Coelho Netto e o Espiritismo. Outra vez?

Capa da 1a. edição
Capa da 1a. edição

Alguns estudiosos da Transcomunicação Instrumental tratam o caso de Coelho Netto como o primeiro em que um espírito, o de sua neta, fala com um encarnado – a mãe da menina – pelo telefone. A afirmação foi dada pelo próprio escritor numa famosa entrevista concedida ao Jornal do Brasil no finalzinho do primeiro quarto do século XX. Clique aqui para ver e ler o documento integral.

REVISTA VERDADE E LUZ

A segunda época da revista Verdade e Luz, hoje praticamente esquecida, ajuda a recuperar parte importante da história do Espiritismo e a corrigir enganos cometidos na biografia do extraordinário espírita conhecido por Batuíra.

O jornal Verdade e Luz, fundado em São Paulo no final do século XIX pelo português Antonio Gonçalves da Silva, apelidado de Batuíra, teve uma vida e uma história considerável, dividida em duas partes: a primeira época, em que a publicação começou como jornal e quase ao final desse período transformou-se em revista, e a segunda época, quando retornou à circulação após um período de interrupção, como revista de boa qualidade. É desta segunda época que vamos falar, uma vez que ela se encontra esquecida e não conta com registros capazes de serem compulsados pelos pesquisadores e historiadores.

Tenho em mãos 36 exemplares da revista Verdade e Luz, segunda época, correspondendo aos anos 1922, quando foi retomada depois de quatro anos sem circular, até 1926. Tudo indica que saiu do cenário ao final de 1926 e não mais retornou. Seu diretor, Pedro Lameira de Andrade, após esse ano, seguiu como presidente da Instituição Verdade e Luz até a data de sua desencarnação, ocorrida em 1937.

O colégio Allan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulpho, foi tema de várias reportagens na revista Verdade e Luz, acompanhadas de fotos como esta.

Os exemplares da revista Verdade e Luz são uma fonte permanente de curiosidade e não resta dúvida que o material nela contido atende com sobra ao desejo de saber sobre o pensamento e os fatos do período em que a revista circulou, fatos estes não apenas relacionados a São Paulo, mas também ao panorama doutrinário nacional. Vejamos, portanto, alguns deles.

O primeiro número da 2ª época aparece com a data de 3 de maio de 1922, interrompendo, assim, o período de quatro anos em que a revista teve sua publicação interrompida. Agora sua periodicidade é quinzenal e ela ressurge como órgão não apenas da Instituição Verdade e Luz, mas, também, da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, à qual Lameira de Andrade estava ligado. Mais tarde, por razões não conhecidas ainda, a revista se torna órgão oficial apenas da Associação. Em novembro de 1923, ela passa a circular mensalmente, premida pelas dificuldades financeiras, fato que se mostrará constante a partir de então. E em janeiro de 1926 a periodicidade se torna incerta.

Neste primeiro número aparece uma nota à página 19 com o seguinte título: “Seria fluídico o corpo de Jesus?” Lameira de Andrade informa que está ultimando a publicação de um livro de análise do propalado corpo de Jesus no qual se conclui que esse corpo era carnal e não fluídico, como desejam os roustainguistas. No período de preparação do meu livro “O corpo fluídico”, em 1981/1982, de posse dessa notícia, envidei esforços para encontrar o referido livro, sem sucesso. A própria revista jamais deu notícia sobre o lançamento desse livro, o que leva a crer que não tenha sido publicado. No entanto, era evidente o desgosto de Lameira de Andrade com aqueles que defendiam a tese roustainguista, tanto assim que em diferentes números da revista ele retoma o assunto de forma crítica.

Inúmeros articulistas conceituados passaram a escrever na Verdade e Luz nesta sua 2ª época, já a partir de 1922. Entre eles estão: Pedro de Camargo, assinando com o pseudônimo de Vinícius, Vianna de Carvalho, Pery de Campos, Mariano Rango D’Aragona, que manteve uma seção onde escrevia em italiano; Romeu do Amaral Camargo, Aura Celeste (com textos próprios e psicografados, pois era, então, médium), além de outros.

O número 4, de 18 de junho de 1923, tem grande parte de suas páginas, a capa, inclusive, dedicadas a um fato que ganhou destaque na imprensa em geral e nos meios espíritas. Trata-se da conversão do conhecido escritor e poeta Coelho Netto ao Espiritismo. De início, a revista reproduz o texto escrito e assinado pelo próprio escritor, publicado pelo Jornal do Brasil, edição de 7 de junho de 1923, no qual o literato revela sua conversão. Na sequência, aparece um outro texto da redação com comentários entusiasmados sobre esse fato. Na mesma edição, a revista reproduz um outro texto literário assinado por Coelho Netto, fato que se repetiria nas edições posteriores. Finalmente, em dezembro a notícia de que naquele mês Coelho Netto estaria fazendo uma conferência no Teatro Municipal de São Paulo, cuja renda seria revertida a favor do Abrigo Batuíra, sob o título “A vida além da morte”, conferência esta publicada posteriormente na forma de opúsculo.

As dificuldades financeiras enfrentadas pela Instituição Verdade e Luz e seus projetos de assistência social faziam com que Lameira de Andrade e seus pares recorressem a diversos expedientes para vencer as dificuldades. Um dos meios que se tornaram comuns, como se observa das diversas leituras no acervo da revista Verdade e Luz, era a promoção de rifas e sorteios, muitas vezes com prêmios valiosos. A edição de setembro de 1924 é um exemplo disso, como se pode comprovar no anúncio publicado na 3ª capa da revista, na imagem ao lado.

 

O provável último número da revista Verdade e Luz foi publicado em outubro de 1926. A princípio, não há indícios de que a revista estava encerrando sua publicação. Entre as notícias, chama a atenção aquela que informa, em cinco páginas, sobre a desencarnação do conhecido líder espírita Vianna de Carvalho, fato ocorrido no dia 3 daquele mesmo mês, estando Vianna a bordo do navio Íris, no qual havia embarcado em Recife, onde então residia, em direção ao Rio de Janeiro, para tratar de uma grave doença que o debilitava. Porém, um encarte (reproduzido ao lado), colocado de última hora, avisava sobre a suspensão da publicação da revista e informava que depois de organizada a recém-fundada Federação Espírita do Estado de São Paulo, um novo órgão de imprensa certamente surgiria. Mas como a Federação parece não ter vingado, a revista seguiu-lhe os passos

Eduardo Monteiro, seus livros históricos e a revista Verdade e Luz

Aqui é preciso fazer um registro e algumas correções. Eduardo Carvalho Monteiro, com quem dividi uma longa amizade e a coautoria de três livros, escreveu duas obras de resgate da figura sem par de Batuíra. Uma delas é a biografia desse português extraordinário; a segunda é o livro onde narra a história da imprensa espírita em São Paulo nos cem anos anteriores à edição do livro. Eduardo escreve que o jornal Verdade e Luz é um dos pioneiros da imprensa espírita em terras paulistas, uma vez que foi lançado no ano de 1890, mas não registra, em nenhum dos dois livros, este fato: Verdade e Luz teve duas fases, sendo a segunda sob o comando do advogado Pedro Lameira de Andrade, cujo marco inicial é o ano de 1922. Lameira de Andrade assumiu a direção da Instituição Verdade e Luz, fundada por Batuíra, no ano de 1921 e a comandou até 1937, conseguindo recuperá-la de sua quase extinção. Eduardo registra apenas a primeira fase do jornal. A pergunta é: por que?

Vamos à história desde alguns anos antes. Em 1993, eu havia combinado com meu amigo e editor Arnaldo Rodrigues, da Editora EME, o lançamento do livro “Sinal de Vida na Imprensa Espírita”, no qual resgatava fatos importantes do Espiritismo ocorridos durante os 14 anos em que militei como membro da equipe de redação do jornal Correio Fraterno do ABC (hoje apenas Correio Fraterno), editado então na cidade de São Bernardo do Campo. Eduardo me procurou e ofereceu-se para co-assinar o livro, incorporando ao mesmo um texto de resgate histórico intitulado “70 anos de imprensa espírita em São Paulo”, o que acabou acontecendo. Este mesmo texto serviu de base para o livro que posteriormente publicou sobre os “100 anos da imprensa espírita em São Paulo”, mas nesse livro o registro da história da segunda época da revista Verdade e Luz só aparece como menção e complemento à citação do advogado Pedro Lameira de Andrade, que foi o continuador da revista. Nenhuma informação mais específica e objetiva, apesar da importância da revista para aquela ocasião, bem como pelo fato de ser ela a continuidade do projeto de divulgação espírita empreendido por Batuíra.

Quando Eduardo comunicou-me a intenção de ampliar o texto dos 70 anos para os últimos 100 anos da imprensa espírita em São Paulo, coloquei em suas mãos todos os exemplares que possuía da segunda época da revista Verdade e Luz. Pouco antes de publicar o livro, Eduardo devolveu-me, a meu pedido, aqueles exemplares, pois eu desejava continuar os meus estudos sobre o material contido naquela publicação. Minha surpresa foi grande ao constatar que o livro do Eduardo não fazia nenhuma menção às revistas, deixando, portanto, um vazio histórico aí.

A mesma surpresa tive quando compulsei o livro biográfico “Batuíra, Verdade e Luz” escrito pelo Eduardo. Também ali não havia menção à segunda época da revista. E a pergunta que me fiz continua sem resposta, ou seja, por que razão Eduardo omitiu a existência dessa fase da revista? Terá havido um extravio dos exemplares em sua própria biblioteca quando da pesquisa e escritura dos referidos livros? É possível, uma vez que Eduardo sempre foi muito meticuloso em seus estudos e anotações. Um fato, porém, é indiscutível: Eduardo não chegou a compulsar os exemplares que lhe emprestei, senão não teria deixado passar uma grande quantidade de informações e fotos sobre o seu biografado e a instituição que ele fundou, informações essas publicadas nos diversos números da revista, algumas cruciais para a compreensão da vida e da obra de Batuíra.

Sobre a revista Verdade e Luz, Eduardo informa apenas o seguinte no livro referido: “Não sabemos se o periódico circulou após o desencarne de Batuíra, mas tudo indica que não, por muito tempo, face às dificuldades financeiras encontradas por seus sucessores. Em dezembro de 1922, já sob o comando de Lameira de Andrade, voltou a circular quinzenalmente em formato de revista”. A verdade, porém, é que os registros indicam que a revista deixou de circular somente em 1918, ou seja, nove anos depois da desencarnação de Batuíra, sendo que quatro anos após, em 1922, Lameira de Andrade retomou a sua publicação.

Prédio adquirido para instalação do Abrigo Batuíra, fundado na administração Lameira de Andrade

As notas que Eduardo apresenta sobre a Instituição Verdade e Luz do período pós-Batuíra contêm lacunas, especialmente em relação à administração de Lameira de Andrade, sobre quem Eduardo parece não ter conseguido material mais consistente, material que a revista em sua segunda época já fornecia, mas que ele, infelizmente, não percebeu. Por exemplo, foi na administração de

Lameira de Andrade que a Instituição adquiriu um grande imóvel na Capital paulista (e não em Poá, como equivocadamente registra Eduardo) destinado à instalação do Abrigo Batuíra inaugurado em 1º de abril de 1923. A edição da revista de 18 de abril de 1923 traz matéria sobre o fato, acompanhada de fotos do imóvel e da transcrição da ata de fundação, onde se encontra registrado, inclusive, que o imóvel estava localizado na rua Scuvero, 28, Cambuci.

Equipe da Instituição que comandou a entrega de cestas de alimentos no Natal de 1924. Ao centro, sentado, Pedro Lameira de Andrade.

Foi, portanto, Lameira de Andrade que deu vida ao projeto do Abrigo e não a sua sucessora na presidência da Instituição, Maria Janoni Novazzi, como entendeu Eduardo no livro biográfico de Batuíra. Neste, Eduardo informa que a nova presidente recebeu a Instituição muito endividada e a reergueu, fundando, inclusive, o Abrigo Batuíra, mas – note-se – esta senhora entrou para a Instituição apenas em 1934, como Eduardo, ele próprio, registra, e assumiu a presidência em 1936, porém, o Abrigo Batuíra foi fundado em 1923, sob a administração de Lameira de Andrade.

A Federação Espírita de São Paulo e sua fundação em 1926.

A data de fundação da atual Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp) é julho de 1936, mas é certo que dez anos antes, ou seja, em 1926 ela foi dada como fundada. A notícia completa se encontra na edição da revista Verdade e Luz de janeiro/fevereiro de 1926 e na subsequente, que corresponde aos meses de março a junho do mesmo ano (veja-se que aqui a revista já passa por problemas de periodicidade). A verdade é que a intenção de criar uma instituição desse porte já vinha sendo amadurecida há alguns anos e a revista dirigida por Lameira de Andrade, curiosamente, mantinha desde o início uma coluna permanente e não assinada com o título de “Orientação aos centros”.

A primeira notícia, que ocupa nada menos do que seis páginas e meia, dá conta de que a fundação estava marcada para uma data próxima e a matéria tem por título “Mais uma pedra”. Vem acompanhada da reprodução de uma extensa circular enviada aos centros espíritas, na qual são elencadas razões que justificam a iniciativa, é apresentada a comissão encarregada da organização da assembleia e é feita a convocação para os centros participarem da fundação da nova instituição. A circular é datada de 24 de fevereiro de 1926 e a comissão de oito membros foi assim constituída: Dr. Pedro de Monte Ablas, Luiz M. Pinto de Queiroz, Prof. Saturnino Barbosa, Dr. Pedro Lameira de Andrade, Cel. Turíbio Guerra, Dr. Augusto Militão Pacheco, Mariano Rango D’Aragona e Dr. Romeu do Amaral Camargo.

Na edição seguinte, com o título “Fundação da Federação Espírita do Estado de São Paulo”, a revista informa: “Conforme noticiamos no nosso número passado, foi, no dia 28 de março, unanimemente fundada a Federação Espírita do Estado de São Paulo, destinada a incentivar e exemplificar a solidariedade entre todas as sociedades espíritas…”. A ideologia norteadora da nova instituição pode ser vista neste parágrafo: “A Federação Espírita do Estado de São Paulo não é uma associação com[o] todas as congêneres existentes no Brasil, sem exceção; é uma “associação de associações”, é uma “síntese de associações”, é o “centro”, o “pivô”, a “fonte”, a “fortaleza”, o “facho” onde as sociedades adesas encontrarão o amparo, a bússola, a luz, a vida enfim. Trata-se de uma crítica ao modelo então dominante de federações criadas e dirigidas por indivíduos, tendo como exemplo a própria Federação Espírita Brasileira, já à época pouco operante e muito contestada. A assembleia de fundação foi dirigida por Pedro de Camargo, o Vinícius, e aprovou a primeira diretoria com mandato de um ano de duração, tendo na sua presidência o Dr. Pedro de Monte Ablas, elegendo, também, um Conselho Deliberativo composto por quarenta membros, sendo 25 individuais e 15 coletivos (centros Espíritas). Dentre os membros individuais aparece o nome do famoso médium Carlos Mirabelli e entre os sócios coletivos o do Centro Espírita Fraternidade, de Jundiaí. Por fim, a assembleia contou com a presença de 62 pessoas, 27 centros espíritas representados, além de 4 veículos da imprensa espírita.

Detalhe interessante: como registrado anteriormente, a revista Verdade e Luz provavelmente, encerrou suas atividades em outubro de 1926, conforme se lê no encarte reproduzido acima. Mas esse mesmo encarte lança dúvidas sobre a Federação Espírita do Estado de São Paulo ao registrar que uma nova assembleia seria realizada e precisaria contar com maior número de centros espíritas e de pessoas, a fim de viabilizá-la. Mais abaixo, lê-se que a Federação teria como seu órgão de imprensa oficial o jornal Diário da Noite, que então era publicado na capital paulista. Pode-se, pois, concluir que nem a revista Verdade e Luz voltou a ser publicada, nem a Federação Espírita conseguiu de fato concluir sua fundação, uma vez que não se teve mais notícias dela e, posteriormente, em julho de 1936, dez anos depois, ela seria novamente fundada e em seus documentos não há menção à existência de nenhuma outra criada anteriormente. As causas desses acontecimentos desafiam a paciência dos historiadores e eventuais interessados nos fatos relacionados aos caminhos do Espiritismo brasileiro.

Um movimento chamado Constituinte Espírita Nacional

Plenário da Constituinte Espírita Nacional realizada no Rio de Janeiro e da qual resultou a Liga Espírita do Brasil.

Desde o momento em que surgiu a ideia, em 1925, do movimento para realizar uma Constituinte Espírita Nacional a revista Verdade e Luz emprestou inteiro apoio e abriu suas páginas para exaltar aquele pleito, que parecia de acordo com a forma de pensar de Lameira de Andrade e seus companheiros, além dos propósitos que alimentavam de dotar o estado de São Paulo de uma Federação Espírita.

Nesta foto da revista Verdade e Luz, a mesa diretora na instalação da Constituinte Espírita Nacional, sob a presidência do Desembargador Gustavo Farnese.

Na edição de novembro de 1925, a revista Verdade e Luz informa sobre o recebimento da circular enviada pela comissão organizadora e reproduz o inteiro teor do documento, registrando, ao final da notícia, a intenção de participar do evento, o que de fato ocorreu através de seu diretor, Lameira de Andrade.

Na edição seguinte, de dezembro daquele ano, a revista dá a notícia de que a FEB havia recusado o convite que lhe fora feito para comparecer e participar da Constituinte, reproduzindo o inteiro teor da carta enviada à comissão por aquela instituição e, em seguida, reproduz também o texto-resposta da comissão à FEB. Ainda nessa edição, a revista reproduz a entrevista sobre a Constituinte, publicada no “O Jornal”, edição de 4 de dezembro de 1925, dada por Nóbrega da Cunha.

Na edição seguinte, de janeiro-fevereiro de 1926, a revista prossegue com a repercussão do evento, mas registra sua crítica ao fato da comissão organizadora não haver ainda publicado o programa dos trabalhos e o anteprojeto da Liga Espírita do Brasil, cuja fundação estava prevista para aquele congresso. Reproduz, também, uma matéria extensa publicada pelo Jornal Espírita, de Porto Alegre, em torno da Constituinte e sua oportunidade, bem como uma entrevista publicada pelo jornal O Globo, feita com o senhor Jarbas Ramos, diretor do jornal Brasil Espírita. Nesta entrevista surgiu a menção à questão defendida por Roustaing do corpo fluídico de Jesus, fato este que levou Lameira de Andrade a acrescentar uma nota esclarecedora do assunto, concluindo pela tese do corpo material, físico de Jesus.

A reportagem sobre a realização da Constituinte, na cidade do Rio de Janeiro, foi publicada na edição de março-junho de 1926 e é antecedida por um depoimento de Lameira de Andrade, onde registra a sua surpresa pelo clima de entendimento e fraternidade que encontrou entre os espíritas presentes, uma vez que, disse Lameira, o comum nesse tipo de reunião entre espíritas é perceber um vazio de ideias e a presença de grupos sectários. Segue-se a reportagem com mais de 18 páginas, com pormenores sobre o desenrolar do evento, a criação da Liga Espírita do Brasil e os passos futuros esperados para a nova instituição.

A Constituinte Espírita Nacional não se realizou pacificamente e Lameira de Andrade não deixa de registrar o fato. Não teve apenas a oposição da FEB, que temia perder seu poder com a fundação da Liga Espírita do Brasil, mas de alguns outros setores do movimento espírita. Por exemplo, Cairbar Schutel publicou em O Clarim, jornal que publicava em Matão, matéria sobre a realização da Constituinte em que a desabonava e, mais, dizia que ela fora desorganizada e confusa, valendo-se disso para dizer: “folgamos imensamente ter nos precavido de tomar parte em tão heterogênea reunião”. Mas Cairbar se utilizou de informações chegadas até ele para emitir seu parecer sem estar ele próprio presente como testemunha ocular da história e isso levou Lameira de Andrade, que era seu amigo, a publicar nessa mesma edição da revista, matéria assinada por Eolia V. Doria, na qual esse autor rebate Cairbar a partir da citação do dito: “contra fatos não há argumentos”, elencando uma série da argumentos contrários, inclusive a opinião daqueles que participaram do evento e os números dos presentes e representados, entre estes mais de 300 centros espíritas do Brasil. Argumenta, também, que à época a FEB era desleixada em relação ao movimento federativo e recebia críticas de todos os lados por isso. Vale-se de informações publicadas pelo então 2o. Secretário da FEB, Guillon Ribeiro, que dava conta de que só haviam 49 centros espíritas registrados como filiados, então, acrescentando que mesmo assim o registro não era confiável, pois estava envelhecido e alguns desses centros já não mais existiam. Assim, o próprio Guillon reconhecia a incompetência da FEB para liderar o movimento, vindo daí a ideia da realização da Constituinte e com esta a criação da Liga Espírita do Brasil para realizar o trabalho que a FEB não conseguia.

A título de informação, a Liga Espírita do Brasil também não logrou êxito nesse campo e foi, anos depois, transformada em federativa do Rio de Janeiro, mas essa é uma outra parte da história. Para informações mais detalhadas sobre a Constituinte e a FEB, clique aqui.

DIVERSOS + DOWNLOAD

Nesta página você encontrará os seguintes documentos:

(role a página para visualizá-los)

 

  • O passado de uma tradução e o futuro da mensagem
  • Uma mensagem especular
  • Pan-americanismo e outros temas, com Leopoldo Machado
  • Pereira Guedes e a Feb
  • Leopoldo Machado, 1939
  • O Espiritismo como Religião
  • Ribeirão Preto, 1928
  • O Espírita e a Política
  • A evolução como justiça, por Vinicius
  • Frases, afirmações e suas fontes
  • Coelho Netto e o Espiritismo

O PASSADO DE UMA TRADUÇÃO E O FUTURO DA MENSAGEM

Em 1976, a edição já estava quase esquecida.
Esta edição de “O evangelho segundo o Espiritismo” causou uma das maiores polêmicas do espiritismo brasileiro.

A tradução de Paulo Alves Godoy para O evangelho segundo o Espiritismo, que gerou intenso debate desde a primeira metade da década de 1970, ainda hoje possui detalhes desconhecidos e, muitos deles, esquecidos. Estava eu, então, no olho do furacão, isto é, vivendo todas as controvérsias dentro da Federação Espírita de São Paulo. Posso, como pude, ter uma leitura diversa daqueles que, do outro lado, aliavam-se a J. Herculano Pires em seu bom combate, ou aliavam-se aqueles outros que preferiam assistir aos debates sentados no muro. Mas pude, ainda, colher fatos e observar situações diretas ou indiretamente ligadas ao acontecimento, numa convivência de bastidores, uma vez que, então, ocupava posição subalterna embora muito próxima do poder. Não participava das reuniões de cúpula, não ouvia nem via as discussões reservadas da diretoria, mas convivia com os principais personagens da Federação e acompanhei justamente ali no caminho por onde deveriam passar aqueles que respondiam pelos fatos. Não como a pedra de Drumond, mas com olhos de ver e ouvidos e ouvir…

Paulo Alves Godoy teve sua tradução condenada.
Paulo Alves Godoy teve sua tradução condenada.

O livro Na hora do testemunho é um documento indispensável para quem deseja estudar o assunto. Herculano Pires o preparou a pedido de Chico Xavier, que desejava fosse toda aquela questão polêmica devidamente registrada para a posteridade, a fim de que não restassem dúvidas a respeito de sua participação no episódio. Tudo começou com o médium mineiro, com sua desatenção em relação às responsabilidades das lideranças mediúnicas, que se estabelecem independentemente de desejarem ou não desejarem ser líderes, como bem observa Herculano. A exposição de opiniões e argumentos sobre assuntos de importância, não poucas vezes, marcam a atenção de espectadores ávidos de soluções imediatas para problemas novos e antigos.

Alguns diretores da Federação Espírita de São Paulo costumavam, assim como outros tantos líderes espíritas de diversos Estados do país, visitar o médium mineiro em Pedro Leopoldo e, depois de sua mudança, em Uberaba, Minas Gerais. Entre estes, Jamil Nagib Salomão, que mais de uma vez ouviu de Chico seus argumentos sobre as dificuldades que certos termos contidos em O evangelho segundo o Espiritismo apresentavam ao entendimento do leitor e dos ouvintes.  Em 1973, Jamil Salomão foi ter outra vez com Chico Xavier, mas agora em companhia de Paulo Alves Godoy, que estava certo de poder fazer uma nova tradução desse livro da codificação espírita, em acordo com as ideias de Chico Xavier. E Chico confirmou, novamente, sua opinião, dando a Godoy o sinal que este queria para continuar o trabalho que já estava em desenvolvimento.

Pouco mais de um ano depois, em 1974, uma bomba de proporções ciclópicas estoura: a Federação Espírita de São Paulo lança uma nova edição de O evangelho segundo o Espiritismo, com a tradução de Paulo Alves Godoy e sua proposta de atualização da linguagem. Ninguém jamais poderia imaginar as consequências dessa edição, nem as reações públicas que suscitaria, num contexto de mudanças em andamento ou gestação. O Brasil de então vivia sob o regime militar ditatorial exacerbado, a ideia da aldeia global, de McLuhan, se expandia e chamava a atenção, despertando sentimentos e desejos. Dois ingredientes importantes, pois: o autoritarismo que fazia escola e a noção de que o mundo se tornara pequeno diante do poder da comunicação. Ambos vão influir nos fatos relacionados à edição do novo livro, uma vez que este vai ser gestado no silêncio e publicado de repente, sem qualquer possibilidade de reflexão mais acurada antecipadamente, e está diretamente comprometido com o desejo de comunicar o Espiritismo a um público amplo, por que não, global.

O lançamento deste novo Evangelho parecia atender às vozes que queriam ser ouvidas de alguma forma e os corredores da antiga sede da Federação Espírita de São Paulo borbulhavam de pessoas dos mais variados matizes culturais, ávidas de expressão, numa imagem turva mas pungente. O busto em bronze de Allan Kardec, colocado num canto de um desses corredores, bem ao lado da porta que dava para a Secretaria Geral e a Sala de Reuniões da Diretoria, já estava com a testa desbotada pelos afagos e beijos daqueles seres agradecidos que passavam por ali, aos montes, após o término das reuniões públicas do Salão Bezerra de Menezes, muitos dos quais se persignando a relembrar antigos ritos católicos.

De seu posto jornalístico no Diário de S. Paulo, Herculano Pires levantou a voz com força e bradou contra aquela que chamou de edição adulterada, criminosa, lesiva, desrespeitosa, sem ética, balançando os alicerces do velho prédio da rua Maria Paula e mudando, completamente, os ares internos. A festa estrondosa pelo lançamento de uma obra admirada a preço baixo e com uma linguagem atualizada logo desapareceu, dando lugar a um sentimento de perplexidade geral. Os diretores e seus assessores foram convocados às pressas para analisar a questão e responderem ao respeitado jornalista. A confusão se aprofundou e quase afundou a instituição. Uma pesada nuvem de contestações e revolta tomou conta da casa e por cerca de dois anos permaneceu por ali.

As primeiras reações se fizeram ouvir e por conta dos ânimos exaltados ultrapassavam as paredes da sala de reuniões da diretoria. O velho Kardec de bronze em seu posto foi testemunha de acordos e acusações, mas, pesado como era, nada podia fazer. A cúpula da Federação preparava sua resposta e seus principais nomes eram: Carlos Jordão da Silva, Luiz Monteiro de Barros, Reynaldo Pinheiro, Jamil Salomão, Manoel Laerte Dias. Este último, considerado um bom escriba, era sempre convocado para preparação de textos finais. As primeiras manifestações foram verbais e para justificar o lançamento da obra os argumentos variavam segundo os interlocutores e seus sentimentos. Houve mais de um que garantia que o jus isperniandis de Herculano se dava por conta de haver tido sua tradução recusada e perder com isso dividendos autorais.

A Federação, porém, precisava publicar um documento oficial unificando sua posição e para isso, curiosamente, o escriba admirado e ao mesmo tempo possuidor de uma linguagem retrógrada, Manoel Laerte Dias assumiu sua escrivaninha e na velha e pesada máquina Underwood teclou letra por letra de um texto amplamente debatido e exaustivamente alterado até seu modelo final. Tinha por título: O Evangelho Segundo o Espiritismo em edição da FEESP. A intenção era debelar o incêndio definitivamente, com um só extintor, de modo a poder limpar os escombros e retomar sua rotina o quanto antes. O sexto e último item do documento estava claro: era a primeira e última vez que a Federação falava a respeito de tão tumultuado tema. Malgrado isso, ficaria ela no fulcro das discussões por dois longos anos, até que resolvesse abandonar de vez a ideia de prosseguir com as edições da nova tradução.

O documento oficial da Federação Espírita de São Paulo.
O documento oficial da Federação Espírita de São Paulo.

Mas o primeiro item denunciava o clima e confirmava a acusação contra Herculano, sem o nomear. Por mais que os diretores da Federação desejassem disfarçar sua perplexidade e mágoa, produzindo um documento de qualidade superior, não conseguiram alcançar esse intento. Diziam, de pronto, que a tentativa de editar o livro a preço baixo, para alcançar um público maior, esbarrava na necessidade de pagar direitos autorais para os tradutores, o que não ocorria com Paulo Alves Godoy. Essa justificativa, porém, não era completamente verdadeira e disso sabiam alguns poucos indivíduos, apenas. Pior, em relação a Herculano Pires era uma mentira, horrível, desaforada, sem justificativa plausível, perpetrada pela falta de argumentos consistentes, na insana luta para fugir de uma responsabilidade que teimava em açoitar os próceres da Federação.

Em 1979, Rizzini colocou em minhas mãos um documento importante. Era a cópia de um documento, intitulado Concessão de Direitos Autorais, escrito e assinado por Herculano Pires e dirigido à Federação Espírita de São Paulo, datado de 1973, na qual este reafirmava a doação dos direitos autorais para todas as obras da codificação traduzidas por ele. Ou seja, Herculano já havia doado os direitos anteriormente e agora, por razões desconhecidas, confirmava a doação. E a Federação fizera uso da doação, editando a obra em três ocasiões: em 1970, a primeira edição de O evangelho segundo o Espiritismo foi de 12 mil exemplares; ainda em 1970, uma segunda edição de mais 12 mil exemplares; em 1971, uma terceira edição de 15 mil exemplares. De posse desse documento, publiquei no Correio Fraterno do ABC uma notícia que repunha a verdade dos fatos, conforme consta do meu livro Sinal de vida na imprensa espírita, edição de abril de 1994.

Chico Xavier pediu a Herculano Pires para escrever este livro.
Chico Xavier pediu a Herculano Pires para escrever este livro.

Rizzini registra o fato em seu livro biográfico de Herculano Pires, no capítulo final intitulado “A grande batalha”, para deixar patente aquilo que o próprio biografado considerava a mais desgastante batalha de sua vida – a da adulteração de O evangelho segundo o Espiritismo. As acusações feitas a Herculano poderiam ser facilmente desfeitas. As provas estavam à mão, os fatos eram evidentes. Mas os acusadores não assinavam embaixo; apenas faziam circular de boca em boca que Herculano era movido pela perda de alguns tostões e não pela razão doutrinária, como queria fazer crer.

Alguns líderes espíritas, desprevenidos, faziam circular a falsa notícia e davam azo às pessoas simplórias para reproduzir a mentira. Um deles, nomeado por Rizzini na biografia de Herculano, chegou mesmo a escrever em carta dirigida a conhecido escritor nordestino que Herculano era vítima dessa ambição monetária, mas caiu na esparrela de autorizar o destinatário a fazer uso da carta como lhe aprouvesse. Amigo de Herculano, o destinatário logo fez chegar a este uma cópia da carta e tendo-a em mãos, Herculano não titubeou; escreveu ao missivista exigindo que ele lhe desse as provas da acusação e os nomes dos acusadores. A carta de Herculano é belíssima, uma verdadeira pérola de honestidade e sinceridade e está reproduzida por Rizzini na referida biografia. Evidentemente, o missivista não foi capaz de fornecer as provas, sequer de escrever pela volta do correio.

Para acusações veladas e insinuantes, feitas de modo sorrateiro, outra coisa não resta ao acusado senão agir como Herculano agiu – exigir a explicitação da acusação e nomear os seus responsáveis. Ninguém teve coragem de o fazer. Por isso mesmo, não se vai encontrar nos escritos de Herculano uma linha sequer sobre essa veleidade inassumida. Não fora o documento da Federação que defende a edição adulterada do Evangelho, nenhum outro existiu em que se pudesse ler, objetivamente e de público aquela mentira. Mas o documento da Federação, como se viu, embora afirme que as traduções existentes então obrigariam ao pagamento de direitos autorais aos seus tradutores, não cita o nome de Herculano Pires, ficando na generalidade, numa atitude auto protetora.

A simbologia do cantar do galo, reproduzida como parábola nos Evangelhos de Jesus, mostra uma parte da realidade do ser humano de todos os tempos. No episódio da adulteração da obra de Kardec a simbologia reaparece na forma de comportamento de amigos, admiradores e lideranças espíritas. Herculano vai assinalar com veemência o fato, para confirmar que na hora nona as fraquezas do homem ressurgem e os levam a claudicar. Demorou, e demorou muito, para que algumas dessas lideranças tivessem coragem de defender a obra de Kardec, aliando-se a Herculano. Muitos, porém, ou se afastaram de Herculano ou puseram-se nas sombras sem delas jamais se afastar, sem falar daqueles que até hoje continuam convencidos de que a adulteração era uma coisa da cabeça do notável professor.

A Federação não deliberou oficialmente excluir aquela edição de seus projetos; foi conduzida a isso pela força dos fatos. E deixou o assunto esfriar. Dois anos após, ou seja, em fins 1976, já não se falava mais em imprimir a tradução de Paulo Alves Godoy. Em 1978, o livro Na hora do testemunho, trazendo as declarações de Chico Xavier e o seu reconhecimento de parcela de culpa no episódio, enterrou de vez a questão. Mas Godoy não se livrou do peso da culpa pela tradução. Anos mais tarde, conversando com ele, perguntei-lhe se teria coragem de refazer a tradução, aceitando humildemente os erros e corrigindo-os. Ficou pensativo por uns instantes, mas depois balançou a cabeça negativamente, suspirou fundo e prosseguiu a passos tímidos em direção a sua residência. Não sei dizer se continuava convencido da lisura do seu trabalho ou se de fato não tinha forças suficientes para refazer aquela obra que lhe dera tantos dissabores. Nas vezes em que foi levado a se pronunciar publicamente sobre o assunto, afirmou estar convicto de que fizera um trabalho da mais alta qualidade. Em outra ocasião, disse-me ele que aceitara fazer a tradução convencido pelos amigos, mas sabia que seus conhecimentos da língua francesa eram dos tempos do colégio…

As tentativas de modificar os textos kardequianos não terminaram aí. Nos anos 80, Roque Jacintho fez por sua conta e risco uma nova tradução de O evangelho segundo o Espiritismo suprimindo partes que julgava fora de uso, como foi o caso daquele texto que analisa do ponto de vista moral os antigos duelos. Mas esse é um assunto para outra ocasião.

UMA MENSAGEM ESPECULAR

 Tenho em meu poder os originais de uma mensaMensagem especular 1gem especular obtida por meio da psicografia. Quem a detinha era Jorge Rizzini e veio às minhas mãos por ocasião da edição do livro Kardec, irmãs Fox e outros, que o Rizzini confiou-me a produção e as editoras EME e Eldorado lançaram em 1994. Sobre detalhes e curiosidades sobre este livro, convido o leitor a ler Muito além das sombras, livro em que relato minha convivência com o Rizzini e cujo download pode ser feito aqui mesmo neste blog.

Rizzini conta que fora a Maceió para cumprir um roteiro de palestras em 1985. Lá Mensagem especularconheceu a médium Patrícia dos Santos, então estudante de Direito, já casada e com apenas 20 anos de idade. Vamos ao relato que o próprio Rizzini faz no referido livro.

“Outra façanha não menos surpreendente, temos em uma mensagem que Patrícia psicografou às avessas e que só pode ser lida com o auxílio de um espelho e, por isso mesmo, tem de ser classificada de “mensagem especular” – especular e, evidentemente, espetacular… Chico Xavier fez o mesmo em 1937 na Sociedade Metapsíquica de São Paulo na presença de seiscentas pessoas e em inglês, língua que ele desconhecia. A mensagem psicografada por Patrícia, no entanto, começa de baixo para cima! E da direita para a esquerda, em ordem inversa. E ocupa duas laudas… Ela se inicia, pois, na última linha da segunda lauda. E a assinatura do Espírito, encerrando-a, vem na primeira linha da primeira lauda. Esse curioso engenho psicográfico obtido em sessão na Federação Espírita do Estado de Alagoas parece uma façanha até então inédita. Tratamos de seu aspecto formal, mas o conteúdo merece, também, ser posto em evidência. Eis o que a caneta esferográfica, manipulada pelo Espírito Murilo Alves, escreveu da direita para a esquerda e de baixo para cima, sem que Patrícia, em transe, tomasse conhecimento:

É com muita alegria que aqui venho para lhes falar da imortalidade da alma. O Deus Pai, Criador Eterno, em sua infinita misericórdia nos permitiu aqui nos reunirmos para atestar com a maior clareza a realidade maior do mundo espiritual. Sei que muitas vezes as dúvidas assomam o nosso espírito, no entanto basta o silêncio e uma prece para que a realidade incontestável da vida maior nos bata ao coração para que sintamos a eternidade da nossa vida. O maior legado que o Pai nos deixou é a certeza de que a vida continua para que possamos através de sucessivas experiências burilarmos nossos espíritos no obrigatório ajuste de contas com a nossa própria consciência”.

PAN-AMERICANISMO E OUTROS TEMAS, COM LEOPOLDO MACHADO

Capa ObservaçõesConheci Leopoldo Machado quando ele já não estava no corpo físico há mais de três décadas. Foi com surpresa que ele apareceu numa reunião mediúnica e começou a conversar sobre o movimento espírita brasileiro. De tudo o que disse ele na ocasião (relato alhures) guardo muito bem suas palavras acerca de ter sido um amante e esgrimista da palavra escrita e falada.

Ao fazer essa afirmação, Leopoldo parecia querer dizer mais do que realmente ficou expresso. Nas entrelinhas, percebi um certo desgosto, uma certa reprovação a si mesmo. Mas então ele já era um outro homem, numa outra circunstância, talvez já projetando um futuro próximo ou distante, quem sabe planejando-o.

O Leopoldo Machado que atuou no movimento espírita está espalhado hoje por páginas quase apagadas, rotas, amarelecidas pelo tempo implacável na sua aliança com o oxigênio e insetos. Em “Observações e Sugestões”, opúsculo editado em 1947 e que tem por subtítulo “Estudos, críticas construtivas e planos de ação”, aparecem nada menos do que dez escritos dele, alguns bastante curiosos.

É o caso, por exemplo, dos dois últimos, a que Leopoldo denomina decálogos. São modos de ver o ser humano pelo prisma das virtudes, que a mão com a pena rabisca no papel. O “Decálogo do homem excepcional” apresenta o ser no mundo como modelo, como exemplo de uma práxis possível. Já no “Decálogo de espiritismo de vivos” é o homem à procura do farol para iluminar a estrada por onde, pensa ele, a doutrina deve passar para atingir a sociedade.

Neste último decálogo há duas “regras” interessantes; a primeira, que diz: “Doutrinação de encarnados, pelo estudo da doutrina espírita e do Evangelho do Cristo a fim de que, desencarnados, não precisem aparecer às sessões mediúnicas para serem doutrinados. E, às vezes, depois que obsidiam…”. E a nona, assim escrita: “Libertar o espiritismo do mediunismo inexpressivo, que procura condicionar a ele, somente, as finalidades da doutrina”.

O contexto em que Leopoldo viveu apresentava como característica um componente mediúnico diferente dos dias atuais. Era comum, então, os centros espíritas surgirem e se desenvolverem em torno de um médium, o que gerava, não raro, distorções difíceis de serem corrigidas, especialmente pelo pequeno apelo ao estudo da doutrina. Neste ambiente, o médium constituía o centro das atenções e o fenômeno mediúnico era a grande atração.

Mas há, ainda, dois outros textos de Leopoldo Machado neste opúsculo que chamam a atenção. Na crônica que abre o livro, intitulada “A reforma social e a mulher”, o autor percebe a mulher soltando-se dos limites domésticos da mãe de família e saindo para o exterior, numa conquista de espaço e poder. Mas preocupa a Leopoldo duas coisas: a educação dos filhos, que entende cabe muito mais à mulher, e a inserção dela neste mundo de competições, tão voraz e violento, que deveria pertencer apenas ao homem. Daí defender que a mulher deixasse de lado essas coisas e mantivesse a sua presença no lar em tempo mínimo para responder por suas ocupações principais. Como se vê, o mundo não seguiu o conselho de Leopoldo.

Por fim, assinalo o outro texto que chama a atenção, já pelo seu título: “Pan-americanismo cristão”. Neste, Leopoldo faz uma defesa da Cepa – Confederação Espírita Pan-americana e aponta para o seu aparecimento no ano anterior, 1946, como resultado do 1º Congresso Pan-americano realizado em Buenos Aires.

A fundação da Cepa causou grande repercussão no Brasil e levou grandes preocupações à Federação Espírita Brasileira, Feb, preocupações essas que aumentariam dois anos depois, em 1949, com a realização do 2º congresso na cidade do Rio de Janeiro, com a adesão de inúmeras lideranças brasileiras, mas tendo a oposição da Feb, que atuou nos bastidores para esvaziá-lo e, por fim, agiu no sentido de unir algumas lideranças presentes, então, na cidade maravilhosa com um projeto intitulado “Pacto Áureo”, cujo anúncio de sua concretização fez chegar ainda ao plenário do congresso.

Leopoldo empenhou seu nome em defesa da causa da Cepa, mas não a via como uma instituição comprometida com o pensamento laico; pelo contrário, como se observa no título do texto. Ocorre, porém, que na base do pensamento de Leopoldo estava a liberdade como fundamento inalienável do ser.

Dois anos depois, Leopoldo acabaria convencido a integrar a “Caravana da Fraternidade” e tornou-se um dos mais ativos espíritas na sua missão de levar a notícia do Pacto Áureo às diversas regiões do país. Essa, porém, é outra história.

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PEREIRA GUEDES E A FEB

Capa Uma FarseA história do espiritismo é a história de homens, doutrina e instituições. Os três em sua conjugação ou isoladamente. Denis lembrou da participação decisiva dos homens nos destinos da doutrina espírita, atribuindo-lhes a responsabilidade pela qualidade do seu futuro. Kardec não vislumbrou diferente, especialmente porque, já no seu tempo enfrentava os conflitos das relações humanas decorrentes da interpretação do conhecimento codificado na linguagem escrita.

Muitos pensadores, com razão insofismável, atribuem à capacidade imaginativa e sonhadora do homem a condição natural para suas conquistas e crenças, mas não se pode deixar de dar razão aos que alertam para que os sonhos não tirem o indivíduo do chão em que pisa e vive, sob o risco de ser levado pelos ventos da ilusão.

A moral que decorre da filosofia espírita insere-se no grande livro da ética universal, aplicável a qualquer tempo e civilização, conhecimento e cultura. A moral cotidiana, contudo, padece de universalidade por estar relacionada aos documentos legais e à realidade vivida, ao mundo da vida, onde o homem constrói e se reconstrói na experiência repetitiva da formação de sua bagagem e progresso.

Quando se fala, portanto, do homem e seu cotidiano, mesmo que se revele lances que não se coadunam com a ética universal, lances esses chocantes para os que vivem do ideal da perfeição, temos que convir que eles estão registrados e constituem uma parte da história que não pode ser desprezada. O homem do cotidiano é o homem no mundo, na dura realidade dos embates e dos desejos, dos projetos e das conformidades.

É o caso do documento que apresento aqui. “Uma farsa”, escrito por Pereira Guedes, é uma edição do autor publicada em 1950, que relata os bastidores de uma assembleia para mudança estatutária realizada em 1949 na Federação Espírita Brasileira (Feb). Apresenta, ainda, um manifesto de apoio escrito por outra figura de destaque do espiritismo de então, Sousa Prado.

Pereira Guedes não se limita a relatar a assembleia e suas peculiaridades ou a demonstrar sua profunda insatisfação com os desfechos provocados. Vai em busca do histórico de vida profissional e pessoal da personagem central dos acontecimentos, o então presidente da Feb, Wantuil de Freitas e expõe as relações entre o comportamento do homem e o do presidente, como quem revela a existência de uma mesma lógica moral a presidir ambas as situações.

Quando o homem comum afirma que “à noite todos os gatos são pardos”, ou quando descobre que “para um criado de quarto não há homem perfeito” expõe a dureza existencial da individualidade espiritual no corpo físico. Neste momento, os mitos se esboroam mas o ser vislumbra de modo mais efetivo a vida e seus desafios.

Muitos não vão ler este documento com bons olhos, mas a história não pode ser relegada a um plano menor, visto que ela é o registro necessário para fazer luzes ao presente e auxiliar o homem na construção do seu destino. O documento aí está para comprovação, comparação e reflexão. Não tenho informações dos seus desdobramentos ou das repercussões que possa ter causado à época em que foi escrito e publicado. Conversas com co-protagonistas de então sugerem que os fatos contém boa dose de verdade.

Cabe ao estudioso e eventual interessado concluir.

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LEOPOLDO MACHADO, 1939

capa o Espiritismo é obra de educação Estudar o espiritismo é, de certo modo, trazer a doutrina para o seu campo de visão; é interpretá-lo a partir do seu momento, da sua cultura e dos seus sentimentos. Aproximações e distanciamentos, recortes maiores ou menores são situações inerentes a cada um. O poeta, o romancista e o pesquisador, o historiador e o homem do povo serão tocados e tocarão as ideias que recebem conforme seus valores em relação à vida e o conhecimento.

E o professor, o que fará? Provavelmente, verá no espiritismo os traços, mais fortes ou menos fortes, de uma obra pedagógica. Neste particular, a condição de Rivail como pedagogo, será fundamental para que essa visão seja despertada? Não; a titulação do homem pode constituir reforço às suas ideias, mas sem estas e sem que as ideias possuam as virtudes da verdade os títulos perdem expressão.

Herculano Pires, Vinicius, Eurípedes Barsanulfo e Leopoldo Machado formam entre aqueles que tomaram o espiritismo e o adjetivaram como “obra de educação”. Que, de fato, também é. Vinicius, lá no início do século XX, já defendia essa convicção que alimentou durante os oitenta e oito anos de sua existência no corpo físico. Herculano Pires foi o mais fértil de todos e o que mais empregou esforços intelectuais para refletir e teorizar sobre a importância da doutrina espírita como nova base pedagógica.

Barsanulfo viveu poucos anos, mas o suficiente para construir a primeira escola fundamentada no espiritismo, isso lá no interior de Minas Gerais, numa pequena cidade chamada Sacramento, que fica quase na divisa com o estado de São Paulo. Ambos, cidade e professor, se projetaram no cenário brasileiro por conta daquela escola a que denominou Colégio Allan Kardec.

Leopoldo Machado está hoje quase esquecido pelos espíritas contemporâneos. Teve, porém, grande expressão em seu tempo. Atribui-se a ele, entre outras coisas, o surgimento das primeiras mocidades espíritas no Brasil. Era professor e proprietário de um colégio na cidade de Nova Iguaçu, interior do Rio de Janeiro.

Seu livro “O Espiritismo é Obra de Educação”, publicado em 1944 pela Editora O Clarim, fundada pelo Cairbar Schutel, é um opúsculo que já entrou para o rol dos documentos raros. Trata-se, na verdade, de uma tese que Leopoldo elaborou e apresentou no I Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas realizado em 1939, no Rio de Janeiro, sob inspiração do inesquecível Deolindo Amorim. Este é um ponto interessante, pois tem-se em mãos um texto-tese daquele evento que inaugurou no Brasil a era dos congressos espíritas e, com isso, rompeu a inércia neste campo e proporcionou a que o espiritismo fosse debatido para além das quatro paredes das instituições.

O documento permite diversas reflexões, entre as quais o viés religioso adotado pelo autor, já então dominante no país, bem como parece ter sido a fonte donde nasceu o caderno preto que foi instituído nas Escolas de Aprendizes do Evangelho da Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp), caderno este que recebeu intensas críticas de uma parcela de pensadores espíritas. Ele está sugerido por Leopoldo Machado na página 60, com o título de “caderno de boas ações”, enquanto que na Feesp passou a ser utilizado com uma capa na cor preta, daí o seu designativo curioso. A diferença entre os dois cadernos parece estar no método empregado na sua utilização: Leopoldo sugere que nele se façam as anotação das boas ações praticadas pelo aluno na semana, enquanto que na Feesp o aluno deveria anotar as mazelas ou defeitos da alma e, à medida que julgava ter superado alguma efetuar esse registro.

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O ESPIRITISMO COMO RELIGIÃO

Capa O espiritismo como religião Questão antiga, controversa, debatida, reivindicada e descartada. Mas sempre presente, desafiadora, com aspectos de “imortalidade”. Vamos a 1953, quando a capital paulista ainda justificava o título de “terra da garoa” e a Federação Espírita (Feesp) havia ganho a batalha da implantação dos cursos regulares de espiritismo, Edgard Armond no comando.

O tempo desbota as cores até transformar tudo em preto e branco, mas o mundo sempre foi e é multicor, multidiverso e dinâmico. O cenário de então estava rodeado de fatos recentes de marcada influência. Em 1947, os espíritas paulistas haviam dado à luz a União Social Espírita, depois União das Sociedades Espíritas (Use). Em 1949, dois acontecimentos simultâneos: a realização no Rio de Janeiro do II Congresso Espírita Pan-americano, marcadamente laico, e a celebração do chamado Pacto Áureo pela Federação Espírita Brasileira (Feb), como contraponto ao congresso pan-americano. Em 1950, a Feesp vê seu prestígio se solidificar com a implantação vitoriosa dos cursos regulares de espiritismo.

Neste cenário, a Feesp publica, em 1953, o opúsculo “O Espiritismo como Religião”, que nada mais era do que a tese do médico Luiz Monteiro de Barros apresentada no II Congresso Espírita Mineiro, de outubro 1952, realizado em Belo Horizonte, acolhida e aprovada.

Na apresentação do opúsculo, Edgard Armond justifica sua publicação declarando que a tese expressa a visão do espiritismo como religião defendida pela Feesp. E afirma que havia apresentado ao congresso espírita pan-americano do Rio de janeiro outra tese semelhante, de título “Prevalência do Espiritismo Religioso”, tese esta que sequer chegou a ser discutida no referido congresso “por causa da oposição que ali encontrou desde início”.

“O Espiritismo como Religião” compõe-se dos seguintes documentos: 1) a apresentação assinada por Edgard Armond, secretário geral da Feesp; 2) mensagem mediúnica atribuída a Emmanuel e recebida por Chico Xavier ao final do II congresso de Belo Horizonte; a tese do médico homeopata Luiz Monteiro de Barros; 4) a transcrição, com comentários, da opinião de Charles Richet ,considerado o fundador da Metapsíquica, contida no seu livro “Au secours”, em que defende a necessidade de uma religião pelos homens, critica todas as religiões de então pela sua incapacidade de praticar a fraternidade que proclamam e, com ironia, diz: “Esperemos pelo mundo novo que entrevemos em nossos sonhos do porvir ali pelos 2.035, 20.350, 203.500… que sei eu? Conhecerá ele uma nova religião?”

Monteiro de Barros (ou Edgard Armond, não está claro) conclui o opúsculo com a afirmação de que o espiritismo é a religião dos sonhos de Richet, porque, afirma, possui bases científicas, as mesmas que Richet defende.

O opúsculo pode ser lido na íntegra e copiado livremente AQUI

 

 

 

 

RIBEIRÃO PRETO, 1928

 Capa A religião no larA volta ao passado pode ser uma realização, uma frustração ou pura perda de tempo. Quando o passado revela-se como esclarecimento, realização; quando mostra o que não gostaríamos, frustração; quando não diz nada, perda de tempo.

Voltar ao passado pode ser questão de necessidade, de curiosidade ou mera bisbilhotice. Quando é preciso esclarecer fatos obscuros, necessidade; quando se deseja saber como os fatos se deram, curiosidade; quando o interesse é de apenas desvendar intimidades, bisbilhotice.

Seja qual for o motivo do seu interesse ou desinteresse, aqui está um documento assinado e datado por Vinicius, o espírita. Para mim, realização e necessidade, porque entendendo o passado, tendo a compreender melhor o presente.

Vinicius teve seu prestígio reconhecido muito cedo nos meios espíritas, como orador de grande capacidade de emocionar o público, mas também pela capacidade de construir raciocínios e provocar reflexões. Era capaz de desenvolver temas sociais, políticos e outros, mas dominavam-no dois grandes temas: educação, como base, e a moral, enquanto ética.

Ambos, educação e ética, tinham em Vinicius o guarda-chuva dos Evangelhos e, este, de acordo com a Doutrina Espírita. Eram sua predileção, seja na oratória, seja na escritura. Seus livros são uma prova irrefutável do interesse que a figura de Jesus ornava sua mente e orientava seus passos.

“A religião no lar”, documento que publico aqui, foi o texto que escreveu para uma palestra na cidade de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, antes como hoje, cidade de grande importância econômica para a região. A motivação na época foi o casamento dos filhos de amigos da região, casamento que se realizara no dia anterior à palestra, essa feita, como se observa no registro da capa do folheto, no Cine Ideal.

A linguagem empolada reflete bem a cultura da época mas não esconde a inteligência do seu autor, nem seus conhecimentos e menos ainda seus sentimentos elevados. Vinicius tinha convicções claras, honestas, sensíveis e as defendia com argumentos providos de lógica e virilidade. Pode-se discutir suas convicções, mas não se pode ignorar a sinceridade de seus argumentos.

O exemplar que reproduzo tem uma particularidade especial: publicado pelo Clarim, editora de Cairbar Schutel, em 1929, está com inúmeras anotações feitas s mão por Vinicius. A começar pela capa, onde aparece a anotação “26 anos!”, cuja razão desconheço. Imagino que possa ter sido feita para registrar o momento, apenas, quando Vinicius, talvez surpreso, constata o tempo decorrido entre a palestra e aquele momento. Se tal for verdadeiro, a anotação nos leva ao ano de 1954.

As anotações feitas a partir da página sete, quando o discurso começa, são mais claras em seus objetivos: Vinicius faz uma adaptação no texto, escrito para ser dito em determinada época, com a finalidade, agora, de levá-lo ao rádio. O que marca esse objetivo é a primeira anotação, que substitui os cumprimentos protocolares: “Exmas. Senhoras – Meus Senhores – Presados Confrades”, por “Prezados rádio-ouvintes”. O texto inteiro recebe anotações, alguns trechos são eliminados e outros substituídos.

Levando-se em consideração, como anoto em meu livro biográfico de Vinicius, que ele atuou no rádio, na capital paulista, no período de 1939 a 1942, primeiramente dirigindo e apresentando um programa espírita na Rádio Educadora Paulista e depois, em 1940, na recém-fundada Rádio Piratininga, emissora essa que ficou conhecida como a “rádio dos espíritas”. As alterações no textos indicam que ele foi preparado para esse segundo período radiofônico de Vinicius, que durou cerca de dois anos.

Para os interessados, o documento está disponível para leitura e download AQUI .

Maiores subsídios sobre Vinicius em “Vinícius, educador de almas”, Editora EME, Capivari, SP.

 

 

O ESPÍRITA E A POLÍTICA

 Capa O espírita e a políticaVocê que gosta de pesquisar as raízes da história vai se interessar por esse documento. A memória, importante para a visão da vida, quando se perde ou se transvia deixa-nos órfãos. O espiritismo brasileiro tem sua trajetória gravada, embora nem sempre seja fácil encontrar os documentos que contam os passos dos homens que fizeram, no seu tempo, a tentativa de materializar os sonhos com projetos que tiveram repercussão e depois desapareceram, por conta das mudanças sociais.

Houve um tempo em que o Brasil se fazia preocupação dos espíritas em termos de política, dado que a realidade do país contrastava com os ideais emanados da doutrina. As leis morais, de O Livro dos Espíritos, expressam propostas que não são contempladas, ainda hoje, seja pelo Brasil seja por grande parte das nações do mundo.

Alguns adeptos, individualmente, se lançaram na árdua tarefa de pleitearem mandatos junto aos parlamentos e poderes executivos, subsidiados pelo ideal de fazer uma política diferente e, com seus exemplos, contribuírem para a mudança de um quadro que ajusta interesses grupais e poucas vezes contempla interesses públicos.

A década que compreende o período de 1951 a 1960 foi de intensa movimentação nos meios espíritas para conciliar o pensamento da doutrina, com suas leis da natureza, e o pensamento político, com sua realidade nem sempre tolerável.

Afinal, qual é o compromisso político do adepto do Espiritismo? Essa dúvida não foi ainda resolvida, embora nos dias atuais a parcela de espíritas mais ativas aceite – parece ser esta a verdade – que o espírita tem compromissos sóciais e políticos impostergáveis, pois são cidadãos que participam da sociedade e possuem responsabilidades como todos os demais cidadãos.

Na década aludida, as coisas não estavam tão claras. Os debates entre os espíritas se intensificaram de tal maneira que estabeleceram conflitos intensos, pois havia de um lado aqueles que entendiam que o Espiritismo poderia criar um sistema de participação política dentro do sistema vigente, ou seja, criando o seu partido, movido por propostas que nenhum outro contemplava e por ideais que visavam estabelecer os direitos de todos segundo os ditames das Leis Naturais. Do outro lado se colocaram os que entendiam que a participação na política partidária era adstrita à individualidade, que poderia assumir compromissos por si mesmos sem a vinculação institucional.

O documento que lhes trago é dessa época. Nele estão estabelecidos os ideais de uma instituição criada para ser um partido político de caráter espírita, cujo objetivo máximo era modificar a realidade perpetuada por grupos políticos que mantêm o poder à custa de consensos não aceitos do ponto de vista ético.

O documento se intitula “O espírita e a política” e data do ano de 1953. Conta a história da criação da “União Evolucionista Cristã – UNEC”, um misto de sociedade espírita e partido político. E traz em seu texto o registro da participação de nomes expressivos do Espiritismo da época, entre médiuns e líderes, num esforço de ganhar presença no terreno que sempre foi controverso. Sua repercussão não se limitou à geografia brasileira, estendendo-se além-fronteiras.

Se você se interessa pelo assunto não pode deixar de ler o documento, que teve imensa repercussão e desdobramentos conflituosos. O Espiritismo pugna pelo ser interexistencial e multiexistencial, como deixou claro Herculano Pires, mas os sistemas que imperam na sociedade desconsideram ambos e são, por isso, deficientes. O espírita, como ator social, está comprometido com essa realidade e possui, portanto suas responsabilidades. A questão que se coloca é: quais são os limites da atuação sócio-política dos espíritas. Não se discute mais que ele é um ser do mundo e precisa se colocar no mundo; discute-se, agora, como deve atuar e enfrentar as forças adversas para implantar a justiça e a liberdade, dois princípios fundamentais da dignidade humana.

Para ler o texto completo e fazer o download, siga o endereço:

http://pt.scribd.com/doc/199752366/Os-espiritas-e-a-politica

 

 

A EVOLUÇÃO COMO JUSTIÇA, POR VINICIUS

Capa Vinicius sombraPoucos, nos dias atuais, conhecem Vinícius. À medida que a areia escoa pela fenda estreita do marcador, a distância o vai levando para longe da memória, mesmo por onde passou essa figura de escol do Espiritismo paulista.

Vê-se que não estou me referindo ao poetinha de Garota de Ipanema e tantas outras produções lítero-musicais, cujo centenário de nascimento foi comemorado recentemente. O Vinícius, aqui, é Pedro de Camargo, um piracicabano que encantou quem o conheceu nas tribunas a falar sobre a doutrina que o arrebatou, cuja vida física terminou no ano de 1966.

Em São Paulo, capital, para onde se mudou e desenvolveu boa parte de sua vida, dominou o cenário com palestras constantes na Federação Espírita local, escreveu livros tendo como motivo principal o Espiritismo e apresentou programas de rádio de grande audiência. Quem o conheceu de perto costuma falar que foi orador de grandes recursos e excelentes reflexões, que prendia a atenção da plateia. Tinha grande público cativo nas sessões matinais dos domingos, na Federação Espírita.

Vinícius escreveu alguns livros, que ainda são editados pelo selo da Feb. Com Eduardo Carvalho Monteiro, fiz uma longa pesquisa sobre sua vida e personalidade, do que resultou o livro “Vinícius, educador de almas”. O adjetivo educador se aplica a Vinícius porque foi daqueles que batalharam pela educação no Espiritismo, tendo participado da fundação do Instituto Espírita de Educação da capital paulista e foi seu diretor por muitos anos. Muitas passagens de sua vida de 88 anos são comoventes.

Estou recuperando um texto de Vinícius, intitulado “Criacionismo e Evolucionismo”, datado de 1954, onde o autor realiza uma comparação entre a duas doutrinas e argumenta a respeito da evolução do ser com base no critério da justiça de Deus.

Em formato de bolso, o texto foi publicado e distribuído gratuitamente e constitui documento raro nos nossos dias. Vale a pena ver e ler. AQUI

 

FRASES, AFIRMAÇÕES E SUAS FONTES

Capa O Espiritismo e o Elemento Humano O homem do povo, na sua sabedoria prática, cria expressões que se tornam não raro universais. Uma delas é, sem dúvida, esta: “quem conta um conto aumenta um ponto”. Usada, usadíssima, mas ainda assim sempre disponível a novas aplicações. Virou até título de livro, de site e de projeto cultural.

Lembro a expressão aqui para me referir a uma palestra realizada por Deolindo Amorim, um dos grandes pensadores espíritas, no Centro Espírita Léon Denis do Rio de Janeiro. O ano: 1974. Alguém anotou a fala, fez um resumo e submeteu o texto ao próprio Deolindo, que aprovou. Daí surgiu um opúsculo em branco e preto intitulado “O Espiritismo e o Elemento Humano”, distribuído gratuitamente. Hoje, escasso, por isso raro.

O interessante é que a palestra é calcada em duas expressões amplamente utilizadas nos meios espíritas: “o Espiritismo caminhará com os homens, sem os homens e apesar dos homens” e “o Espiritismo será o que os homens dele fizerem”.

Prudente – quem teve a felicidade de assistir Deolindo falando conheceu seu entusiasmo contagiante, mas cheio de bom-senso – o orador faz uma ressalva inicial de fundamental necessidade: afirma que não sabe se as frases, atribuídas, respectivamente, a Allan Kardec e Léon Denis, foram de fato feitas por eles. Deolindo não sabia dizer se as afirmações eram, de fato, dos dois autores, por desconhecer as fontes.

Hoje se tem notícia mais confiável a respeito das duas frases. A primeira delas não é de Allan Kardec, como ainda se afirma por aí. Ela pertence a Wantuil de Freitas, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (Feb), e pode ser lida em “Introdução ao estudo da doutrina espírita”, livro editado pela Feb, mais exatamente no último parágrafo do capítulo E o porvir.

Sobre a segunda frase, a autoria pertence de fato a Léon Denis e se encontra na introdução do livro “No invisível”, também editado pela Feb com tradução de Leopoldo Cirne. Aqui, porém, o ponto foi aumentado e, pois a frase da tradução está assim grafada: O Espiritismo será o que o fizerem os homens.

A palestra de Deolindo Amorim é interessantíssima e vale a pena ser lida. Faz ele uma reflexão sobre a doutrina espírita e sua relação com os homens, seu presente e futuro.

Para ler ou fazer o download, vá ao endereço: http://pt.scribd.com/doc/199248484/O-Espiritismo-e-o-Elemento-Humano

 

 

COELHO NETTO E O ESPIRITISMO. OUTRA VEZ?

Capa da 1a. edição
Capa da 1a. edição

Sim e não! O fato, verdadeiro malgrado as tentativas de negá-lo, da adesão do escritor Coelho Netto à doutrina kardequiana é do conhecimento dos estudiosos e pesquisadores e já teve seu auge na imprensa brasileira. Não se pode esquecer que Coelho Netto era, na ocasião, considerado o príncipe dos escritores brasileiros e conhecido, também, por sua aversão pública ao Espiritismo. Além do mais, há suficiente material na Internet para abastecer os curiosos. O caso está documentado em livros, como, por exemplo, o de Jorge Rizzini que tem por título “Escritores e Fantasmas”.

Alguns estudiosos da Transcomunicação Instrumental tratam o caso de Coelho Netto como o primeiro em que um espírito, o de sua neta, fala com um encarnado – a mãe da menina – pelo telefone. A afirmação foi dada pelo próprio escritor numa famosa entrevista concedida ao Jornal do Brasil no finalzinho do primeiro quarto do século XX.

Estamos, aqui, interessados em salvaguardar o documento, para que possa ser visto e lido como primário, aquele que não deixa qualquer resquício de dúvida. Trata-se, na verdade, de três documentos em um: o primeiro deles é “A Vida além da Morte”, conferência pronunciada por Coelho Netto no dia 14 de setembro de 1924, impresso em formato de bolso; o segundo documento é, na verdade, o princípio de tudo: a entrevista que Coelho Netto deu ao Jornal do Brasil um ano e pouco antes, ou seja, em 7 de junho de 1923, republicada pela revista Verdade e Luz sete dias depois, ou seja, em 18 de junho de 1923; o terceiro e último documento é a própria revista Verdade e Luz, hoje desconhecida da maioria, então dirigida por um espírita de muito prestígio, o advogado Pedro Lameira de Andrade. Na mesma edição, após reproduzir a entrevista, publica entusiasmado artigo saudando efusivamente a conversão de Coelho Netto.

Coloco-os à disposição dos interessados, para download neste endereço:

http://pt.scribd.com/doc/199039016/Coelho-Netto