De como se estrutura e se processa a comunicação na sociedade do espetáculo poucos têm consciência. Este verdadeiro “pecado” que a ignorância forja implica a existência de uma “massa” de criaturas que se identificam pelo desejo de consumo e que o sistema sabiamente utiliza, seja construindo um certo caminho da felicidade e o dispondo como o verdadeiro, seja reforçando as identidades que as tribos urbanas constroem para si mesmas como forma de se afirmarem no cenário social.
A comunidade espírita, como estrato social coerente, sustenta e alimenta o desejo de participar da construção das identidades com a oferta de um produto – o saber espírita – através de uma ação a que denominamos, por falta de melhor expressão, divulgação doutrinária.
Temos assim, de um lado, o sistema dominante que mantém as possibilidades de realização assentadas no alto consumo e, de outro, a difusão da ideologia da visibilidade como a forma de auto-afirmação possível. O jogo está formado, os atores estão no palco e as mídias são a parte fundamental do processo de viabilização dos interesses em disputa.
Neste terreno das glórias passageiras e das imagens que se substituem umas às outras, dos ídolos criados para um espetáculo exaustivo, forjados e atirados ao ostracismo com a mesma velocidade com que surgem, localiza-se a comunidade espírita à procura também de visibilidade para as suas propostas.
O espetáculo, contudo, predomina sobre a informação ou até mesmo por conta da informação, e está presente nas imagens e acima de tudo como ideologia consumada por um consenso de prática, como a dizer que só é possível ser eficiente na conquista de mentes e corações se a produção e a veiculação de mensagens obedecer aos critérios que o sentido do espetáculo impõe.
Diante disso, ao Espiritismo resta resolver o conflito de produzir a sua “divulgação” sob o império do espetáculo sem perder a capacidade de falar sobre suas propostas com a coerência e a lógica interna da doutrina. Será isso possível? É o que analisaremos a seguir.
O conceito da sociedade do espetáculo
A idéia da sociedade do espetáculo é antiga, o conceito é novo. A sociedade como afirmadora das aparências e como valorizadora do exterior tornou-se preocupação do homem desde a Grécia e a Roma antiga, passou pela Idade Média e alcançou a modernidade. Há profundas diferenças entre a idéia e o conceito contemporâneo de sociedade do espetáculo? Há diferenças, claro, mas talvez elas não sejam tão profundas quanto possa parecer. Na modernidade, o espetáculo recebeu o toque mágico dos meios de comunicação e se tornou, por isso, um espetáculo de dimensões globais. No passado, estava restrito aos ambientes localizados e tinha repercussões acanhadas, se comparado aos dias atuais. Mas não há dúvida de que o espetáculo exercia forte fascínio sobre os indivíduos e os dominava em certa medida. O espetáculo fazia parte da sociedade, era elemento dela e ocupava uma porção dos seus dias e das suas noites. Talvez esteja aí a grande diferença para a sociedade do espetáculo contemporânea, marcada pela presença da mídia e elevada ao nível do aparente transformado em real. Contudo, não se deve perder de vista essa força externa do espetáculo e sua influência: sempre que possível, feitos e comemorações, atos de bravura e interferência do irracional, tudo era motivo para a transformação em espetáculo.
O salto veio com o surgimento dos meios de comunicação de massa. A eles coube a tarefa de, numa primeira etapa, tornar o espetáculo conhecido de muitos e, numa segunda etapa, incorporá-lo como elemento interno de seu contexto, tornando-se assim, eles mesmos, um espetáculo. Entendam-se, as etapas aqui são meramente metodológicas, pois na verdade a assimilação do espetáculo ocorre em paralelo à sua transformação em razão da sociedade.
“O conceito de espetáculo” – diz Debord – “unifica e explica uma grande diversidade de fenômenos aparentes. As suas diversidades e contrastes são as aparências desta aparência organizada socialmente, que deve, ela própria, ser reconhecida na sua verdade geral. Considerado segundo os seus próprios termos, o espetáculo é aafirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, isto é, social, como simples aparência. Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo descobre-o como a negação visível da vida; como uma negação da vida que se tornou visível“.[1]
A transformação do elemento constituinte – o espetáculo – em razão da própria sociedade significa na prática a formalização de uma cultura dominadora, a cultura do visível, do aparente e, portanto, a construção de consciências adaptadas ao consumo do que é aparente. Todos sabemos como uma cultura fortemente estabelecida é capaz de gerar consciências dispostas a assimilar e reproduzir esta cultura. A aceitação do espetáculo como razão de vida social não é apenas uma questão de gosto, mas uma condição para a inclusão nos diversos círculos sociais. Não é uma opção a fazer, mas uma determinação a cumprir.
A cultura do espetáculo é dominante por cumprir aquilo que Debord coloca: “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. A crítica, portanto, da mídia do espetáculo é o reconhecimento de que ela faz do espetáculo essa razão social de viver. A notícia é espetáculo na TV, mas também nos jornais, nas revistas e nas emissoras de rádio. E é notícia sob o formato do espetáculo não apenas o fato, o acontecimento inusitado; também aquilo que antes não era, ou seja, a vida privada. O privado e o público se confundem nesse cenário difuso, assim como os interesses que dominam o público e o privado. O indivíduo permite que sua intimidade adquira visibilidade por conta de uma certa consciência da necessidade de tornar-se visível para obter reconhecimento; o espetáculo midiático é o meio pelo qual a visibilidade pode alcançar a dimensão pública mínima. A vida que se torna espetáculo deixa de ser a vida para se tornar espetáculo. Dentro desse contexto, cabe perguntar: qual é a possibilidade de ser sem tornar-se espetáculo?
Consciência na abordagem espírita
Uma discussão sobre a consciência, especialmente com vistas a clarear de alguma maneira a sua gênese e construção, parece-nos oportuna. Em Espiritismo a consciência assume posição importante e é abordada sob diversos ângulos. Não há na doutrina, porém, uma preocupação com a gênese e a construção da consciência, mas com suas funções enquanto gestora das ações da individualidade, como se quisessem os Espíritos dizer, como em outros tantos e tantos aspectos do conhecimento, que se trata de tarefa dos humanos encarnados essa descoberta. “O Livro dos Espíritos” dá um tratamento central em termos comportamentais para a consciência, estabelecendo advertências com vistas a indicar que o tipo de comportamento adotado tem grande participação no funcionamento da consciência: “Cuida que tua consciência esteja pura”[2], diz na questão 852. A preocupação comportamental, como se sabe, vai estender-se às diversas partes das obras básicas e assume posição destacada na grande maioria dos livros subsidiários, onde se acentua o caráter moral das ações humanas e suas implicações sobre a felicidade e a infelicidade das pessoas.
Além da ênfase comportamental, a questão da consciência encontra no Espiritismo, ainda, algumas outras abordagens, como por exemplo os destaques para sua importância enquanto atributo da individualidade (“A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito” – LE, 600), a consciência como noção de realidade física (“O Espírito tem consciência da distância que percorre – LE 90), a consciência como suporte da liberdade de pensamento e expressão (“A liberdade de consciência é um dos caracteres do progresso” – LE 837) etc.
O Espiritismo, portanto, não informa sobre como a consciência é gestada e menos ainda como se estrutura, se ela tem porventura uma origem anterior ao início do processo encarnatório, o que implicaria sua preexistência, como também não afirma peremptoriamente que ela sofre um processo de construção permanente nas diversas etapas evolutivas a que a individualidade está submetida, construção essa que deveria provocar alterações na sua intimidade. Isso pode, no limite, ser deduzido; sim, o raciocínio lógico nos indica que a consciência está em construção permanente, pois do contrário a individualidade não seria evolutiva. Ainda que esta lógica nos convença, ela também exige que se definam os termos da forma como a consciência é construída, por se assentar aí, com certeza, um fator importante para uma atitude compreensiva da individualidade sobre a consciência.
Embora não nos aclare quanto a este primordial conhecimento, o Espiritismo nos diz duas outras coisas sobre a consciência de grande significado: a primeira, com a afirmação que pretende ser, ao mesmo tempo, um princípio de estabelecimento de um conceito da consciência: “A consciência é um pensamento íntimo” (LE, 835). A segunda: “O homem traz em sua consciência a lei de Deus” (LE, 621). A afirmação de que a consciência é um pensamento íntimo implica também a afirmação de que ela se manifesta na forma de um pensamento, ou de pensamentos, frente às situações diversificadas do cotidiano, o que é também, na prática, o reconhecimento de que a consciência é uma forma pela qual a individualidade dialoga com o exterior. Conduz ainda ao reconhecimento de que, em sendo pensamento, é também algo que se serve de um material que já existe, pois não se poderia pensar em ser algo sem que esse algo esteja contido. E se está contido, só pode ter origem no exterior da individualidade, para que esta consciência, de alguma forma, se aproprie desse material para poder utilizá-lo.
Por outro lado, ao afirmar que o homem “traz” em sua consciência a lei de Deus, o Espiritismo está sugerindo que essa consciência preexiste ao homem encarnado. Para que a lei de Deus ali esteja, ela deve ter sido formada antes, o que conduz a outros questionamentos do tipo: quando, de que forma, sob que condições etc. Todas estas questões não podem encontrar respostas no próprio Espiritismo, uma vez que ele não as contempla, o que não significa que não devem ser objeto de pesquisa. Como a questão da consciência tem implicações diretas com o espírito, a essência humana, tem-se que o campo de conhecimento mais propício aos estudos dela seja o das ciências sociais, muito mais do que o das ciências físicas, pelo menos no que diz respeito à atualidade desses dois campos de conhecimento, uma vez que as ciências físicas não apenas têm-se mostrado incapazes de lidar com a subjetividade como de fato têm-se recusado a fazê-lo sob uma certa noção de sua inexistência. Contudo, a boa lógica nos indica que será unicamente pela integração destes dois campos do conhecimento que o homem poderá aspirar a um saber pleno, integral, da subjetividade humana e, portanto, da questão da consciência.
Os discursos da consciência
Em seu recente artigo sobre os “manipuladores cerebrais”, publicado na edição de julho de 2003 da revista “Scientific American”, Roberto Sapolsky relata alguns casos impressionantes de parasitas que desenvolveram a habilidade de “mudar o comportamento dos seus hospedeiros a seu favor”, ou seja alguns microorganismos como os vírus, por exemplo, podem levar seres animais e também seres humanos a agirem, a tomarem decisões, a comportarem-se de forma totalmente contrária àquilo que de fato normalmente fariam.
Segundo Sapolsky, roedores infectados por toxoplasma perdem o medo de gatos. O toxoplasma só pode se reproduzir nos organismos dos gatos e para tanto os gatos precisam comer os roedores infectados para que o toxoplasma ali existente possa se transferir para o seu organismo, se reproduzir e ser expelido pelas fezes, prosseguindo o ciclo. Ao gato, o toxoplasma não causa nenhum efeito, mas os roedores infectados pelo toxoplasma perdem a aversão pelos gatos e são levados a enfrentá-los, numa luta, como se sabe, inglória.
O exemplo vem a propósito. O que se quer reforçar com ele é a importância da consideração dos fatores externos para a compreensão do comportamento humano, sem nenhuma intenção de afirmar algum tipo de supremacia insuperável da parte deles. Na questão da consciência, uma compreensão possível de sua gênese e construção advém exatamente da noção clara de que a consciência, na linha do pensamento bakthiniano[3], surge e se afirma através de um diálogo com o exterior, nas relações comunicativas especialmente, em que os indivíduos interagem socialmente. Por isso, pode-se dizer que a consciência individual é um fato sociológico, ou seja, a consciência só se torna consciência, só existe depois que assimila o exterior. Daí ser necessária a noção de que o exterior tem importância para a consciência, mas não uma importância qualquer; o exterior está presente na consciência e de alguma maneira torna possível a compreensão dela, daquilo que a individualidade é, de como dialoga com o exterior, de como formula sua interpretação e compreensão do mundo, entendendo-se que o diálogo é uma forma de compreensão individual do exterior.
Segundo o sociólogo russo, “a consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais”, relações que se estabelecem primordialmente pela comunicação social, pelo diálogo, através do discurso dos sujeitos que interagem. Surge, portanto, um outro elemento importante no jogo da comunicação: a questão da linguagem, e aparece ela aí como que para afirmar, segundo uma linha antropológica cultural, que a linguagem é produto da cultura, mas é também ela produtora de cultura. Por isso, pode-se dizer, ainda com Bakhtin, que a palavra, entendida como elemento básico da linguagem e vista também como sinônimo de discurso, de fala, “é o modo mais puro e sensível de relação social”, estando, portanto na condição de instrumento a serviço da consciência. Por isso, diz Bakhtin, “a palavra está presente em todos os atos de compreensão e em todos os atos de interpretação” que a individualidade realiza cotidianamente, constituindo-se, assim, um elemento importante da análise das relações sociais, das consciências, dos contextos etc. Da mesma maneira que pela palavra a consciência adquire sentido, toda a sua ação de dialogar com o exterior revela a forma como a individualidade compreende o mundo e reproduz o que assimila do mundo.
Uma das muitas conclusões que se pode tirar disso é que a cultura individual, assimilada a partir do exterior, se revela pela palavra com que cada consciência expressa sua compreensão do mundo, mas também revela que é ela, a cultura, que estabelece para o indivíduo a visão que deve ter do mundo.
O social e a “divulgação” espírita
O desafio espírita, em tempos de intensa consciência da necessidade de fazer com que o maior número possível de pessoas conheça a doutrina, consiste na solução de um conflito ético: como divulgar sem tornar a doutrina um espetáculo de aparências? Esse desafio, contudo, só existe como tal para aqueles que concebem a existência do conflito. Os que não percebem qualquer tipo de contradição entre as condições colocadas e o sentido espírita do saber, ou que não lhes atribuem um valor considerável, não têm que se preocupar com o desafio.
A questão enlaça os dois pontos anotados: a cultura do espetáculo, que domina o cenário social, e a consciência construída por essa cultura. Uma massa de criaturas, submetida às mensagens constantes de uma “realidade” na qual todos estamos imersos, é levada à adoção de uma consciência passiva e favorável ao espetáculo. A crítica portanto, deve alcançar em primeiro lugar à cultura dominante, ao sistema que reproduz a cultura e faz dela o elemento de dominação. Sob um fluxo permanente de mensagens altamente persuasivas para valores declarados naturais, a cultura tende a se reproduzir e a assumir a aura de natural. Daí o fato de as criaturas numa sociedade do espetáculo capitularem e assumirem o espetáculo como algo intrínseco e normal e convergirem para ele naquilo que as toca. Os espíritas, sob essa consciência, são levados também a adotar o sentido do espetáculo sem qualquer constrangimento e sem nenhuma preocupação com os sentidos dominantes. Enquanto cidadãos preocupados em resolver as dificuldades técnicas e financeiras, as que mais aparecem e as que mais recebem atenção porque se encontram também no centro das novas realidades colocadas pela sociedade do espetáculo, os espíritas caminham para a busca de soluções que minimizem as dificuldades que os distanciam do núcleo midiático dominante – TV, rádio, internet e produtos impressos – e, portanto, os colocam também distantes do grande público que essas mídias alcançam. A realidade do sistema e a cultura do espetáculo não surge aí como preocupação, seja porque estão assimiladas em sua aparente naturalidade, seja porque são tratadas como elementos secundários no jogo do poder social.
Os esforços até aqui empregados para levar o Espiritismo à grande mídia apresentam duas características singulares: parte deles, talvez a menor, é empregada pelos próprios espíritas enquanto membros do chamado movimento doutrinário; outra parte constitui o interesse da própria mídia pelo tema, dada a sua repercussão junto ao público consumidor do produto espetáculo. E aí se pode observar o sentido de espetáculo dominando a ambos os esforços. Filmes, novelas, romances, peças teatrais e outros produtos da indústria cultural obedecem ao signo do espetáculo em virtude das próprias razões que dominam essa indústria, não apenas quando a temática é a espírita. Os poucos e possíveis esforços desenvolvidos pelos espíritas para produzirem produtos com a temática doutrinária apresentam, quase sempre, a característica da espetacularização, em acordo com as normas sociais vigentes. Essa mesma característica de submissão dir-se-ia quase inconsciente às regras do espetáculo, aparecem também e com força quando dos eventos em que o assunto é como resolver os problemas de acesso à mídia de massa para fins de difusão do Espiritismo. Em congressos e mesmo nas discussões recentes nos “chats” e listas da Internet, circulam mensagens que apresentam ampla preocupação com os aspectos financeiros e de convencimento dos meios de comunicação, centrando neles a atenção. Quase nenhuma preocupação sobra para com o sentido da cultura dominante e sua relação com as formas de difusão do saber espírita. A inconsciência para com essa dura realidade que a sociedade do espetáculo coloca para aqueles que pretendem realizar alguma atividade cultural explica porque esforços recentes de programas de TV com temática espírita, feitos por espíritas, apresentaram as mesmas características de tentativa de espetacularização comum à TV. A ausência de suporte financeiro serve para explicar o fracasso desses programas, bem como as suas deficiências técnicas, mas serve acima de tudo para encobrir o grave problema da submissão à forma, às aparências, tornando esse problema ou secundário ou inexistente.
É possível que se esteja perguntando se há alguma possibilidade de realizar o trabalho de difusão do Espiritismo sem a submissão às regras da sociedade do espetáculo. Mas essa é também uma questão por si mesma respondida. A sociedade do espetáculo não é uma abstração criada para justificar um estado de espírito pessimista. Ela é antes de tudo uma cultura e como tal contém em si mesma as razões de sua manutenção, pois é assim que ela se auto-reproduz. Trata-se de uma razão colocada – a de que não é possível superar a realidade dos meios quando se trata de falar com uma grande audiência, ou seja, a razão da sociedade do espetáculo é uma razão de adequação à “realidade” quando se quer ou se deseja servir dos meios técnicos para alguma finalidade pela comunicação em ampla escala, e nunca a contestação dessa realidade. A cultura do consumo não é uma mensagem publicitária, mas um sentido para formação de sentidos e como tal cria consciências predispostas a reproduzi-la.
A pergunta, portanto, deve ser invertida: o que deve ser feito para difundir o Espiritismo sem a submissão à necessidade de espetacularização colocada pela sociedade? Esse é o grande desafio que se coloca aos espíritas, e não à sociedade. Não se podem inverter as questões quando se trata de difusão do Espiritismo. Não é nem lícito nem razoável cobrar dos artistas, dos roteiristas, dos produtores de filmes e novelas, dos editores de revistas e jornais plena observação aos princípios doutrinários do Espiritismo quando esses profissionais, com nossa permissão ou sem ela, se dispõem a produzir espetáculo com a temática espírita. A eles se pode emprestar apoio e sobre os produtos por eles criados exercer o direito de crítica, inerente a qualquer cidadão. O Espiritismo é uma doutrina de caráter público e ninguém precisa de autorização para escrever ou falar sobre temas espíritas. Entretanto, todos os espíritas podem e devem resolver seus dilemas comunicativos a fim de superar os conflitos que o conteúdo espírita encontra em seus contatos com a sociedade contemporânea.
Para uma conclusão possível
No centro de toda discussão sobre comunicação social e Espiritismo na atualidade encontra-se a questão da cultura do espetáculo a serviço de uma cultura maior: a do consumo. Uma contra-consciência é, assim nos parece, a única maneira de antepor esforços de resistência à realidade que não é real, mas aparente. Ou o Espiritismo reúne-se aos diversos segmentos da sociedade que se opõem ao espetáculo e todas as suas conseqüências ou se submete à cultura do espetáculo, fazendo um Espiritismo de aparências para fins de visibilidade social. Em qualquer dos casos, estaremos fazendo uma opção: a opção pela forma e a opção pelo conteúdo.
[1] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo, Lisboa, Edições Mobilis in Móbile, 1991.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Capivari, Ed. EME, trad. Herculano Pires, 1997
[3] BAKHTIN, Mikail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, 8a, Hucitec, 1997.