livremente para os seus arquivos. Para tanto, clique num dos links a seguir.
http://www.readoz.com/publication?i=1026116
http://www.scribd.com/doc/31670469/Muito-alem-das-sombras
ISBN – 978-85-7353-439-9
Grande abraço.
[1] Onze desses amigos têm sua trajetória registrada no meu livro “Vidas, memórias e amizades”, Editora EME.