RESENHA
Livro: Chico Xavier: uma alma feminina
(Um aspecto inédito de sua biografia)
Autor: Paulo Neto
Formato 14 x 21 cm, capa a cores, Ethos Editora, 178 p.
Se algo há que desafia a inteligência humana no que diz respeito à reencarnação ou retorno do espírito à vida física no planeta é, sem dúvida, a manifestação da memória das existências passadas. Segundo o espiritismo, a memória espiritual da individualidade humana é formada pelas experiências que o ser realiza durante o período de cada uma de suas vidas no corpo material, memória que se vê acrescida, também, das experiências que se sucedem nos intervalos das vidas materiais, neste caso, no mundo invisível, por meio do corpo espiritual que o espiritismo nomeia por perispírito.
De como e com qual força as memórias de outras vidas se apresenta na atual existência é algo ainda não muito claro e, portanto, se mostra como um desafio a todos. Entretanto, os estudos espíritas, desde Kardec, não deixam dúvida quanto a existência dessa memória e de que os registros ali existentes, garantidamente, se apresentam no dia a dia de cada um, mesmo considerando ou sem deixar de considerar que cada vida vivida pelo espírito no corpo físico é marcada pelo uso do cérebro material em sua singularidade e complexidade. Assim, a reencarnação determina ao espírito um novo corpo e um novo cérebro, ou seja, um cérebro que não contém nenhum registro, o que nos leva a compreender que qualquer lembrança de vidas passadas deve ser encontrada na memória espiritual e vinda desta para o cérebro físico.
Tais apontamentos são de interesse quando nos deparamos com o lançamento de um livro como este que acaba de ser publicado em primeira edição impressa (havia sido publicado em 2018 como e book) – Chico Xavier, uma alma feminina, de autoria do mineiro Paulo Neto que, diga-se de passagem, vem se dedicando intensamente a debates e estudos de temas controversos no ambiente espírita, algo necessário, mas desagradável para parcela dos adeptos da filosofia espírita que prefere suas crenças à razão dos fatos.
Paulo escreve aqui sobre um tema melindroso, qual seja, o corpo de Chico Xavier, fisiologicamente masculino, mas era presidido por um espírito repleto de experiências de vidas passadas na condição feminina, daí a razão do título em que o autor registra e nomeia como alma feminina. A esta conclusão Paulo chega após análises, muitos depoimentos e uma interessante pesquisa, confirmando por si o que muitos outros estudiosos já apontam há bons tempos, como argumento, por exemplo, de refutação daqueles que defendem tenha sido Chico Xavier a reencarnação de Allan Kardec, o fundador do espiritismo. Se o médium mineiro retornou à vida física após experiências sequenciais em corpo masculino e, em consequência disso, revelou-se com acentuada tendência – gostos, preferências, personalidade, afinidades etc. – feminina, fica sem força a tentativa de entendê-lo como Allan Kardec de volta, cuja personalidade era, indiscutivelmente, masculina.
O livro revela que a questão envolve outros elementos e situações, além de possuir um conteúdo emocional forte porque alcança a intimidade do médium enquanto ser humano, seus sonhos, projetos existenciais, vida sexual e tantos outros valores quantos se pode perceber ou alcançar. O autor passa por todos esses aspectos com bastante elegância ética, de modo a expor sua opinião e cumprir o compromisso autoimposto de não os deixar de lado sob pretextos discutíveis.
Chico Xavier: uma alma feminina, apesar do aparente terreno arenoso em que o tema se coloca, é um livro fácil de ler, escrito quase que inteiramente em uma linguagem jornalística em que o autor vai direto aos pontos principais, sem se estender desnecessariamente nos detalhes secundários, mas também sem sonegar apontamentos e informações, inclusive opiniões, onde elas se fazem oportunas.