Terminei de ler o livro do Wilson Garcia, “O Espiritismo depois do ponto final” e foi, simplesmente, uma leitura excelente. Se tivesse que defini-lo com uma palavra, apenas, diria que esta palavra é sensatez.
O autor analisa uma série de temas muito complexos e profundos, que fazem parte do movimento espírita, e o faz dentro de uma postura de total sentido comum.
Surpreendeu-me bastante o prefácio e as reflexões que faz o Elias Morais. Fico com a sensação de que ele fala de um livro que não compreendeu, apesar de todo o carinho e o respeito que tenho pelo Elias, alguém que acompanho e li seus dois livros. Fico com a sensação de que não entendeu o pensamento de Wilson, ainda mais quando afirma que o autor defende os conceitos eurocentristas e, num tom divertido, diz que ele é um europeu reencarnado no Brasil. Não vi em momento algum que Wilson defende esses conceitos. Ele, simplesmente, se posiciona pela conservação literal e textual da obra de Allan Kardec. Isso não significa que esteja de acordo com o que lá está escrito.
Acredito que o comentário do Elias não foi bem-sucedido.
Quanto à postura de Wilson sobre cada um dos temas, que não analisarei individualmente agora, penso que são sumamente oportunos na atualidade. Muitas vezes se pode confundir a análise crítica com uma abordagem superficial e que não leva em conta os elementos analíticos, de forma que a crítica seja realmente positiva. Isto é fundamental e construtivo.
Digo, principalmente, em relação a algumas críticas que já tive oportunidade de ler, por exemplo, no grupo da CEPA Brasil, como aquelas a respeito da metodologia que Kardec utiliza em relação à mediunidade, ocasião em que ela sofre uma desqualificação, pois se presta mais atenção à parte que ao conjunto, quando olhar o conjunto é fundamental.
Isto é algo que Wilson Garcia faz com muito critério em seu livro “O Espiritismo depois do ponto final”. Qualquer análise crítica não pode ignorar o contexto histórico e o fundo da ideia, muito menos a obra completa. Acredito que, atualmente, muitas análises não têm observado com carinho esses fatores.
Este livro é muito positivo e oportuno, ainda que seja difícil dar ao pensamento espírita a melhor interpretação. O livro é importante para dar esse toque, essa chamada de atenção à sensatez e à profundidade da análise crítica.
Quanto aos diferentes temas, vou comentar concretamente dois. O tema da política, sobre o qual estou completamente de acordo com a postura de Wilson Garcia. Uma coisa é que o espírita conheça a política, que esteja informado sobre ela, pois como seres humanos que somos, seres gregários, é fundamental conhecer a política para, na hora de tomar decisões, fazê-lo de forma o mais conveniente possível. Conhecer o pensamento político em profundidade é fundamental. Isso é parte da responsabilidade que, como seres humanos, temos por estar vivendo em uma sociedade.
Também estou completamente de acordo que a política deve ficar fora dos grupos espíritas. E quando digo grupos espíritas não me refiro apenas aos grupos físicos, mas também aos digitais. Acredito que não é positivo entrar no debate político nesses grupos por uma razão: pelo menos no que tenho podido observar, não se é capaz de diferenciar o pensamento político do partidarismo e de quando radicalizamos nossas ideias. Penso que esse debate, pelo menos atualmente, é mais prejudicial que positivo. Custa-nos muito ir ao fundo do que está dizendo o outro. Muitas vezes, move-nos mais essa visceralidade, a radicalização das ideias que o pensamento e a análise política. Falta cultura política no movimento espírita para fazer uma análise serena, porque uma opção política de uma pessoa depende de muitos fatores, entre os quais está o país, a história política do país. Logicamente, um espanhol, que ama o progresso, a igualdade, a justiça social, terá uma percepção diferente das opções políticas de um venezuelano, por conta da situação que vive cada um de seus países.
Por isso, estou completamente de acordo com Wilson Garcia quanto ao compromisso político do espírita.
E um tema em que estou de acordo, em parte, é o da Caridade. Concordo que a palavra Caridade não pode ser substituída pela expressão Justiça Social. São coisas distintas. Uma coisa é a caridade, como a entende o pensamento espírita, e outra coisa é a justiça social. Acontece, por exemplo, que quando faço referência à caridade, sempre digo que prefiro a justiça social porque estou me referindo à caridade como ação social do espírita, não à caridade como um sentimento universal que, como diz Kardec, engloba todas as virtudes. Então, em relação à ação social, não estou de acordo que se utilize a palavra caridade. Embora entenda que no pensamento de Kardec a palavra caridade é muito mais ampla.
Assim, se me refiro à ação do espírita diante da sociedade, não creio que seja uma ação promovida pela caridade, senão pela justiça social que tem como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Bem, este seria um tema muito amplo para se analisar e debater.
Repetindo, o livro me parece muito completo e devo felicitar o autor, Wilson Garcia. Quero levar este livro ao grupo de que faço parte para estudá-lo em nossas reuniões.