Atitude significa fuga à discussão dos pontos fundamentais da infeliz adesão da Abrade ao CNE-Feb e demonstra falta de consciência para com as responsabilidades de quem dirige uma organização destinada a divulgar a doutrina de Kardec.
Agindo como dono ou proprietário da instituição que dirige, a Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (Abrade), Demerval Carinhana Jr. fez publicar na lista interna daquela a resposta abaixo, a mim dirigida, na qual afirma: “Não pretendo, como defendem alguns, endereçar-lhe uma resposta institucional pública, como assim você o deseja…”. Além de tentar adivinhar meus pensamentos íntimos, coisa por demais difícil, a postura está em flagrante contradição com suas próprias palavras, uma vez que a lista pela qual se manifesta é pública e permite que qualquer pessoa dela participe.
Na verdade, o libelo é um documento que expõe as feridas de um coração atingido e, por isso mesmo, tenta levar a questão para o âmbito da individualidade, quando ela é institucional e transita no difícil terreno da ética que permeia a liberdade de pensamento e expressão e atinge, por conseguinte, a necessária independência da Abrade.
Não, não se trata de discutir as pessoas físicas enquanto tais, nem o seu comportamento moral e social, coisas que pertencem à consciência de cada um. Trata-se, sim, de refletir sobre as pessoas no seu campo de representação, nas suas responsabilidades enquanto indivíduos que detêm o status de um cargo na dimensão do compromisso doutrinário. É disso que se está tratando.
Demerval e os que dividem com ele a condução da Abrade têm o dever de prestar contas à comunidade espírita quanto aos atos que afetam diretamente à instituição e todos que, por compromisso com o Espiritismo, se sentem atingidos por suas ações têm o direito de manifestar-se. Não podem, aqueles, esconderem-se atrás do biombo institucional sob qualquer pretexto, quando o que está em jogo é a doutrina que Kardec arduamente construiu e legou à Humanidade.
A Abrade não é uma empresa privada em que os proprietários agem de acordo com seus interesses capitalistas e muitas vezes fogem à sua responsabilidade de responder por aquilo que produzem e afeta a sociedade. Ao contrário, a Abrade é uma instituição sem fins lucrativos, cujos representantes são eleitos para falar em nome de muitos e de uma doutrina que está na base de sua existência, devendo agir com ética e transparência na condução do destino da instituição. Isso é o mínimo que se espera deles. Sem o Espiritismo não existiria Abrade, portanto ela não se pertence a si, mas à comunidade espírita.
Quando preferem resolver seus profundos conflitos institucionais, de consequências amplas, no silêncio das reuniões fechadas demonstram padecer dos mesmos males que infestam a parcela da sociedade dominada pelo egoísmo individualista. Quando pedem para que essas discussões sejam feitas nos mesmos ambientes restritos é porque não são responsáveis o suficiente para responderem por seus pensamentos e atos.
Portanto, a discussão é necessária e deve ocorrer no campo e na dimensão em que se situa. Fora destes, será concordar com sentimentos mesquinhos, que não condizem com a grandeza da Doutrina Espírita.
ÍNTEGRA DO E-MAIL PUBLICADO POR DEMERVAL CARINHANA JR.
Caro Wilson Garcia,
Escrevo-lhe como pessoa, como espírita, como leitor de seus livros, dentre os quais, o belíssimo “Cairbar Schutel, O Bandeirante do Espiritismo”, que tanto me inspirou, e me inspira, dentro e fora do ambiente espírita.
Não pretendo, como defendem alguns, endereçar-lhe uma resposta institucional pública, como assim você o deseja, simplesmente porque não acredito que se deva dar mais publicidade aos muitos erros, sejam os por desconhecimento, por descuido e até mesmos os propositais, expostos ao longo do seu texto sobre os acontecimentos envolvendo a ABRADE.
No entanto, gostaria sim de discutir os muito acertos contidos nele.
Não creia que eles passaram despercebidos por mim, ou por outros companheiros de Campinas desde há muito tempo.
Para isso, temos uma lista própria, formada pelas pessoas que, em maior ou menor grau, interessam-se pela ABRADE.
Se, por algum motivo, você necessita de mais espaço para expor suas ideias, fique absolutamente à vontade para solicitar sua indicação como Coordenador do CNDE.
Você tem minha palavra que eu o apoiaria integralmente.
Se, como outros a quem foi ofertada tal tarefa, acreditar que isso possa lhe atrapalhar outros projetos em andamento, indique alguém que você julgue ser mais capaz. Estou certo de que há muitos outros comunicadores com maiores disposições psicológicas e mais tempo do que eu.
Se acredita que as ADEs atuais não honram o passado glorioso da ABRADE, funde uma, duas, três, tantas ADEs quanto achar por bem, a fim de que você e outros companheiros que lhe sejam afins possam permear suas ideias.
Mas, para que tudo isso torne-se realidade, e não uma interminável discussão filosófica, entenda apenas que não é necessário você enviar um longo texto a dezenas, a centenas de pessoas, procurando desqualificar quem quer que seja.
Se você quer realmente fazer algo, apenas faça-o com as ferramentas que tem à mão, no caso, a própria ABRADE.
Apenas não espere que os outros o sigam cegamente. É preciso dialogar.
Como o companheiro já leu outras vezes, o tempo mostrará de que lado a razão está.
Dermeval
Para compreender o assunto, leia também os seguintes posts: http://www.expedienteonline.com.br/?p=616 e http://www.expedienteonline.com.br/?p=1004