CONVERSANDO SOBRE EDER FAVARO


Ao invisível cabe o condão de desafiar o indivíduo com certa permanência, como ocorre quando alguém muito próximo dentre os próximos parte. Mesmo que haja anunciado com antecedência a possibilidade dessa partida, o momento em que a morte ocorre surge como águas precipitadas na cachoeira da vida.

Eder Favaro ao centro, Marcus Vinicius Ferraz Pacheco à esquerda e Wilson Longubuco à direita. Essa foi a primeira diretoria da ABRADE, sucessora da ABRAJEE, com Eder vice-presidente.

Viajávamos de automóvel para Bauru com o Eder Favaro e eu sentados no banco de trás e o Saulo Wilson dirigindo. Uma viagem de algumas horas desde São Paulo, mas que transcorria plenamente agradável, em especial pela contagiante capacidade de divertir do Eder e suas histórias, tendo por fundo o movimento espírita brasileiro, quase sempre. Fatos, personagens e situações inusitadas formavam o cenário das narrativas feitas com gosto e muito riso.

Conheci o Eder Favaro em 1972 no salão Bezerra de Menezes do antigo prédio da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) da rua Maria Paula, na capital paulista. Deveria ele apresentar algumas aulas de caráter histórico sobre a vida de Jesus e eu, aluno, o observava com muita curiosidade. Falava sentado e utilizava-se de um vigor fonético pouco visto, de uma seriedade inquestionável, mas também introduzia alguns fatos pitorescos na narrativa sempre muito clara, o que descontraía o ambiente e fazia rir a muitos. Eder foi, talvez, o primeiro orador espírita, dos que assisti até então, a me despertar para o uso de bibliografia fora dos livros espíritas. Marcou-me muito aquela tarde de sábado. Eu tinha apenas 23 anos incompletos e ele já quase 42. Eu iniciante na doutrina e ele a meio caminho da vida, pouco menos.

Eu o vi na tribuna famosa, não ele a mim; eu era um entre mais de trezentos no salão. Curiosamente, nossos caminhos que se cruzavam pela primeira vez se tornariam permanentes, sem que o soubéssemos então. Consultando alguns amigos do Departamento Federativo da FEESP, onde eu era colaborador, vim a saber que Eder Favaro era presidente de um centro espírita localizado na Zona Norte da capital, onde eu tivera uma dura experiência. Trata-se do Obreiros da Vida Eterna. Recebi a missão de visitá-lo numa certa noite, ainda muito cru em termos de política espírita, quando fui abordado por dois diretores do centro (Eder não estava), que me fizeram uma saraivada de perguntas críticas sobre as relações institucionais da FEESP com a USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo). Imagino qual não deve ter sido a cara dos diretores olhando-me assustado, sem reação, ingênuo que era neste tipo de assunto. A experiência obrigou-me a inteirar-me de coisas que nos ensinavam estar fora da religião. Sim, o espiritismo na FEESP é e sempre foi ensinado como religião e a política, que sequer constituía matéria de ensino nos seus cursos, dizia respeito a algo sujo, só praticado no mundo profano.

Quando, pois, estreitamos nossas relações, tive oportunidade de contar ao Eder o ocorrido, ao que ele recebeu com uma boa gargalhada. Estava ele, então, em processo de afastamento espontâneo e paulatino da FEESP, onde tivera intensa atividade por vários anos, ao mesmo tempo em que intensificava sua aproximação com a USE. Passamos a nos encontrar em várias atividades doutrinárias, quando muitos amigos dele vieram a ser amigos nossos, como Amílcar Del Chiaro, Wilson Francisco, Edem Dutra, Milton Felipelli e muitos outros.

I Simpósio de Comunicação Social Espírita em São Paulo, 1994. Eder ao centro.

Em 1989, estivemos juntos na fundação da Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo (AJE-SP), que mais tarde se transformou em Associação de Divulgadores do Espiritismo (ADE-SP). Essa história precisa ser mais bem contada. Conversávamos certa ocasião eu e o Rizzini, quando lhe sugeri que o Clube dos Jornalistas Espíritas, fundado pelo Herculano Pires nos anos 1950, fosse recriado. Rizzini recebeu a ideia com muitas reservas. No fundo, acreditava que o Clube não possuía inteligências capazes de revivê-lo e sua história estava definitivamente encerrada. Mas quando discutimos a fundação da AJE-SP ele logo aderiu. O Eder Favaro junto. Após intensas tratativas e acordos políticos, fui eleito presidente da AJE-SP e o Eder membro da diretoria. Trabalhamos juntos, intensamente, desde então. Mais tarde, Eder foi eleito presidente e comandou a instituição por alguns mandatos.

A mudança da AJE-SP para ADE-SP foi feita no contexto de transformação da Associação Brasileira dos Jornalistas e Escritores Espíritas (ABRAJEE) em Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE), cuja história pode ser lida no livro de minha autoria Espiritismo cultural – arte, literatura e teatro, Editora EME, 2004.

Eis um resumo:

Após a realização do IX Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas em 1986, em São Paulo, a ABRAJEE entrou em declínio, sucumbindo sob intensas lutas políticas internas. Neste contexto, o X congresso de Curitiba marcado para 1989 não se concretizou. O clima deu espaço para a fundação da AJE-SP nesse ano.

Em 1990, o representante da ABRAJEE em Minas Gerais, Gil Restani, comandou na cidade de Contagem a realização de uma prévia do próximo congresso – tudo indicava que seria realizado na capital mineira no ano seguinte – na qual as discussões sobre o destino da ABRAJEE foram novamente feitas, mas igualmente obstadas pela direção da instituição maior. Essas discussões haviam sido feitas também um ano antes, em Brasília, durante a realização do primeiro Congresso Internacional Espírita realizado pela FEB.

Em 1994, Alfredo Miranda Prado, na condição de presidente da ABRAJEE procurou a AJE-SP propondo entendimento e, assim, durante a realização do I Simpósio Paulista de Comunicação Social Espírita, em abril daquele ano a situação foi abertamente analisada. As discussões foram, finalmente, positivas e em agosto do mesmo ano, em Belo Horizonte, aprovou-se a proposta de transformação da ABREJEE em ABRADE e a decisão de instituir em cada Estado brasileiro uma ADE.

A assembleia da ABRAJEE para consolidação das mudanças realizou-se em duas datas: 15 de janeiro de 1995, no Rio de Janeiro, e em 15 de julho do mesmo ano, também na cidade maravilhosa. Transformada em ABRADE, a instituição teve eleita sua diretoria constituída por Wilson Longobuco, presidente; Éder Favaro, vice-presidente e Marcus Vinícius Ferraz Pacheco, Secretário Executivo.

Eder Favaro foi eleito presidente da ABRADE em 1997, sob proposição da ADE-SP, durante a realização do I Congresso Brasileiro de Divulgadores do Espiritismo, evento acontecido em Recife pela ADE-PE. Foi, portanto, o segundo presidente da instituição que sucedeu à ABRAJEE e seu mandato foi renovado em 1999 até 2001.

A escritura em Eder Favaro

O homem que recém se foi era exímio palestrante, atividade em que o seu caráter de autodidata fluía e cativava mais do que quando escrevia, porque a escritura não era o seu forte. Tinha ele a consciência disso e por esta razão escreveu quantitativamente muito pouco. Quando o fez, foi para extravasar sentimentos e emoções, fazer algum registro factual ou atender amigos. Quisesse alguém contar com sua presença e participação em evento qualquer, destinasse-lhe uma tribuna e ali ele se instalava, confortavelmente, porém, se lhe pediam para escrever algum artigo ou depoimento, demorava-se a atender, quando não se desculpava por alguma razão.

Os textos assinados por Eder contavam sempre com o apoio de alguém mais próximo das letras para dar o arredondamento final. Creio que Eder punha no papel as ideias a expor e aquele que o assessorava neste aspecto cuidava dos ajuste e revisão, de modo a deixar as ideias bem expressas e perfeitamente adequadas ao estilo do autor. Confessou-me, em mais de uma ocasião, essa sua condição, sem transparecer qualquer sentimento menor.

Há uma outra realidade em Eder. Diz-se comumente que o homem em algum tempo se torna conservador. Eder não fugiu ao clichê epigrafado. Se no período mais longo e largo de sua vida foi mais credenciado às mudanças e às ideias de autonomia e liberdade, de respeito e defesa do estado democrático, do trabalho em equipe e da capacidade de conviver com os diferentes com respeito e admiração, o destino lhe conduziu a certa altura da vida a apoiar algumas posições conservadoras e esta condição, pelo menos com relação à doutrina espírita, tem suas explicações. Isso, em alguns momentos, causou-me espécie, do que ele teve conhecimento. Os fatos a seguir servem de exemplo.

Certa vez, trocando ideias sobre coisas do espiritismo e modos de atuação no movimento espírita quando, ele se virou e disse: – Nós dois precisamos cuidar do nosso patrimônio pessoal. Confesso que me causou espanto na hora, mas devo dizer que não lhe dei atenção. Posteriormente, reconheci que eram sinais de uma condição conservadora que ele, então, já começava a adotar. E percebi que Eder, embora homem de renovação e recomeços, demonstrava preocupação grande com os novos espíritas em termos de capacidade de substituir os mais velhos nas diversas atividades do movimento. Com tal comportamento, passou a apoiar a recondução de antigos companheiros a postos de comando, como forma de garantia da instituição e da doutrina.

Eder Favaro grava entrevista com o Dr. Ary Lex.

 Conversávamos em sua sala na Rádio Boa Nova momentos antes de entrarmos no ar no programa Ação 2000, quando comentei sobre o fato de a USE-SP ter optado, na última hora, pela eleição de ex-presidente seu, temendo uma renovação de quadros. O escolhido para comandar o novo período administrativo não só estava com idade avançada, mas também doente. Eder, tranquilamente, demonstrou que estava de acordo com a decisão tomada pela USE-SP. Antes de ser política, a sucessão de comando nas instituições passa pelo maior ou menor entendimento da necessidade de renovação e progresso. O temor do erro conduz, muitas vezes, ao erro de visão e à perda de quadros.

Quando acabávamos de fundar a AJE-SP, com Eder presente na diretoria – era assessor de relações públicas, mas um dos mais atuantes e interessados – recebemos a visita de um dirigente espírita de conceituada cidade do oeste paulista, que solicitou apoio para uma importante atividade que desejava criar, além de ajuda na melhoria do pequeno jornal que o centro espírita publicava. Eder e eu emprestamos imediato apoio, viajando àquela cidade por diversas vezes, disso nascendo um evento de cunho nacional e no lugar do pequeno jornal uma publicação mensal no formato standard. O jornal, inclusive, foi o primeiro e único no país a adotar a figura do Ombudsman, que na época já fazia sucesso nos grandes jornais brasileiros.

As atividades daquela instituição cresceram e se ampliaram, ocupando um espaço importante em nível nacional. Mas Eder, com sua aguçada percepção, me disse um dia: – Eu vou pular fora. Fulano – referia-se ele ao presidente da instituição a quem déramos todo o apoio – está começando a extrapolar suas próprias limitações e se colocando como a inteligência espírita do país, achando que pode ensinar doutrina. Prossegui com o apoio sem Eder por algum tempo, até que os sinais vistos pelo amigo de fato resultaram naquilo que ele antecipou. Mais tarde, aquele dirigente e sua turma deixaram o espiritismo e fundaram uma religião na linha evangélica.

Foi na presidência de Eder na ADE-SP que o programa radiofônico Ação 2000 foi criado. Ele reuniu os diretores e apresentou a proposta, que trazia com a aprovação do Osmar Marsilli, diretor da Rádio Boa Nova. Todos os membros ficaram entusiasmados com proposta, que foi amplamente discutida, com debates intensos, até alcançar um formato finalmente aprovado. Foram criadas quatro equipes, uma para cada sábado, quando o programa iria ao ar ao vivo, pela manhã. O programa permanece no ar até hoje, após mais de vinte e quatro anos.

Pouco antes do começo da pandemia da Covid-19, fomos, eu e o Ivan Franzolim, visitar ao amigo Eder em sua residência no Horto Florestal, após alguns anos que eu estava fora de São Paulo. Antes de fazer a mudança de residência para Recife, onde permaneci por 14 anos, tivemos, Eder e eu, um estremecimento por conta da condução da ADE-SP. Desde então, nos falamos pouco. Com o meu retorno a São Paulo em definitivo e sabendo que Eder estava restrito à sua residência por conta de enfermidade, fui rever o amigo. Tão ativo era, o quanto aquela situação o fazia sofrer, me questionava então. Eder não podia mais se locomover sem ajuda.

A noite estava calma e ele tranquilo. Andava com muita dificuldade, algumas deficiências auditivas e a fala pouco audível, mas a mente ainda a trabalhar. Entre um cafezinho e algumas troca de ideias, lá estava o amigo de sempre, desejando informar-se das coisas e mantendo, quanto podia, conhecimento disso e daquilo. Mostrava-se, ainda, interessado em participar da ADE-SP ou dos programas de rádio, mas a debilidade física o tornava cada vez mais prisioneiro do lar. Ali ficamos por cerca de duas horas. Desde então, não o vimos mais. Dias antes de seu falecimento, sobreveio-me um desejo de revê-lo, mas não deu tempo. A notícia de sua passagem logo chegou.

Manifestações e depoimentos

Diz o homem do povo em sua sabedoria: cuidemos do espírito porque a morte é certa. Herculano Pires propõe a educação para a morte como necessidade tão importante como a educação para a vida. Apesar disso, quando a morte do corpo físico ocorre se traduz num momento de surpresa e impacto emocional. Haverá alguém infenso a esse sentimento e a tal reação emotiva? Com Eder não foi diferente. Diversas manifestações foram publicadas espontaneamente nas redes sociais e em alguns veículos de informações. Solicitei a alguns amigos que escrevessem sobre Eder, a fim de reunir aqui seus depoimentos, pedindo apenas que falassem de como o conheceram e como foi sua convivência com ele. Um apelo à memória, mas lembrando sempre que memória e emoção nem sempre combinam bem. Sem limites de espaço, mas já não tão próximos do momento em que o falecimento dele foi anunciado, o que significa com menor predomínio das emoções.

Eis suas contribuições (o depoimento pode ser lido na íntegra ao deste texto).

Sucessor de Eder Favaro na presidência da ABRADE, Gezsler Carlos West assim se pronuncia sobre o amigo: “Eu conheci o Eder Favaro na década de 90. O motivo da aproximação foram atividades no campo da comunicação social espírita, que ambos tinham as suas vinculações. Algum tempo depois, tivemos uma maior proximidade quando da elaboração do Plano Estratégico da ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, evento ocorrido na cidade de Cuiabá no Mato Grosso.

Em seguida, nas contínuas atividades da ABRADE, aconteceram diversas interações referentes à comunicação social espírita, bem como sobre o movimento espírita de forma geral. Guardo dele excelentes lembranças, onde destaco a simplicidade no falar, ponderação no decidir e uma sincera amizade. Ao tomar conhecimento de sua recente desencarnação, aos 91 anos de idade, só tenho duas coisas a dizer: obrigado por tudo amigo e que seja muito feliz!”

“O companheiro Éder Favaro, recém desencarnado – afirma Antonio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente da USE-SP, em depoimento breve – sempre nos suscitou respeito e admiração. Nossos contatos se iniciaram nos anos 1980 quando ele era o diretor do Departamento de Orientação Doutrinária da USE-SP e trabalhava intensamente para divulgar um programa de estudos de Espiritismo elaborado por essa equipe. Por ocasião de nossa eleição como presidente da USE-SP, ele ocupou o cargo de 2º vice-presidente no período de 1990-1994. No início de nossa gestão ocorreu a criação do jornal “Dirigente Espírita” e Éder atuou como membro da Comissão de Redação (1990-1993), sempre colaborou em ações de difusão da Doutrina e na preparação de Congressos Estaduais de Espiritismo. Simultaneamente colaborava com programas na Rádio Boa Nova. Éder tinha excelente conhecimento doutrinário, mantinha-se com autonomia intelectual e sempre muito ativo.  Nossas vibrações para o notável companheiro espírita!”

Ivan Renê Franzolim, articulista e escritor, acompanhou Eder Favaro por muitos anos, dividindo com ele atividades no rádio e na ADE-SP. Afirma que o conheceu “em 1989, quando da fundação da antiga AJE-SP, Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo. Nessa época ele comandava vários programas na Rádio Boa Nova. Logo após, mudamos para ADE-SP Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo e lá se foram várias gestões que o Éder foi presidente e diretor, realizando atividades e eventos sempre em equipe, o que ele valorizava muito, muitos cursos, simpósios, congressos, encontros, criando em 1997, o programa de rádio Ação 2000, uma visão espírita da notícia que continua ativo, com o slogan: a ADE comenta a notícia, mas não fecha a questão”.

Para Wanderlei Santos, do site Autores Espíritas Clássicos, “O Movimento Espírita Brasileiro sofreu mais uma perda inestimável em seus quadros. Faleceu Éder Favaro (1930 – 2022). O Grande Divulgador do Espiritismo. A sua ficha no espiritismo é muito longa para que eu possa descrever. Podemos destacar na direção do Programa Diálogos Espíritas (Rádio Boa Nova) que eram fatos do cotidiano à luz da doutrina espírita, trazendo novidades, entrevistas e a vida e obra de grandes pensadores e divulgadores do Espiritismo. Junto de sua equipe Américo Suscena, Aglaê Silveira, Marcos Sibinelli, Milton Filipelli e outros”.

Wilson Francisco, companheiro de antigas lutas desde o Jornal Correio Fraterno do ABC, registra que conheceu pouco a Eder Favaro: “Via-o nas reuniões do CME, Conselho Metropolitano Espírita da USE na rua Maranhão, sempre muito inteligente, expressivo e super engajado no movimento de unificação dos centros espíritas. Frequentei algumas vezes como assistente o CE Obreiros da Eternidade no bairro Tremembé. Excelente casa espírita que pautava com fidelidade os princípios kardequianos. E de quando em quando nos víamos com rápidas conversas na Rádio Boa Nova em Guarulhos. Eu fazia o programa Travessia A Arte de Viver sem Medo no ano 2000. Deixo meu registro com carinho a esse baluarte do movimento espírita”.

Em texto publicado no Facebook, Julia Nezu, ex-presidente da USE-SP, relembra que “Eder foi um dos fundadores da antiga Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo, no dia 24 de setembro de 1989, na sede da Instituto Fraternal de Laborterapia, em São Paulo, mais tarde na presidência do Eder, em março de 1995, a AJE se transformou na ADE-SP Associação de Divulgadores do Espiritismo do Estado de São Paulo, cargo que manteve até 2001, quando passou a presidência para Ivan Franzolim, mas continuou na diretoria em outros cargos”.

Dora Incontri, que conduz há anos uma grande luta pela Pedagogia Espírita, recorda-se de que “foi o Éder que me levou para a rádio Boa Nova, anos depois, onde mantive durante pelo menos duas décadas um programa de rádio, que por último se chamava Educação para todos. A última vez que vi Eder pessoalmente foi uns 2 anos antes da pandemia, numa entrevista que fui conceder num centro espírita na Zona Norte de São Paulo. Já estava velhinho, alquebrado, mas sem perder a suavidade do sorriso e a jovialidade de espírito”

Marcelo Henrique, advogado e jornalista, antigo companheiro de Eder Favaro, especialmente nas atividades da ABRADE, conta sobre quando e como o conheceu: “Foi em 1981 que dei os primeiros passos no conhecimento espírita-espiritual. Palestras, grupos de estudo, livros e periódicos – muitos, jornais, revistas, boletins, folhetos. Ainda nem pensava em trabalhar em radiofonia ou cursar Jornalismo. Mas lá estava eu a manusear e levar para casa exemplares gratuitamente deixados nos bancos e cadeiras ou em mesas, à entrada dos centros espíritas da região metropolitana de Florianópolis (SC). Busco na memória: foi exatamente neste período e neste cenário; em artigos e reportagens, guardei o nome: Éder Favaro. Um comunicador espírita de excelência, coordenador de grupos e com experiência na Rádio Boa Nova. Seus textos eram pontuais, curtos, diretos, elegantes e com informações preciosas para quem, como eu, se aprofundava, pouco a pouco, nos saberes espiritistas”.

Cláudio Palermo, apresentador da Rede Boa Nova de Guarulhos, num rápido depoimento, afirma: “O Éder tinha uma educação e gentileza fora do comum, uma inteligência e sabedoria acima da média, os programas que ele comandava tinham bom gosto, música popular brasileira com letras edificantes. Ele sabia trabalhar em equipe e valorizava nosso trabalho. Vai fazer falta no campo da comunicação espírita”.

Em longo e expressivo depoimento, Jon Aizpúrua, ex-presidente da CEPA, Associação Espírita Internacional, conta que “Colocado diante do computador, pronto para escrever alguns parágrafos em memória do bom e gentil amigo Eder Favaro, desencarnado em São Paulo em 21 de janeiro de 2022, aos 91 anos, de repente veio a mim o famoso verso de um samba de Vinicius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Linhas inspiradas que servem para homenagear seu trabalho de duas partes: a da palavra, para transmitir suas convicções, e a de seu compromisso invariável de definir a mesa para o diálogo e a compreensão”.

Amigo de longa data, Antonio Carlos Amorim relata um pouco de sua história dizendo: “Logo no início dos anos 1970, quando comecei a participar de atividades doutrinárias ‘adultas’, passei a ter mais contato com ele, que sempre foi muito ligado à área de estudos do Espiritismo. O contato mais estreito foi se firmando a partir de 1975, quando passei a participar da equipe do programa Momento Espírita da USE, pois seu interesse na divulgação espírita também era forte.

Ao longo desse tempo, atuando em vários setores do movimento espírita, principalmente na organização de atividades doutrinárias nos órgãos da USE em que estagiei, sempre contava com Eder, seja no aspecto organizacional, ou na realização de palestras, como na região de Ibirapuera/Santo Amaro, minha base de trabalho, pela localização do Centro Espírita Luiz Ismael, em que presto minha colaboração desde aqueles dias”.

Informações biográficas e textos de Eder Favaro podem ser encontradas no endereço:  https://ederfavaro.wordpress.com/about/


Abaixo, a íntegra dos depoimentos


GEZSLER CARLOS WEST

“Eu conheci o Eder Favaro na década de 90. O motivo da aproximação foram atividades no campo da comunicação social espírita, que ambos tinham as suas vinculações. Algum tempo depois, tivemos uma maior proximidade quando da elaboração do Plano Estratégico da ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, evento ocorrido na cidade de Cuiabá no Mato Grosso.

Em seguida, nas contínuas atividades da ABRADE, aconteceram diversas interações referentes à comunicação social espírita, bem como sobre o movimento espírita de forma geral. Guardo dele excelentes lembranças, onde destaco a simplicidade no falar, ponderação no decidir e uma sincera amizade. Ao tomar conhecimento de sua recente desencarnação, aos 91 anos de idade, só tenho duas coisas a dizer: obrigado por tudo amigo e que seja muito feliz!”

ANTONIO CESAR PERRI DE CARVALHO

O companheiro Éder Favaro, recém desencarnado, sempre nos suscitou respeito e admiração. Nossos contatos se iniciaram nos anos 1980 quando ele era o diretor do Departamento de Orientação Doutrinária da USE-SP e trabalhava intensamente para divulgar um programa de estudos de Espiritismo elaborado por essa equipe. Por ocasião de nossa eleição como presidente da USE-SP, ele ocupou o cargo de 2o. vice-presidente no período de 1990-1994. No início de nossa gestão ocorreu a criação do jornal “Dirigente Espírita” e Éder atuou como membro da Comissão de Redação (1990-1993), sempre colaborou em ações de difusão da Doutrina e na preparação de Congressos Estaduais de Espiritismo. Simultaneamente colaborava com programas na Rádio Boa Nova. Éder tinha excelente conhecimento doutrinário, mantinha-se com autonomia intelectual e sempre muito ativo.  Nossas vibrações para o notável companheiro espírita!


WANDERLEI SANTOS

O Movimento Espírita Brasileiro sofreu mais uma perda inestimável em seus quadros. Faleceu Éder Favaro (1930 – 2022). O Grande Divulgador do Espiritismo.

A sua ficha no espiritismo e muito longa para que eu possa descrever. Podemos destacar na direção do Programa Diálogos Espíritas (Rádio Boa Nova) que eram fatos do cotidiano à luz da doutrina espírita, trazendo novidades, entrevistas e a vida e obra de grandes pensadores e divulgadores do Espiritismo. Junto de sua equipe Américo Suscena, Aglaê Silveira, Marcos Sibinelli, Milton Filipelli e outros.

Há grande tristeza na partida deste gigante do espiritismo. Que deu a sua vida pela divulgação dos postulados espíritas. Trazendo a fé e a esperança a milhares de pessoas. E um norte a quem sofre através da divulgação do programa que semanalmente era ouvido por centenas de pessoas.

 O site vem prestar uma pequena homenagem a este grande combatente da causa espírita. Trazendo alguns links de seu trabalho e de pesquisa!!!

 Éder Favaro!!! Agradecemos a tudo que você realizou pelo causa do espiritismo. Obrigado caro mestre!!! Obrigado amigo!!! Até um dia!!!! Sentiremos a sua falta!!! Pois a vida na terra e breve!!!


IVAN FRANZOLIM

Conheci o Éder Favaro em 1989, quando da fundação da antiga AJE-SP Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo. Nessa época ele comandava vários programas na Rádio Boa Nova.

Logo após, mudamos para ADE-SP Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo e lá se foram várias gestões que o Éder foi presidente e diretor, realizando atividades e eventos sempre em equipe, o que ele valorizava muito, muitos cursos, simpósios, congressos, encontros, criando em 1997, o programa de rádio Ação 2000, uma visão espírita da notícia que continua ativo, com o slogan: a ADE comenta a notícia, mas não fecha a questão.

Foi diretor da USE e colaborador em várias gestões. Ajudou a elaborar o livro Subsídios para Atividades Doutrinárias e deu muitas palestras orientando as casas na capital e interior. Colaborou bastante na reorganização da ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, tendo sido presidente e diretor em várias gestões.

Tive a feliz oportunidade de integrar a equipe que trabalhou com ele. Fomos bons amigos e vizinhos, mas discutíamos bastante pelas minhas discordâncias sobre a condução dos trabalhos. Eu queria mais inovação e mudanças para conseguir resultados mais rapidamente, o que, nem sempre era possível. Foi muito paciente comigo, dialogando e depois ouvindo a equipe antes de decidir.

Evitava fazer críticas e criar polêmicas no movimento espírita. Entendia que ao falar publicamente sobre os problemas estaríamos dando força a eles. Enfim, um grande amigo, um incansável companheiro de trabalho que, certamente, influenciou positivamente vários espíritas e dirigentes de Centro Espíritas.

Sua razão de ser era atuar em favor da Doutrina Espírita, que considerava, antes de tudo, “uma proposta de vida” e ainda salientava que as ações deveriam “desembocar no social”.


WILSON FRANCISCO

Sobre o amigo Eder tenho quase nada de informação. Tive poucos contatos com ele. Via ele nas reuniões do CME da USE na rua Maranhão, sempre muito inteligente, expressivo e super engajado no movimento de unificação dos CEs

Frequentei algumas vezes como assistente o CE Obreiros da Eternidade no bairro Tremembé. Excelente casa espírita que pautava com fidelidade os princípios kardequianos

E de quando em quando nos víamos com rápidas conversas na Rádio Boa Nova em Guarulhos. Eu fazia o programa Travessia A Arte de Viver sem Medo no ano 2000

Deixo meu registro com carinho a esse baluarte do movimento espírita.

Deus abençoe você, amigo Eder!


JULIA NEZU

DESENCARNAÇÃO DE EDER FÁVARO, MEU AMIGO E IRMÃO DE IDEAL ESPÍRITA

Nasceu em 18 de dezembro de 1930 em Nova Itapirema região de São José do Rio Preto-SP e retornou à pátria espiritual no dia 21 de Janeiro de 2022, aos 91 anos de idade, na cidade de São Paulo, onde residia. Foi colaborador da USE-SP, dirigindo por muitos anos o Depto. de Orientação Doutrinário, viajou por 14 anos, com um grupo de colaboradores visitando centenas de casas espíritas e promovendo encontros com Dirigentes Espíritas no interior e na Capital de São Paulo, com base numa apostila denominada “Atividade Doutrinária”, documento aprovado pelo Conselho Deliberativo da USE, em 17/9/1978, para servir de subsídios para as atividades das casas espíritas. Nas gestões da presidência de Cesar Perri (1990 a 94) exerceu o cargo de Vice-Presidente, tendo atuado na divulgação das Campanhas do Evangelho no Lar, Comece pelo Começo e outras. Participou nessa época do Conselho Editorial do então Jornal Dirigente Espírita, hoje, Revista Dirigente Espírita, da USE do Estado de São Paulo.

Eder foi um dos fundadores da antiga Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo, no dia 24 de setembro de 1989, na sede da Instituto Fraternal de Laborterapia, em São Paulo, mais tarde na presidência do Eder, em março de 1995, a AJE se transformou na ADE-SP Associação de Divulgadores do Espiritismo do Estado de São Paulo, cargo que manteve até 2001, quando passou a presidência para Ivan Franzolim, mas continuou na diretoria em outros cargos.

A Abrajee (Associação Brasileira dos Jornalistas e escritores espíritas), na Assembleia Geral Extraordinária realizada nos dias 14 e 15 de janeiro de 1995, realizada na sede da antiga USEERJ (União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro) hoje CEERJ (Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro), transformou-se em ABRADE Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo, passando a congregar as ADES Associações de Divulgadores do Espiritismo estaduais e o Eder foi o seu primeiro presidente onde atuou por diversos anos e depois, outros companheiros deram continuidade.

Participei com o Eder da fundação da AJE-SP, da transformação para a atual ADE-SP e participei de diversas diretorias. Também, estive com ele na diretoria da ABRADE e viajamos para congressos e encontros da Abrade, mas eu já participava da representação de São Paulo da antiga Abrajee.

Na Rádio Boa Nova que posteriormente passou para Rede Boa Nova de Rádio, de Guarulhos-SP, Eder atuou por mais de duas décadas. Foi idealizador de diversos programas de rádio, todos com muito sucesso, realizados com equipes lideradas por ele com mais de 50 pessoas: “Diálogos Espíritas”, “Conversa Amiga com Você” e “Ação 2000”. Criou também e teve sob sua direção o programa “Mensagem para um Novo Tempo” e inserção de frases e conceitos com a chamada “Pense nisso, mas pense agora”.

Eder foi excelente palestrante espírita, dirigente e fundador do Centro Espírita Obreiros da Eternidade, no bairro de Tremembé, zona norte da Capital e um trabalhador efetivo do movimento espírita paulista.

Postarei abaixo, a memória do programa Ação 2.000, uma visão espírita da notícia! na Rede Boa Nova de Rádio, que foi um marco na história da radiodifusão espírita. Vamos ver no vídeo o Eder e a equipe que o acompanhou por décadas na ADE-SP e na vida, como amigos e irmãos. Vamos sentir muito a sua ausência física, mas sabemos que nos reencontraremos logo mais! Que Jesus abençoe o seu retorno. Minha gratidão e respeito pela pessoa que você foi para todos nós”. Dia 24/1/2022. Com carinho, Julia Nezu

Em 06 de setembro de 1997 nascia o Ação 2000, um programa de jornalismo na radiofonia espírita, criado por um grupo de divulgadores da ADE-SP, Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo, transmitido pela Rede Boa Nova de Rádio. Vão rever os que fizeram parte da equipe do Eder, o Amílcar Del Chiaro Filho e o Hamilton Saraiva, juntos agora em outro plano.


DORA INCONTRI

Tinha uns 18 anos, quando fui convidada a fazer uma palestra no Centro 3 de outubro da Lapa. Já fazia palestras desde os 16 no Centro Pedro e Anita, em que frequentava na Vila Mariana. Mas nesse dia estava fazendo uma das primeiras “fora”. E foi lá que encontrei Eder Favaro, que se tornaria um grande amigo. Simpatizamos de cara. Ele foi muito acolhedor com uma jovem impetuosa que estava iniciando seus trabalhos no Espiritismo. E ele era assim mesmo: uma pessoa agradável, amena, muito aberta para o novo, que não hesitava em usar o espírito crítico, mas sem nunca perder a compostura e sem trair as raízes kardecistas.

Pouco tempo depois já conheci o seu grande parceiro de trabalho, uma criatura igualmente amável, Amílcar Del Chiaro, que partiu muitos anos atrás.

Foi o Éder que me levou para a rádio Boa Nova, anos depois, onde mantive durante pelo menos duas décadas um programa de rádio, que por último se chamava Educação para todos.

A última vez que vi Eder pessoalmente foi uns 2 anos antes da pandemia, numa entrevista que fui conceder num centro espírita na Zona Norte de São Paulo. Já estava velhinho, alquebrado, mas sem perder a suavidade do sorriso e a jovialidade de espírito.

Agora ele se foi, depois de uma vida muito bem vivida, de ter cumprido tão bem sua tarefa pela comunicação espírita límpida, crítica, amorosa e deixa um lugar que não será ocupado e uma grande saudade no coração dos amigos.


MARCELO HENRIQUE

Éder Favaro: A serena inspiração em pessoa

Foi em 1981 que dei os primeiros passos no conhecimento espírita-espiritual. Palestras, grupos de estudo, livros e periódicos – muitos, jornais, revistas, boletins, folhetos. Ainda nem pensava em trabalhar em radiofonia ou cursar Jornalismo. Mas lá estava eu a manusear e levar para casa exemplares gratuitamente deixados nos bancos e cadeiras ou em mesas, à entrada dos centros espíritas da região metropolitana de Florianópolis (SC).

Busco na memória: foi exatamente neste período e neste cenário; em artigos e reportagens, guardei o nome: Éder Favaro. Um comunicador espírita de excelência, coordenador de grupos e com experiência na Rádio Boa Nova. Seus textos eram pontuais, curtos, diretos, elegantes e com informações preciosas para quem, como eu, se aprofundava, pouco a pouco, nos saberes espiritistas.

Vieram as minhas experiências no jornalismo impresso (espírita) e, também, em jornais-murais e boletins estudantis, no ensino médio (então, segundo grau). No primeiro segmento, conheci experientes baluartes da imprensa espírita catarinense, entre os quais um delegado da então Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas (Abrajee).

Foram muitas conversas agradáveis, em tardes infinitas. Eu, ainda garoto, bermuda aprumada. Na mão, o caderninho de anotações e, depois, um gravador, a registrar tanto conhecimento e experiência. Algum tempo depois o resultado dessa imersão:  eu me tornaria delegado da Abrajee.

Primeiras publicações

Na militância juvenil espírita, me aproximei de outros amigos. Juntos, resolvemos editar uma Revista de Cultura Espírita, a “Perfil”, que teve pouco mais de uma dezena de edições. Dizem que a primeira vez ninguém esquece: os momentos de “redação”, a seleção de pautas, a apuração, a aprovação dos textos, a diagramação, a “fase romântica” com o som do teclado da máquina Remington manual. Ecos da minha trajetória no Jornalismo.

Em 1987, entrei na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no curso de Comunicação Social – Jornalismo, então o terceiro mais concorrido no vestibular da instituição. Era um garoto ainda imberbe e todo o universo das letras e do jornalismo passaram a fazer parte da minha rotina, dos meus sonhos e das minhas relações. O radiojornalismo, o cinema, o fotojornalismo e, é claro, as edições do jornal experimental da UFSC, o “Zero”.

Esta inspiração me levou, no âmbito da juventude espírita, à criação do “Harmonia”, um boletim informativo dos jovens do Centro Espírita Tereza de Jesus. A experiência permitiu desenvolver as várias facetas do jornalismo gráfico, impresso. Puro Aprendizado.

Nessa época, passei a me corresponder por carta (ainda não havia e-mail!) com jornalistas, editores e escritores espíritas de todo o país. E quem estava entre os destinatários? Éder Favaro. A atenção e o carinho com que um experiente comunicador espírita se dirigia a um estudante inicial de jornalismo são, para mim, de destacada memória afetiva.

O boletim cresceu, virou folheto e, depois, transmudou-se em revista – formato que mantém até hoje. E o intercâmbio com os principais veículos de comunicação brasileiros e alguns do exterior foi se ampliando e fortalecendo. Éder continuava sendo um dos inspiradores do trabalho.

 Abrade

Comecei a viajar para outras cidades do sul, sudeste e nordeste, participando de eventos e intensificando a troca de experiências e aprendizados. Foi quando conheci a Abrade – Associação Brasileira de Divulgadores Espíritas – recém fundada e instalada, sob a direção de outro companheiro de amável lembrança, o carioca Wilson Longobuco, meu conterrâneo.

Éder e Wilson, assim como o carioca-recifense Marcus Vinícius Ferraz Pacheco “colocaram pilha” para que eu organizasse uma associação de divulgadores em terra barriga-verde. E assim nasceu a Associação dos Divulgadores do Espiritismo de Santa Catarina (ADE-SC), que realizou eventos como encontros de comunicadores e feiras do livro espírita, além de colaborar com o surgimento e manutenção de periódicos espíritas nestas terras.

E o grande dia de conhecer Favaro pessoalmente chegou! Justamente num encontro de divulgadores, em Cuiabá (MT), tendo como anfitrião nosso saudoso Rubens Policastro Meira. Éder era, então, o segundo presidente da Abrade e nos propiciou, a partir daqueles primeiros colóquios, passar a colaborar nacionalmente.

Sereno, nosso Éder sempre se posicionou com firmeza na defesa dos ideais kardecianos, procurando corrigir alguns rumos e orientar nossas atividades abradeanas. Com comunicadores de muitas partes do país, era natural haver divergências de entendimento, interpretação e de definição de rumos. Debates acirrados, apresentação de teses e propostas contraditórias e, principalmente, posicionamentos da entidade nacional diante de fatos ou relações entre espíritas e suas instituições.

Essa visão nos levou longe, tornando reconhecida e respeitada a instituição abradeana, herdeira do legado de Herculano Pires e Deolindo Amorim. Éder à frente, liderando um grupo de jovens e experientes jornalistas, radialistas, escritores, articulistas e gente que, mesmo com pouca experiência no ramo jornalístico, tinha boa vontade para aprender e ousar.

A imortalidade

A estrada estava aberta. Fiz muitas viagens à São Paulo conhecendo outros “craques” da comunicação social espírita, como Milton Felipelli e os saudosos Amílcar Del Chiaro Filho e Alamar Régis. Em algumas oportunidades, Éder me hospedou em sua casa, o que fazia ainda mais rico e agradável o convívio. Altas horas da noite, em conversas enriquecedoras sobre o mundo, o universo, o movimento e a imprensa espíritas.

São memórias como essas que levamos para toda a existência e para além dela. Distante da mitificação e da idolatria, reconhecemos o valor daqueles que muito nos ensinaram, em nossas trajetórias. Professores, mas daquele tipo que horizontaliza as relações, que ensina sem pedantismo e que reconhece, em algum ponto, o aprendizado com seus pupilos.

Que o sereno Éder continue a flutuar no infinito, a nos inspirar em nossas iniciativas comunicativas e no trato com os semelhantes.

Um dia nos encontraremos. E poderei dar-lhe o caloroso abraço e o beijo que sempre estalei em suas rosadas bochechas, a celebrar a imortalidade.


Claudio Palermo

O Éder tinha uma educação e gentileza fora do comum, uma inteligência e sabedoria acima da média, os programas que ele comandava tinham bom gosto, música popular brasileira com letras edificantes. Ele sabia trabalhar em equipe e valorizava nosso trabalho. Vai fazer falta no campo da comunicação espírita.


JON AIZPÚRUA

Eder Favaro levantou voo

Colocado diante do computador, pronto para escrever alguns parágrafos em memória do bom e gentil amigo Eder Favaro, desencarnado em São Paulo em 21 de janeiro de 2022, aos 91 anos, de repente veio a mim o famoso verso de um samba de Vinicius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Linhas inspiradas que servem para homenagear seu trabalho de duas partes: a da palavra, para transmitir suas convicções, e a de seu compromisso invariável de definir a mesa para o diálogo e a compreensão.

Os marcos biográficos do ilustre personagem traçam o perfil de alguém que se forjou com compromisso singular e indiscutível honradez. Filho de um imigrante italiano e de uma senhora brasileira, veio ao mundo em Nova Itapirema, uma cidade modesta no interior de São Paulo, quando se aproximava do fim o ano de 1930. Aos 25 anos casou-se com Lélia Cavalcanti e dessa união daria nasceriam três filhas e cinco netas. Seu trabalho profissional transcorreu no Judiciário, do qual se aposentou após 35 anos de fiel cumprimento de suas responsabilidades.

Foi precisamente a relação sentimental com Lélia, espírita de tradição familiar, o fator que motivou Éder a se interessar pelo estudo do espiritismo, tendo como ponto de partida O Livro dos Espíritos e os outros textos do corpus kardecista. Basicamente, seu treinamento deriva de um admirável esforço autodidata. Leitor voraz desde sua juventude, uma mente aberta em um estado permanente de curiosidade e com apetite por conhecimento, logo assimilaria os fundamentos e valores desta doutrina que lhe oferecia respostas às suas preocupações sobre Deus e evolução, do ser e do destino, de uma perspectiva espiritualista, racionalista, de pensamento livre, adogmática e não confessional.

Do amor à primeira vista, seu entusiasmo pelo espiritismo tornou-se amor eterno e, a partir de então, dedicou sua existência ao seu estudo sistemático, a devida compreensão e sua mais intensa e extensa disseminação, tornando-se uma figura proeminente do movimento espírita paulista por mais de seis décadas. Tendo participado de diversas instituições, sua atividade gravitou em torno do USE, União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, da qual se tornaria vice-presidente e diretor do Departamento de Orientação Doutrinária. A partir daí, concebeu e promoveu projetos inovadores para estabelecer ou melhorar os currículos e a divulgação, corrigir certos desvios que haviam se infiltrado nas práticas mediúnicas e, em geral, promover a superação das crenças místicas, mágicas ou supersticiosas muito variadas, que às vezes contaminam os centros espíritas. Deve-se notar que Éder cumpriu suas responsabilidades e atendeu aos ditames de sua consciência, sem nunca perder a sindérese, mostrando um cavalheirismo elegante que convidava a análise de diferentes opiniões e a revisão de conceitos através do uso da razão e do diálogo honesto e fraterno.

Em sua excepcional folha de serviço, ocupa um lugar destacado seu entusiasmo pelo desenho de uma teoria científica e humanista que serviria como um apoio conceitual para a expressão de ideias espíritas, através do uso de uma linguagem eficiente, moderna e dinâmica, no âmbito da Comunicação Social Espírita, uma teoria da ação comunicativa que descobre as entranhas dialógicas dos seres humanos.  Para dar conteúdo e forma concreta a essa visão, participou com alguns companheiros da fundação da AJE-SP (Associação dos Jornalistas Espíritas de São Paulo) que mais tarde adotou uma denominação mais abrangente, a ADE-SP (Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo) a qual participou da fundação da ABRADE (Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo). Movido por esse desejo fervoroso de aproveitar as grandes possibilidades oferecidas pela mídia, Éder logo soma ao seu já extenso trabalho como líder espírita, conferencista e colunista, o de produtor e condutor de programas de rádio. Assim, dos estúdios da Rádio Boa Nova de Guarulhos, e com o apoio de um grupo qualificado de colegas, conseguiu conduzir durante anos os programas “Diálogos Espíritas”, “Conversa Amiga com Você”, Ação 2000″ e “Mensagem para um Novo Tempo”, com os quais cumpriu uma brilhante e eficaz tarefa na disseminação de conteúdo espirituoso de notável qualidade em São Paulo e em todo o Brasil e dos quais memórias muito agradáveis são preservadas.

Pessoalmente, conheci Éder Favaro nos anos 90 do século passado. Exercendo a presidência da Confederação Espírita Pan-Americana (hoje Associação Espírita Internacional CEPA) viajei com frequência para o Brasil e fiz inúmeras apresentações nas instituições que estavam dispostas a ouvir as propostas da Confederação, caracterizadas, como é bem conhecida, por uma visão espírita, secular, livre-pensadora, humanista, plural e progressista. Uma concepção que mantinha, e mantém, diferenças em termos da interpretação do espiritismo que predomina neste enorme país, acentuadamente religiosa, evangélica, conservadora e até mesmo ligada, em certos setores da liderança nacional, às estranhas teorias roustainguistas, que desde sua origem foram rejeitadas por Kardec.

Seria em reunião de líderes espíritas agendada pelo Centro José Barroso no âmbito da “Semana do TCE”, e graças à iniciativa de seus principais líderes, Eden Dutra, Leile Cacacci e Luis Cacacci, que tive o imenso prazer de conhecer Éder atuando como coordenador do painel. Dias depois, ele teve a gentileza de fazer minha apresentação na conferência “Espiritismo na América Latina” realizada no Grupo Espírita “Obreiros da Eternidade”. Entre muitas outras atividades, gostaria de destacar por sua relevância, a conferência “A visão social do espiritismo” que ofereci no auditório da Câmara Municipal de São Paulo em 2000, e que foi organizada pela ADE-SP graças à sua disposição amigável e vigorosa. Em todas as ocasiões em que visitei a capital paulista, e foram inúmeras, o encontro com Éder foi um evento inevitável, tanto para ser entrevistado por ele quanto por dois amigos fraternos que normalmente o acompanhavam, Amílcar del Chiaro Filho e Milton Felipeli, dos quais guardo boas lembranças.

As palavras nunca serão suficientes para agradecer a este respeitado líder espírita­, este homem tranquilo, austero, simples e honesto, por ter facilitado a disseminação das teses promovidas pela CEPA no âmbito paulista, sem sucumbir às pressões de alguns setores que se opõem e as desqualificam e pretendiam, e ainda pretendem, reduzir o direito de ser conhecido pelo povo espírita. Possivelmente, não concordamos em todas as abordagens, mas concordamos com a substância do conhecimento espírita e na convicção de que este é um instrumento, construído em ação conjunta por encarnados e desencarnados, para o reconhecimento da natureza espiritual e transcendente do ser humano; a libertação de sua consciência de atavismos dogmáticos ou supersticiosos, bem como por sua contínua evolução em vidas sucessivas para o alcance de objetivos mais elevados em evolução e felicidade.

Minhas memórias, e todos os testemunhos, falam de uma virtude que Éder Favaro cultivou até o ponto de delírio: a arte de ser amigo e de promover o diálogo. Sinto-me privilegiado por ter desfrutado de sua amizade.

Salientar que ele partiu não seria nada mais do que falar em acordo com a ideia materialista e negadora da transcendência espiritual. Pelo contrário, guardo a sólida convicção de que agora seu ser desencarnado voou para as alturas morais que correspondem àqueles que foram generosos e úteis e passaram por essa existência deixando uma marca luminosa. Para nossa alegria, Éder Favaro sempre estará conosco.

ANTONIO CARLOS AMORIM

Eu comecei na USE participando de eventos de mocidade espírita, nos já distantes finais dos anos 1960. E nesse meio encontrei com Eder Fávaro, que era dirigente na UDE 15ª zona, atual USE Distrital do Tucuruvi.

Logo no início dos anos 1970, quando comecei a participar de atividades doutrinárias ‘adultas’, passei a ter mais contato com ele, que sempre foi muito ligado à área de estudos do Espiritismo. O contato mais estreito foi se firmando a partir de 1975, quando passei a participar da equipe do programa Momento Espírita da USE, pois seu interesse na divulgação espírita também era forte.

Ao longo desse tempo, atuando em vários setores do movimento espírita, principalmente na organização de atividades doutrinárias nos órgãos da USE em que estagiei, sempre contava com Eder, seja no aspecto organizacional, ou na realização de palestras, como na região de Ibirapuera/Santo Amaro, minha base de trabalho, pela localização do Centro Espírita Luiz Ismael, em que presto minha colaboração desde aqueles dias. Também na Regional de São Paulo, ou no CDE, sempre estávamos próximos, além da Rede Boa Nova de Rádio, pois sua atuação na divulgação espírita o levou a ser entrevistado e depois convidado a se integrar ao trabalho- e assim foi coordenador da programação espírita durante alguns anos, e também participava de programas específicos, como Diálogos Espíritas e Ação 2000.

Além das atividades e reuniões realizadas na cidade de São Paulo, várias vezes viajamos juntos para reuniões da USE em diversos pontos do estado, em ações doutrinárias ou administrativas.

Um traço que posso apontar em seu caráter é a precisão na fala e a capacidade de promover aproximação das pessoas. Como durante o período em que atuou como coordenador da programação espírita da Rádio Boa Nova, ao contrário do que muitos fazem, de estabelecer autocraticamente as normas de trabalho, convidava os programadores (em que eu estava incluído, por ser membro da equipe de Momento Espírita) para reuniões em que as questões eram apresentadas para debate geral, e conduzia com respeito e tato as discussões para se buscar os melhores resultados, valorizando a participação de todos.

Ainda na área de comunicação, falando de arte, foi um dos que apoiava o trabalho de teatro com mensagem espírita, colocando o tema para discussão ou facilitando a realização de apresentações, ao disponibilizar espaços. Foi um dos que apoiaram a realização do Festival de Teatro com Mensagem Espírita que promovemos em comemoração a aniversário do programa Momento Espírita.

São muitas lembranças de Eder, mas uma que me parece mostrar os desafios do trabalho espírita e sua tranquilidade em enfrentá-los foi ainda nos anos finais dos ’70, quando o convidei a uma palestra em uma sequência que realizávamos na 18ª UDE (que atualmente são as USEs Distritais Ibirapuera e Santo Amaro). Os centros espíritas recebiam as solicitações para ceder um dia de reunião para a palestra da UDE, evidente que para os frequentadores assistirem essa palestra. Pois em um centro na região de Interlagos, em que Eder faria a palestra, ao chegarmos- eu, com Eder, que havia saído em seu carro do extremo da zona Norte, e mais alguns companheiros de outros centros da UDE- com a devida antecedência, fomos fraternalmente recebidos pelo presidente, que era também o dirigente da reunião do dia. Estivemos conversando por alguns minutos, quando chegou o horário previsto para a reunião. O presidente começou a enviar para dentro da sala os seus participantes, deixando-nos para trás, e quando pensávamos que seríamos convidados a entrar ele começou a fechar a porta! Indagado, disse que poderíamos utilizar qualquer outro espaço da instituição para realizarmos a palestra, e fechou  a porta… ficamos alguns minutos conversando e avaliando as opções, e como o tema era justamente voltado a estimular o estudo, que foi escolhido para aquele público, resolvemos ir embora.

E essa descrição toda é interessante porque quero destacar a equilibrada reação de Eder, que teria todas as razões para se mostrar agastado, mas encarou com naturalidade e mostrou que compreendia perfeitamente que nem todos estão preparados para a convivência fraterna efetiva, e nunca mencionou esse evento como desabonador do trabalho que realizávamos em nossa região.

 

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

Olá, seu comentário será muito bem-vindo.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.