Olhares muitos espreitam muito. Olhares diversos, diferentes, inferentes, perversos, amigos.

Olhares que cobram, que julgam e acariciam. Que punem, que evitam, que consolam e animam.

Olhares que fotografam, grafam, graves. No tempo, o mesmo, talvez menor, em que a luz penetra e chega ao cérebro. E ali gravitam, tanto mais quanto mais fitam, para ficar.

Olhares libidinosos, que suscitam, citam, indicam.

Olhares mafiosos, ciosos, pomposos, a dizer, contradizer, sem refazer.

Olhares ideológicos, lógicos, a rodar como os ponteiros do relógio.

Olhares percepção, ágeis, frágeis.

Olhares distantes, errantes, que não pedem nem dão, mas de fato são.

Olhares perquiridores, cheios de horrores daquilo que não são.

Olham-me, a perguntar, a afirmar, às vezes para negar. Dizem o inaudível, o infalível, muito e nada.

Olhares sequestradores, inibidores, desinformados, quais vegetais modificados, numa ronda inquietante e amargurada.

Olhares volúveis, solúveis, que facilmente se desintegram ao contato da realidade.

Olham-te, certos de te ver, ignorantes dos mistérios de cada ser.

Na voz serena e mansa do bem, olhares são a paz, capaz, viril. Percebem, concebem, recebem.

No desconforto da insensatez, olhares são o vazio no chão da consciência.

Olhares que veem, olhares que só se veem, no quase indiferente significado do instante.

Olharam-me, dia destes, tentando encontrar-te em mim, certos de que ali habitas, dominante. E assim se fizeram crentes de um saber, escravos de uma ilusão, vítimas de uma imagem. Porque a liberdade não se dissolve completamente na liça das relações.

Olhares, simplesmente, olhares.

Quedo-me, perplexo, convexo, diante de tantos olhares dispersos, apesar das léguas mil seguidas nesta paisagem admirável.

Vejo, sem ver, vendo que veem, pouco, quase nada, contra a luz. Vejo que não veem e sem ver, sigo.

A jornada do olhar é longa, persistente. Perdi o ponto de partida e sequer visualizo, nesta névoa caprichosa, o de chegada. Mas vou.

O passado se fez, o futuro se faz.

Olha: lá está!

By wgarcia

Professor universitário, jornalista, escritor, mestre em Comunicação e Mercado, especialista em Comunicação Jornalística.

One thought on “Crônica do olhar”
  1. É como costumo dizer, Wilson, meu sogro preferido, um olhar fala muito mais do que mil palavras.

    Não é à toa que dizem que “os olhos são o espelho da alma”. 😉

    Beijos, sorrisos, SEMPRE!!! 😀

    Cecília.

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