Em texto prometido para “O Pensador” do primeiro bimestre de 2005, divulgado antecipadamente na Internet, José Passini aborda com preocupação a possibilidade da profissionalização do Espiritismo e lembra a questão moral do “daí de graça”.
O professor José Passini fala com conhecimento de causa e tem um argumento de fato forte na questão da profissionalização, sempre perigosa se olhada do ponto de vista das práticas doutrinárias. Como ex-Reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Passini conhece bem os meandros da educação e da academia. Mas existe uma questão contextual que merece ser respondida: a profissionalização do Espiritismo já não se encontra em andamento, de forma talvez irreversível? Se sim, não seria crível admitir que o último reduto desta profissionalização está na condução das atividades do centro espírita?
O Espiritismo brasileiro vive um dilema de difícil solução: buscar ou não no próprio seio da sociedade capitalista os meios capazes de dotá-lo de condições mais eficientes para dialogar com a sociedade, entendendo-se aí a sua própria visibilidade social através da divulgação. O fato é que está perfeitamente consensado hoje que em diversas áreas nada se consegue sem o suporte dos recursos econômicos, financeiros e profissionais. O meio jornalístico impresso no Espiritismo não se desenvolve por falta dessas três condições, sendo que é o meio mais antigo de que dispõem os espíritas, ao lado do livro. Nossos jornais de banca, criados para alcançar a massa, há muito se encontram estagnados em patamares baixíssimos, impossibilitados de alcançar seus reais objetivos.
O meio livro encontrou mais recentemente um desenvolvimento expressivo, mas isso se deu justamente pela entrada no mercado de empresários-livreiros e uma visão empresarial-profissional deste mercado, junto a todas as mazelas de um capitalismo que tem por objetivo o máximo lucro. Eis porque o dilema existencial do Espiritismo padece de sérias e quase insolúveis dúvidas, aumentadas com a profissionalização do mercado livreiro, e isso é tão verdadeiro quanto se verifica que a entrada dos livreiros profissionais forçou as editoras espíritas, quase todas assentadas sobre a filosofia do trabalho sem fins lucrativos, a buscarem sua própria profissionalização. Nenhuma delas, porém, alimenta mais a fantasia de um trabalho editorial eficiente e totalmente amador.
Outros setores do Espiritismo brasileiro encontram-se hoje a caminho da profissionalização. Se será total ou parcial essa profissionalização é questão a se verificar no futuro. Os centros espíritas cresceram em tamanho e quantidade de freqüentadores e tiveram que profissionalizar certos compartimentos, como segurança, limpeza, alimentação, estacionamento, secretaria etc.; as entidades federativas também; as livrarias, muitas vezes as grandes fontes de renda das instituições, tiveram que se profissionalizar e aquelas que não o fizeram ou desapareceram ou se encontram em situação extremamente difícil; os clubes do livro resistem bravamente à profissionalização, mas não se desenvolvem além de um determinado patamar comercial (se é que se pode chamar de comercial a atividade que desenvolvem); hospitais, creches e casas de repouso não tiveram sequer tempo de resistir: a lei os obrigou a se profissionalizar, sob pena de sofrer punições de órgão públicos controladores e de proteção ao consumidor; empresas e indústrias diversas, organizadas para gerar recursos financeiros a instituições sem fins lucrativos seguiram pelo mesmo caminho da profissionalização para sobreviver. Os empreendimentos na área da educação estão também aí para mostrar que sem profissionalização não se avança. Em alguns locais onde projetos educacionais puderam ser desenvolvidos a profissionalização foi conseqüente e às vezes até extrema: famílias inteiras se profissionalizaram e passaram a viver – dignamente, diga-se de passagem, dos resultados financeiros das instituições criadas.
Um dos mais notórios e antigos serviços prestados pelos espíritas, com qualidade reconhecida, encontra-se no setor da saúde. Embora também bem nascido do casamento da caridade com o colaboracionismo, a profissionalização não tardou a chegar aí. Instituições psiquiátricas, especializadas em crianças excepcionais ou de apoio à terceira idade precisam de um corpo médico e de profissionais de variada especialização, condição em que o colaboracionismo se torna impraticável na maioria das situações.
O desafio que o aumento da visibilidade social impõe aos espíritas não deixa alternativa para os seus empreendimentos: ou se profissionalizam ou morrem. Às vezes nem nascem. A televisão, o rádio e agora a Internet só permitem sonhar, nada além disso, a não ser que se consiga recursos capazes de sustentar os projetos e esses recursos são aqueles que o capitalismo aponta. Não há outro caminho. Não há porque o sistema é esse. Diz-se que a Internet democratiza um pouco essa questão. Pode ser, mas não se iluda ninguém, aqueles que comandam a Internet são os grandes capitalistas ou conglomerados, pois apenas eles dispõem de recursos para se tornarem visíveis lucrativamente. Os demais lutam para serem conhecidos de uns poucos. O espaço democrático da Internet é também o espaço mais congestionado e conseqüentemente mais difícil de atrair webnavegadores.
Eis porque vale o questionamento: será que já não estamos em plena era da profissionalização dos serviços espíritas? Neste caso, qual o setor do Espiritismo que de fato sobreviverá a ela e, ao mesmo tempo, conseguirá visibilidade expressiva?Em texto prometido para “O Pensador” do primeiro bimestre de 2005, divulgado antecipadamente na Internet, José Passini aborda com preocupação a possibilidade da profissionalização do Espiritismo e lembra a questão moral do “daí de graça”.
O professor José Passini fala com conhecimento de causa e tem um argumento de fato forte na questão da profissionalização, sempre perigosa se olhada do ponto de vista das práticas doutrinárias. Como ex-Reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Passini conhece bem os meandros da educação e da academia. Mas existe uma questão contextual que merece ser respondida: a profissionalização do Espiritismo já não se encontra em andamento, de forma talvez irreversível? Se sim, não seria crível admitir que o último reduto desta profissionalização está na condução das atividades do centro espírita?
O Espiritismo brasileiro vive um dilema de difícil solução: buscar ou não no próprio seio da sociedade capitalista os meios capazes de dotá-lo de condições mais eficientes para dialogar com a sociedade, entendendo-se aí a sua própria visibilidade social através da divulgação. O fato é que está perfeitamente consensado hoje que em diversas áreas nada se consegue sem o suporte dos recursos econômicos, financeiros e profissionais. O meio jornalístico impresso no Espiritismo não se desenvolve por falta dessas três condições, sendo que é o meio mais antigo de que dispõem os espíritas, ao lado do livro. Nossos jornais de banca, criados para alcançar a massa, há muito se encontram estagnados em patamares baixíssimos, impossibilitados de alcançar seus reais objetivos.
O meio livro encontrou mais recentemente um desenvolvimento expressivo, mas isso se deu justamente pela entrada no mercado de empresários-livreiros e uma visão empresarial-profissional deste mercado, junto a todas as mazelas de um capitalismo que tem por objetivo o máximo lucro. Eis porque o dilema existencial do Espiritismo padece de sérias e quase insolúveis dúvidas, aumentadas com a profissionalização do mercado livreiro, e isso é tão verdadeiro quanto se verifica que a entrada dos livreiros profissionais forçou as editoras espíritas, quase todas assentadas sobre a filosofia do trabalho sem fins lucrativos, a buscarem sua própria profissionalização. Nenhuma delas, porém, alimenta mais a fantasia de um trabalho editorial eficiente e totalmente amador.
Outros setores do Espiritismo brasileiro encontram-se hoje a caminho da profissionalização. Se será total ou parcial essa profissionalização é questão a se verificar no futuro. Os centros espíritas cresceram em tamanho e quantidade de freqüentadores e tiveram que profissionalizar certos compartimentos, como segurança, limpeza, alimentação, estacionamento, secretaria etc.; as entidades federativas também; as livrarias, muitas vezes as grandes fontes de renda das instituições, tiveram que se profissionalizar e aquelas que não o fizeram ou desapareceram ou se encontram em situação extremamente difícil; os clubes do livro resistem bravamente à profissionalização, mas não se desenvolvem além de um determinado patamar comercial (se é que se pode chamar de comercial a atividade que desenvolvem); hospitais, creches e casas de repouso não tiveram sequer tempo de resistir: a lei os obrigou a se profissionalizar, sob pena de sofrer punições de órgão públicos controladores e de proteção ao consumidor; empresas e indústrias diversas, organizadas para gerar recursos financeiros a instituições sem fins lucrativos seguiram pelo mesmo caminho da profissionalização para sobreviver. Os empreendimentos na área da educação estão também aí para mostrar que sem profissionalização não se avança. Em alguns locais onde projetos educacionais puderam ser desenvolvidos a profissionalização foi conseqüente e às vezes até extrema: famílias inteiras se profissionalizaram e passaram a viver – dignamente, diga-se de passagem, dos resultados financeiros das instituições criadas.
Um dos mais notórios e antigos serviços prestados pelos espíritas, com qualidade reconhecida, encontra-se no setor da saúde. Embora também bem nascido do casamento da caridade com o colaboracionismo, a profissionalização não tardou a chegar aí. Instituições psiquiátricas, especializadas em crianças excepcionais ou de apoio à terceira idade precisam de um corpo médico e de profissionais de variada especialização, condição em que o colaboracionismo se torna impraticável na maioria das situações.
O desafio que o aumento da visibilidade social impõe aos espíritas não deixa alternativa para os seus empreendimentos: ou se profissionalizam ou morrem. Às vezes nem nascem. A televisão, o rádio e agora a Internet só permitem sonhar, nada além disso, a não ser que se consiga recursos capazes de sustentar os projetos e esses recursos são aqueles que o capitalismo aponta. Não há outro caminho. Não há porque o sistema é esse. Diz-se que a Internet democratiza um pouco essa questão. Pode ser, mas não se iluda ninguém, aqueles que comandam a Internet são os grandes capitalistas ou conglomerados, pois apenas eles dispõem de recursos para se tornarem visíveis lucrativamente. Os demais lutam para serem conhecidos de uns poucos. O espaço democrático da Internet é também o espaço mais congestionado e conseqüentemente mais difícil de atrair webnavegadores.
Eis porque vale o questionamento: será que já não estamos em plena era da profissionalização dos serviços espíritas? Neste caso, qual o setor do Espiritismo que de fato sobreviverá a ela e, ao mesmo tempo, conseguirá visibilidade expressiva?